sábado, 27 de fevereiro de 2021

Cartonização (1) da negação

Em todos os momentos de discussão, há quem afirme algo, e quem afirme o contrário.
A qual das ideias se opta chamar "negação"? 

Obviamente é a que colhe menos adeptos. 
Nesse sentido, todas as oposições começaram por ser negacionistas da tese veiculada. A forma de combater opositores nem sempre é pacífica. Quando faltam argumentos para mudar cabeças, há sempre quem pense na forma mais literal:


Este quadro é de Antonio Gisbert. Está aqui cartonizado com uma frase carrasca, adaptada ao movimento despótico de silenciar opiniões dissidentes, que impera actualmente. Representa a vontade de calar quem nega legitimidade nas eleições americanas, nega bondade em políticas covidescas, nega o calor num dos invernos mais frios deste milénio, etc...

Conforme me foi dito (Senhor G), instalou-se a Teoria Conspiratória da Realidade, em que a realidade se recusa a cumprir as teorias consensualizadas e propagandeadas pelas eminências pardas do sistema.
Se a Realidade tivesse cabeça, já há muito que teria rolado...
Não vou aqui dissertar sobre o que é a realidade, já o fiz. Mas tem como principal inimigo o sonho de alguns, contra o acordo que vincula todos. Esse acordo é acordar. Enquanto persistirem no seu sonho e não acordarem, a realidade será sempre o seu principal inimigo.

Execução dos comuneiros de Castela
Gisbert, num realismo exemplar, pintou os "Os comuneiros de Castela", uma revolução ocorrida há 500 anos em Castela, entre 1520-21, contra o imperador Carlos V, e cujo desfecho terminou um sonho revolucionário, em que as principais cidades (como Toledo, Valladolid, Salamanca, Madrid), apoiavam os revoltosos, de ideais comunitários... e um certo proto-comunismo.
Castela, que sempre presou a sua independência (mas não a dos outros), viu-se sob controlo de um rei legítimo, Carlos V, mas nascido e criado na Flandres. Era filho de Juana, a "Louca", sucessora dos Reis Católicos, que tinha casado com o herdeiro do Sacro-Império Germânico. Quando o pai morreu, Juana foi desconsiderada na sucessão para o seu filho Carlos V, que chegou a Castela cheio de funcionários de "Bruxelas", distantes do contexto castelhano.

A ausência de Carlos V, que partira para a Alemanha em 1520, onde tinha sido eleito imperador, deixou o inquisidor flamengo (futuro papa Adriano VI) como regente.
Um aumento de impostos, foi o suficiente para a revolta.
Os revoltosos conseguem a anuência de Juana, a "Louca", que passam a considerar como rainha, legítima sucessora da mãe, a famosa Isabel, a Católica. Durante um ano dão-se confrontos, mas os revoltosos garantem apoio nas principais cidades, até que perante um reorganizado exército real, são totalmente derrotados na Batalha de Villalar em 23 de Abril de 1521. 
Os líderes revoltosos são capturados e executados na praça de Villalar no dia seguinte.

O principal líder da revolta era Juan de Padilla, a figura central do quadro, que aguarda serenamente a sua execução, Juan Bravo, cuja cabeça é mostrada ao povo, e Francisco Maldonado, com as mãos presas atrás das costas. É dito que Bravo protestou, mas que Padilla lhe teria dito - "Lutámos ontem como cavaleiros, hoje morremos como cristãos". Bravo terá pedido para morrer primeiro, para não ver a execução de Padilla. 
A revolta continuou mais uns meses em Toledo, sob o comando da mulher de Padilla, Maria Pacheco. Perante a derrota inevitável, Maria conseguiu negociar uma rendição, e depois conseguiu fugir para Portugal. O rei português, D. João III, não acedeu aos pedidos de extradição, e ela acabou por morrer exilada no Porto, nove anos depois.

