terça-feira, 31 de maio de 2016

Mééé (2) Barack Hussein Osama

As coincidências rodeiam a nossa vida, mas há limites, digamos...
Após o 11 de Setembro de 2001, duas figuras foram eleitas como principais inimigos dos EUA, através do inenarrável presidente cowboy, G. W. Bush. A saber, foram eles:
... e entre parêntesis estão os nomes dos conflitos que tiraram dezenas de milhares de vidas durante a primeira década do Séc. XXI.

Claro que seria uma absoluta paródia, se o presidente dos EUA, a ser eleito imediatamente a seguir a G. W. Bush, se chamasse digamos:
Barack Hussein Osama
(ou então Adafi Saddam Bin Laden.)
Isso era praticamente impossível de acontecer, e mesmo os mééé... mais crédulos não iriam nessa conversa. 
Mas, como o nome do actual presidente dos EUA é afinal:
Barack Hussein Obama

vemos como o b em vez do s fez toda a diferença, e todos ficámos mais descansados.
Nos cartazes Obama-Biden (vice-presidente) alguém podia relacionar BidenBin Laden
- Mudar uma letra é estranho, ok... mas tirar 3 letras é exagero de forçar relações.

Mesmo assim, não sei bem qual seria a reacção dos americanos se, após a 2ª Guerra Mundial, tivessem que eleger um Barack Adolf Mussorini como presidente... provavelmente também só estranhariam o nome "Barack". Com razão, porque aí é uma questão de múúú...Barack, e o presidente egípcio Mubarak só foi alvo de Barack, muito mais tarde, no decurso da "primavera árabe".

Bom, e para quem acha que este múúú... barack é tão infantil quanto o mééé...todo, devo notar que houve uma longa lista de acusações republicanas dizendo que o seu nome oficial seria Barry Soetoro, que havia falsificação de identidade, etc... Ora literalmente, este Barry Soetoro é facilmente transcrito como "bá ri, só é touro". Ele certamente não terá achado muita piada, pois até a sua meia-irmã Maya Soetoro, foi incluída neste assunto. No entanto, o próprio Barack foi apanhado a admitir que era antes tratado como "Barry".

Foto-Chope
Para além destes aspectos, mais ou menos sarcásticos, houve episódios sem muita piada para muita gente. Um desses episódios ocorreu com um diplomata espanhol, Gaspar Llamazares.
Se Gaspar chama azares, ver a sua cara escarrapachada como modelo para Bin Laden foi um deles:

O uso de PhotoShop bacoco (ao centro) para falsificar a imagem de Bin Laden.
E portanto, quem a isto chama azares, ou acha que a coisa aconteceu apenas porque o homem era do Partido Comunista Espanhol, e portanto "estava a pedi-las"... é porque não faz a mínima ideia de qual é a sensação de imaginar que terá a sua cara afixada em cartazes ou noticiários televisivos como sendo o Inimigo Público Nº1. Quem sabe, percebe que isso não tem piada nenhuma... nem foi só questão de chama azares

Outra sessão de "Foto-Chope" terá ocorrido aquando da suposta morte de Bin Laden:
Composição Photoshop
da morte de Bin Laden (à direita).
... onde mais uma vez "alguém" decidiu compor duas imagens, para dar a imagem de um Bin Laden morto "em Maio de 2011". 
O The Guardian veio depois dizer que - nunca tinha feito capa daquilo, o Daily Mail é que tinha!
Mas a situação era tanto mais grotesca quanto a imagem falsificada em PhotoShop já existiria antes da anunciada morte, e seria publicada como real na imprensa internacional.

Bom, e de facto Benazir Bhutto, cometeu o erro de dizer numa entrevista à BBC, umas semanas antes de ser assassinada, em Dezembro de 2007, que Bin Laden já tinha sido morto há uns anos:


Bhutto diz: "... the man who murdered Osama Bin Laden" (2:22) 

Para além de Bhutto estar perfeitamente certa da morte de Bin Laden, isso foi mesmo noticiado durante o ano de 2000 - Bin Laden estava a morrer, ou que tinha mesmo morrido de um problema de rins (li notícias que referiam num hospital egípcio).
http://web.archive.org/web/20010212010328/http://www.cbsnews.com/now/story/0,1597,172666-412,00.shtml
Portanto, o duelo Obama vs. Osama, que foi encenado em 2011, pouco mais terá sido do que fechar o caixão de um morto, que tudo indica já tinha morrido em 2000 ou 2001, antes da demolição das Torres Gémeas no 11 de Setembro, com problemas nos rins.
Tudo é certamente nebuloso, mas nada disto surpreenderia, porque afinal os motivos para a invasão do Iraque foram as chamadas e nunca encontradas "armas de destruição maciça". 

Porém, percebe-se perfeitamente que em 2010 precisassem de novas imagens do homem... não porque não pudessem vasculhar o terreno do Afeganistão metro a metro, com imagens de satélite, drones, etc... mas simplesmente talvez porque ainda não conseguissem dar vida a um morto. 
Mais facilmente o assunto foi arrumado, com uma morte em que os US Seals se livraram rapidamente de "um corpo", sem nunca disponibilizar qualquer imagem do sucedido, ao contrário do que fizeram, divulgando imagens das mortes de Khaddafi ou Saddam Hussein.


domingo, 29 de maio de 2016

Mééé (1) - Oprah na Lua - para quando?

Duvidar das imagens de astronautas na Lua é um passaporte directo para alguém ser acusado de deficiência cognitiva pela carneirada que bale mééé... só para estar bem integrada no rebanho.

No entanto, para uma sociedade tão preocupada com o politicamente correcto, nos EUA foi mais fácil eleger como presidente um afro-americano, do que colocar algum na Lua. O sistema de quotas, para a "discriminação positiva", distribuiu lugares por tudo o que era universidade e instituição... mas não conseguiu atribuir uma única passagem para visitar a Lua. 
Ah! Pois! 
Idas à Lua é só para machos caucasianos... e velhos, já que o mais jovem visitante lunar será agora septuagenário!
- Quando morrer o último - já não faltará muito - o que se irá dizer? 

A URSS para não ser acusada de sexismo, tratou de colocar Valentina Tereshkova no espaço, logo em 1963, no ano seguinte à ida de Yuri Gagarin.
V. Tereshko - mulher no espaço (1963)
Como os russos nunca afirmaram colocar nenhum homem na Lua, também nunca colocaram nenhuma mulher, e não ficaram em falta... mas então, e os EUA?

A única maneira de resolver toda esta Ópera Bufa, encenada há mais de 50 anos, seria colocar Oprah Winfrey a apresentar o seu programa da Lua. Nada de muito difícil, já que haverá os meios para encenar tal proeza, de forma convincente para a carneirada militante, que acredita em qualquer balido do rebanho. Resolveria simultaneamente duas lacunas graves - a exclusão de afro-americanos, e de mulheres, da permissão de visitar a Lua.

Não é uma questão de ciência, é uma questão de sobrevivência do politicamente correcto.
Afinal, se ninguém pode duvidar das viagens à Lua, apenas podemos ver esta exclusão como uma permanência de políticas de segregação racial e sexista neste mundo do politicamente correcto.

Onde estão os movimentos de indignação, de uma sociedade sempre tão pronta a escandalizar-se com segregações? - Levantem-se os movimentos negros, os movimentos feministas, LGBT, etc... esta situação já durou demasiado tempo, sem que ninguém esboce sequer um lampejo de indignação!
O que fez Obama para remediar isto? 
- Nada!
Podem dizer que há uma lista de astronautas negros, que inclui mulheres, mas algum foi à Lua?
Há alguém com menos de 65 anos que possa afirmar ter ido à Lua?
- Não!

Tempo comparativo 1910-1963-2016
Usemos 1963 como tempo comparativo - foi há 53 anos...
Como estava a tecnologia 53 anos antes de 1963 - estaríamos em 1910.

Em 1910 os aviões ainda davam os primeiros passos inseguros, os céus eram mais dominados pelos dirigíveis de Zeppelin, mas o transporte de passageiros preferencial em grandes distâncias era feito com os enormes transatlânticos motorizados, como o Titanic. Nas cidades o transporte era feito com cavalos, não havia carros a circular.

Em 1963 o progresso tinha mostrado o seu rápido avanço. Em 1963 as cidades não eram muito diferentes do que são hoje, cheias de carros. Em 1963, o transporte aéreo era já feito com carreiras regulares que substituíram rapidamente os navios transatlânticos. Se em 1910 era recente a tecnologia dos aviões, em 1963 era recente a tecnologia que tinha lançado o Sputnik no espaço. Em 50 anos passara-se de aviões de monolugares inseguros para grandes carreiras aéreas seguras. 
O que impediria que o mesmo ocorresse com os vôos espaciais?

O que se previa para 2016?
- Alguém previa que a situação estagnasse durante os 50 anos seguintes, ou até regredisse?
Se previa, e certamente havia nos bastidores quem o previsse, ninguém ousaria sequer explicitar que a sociedade iria estagnar tecnologicamente nos 50 anos seguintes - com excepção do avanço nas comunicações.
Nem sequer é só na questão espacial, quem se lembrar dos anos 70, lembra-se ainda do previsto desenvolvimento de cidades submarinas, ou até numa conjugação de duas coisas, creio que havia uma série em que as naves espaciais levantavam do mar.

Mas este exercício pode ser facilmente levado para os 53 anos anteriores a 1910, e assim sucessivamente, de 1857 (sem dirigíveis, com balões) para 1804 (início dos balões), para 1751 (sem balões, exceptuando Bartolomeu de Gusmão)... para vermos como não há paralelo recente de estagnação na sociedade como o que ocorreu nos últimos 50 anos.
Esse tipo de estagnação só ocorreu antes numa época denominada "idade das trevas": 
- a Idade Média.

Os jograis de serviço
Por muito que se tente disfarçar, e se convoquem mais balidos para o coro dos carneiros dispostos ao sacrifício do seu futuro, a troco da promessa de um pasto verdejante, o ridículo da situação vai sendo cada vez mais difícil de sustentar, a cada ano que passa.