Os ideais comuneiros de uma Castela mais autónoma, como seria antes de Carlos V, e até de uma distribuição de terras a camponeses (contra os nobres de Castela, o que lhes fez perder esse apoio), foram um sonho com pouca aderência à realidade social do Séc. XVI. Só voltou a ser louvado na época das revoluções liberais que, como uma orquestra de gaitas, foram tocadas em grande sintonia, pelos aventais de serviço a essa época.
Fosse Padilla judeu, e talvez um cartaz seu tivesse desfilado em Moscovo, junto a Marx...


Fuzilamento de Torrijos e seus companheiros numa praia de Málaga
Gisbert vai fazer um outro quadro invocando um outro evento de revolta falhado, liderado pelo general Torrijos, e que termina na sua execução.
O enquadramento são lutas liberais em Espanha, que ocorrem ao mesmo tempo que as lutas liberais em Portugal, seja por efeito de contágio, seja porque França e Inglaterra se entenderam muito bem no novo papel de aliadas, após Napoleão, decidindo confrontos nos países ibéricos.

Em Espanha a monarquia de Fernando VII, voltou a um cariz absolutista (Década Ominosa), e o general Torrijos tenta um desembarque indo de Gibraltar para Málaga, com uma pequena força invasora, esperando um apoio do governador.
Após uma fuga pelas montanhas, são capturados e todos fuzilados numa praia em Málaga.
É esse fuzilamento, que Gisbert aqui representa.
Torrijos é a figura em destaque, segurando a mão de dois companheiros.


A cartonização destoutro excelente quadro, focou na presença algo cúmplice dos frades nas execuções, e no cuidado em vendar as vítimas, de certa forma anestesiando os condenados com conversas infantis, que nem para si próprios servem... Neste caso o companheiro mais velho de Torrijos é vendado por um dos carmelitas descalços (ou chinelados):
A persistente desvalorização da realidade, que estas figuras representam, só traz conforto a quem de facto se afasta dela para sonhos embebidos em ideais joviais que não maturam. 
Raramente são confrontados ou pensam numa realidade que os precipita e os transcende, militando num receituário de frases feitas, que parece entenderem funcionar como palavras de poção mágica.

Toda a sociedade sabe que "não é só uma pica..." mas não se importa de alimentar essa fantasia, como se tivessem dela alguma atestação superior, dada por emissários de mortos-vivos... quando o único testemunho que podem dar é o seu legado nos vivos-mortos.

Assim, quem olha apenas para aquele pormenor cartonizado, pode imaginar, mas só será surpreendido pelo enquadramento envolvente de todo o quadro, quando o vir.

2 comentários:

  1. Pfizer Demanding Bank Reserves, Military Bases And Embassy Buildings As Collateral For COVID-19 Vaccines
    February 25, 2021

    Pharma giant Pfizer has been holding sovereign governments to ransom making bizarre demands asking for bank reserves, embassy buildings and military bases as collateral in return for COVID-19 vaccines.

    (...) Another country Pfizer made such bizarre demands is with Brazil.

    Pfizer told the Govt of Brazil to create a guarantee fund, and deposit money in a foreign bank account.

    On January 23, 2021 – Brazil’s Health Ministry put out a statement citing excerpts from Pfizer’s pre-contract clauses.

    Here’s a list of Pfizer’s demands:

    Brazil waives the sovereignty of its assets abroad in favour of Pfizer,
    that the rules of the land – be not applied on Pfizer,
    that Brazil take into consideration a delay in delivery,
    that Pfizer is not penalised for a delayed delivery, and
    that in case of any side effects, Pfizer be exempted from all civil liability.

    The government of Brazil calls these clauses abusive. The Pfizer deal with Brazil failed too.

    https://greatgameindia.com/pfizer-demanding-military-bases-vaccines/

    Cumprimentos
    José Manuel

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    1. Obrigado pela ilustrativa notícia que serviu de mote ao próximo postal.
      Cumprimentos.

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