Ao invés de se terminarem com todas as suspeitas, e avançarem com um programa de viagens espaciais, que dinamizaria obviamente a economia... em vez disso, foi apresentado mais um estudo para enganar o povinho:


... ou seja, o típico estudo, com hipóteses enviesadas, que pretendeu mostrar que uma ocultação de um século não poderia ter mais de uma centena de conhecedores, e que o programa Apollo tendo mais de 2500 pessoas envolvidas, seria desmascarado ao fim de 5 anos.

- Mas o que é que se entende por ser desmascarado?
- Será que colocar isso escancarado num filme 007, estreado em 1971, "Diamonds are forever":
não deve ser considerado divulgação mundial?
- Então, não foram precisos 5 anos, bastaram 2 anos... ou menos!

Depois, os sujeitos que acham piada ao brincar com isto, ou que acham podem divulgar coisas pela brincadeira, fizaram uma história meio-plausível que divulgaram no dia 1 de Abril... que poderia ser o único dia de verdade, se as televisões tivessem coragem para tanto:


... ou seja, a história de um cameraman "Max Canard", que revelaria todo o complot como um filme de Kubrick. Esquecendo o desfecho final de 1 de Abril, destinado a fazer de parvo o leitor, até merece ser lido, porque reúne alguma consistência face ao que se sabe.

O que está em causa nem é tanto o duvidar da capacidade de chegar à Lua, mas muito mais a capacidade de concretizá-lo com viajantes humanos em 1969, dados os problemas de radiação solar, e outros... que nunca permitiriam imagens como as que foram divulgadas então pelos americanos.

Que tudo o que foi mostrado foi encenado, não restam grandes dúvidas... e não é por falta de divulgação que não se reconhece, é por mera casmurrice de, perante o abismo, continuar a dar passos em frente.

sábado, 28 de maio de 2016

Os pássaros (9) de Aristófanes

Chegamos ao fim da tradução da peça de Aristófanes, por acaso com a estreia do filme Angry Birds em Portugal na próxima semana.

Como numa boa comédia, a revolta dos pássaros contra o domínio dos deuses acaba por ser bem sucedida, graças ao persistente e esclarecido Pistétero. Nesta fase da peça, Euelpide, o seu companheiro de viagem inicial, já foi esquecido. Começando ambos no mesmo caminho, procurando a Poupa, o rei Tereus, amedrontados ambos pelo bico de uma minúscula estrelinha-de-poupa, o percurso divergiu significativamente, graças à ideia de Pistétero de convencer os pássaros a isolar os deuses, construindo a cidade de Nefelococugia. 
Nesta última parte, aos deuses não chegam os sacrifícios que os humanos lhes oferecem, e estão praticamente esfomeados, conforme se verá aqui na atitude de Hércules. Hércules fará parte de um trio de embaixadores divinos, suficientemente ridicularizados, que incluía ainda Poseidon e um deus pagão, bárbaro, de nome Tribalo... talvez relacionável com a triplice entidade celta de Lugo (ver também Trebaruna).

O sucesso da estratégia de Pistétero não será a confrontação com os deuses, mas sim forçá-los a negociar, apresentando-lhes uma nova ordem universal, onde sairiam a beneficiar.
A ideia não era terminar com o usufruto dos sacrifícios dedicados aos deuses, embora fosse essa a chantagem... Para Pistétero, a elite poderia continuar a beneficiar desse privilégio, ainda mais, desde que aproveitasse um poder executivo que negligenciava - as aves... Com tanta ave rara desejosa de protagonismo, os políticos fariam o papel intermédio entre a oligarquia divina e a força de trabalho humana.

Essa revolução da "passarada" irá mesmo ocorrer especialmente na transição para a Idade Moderna e Contemporânea. A elite aristocrática, distante e pouco visível ou acessível pela população, deixaria de comandar os destinos directamente. As aves políticas, formariam uma parede "democrática", entre a população e o poder. A parte do poder política, sendo visível e acessível, permitiria à oligarquia não ser responsabilizada pelos sucessos ou fracassos da governação de ministros eleitos.
Os benefícios do comércio, do mundo capitalizado, representado na peça pelos sacrifícios que os humanos ofereciam aos deuses... ou seja, hoje em dia - os impostos, seriam aumentados se os humanos trabalhassem mais, motivados pelo poder próximo das aves políticas.

Portanto, ainda que seja uma possibilidade remota que Aristófanes pretendesse caracterizar isso, pareceu-lhe haver nexo nessa vantagem divina de aceitarem a intermediação das aves no exercício do seu poder. Nisso, a situação foi muito semelhante ao que se passou com a ascensão da maçonaria, e a implantação de regimes democráticos no Séc. XIX e XX. A aristocracia não desapareceu, continuou a beneficiar de sacrifícios de trabalho alheio, mas passou a ser mais tolerada, pela ideia de que a responsabilidade da governação tinha passado para as aves raras da política.
A revolução francesa mostrou bem como o bloqueio comercial imposto à França, provocaria o colapso da elite reinante, ao mesmo tempo que mostrou como a população humana sem uma ordem elitista, nem que fosse de bastidores, perderia os referenciais de orientação e ponderação.
Mesmo um centrar da chave do poder na jovem Basileia, acaba por ser simbolicamente apropriado, já que a juventude seria mais facilmente conduzida pelo poder de sedução colocado na nova geração feminina. Conquistado o feminino pela moda, a atracção masculina seguiria depois o padrão sem esforço.

_____________________________________

As Aves 

(de Aristófanes)

continuação de (8)(7) , (6) , (5) , (4) , (3) , (2) , (1)
_____________________________________


Coro (cantando): Na terra dos Monopodes há um pântano, onde Sócrates, que nunca se lava, invoca as almas dos homens. Pisandro também aí foi, para ver a sua alma, que ali tinha deixado quando era vivo. Como vítima do sacrifício escolheu um camelo, em vez de um carneiro, e quando o degolou afastou-se, como fizera Ulisses. Nesse momento Caerefon veio do inferno, na forma de um morcego, para beber o sangue do camelo.

(Poseidon entra, acompanhado por Herácles e Tribalo)


PoseidonEis a cidade de Nefelococugia, onde chegamos como embaixadores. 
(Falando para Tribalo):
- Ei, tu! Que fazes tu?
- Estás a usar a capa pela esquerda? Não a atiras para a direita? 
- Que hábito é esse, de Laespodias? [general ateniense que fazia o mesmo, para disfarçar o mal numa perna]
- Mal afortunado diabo!
- Oh, democracia, onde nos levas? 
- Será possível que os deuses tenham eleito este representante?
TribaloCala-te e acalma-te!
PoseidonMalvado selvagem, és de longe o mais bárbaro de todos os deuses!
- Diz-me, Herácles, o que vamos fazer? 
HeráclesJá te disse! Quero estrangular o fulano que se atreveu a bloquear-nos com um muro...
PoseidonMas, meu caro amigo, somos enviados de paz!
HeráclesMais uma razão para o querer estrangular...

(Pistétero sai da moita, seguido de escravos, que transportam utensílios de cozinha. Um deles monta uma mesa, onde coloca galináceos para assar) 

Pistétero (para os escravos)Passa-me o ralador de queijo. Traz-me o sílfio para o molho. Passa-me o queijo, e olha pelas brasas.
HeráclesMortal! Somos três deuses, quem vos saúda.
PistéteroEspera um pouco, até que termine o meu molho de sílfio.
HeráclesQue carnes são essas?
Pistétero São aves que foram punidas com a morte, por atacarem aves amigas de humanos.
HeráclesE tu preparas o molho, em vez de nos atenderes?
PistéteroAh! Olá Hércules. Bem vindo, bem vindo. O que se passa?

PoseidonViémos, como embaixadores dos deuses, para negociar o assunto da guerra.
EscravoFalta óleo no frasco.
PistéteroNo entanto, é preciso assegurar que as aves estejam bem marinadas.
HeráclesNão retiramos desta guerra nenhum lucro. Se ficassem amigos dos deuses, prometemos que teriam sempre água pura da chuva nas vossas piscinas, e o mais agradável dos climas temperados. Para estes favores temos poderes plenipotenciários. 
PistéteroNunca fomos agressores, e mesmo agora estamos dispostos para a paz, tal como vós, desde que concordem com uma condição de equidade. Ou seja, que Zeus devolva o seu ceptro às aves. Se apenas isto for concedido, convido os embaixadores para jantar.
HeráclesPor mim, está óptimo. Voto pela paz!
PoseidonDesgraçado! Não passas de um tonto glutão. Pretendes destronar o teu próprio pai?
Pistétero Nada mais errado. Os deuses serão muito mais poderosos se forem as aves a governar a Terra. De momento, os mortais estão escondidos por baixo das nuvens, escapam à vossa observação, e cometem perjúrio em vosso nome; mas se tivessem os pássaros como aliados, qualquer homem, depois de ter jurado pelo Corvo e por Zeus, se falhasse a esse juramento, o corvo mergulharia contra si, e sem dar conta perderia um olho.
PoseidonBem pensado... por Poseidon!

HeráclesTambém acho!
Pistétero (para Tribalo)E qual é a tua opinião?
TribaloNabaisatreu.
PistéteroEstão a ver? Ele também concorda! Mas, ouçam, há mais em que vos podemos servir. Se um homem fazer votos de sacrificar a um deus, e procrastina, pretendendo que "os deuses podem esperar", faltando à sua palavra, puniremos essa afronta.
PoseidonAh, sim?... e de que forma?
PistéteroQuando o homem estiver a contar o seu dinheiro, ou sentado num banho, um milhafre tratará de lhe subtrair em moedas ou em roupa, o preço de duas ovelhas, levando-o aos deuses.

HeráclesVoto para que lhes seja restituído o ceptro!
PoseidonPergunta ao Tribalo!
HeráclesTribalo, o que pensas de... ser insultado?
TribaloSaunaca Bactaricrousa.
HeráclesEle diz que falo profundamente bem!
PoseidonBom, se são ambos da mesma opinião, não serei eu a contrariar.
HeráclesMuito bem. Estamos de acordo quanto ao ceptro.
PistéteroAh! Quase que me esquecia da outra condição... deixarei Hera a Zeus, mas apenas se a jovem Basileia me for acordada em casamento.
PoseidonVejo que não tens qualquer interesse na paz. Retornemos ao Olimpo. 
PistéteroImporta-me pouco... Cozinheiro, é preciso uma boa calda!
HeráclesQue ridículo... Onde vais Poseidon? Alguém faria uma guerra por uma mulher?
PoseidonQue mais há aqui a fazer?

HeráclesQue mais? Ora, concluir a paz!
PoseidonOh! Desgraçado... Não vês que és sempre enganado? Estás a arruínar-te. Porque se Zeus morresse, depois de doar o seu império, ficarias na pobreza... afinal, tu és o herdeiro dele.
PistéteroOh, por todos os deuses! Vê como ele te tenta convencer! Vem cá, para te dar uma palavra. O teu tio tenta aproveitar-se de ti, meu caro amigo. A lei não permitirá que fiques nem com uma moeda de herança paternal, pois és bastardo e não filho legítimo.
HeráclesSou um bastardo? Que é que estás a dizer?
PistéteroClaro. Afinal és filho de uma estrangeira. E como achas que Atena é considerada sua única herdeira, ela uma filha... se existissem filhos legítimos?
HeráclesMas, e se o meu pai me fizesse seu herdeiro, no seu leito de morte, mesmo sendo bastardo?
PistéteroA lei proíbe-o, e o mesmo Poseidon seria o primeiro a reclamar a sua herança, em virtude de ser seu legítimo irmão. Ouve, assim é a Lei de Sólon: "Um bastardo não herdará, se existirem filhos legítimos; e não havendo filhos legítimos, a herança passa para o parente mais próximo"!
HeráclesEntão, e eu não ficaria com nada da sua fortuna pessoal?
PistéteroAbsolutamente nada! Mas diz-me, fez o teu pai entrar o teu nome nos registos da irmandade (fratria)?

HeráclesNão, e há muito que fiquei surpreendido com essa omissão.
PistéteroPorque ameaças o céu com os teus punhos? Queres lutar? Então, fica do meu lado, farei de ti rei, e desfrutarás do leite e mel das aves.
HeráclesA sua condição adicional parece-me justa - a donzela concedo-a a ti.
PistéteroQue dizes tu?
PoseidonOponho-me, é claro.
PistéteroEntão tudo será decidido pelo Tribalo. Que dizes tu?
TribaloBela donzela Basilina, a dou minha!
HeráclesEle diz que concorda.
PoseidonPor Zeus, ele não diz nada disso, parece que balbuciou... andorinha. 
PistéteroCerto. Se disse andorinha, então deve ser entregue às aves.
Poseidon (resignado): Está bem, vós os dois acertai o assunto; façam a paz se é o que querem; eu manterei a boca fechada.

HeráclesEstou com vontade de te conceder tudo o que quiseres! Mas vem ao céu connosco, para receberes Basileia e o legado celestial.
PistéteroEstes pássaros foram mortos bem a jeito de serem servidos numa boda de núpcias.
HeráclesIde-vos. Se quiseres, eu cuidarei que a carne asse bem. 
PoseidonAssar a carne? Isso parecem-me propósitos de um glutão. Tu vens connosco!

HeráclesHmm? Podia ter-me tratado bem desta fome.

PistéteroTragam-me uma bela e magnífica túnica nupcial.

(A túnica é-lhe entregue, e ele parte com os três deuses) 

Coro (cantando): Em Phanae [Chios], próximo da clepsidra, habita um povo sem fé ou lei, os Englotogastros [ventríloquos] que semeiam e colhem as vinhas e os figos com a língua. Pertencem a uma bárbara raça, e entre eles encontram-se os Filipos, os Gorgias. E foram os ventriloquos Filipos que espalharam na Ática o costume de nos sacrifícios cortar a língua em pedacinhos. 

(Entra um mensageiro)

Mensageiro (em tom trágico): Ó vós, cuja ilimitada felicidade não consigo expressar por palavras, raça triplamente afortunada de aves aladas, recebam o vosso rei nos vossos abençoados lares. Mais brilhante que a mais brilhante estrela que ilumina a Terra, ele está chegando ao seu brilhante palácio dourado; o próprio Sol não brilha com maior glória. 
Está entrando com a noiva a seu lado, cuja beleza nenhuma língua humana pode expressar. Na sua mão brande o raio, o traço alado de Zeus. Perfumes de doçura indizível invadem os espaços etéreos. É um glorioso espectáculo ver as nuvens de incenso que se elevam como espirais de fumo. 
Mas ei-lo! Que a boca sagrada da Musa divina profira os cantos apropriados.

Coreografia da peça na Univ. Cambridge (1883) - desenho de R. Farren.

(Pistétero entra com uma coroa na cabeça, acompanhado por Basileia)

Coro (cantando): Para trás, para a direita, para a esquerda, avançar! Voem em torno deste feliz mortal, cuja Fortuna muniu de todas as suas bençãos. Oh! Que graça, que beleza! Oh! Que casamento mais auspicioso para a nossa cidade. Toda a honra é deste homem.
É através dele que as aves são chamadas aos mais gloriosos destinos. Que as vossas músicas e hinos nupciais o saúdem com a sua Basileia. Foi no meio de iguais festividades que as Moiras uniram Hera a Zeus que governa os deuses do cume do seu trono inacessível no Olimpo. 
Oh! Hímen. Oh! Hímeneu. Atrás, o rosáceo Eros, de asas de ouro, segurava as renas e guiava a carruagem. Oh! Hímen. Oh! Hímeneu.
Pistétero: Estou encantado com as vossas músicas e hinos, aplaudo os versos. Agora celebrem o trovão que abala a terra, o relâmpago flamejante de Zeus e o seu terrível raio.

Coro (cantando) Oh! Clarão dourado do relâmpago! Oh! Divinos fachos de chamas, que Zeus lançava. Oh! Sim, trovões rolantes que traziam a chuva! É pela ordem do nosso rei que agora abanam a Terra! 
Oh! Hímen. Oh! Himeneu. É através de ti que ele comanda o universo por Basileia, que roubou a Zeus, e que agora tem a seu lado. Oh! Hímen. Oh! Himeneu.
Pistétero (cantando) Que todas as tribos aladas dos nossos concidadãos sigam os noivos até ao palácio de Zeus, e até ao leito nupcial.
(para Basileia): Estende as tuas mãos, querida esposa. Segura-te nas minhas asas e vamos dançar. Irei erguer-te e levar-te pelo ar. 

(Pistétero e Basileia saem dançando, o Coro segue-os.)

Coro (cantando) Alalale! Io, Paion! Viva, o justo vencedor! Oh! O maior de todos os deuses!


--------------------  FIM  -------------------

sábado, 21 de maio de 2016

Nebulosidades auditivas (37)

Do filme "Gladiador", cuja banda sonora foi feita por Hans Zimmer (um dos habituais compositores de Holywood), surgiu um tema que parece "ecoar pela eternidade", lembrando a frase emblemática do filme:
"what we do in life, echoes in eternity"

... e que segue nesse ponto o argumento do filme Cloud Atlas, que referi no texto anterior.

As palavras da bela voz de Lisa Gerrard (vocalista dos Dead can dance) são proferidas numa linguagem inventada, desprendidas de significado real, mas plenas de significado emocional.
O vídeo que encontrei é também interessante, apesar de consistir apenas na repetição do tema, durante mais de 2 horas, com imagens de galáxias divulgadas pela NASA.

Hans Zimmer & Lisa Gerrard - Now we are free (Gladiator soundtrack) video: L. Mauro


Gladiador (2000)... Tra la spica e la man qual muro è messo.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Zero

Entre os múltiplos motores de busca, a Google acabou por se impor de tal forma, que mesmo a tentativa da Microsoft com o Bing, acabou por sortir quase nulo efeito concorrencial.
Este blog, tal como o alvor-silves, ainda assim costumava aparecer em todos os motores de busca, desde o mais estranho duckduckgo ao yahoo, até ao velhinho altavista, etc... 
No entanto, mais recentemente acabei por notar que no disconnect.me, que é praticamente uma versão que usa outros motores de busca, mas sem fornecer a identificação de quem procura, os resultados mudam significativamente.
No caso do odemaia, o resultado é nulo, ou seja um rotundo zero!... conforme mostramos na figura seguinte, tornando clara a diferença entre o bing normal (onde o "odemaia" aparece na primeira página) e o bing sem dados do utilizador (onde "odemaia" passa a ser uma palavra inexistente).


A situação com o alvor-silves é basicamente a mesma...

Se procuramos com o bing normal praticamente todos os primeiros resultados dão no alvor-silves.blogspot, enquanto que se usarmos o bing sem identificação do utilizador, nenhum resultado leva a esse blog.
A situação é tão caricata que os resultados apontam um dos poucos blogs que tem link para o alvor-silves, mas nada de localizar directamente o blog alvor-silves... esse é como se nem existisse.
Acontece que isto nem sempre foi assim, e nem sempre é assim...depende!

O blogger sempre ofereceu alguma informação estatística ao administrador do blog, que são os seguintes painéis:




... não que eu faça muita fé no que estes dados transmitem, porque há imensas maneiras de viciar informação, e no caso informático é muito pior do que alguma vez foi.

O utilizador que não tenha um blog, não sabe por exemplo que é registada a forma como veio aqui parar... por exemplo, se chegou ao blog através de algum motor de busca. Ao contrário do que acontece com os blogs do Sapo, pelo menos aqui no Blogger não se regista o IP do visitante ou comentador, o que no Sapo corresponde a uma forma de controlo grosseira... Pois o visitante só aparentemente é anónimo, já que o administrador do blog pode identificar os utilizadores pelo seu IP de acesso - ou pelo menos saber se são os mesmos, ou diferentes.

A fiar-me nos dados disponibilizados, das 1899 visitas do último mês aqui, só 3 resultaram da procura num motor de busca. Pelo menos essa informação é consistente com o não aparecimento do blog odemaia no motor de busca, se os dados do utilizador não são adequados.
Grande parte das visitas deste mês teria resultado de ter colocado um comentário e link no facebook, a propósito do 25 de Abril.

O engraçado é que desde Dezembro de 2009 sempre encarei a situação com a hipótese de completo isolamento... É claro que vieram aqui pessoas comentar, alguns habituais, como o José Manuel ou a Maria da Fonte, mas foram os mesmos que seguiram a divulgação de início, e também não seria estranho que o bloqueio não fosse total, permitindo assim mais uns tantos acessos ocasionais, mais ou menos aleatórios. A razão dessa suspeita era muito simples... não havia qualquer padrão consistente de acesso livre. O que me fez estranhar não foi a ausência de visitas, mas sim o número reportado de visitas, completamente inconsistente com o facto de, nalgumas ocasiões, ter deixado ambos os blogs sem actividade durante muitos meses. Seria de esperar que o número de visitas decrescesse quase a zero, mas estranhamente foi-se mantendo constante, quase como se isso não interessasse para nada.
E, ainda mais interessante, quando reapareci para colocar novo material, foi aí que as visitas começaram a decrescer um pouco de novo...

De momento, o controlo de acessos - ou seja, a permissão de que fulano X possa aceder a conteúdos W, Y ou Z, presumo que esteja sob completo controlo central da Google, ou de quem controla a Google. O que seria mais estranho é se isso nem estivesse condicionado e controlado...
É facílimo impedir que o fulano X aceda a conteúdos W, podendo aceder a Y e Z.
Na prática X nunca achará estranho, porque não tendo acesso ao conteúdo W, é como se nunca tivesse existido. Quem está nesse nicho W poderá nunca saber disso, porque acaba tendo alguns acessos, dos que também estão isolados no seu nicho, e desconhecerá o bloqueio ao exterior do nicho.

Esta situação não deixa de me fazer lembrar um cena notável no filme Cloud Atlas:

... especialmente quando o arquivista a interroga de como irá passar a sua mensagem, indo ser executada, e ninguém acreditando nela - ao que ela responde "alguém já acredita"... e assim seria o carcereiro, o único a poder escutá-la, que afinal iria desempenhar o papel seguinte.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nebulosidades auditivas (36)

No festival da Eurovisão de 2004 (na Turquia), comemorando 30 anos sobre a vitória de Waterloo, e 22 anos depois do fim da banda, os ABBA decidiram apresentar um vídeo de 6 minutos, denominado "The Last Video", que passou no intervalo do festival. 

Nesse vídeo, os ABBA aparecem retratados como marionetas, numa ilustração de uma audição falhada perante um excêntrico director de uma companhia discográfica, à época de 1974.
ABBA - The Last Video

Hoje o festival da Eurovisão é um fantasma que se arrasta, mas à época tinha a atenção dos diversos países, numa competição que só seria ultrapassada em popularidade europeia pelos eventos futebolísticos ou olímpicos. Um fenómeno que teve igualmente grande popularidade em Portugal nos anos 1980 foram os Jogos Sem Fronteiras... porque, ao contrário do que acontecia na Eurovisão, onde se classificou quase sempre nos últimos lugares, nesses jogos conseguia ganhar...

Ilustrativo no ano de 1974 foi também o caso da canção italiana "Sí" de Gigliola Cinquetti, que foi a segunda classificada, atrás de Waterloo dos ABBA, mas que foi proibida de passar na RAI, por causa de um referendo sobre o divórcio. Quando ouvimos falar do anacronismo dos tempos pré 25 de Abril, esquecemos que, exceptuando talvez a Inglaterra pós-Beatles, a Europa mantinha muitas tradições antigas, e no caso italiano o divórcio só tinha sido autorizado uns anos antes, e votava-se em Maio de 1974 a revogação dessa legalização do divórcio. Ora o "Si" da canção italiana veio a despropósito, e com medo de ser entendido como "sim" no referendo, a televisão italiana decidiu censurar a canção... algo que o regime de Marcelo Caetano nunca fez - e teria razões para isso com a polémica "Tourada".

No início de 1974, Portugal, Grécia e Espanha estão sob regimes ditatoriais, no final desse ano, esses regimes acabam (Portugal e Grécia) ou iniciavam a transição (Espanha). Se a Grécia entra pela primeira vez na Eurovisão de 1974, também o regime ditatorial dos coronéis acabará nesse ano, por um golpe no Chipre, em Junho de 74, a que se sucede a invasão turca. Assim, se a Eurovisão de 1975 aceitou a Turquia, a Grécia suspendeu a participação nesse ano, e no ano seguinte foi ao contrário... 
A importância mediática do evento levava a tomadas de posição, de cariz político.

Este vídeo dos ABBA, manifestação única depois do seu fim, não deixou de ser estranho.
No início dos anos 1970 a cena discográfica inglesa, começava a dominar a Europa, porque a dinastia "song" inglesa anulou por completo a "chanson" francesa, nos anos que se seguiram. 
Apareciam tendências exóticas, e a controlar a enorme quantidade de grupos, as empresas discográficas dominavam o mercado, com alguns directores ou produtores ainda mais exóticos, e com características despóticas, conforme caricaturado no vídeo dos ABBA, pelo actor Rik Mayall.
A cena é colocada em Estocolmo, mas claramente retrata a tentativa de um produtor sueco (Stig Anderson da Polar Records) de colocar os ABBA na cena internacional, apresentando-os a uma empresa discográfica inglesa ou americana. 
A presença de Cher pode indicar que um exótico director retratado poderia ser Phil Spector, mas haveria outros tantos, igualmente maniacos e despóticos.
Apesar dos ABBA aparecerem aqui como marionetas, e serem rejeitados, é natural que se procure retratar o oposto - isto é, só foram aceites depois de aceitarem funcionar como marionetas das empresas discográficas. Ou seja, todos seriam ali marionetas do sistema... excepto as marionetas.
Parece ainda claro que na sala de espera estaria ainda Martin Lee dos Brotherhood of Man, com a sua guitarra, e outros dois membros, vistos como os "ABBA ingleses", e que ganharam o festival da Eurovisão em 1976. Os Brotherhood of Man eram produzidos por Tony Hiller, um dos mais criativos compositores musicais, que escreveu para mais de 500 artistas... e no produtor sueco vê-se um colar dizendo "Tony", talvez invocando uma dupla representação - de Stig e Tony.

Com raras excepções, o modelo que as empresas discográficas optaram foi o de promover e fazer cair bandas, tendo o seu período de ascensão, apogeu e queda, cerca de 6 anos, invariavelmente. Poderia nem haver relação entre a banda e as canções escritas... afinal as empresas dispunham de todo o material, e actuaram sempre conforme quiseram, usando ou desprezando todo esse manancial criativo.

Parece-me evidente que os ABBA quiseram ali assinalar a sua transição - de artistas a marionetas...

Bom, e porque nem sempre tem que haver ou deixar de haver relações entre as coisas, para terminar este período do cancioneiro, com cravos presentes ou ausentes, deixo um vídeo de Joe Jackson, hoje um artista esquecido. Um vídeo que ilustra a Nova Iorque dos arranha-céus, os sucessos de um compositor, e um compositor de sucesso, enquanto o cravo vermelho serve apenas como fortuita ligação entre uma ilusão e a realidade.
Joe Jackson - Steppin' out (1982)

segunda-feira, 9 de maio de 2016

As demolições de 11 de Setembro de 2001

Há já muitos anos, vi um vídeo no Youtube de um russo, Dimitri Khalezov, que explicava a razão pela qual, era claro como a água, que os atentados do 11 de Setembro de 2001 nada mais tinham sido do que demolições controladas dos edifícios das Torres Gémeas, pela deflagração de bombas nucleares no subsolo.

Creio que isso foi antes de ter iniciado estes blogues, pelo que nunca dei atenção especial ao assunto, já que me bastava andar de volta das trafulhices dos enganos do passado, da história falsificada, para ainda ter que adicionar os pesadelos do presente.

No entanto, e como foram surgindo múltiplas teorias, acho conveniente dar relevo a essa "teoria da conspiração", que foi a única que considerei que fizesse mais sentido... do princípio ao fim.

A história do russo era simples... ele explicava que no tempo da "guerra fria", no sentido do desanuviamento, havia a obrigação de declarar o uso de bombas nucleares por ambas as partes.

Estranhamente, os russos tinham recebido a declaração de que iriam ser colocadas bombas nucleares para a demolição do World Trade Center, porque a Câmara de Nova Iorque exigia um plano de demolição de todos os novos arranha-céus. 
Assim, quando a 4 de Abril de 1973 (24º aniversário da NATO...) o WTC foi inaugurado, o pessoal ligado aos serviços secretos russos sabia que os americanos tinham colocado bombas nucleares no subsolo de Nova Iorque, considerando isso para a demolição "pacífica" das altas torres.

Assim, quando as torres caíram, conforme cai qualquer edifício programado para demolição, de forma controlada, abatendo-se um andar sobre outro, não houve grandes dúvidas sobre o que se tinha passado, e como é óbvio nada tinha a ver com os embates dos aviões nas torres. Aliás as torres caíram de forma tão horizontal, que quem percebesse o mínimo de física, perceberia que tal nunca se justificaria por alterações estruturais laterais.

1945 - o bombardeiro que choca com o Empire State Building
Quando se construíram as "torres gémeas", não era novidade a possibilidade de um avião poder chocar contra os arranha-céus, até porque esse acidente tinha ocorrido no mais icónico arranha-céus de Nova Iorque - o Empire State Building, em 28 de Julho de 1945. Devido a um espesso nevoeiro, o piloto de um bombardeiro B-25 desorientou-se e o acidente matou 14 pessoas. A wikipedia acrescenta o seguinte, relativamente ao cuidado que se teve na simulação do embate com um Boeing 707, ao planear o WTC:
In the 1960s, when the World Trade Center was being designed, this B-25 impact incident served as motivation for the designers to consider a scenario of an accidental impact of a Boeing 707 into one of the twin towers (this was prior to the 747).
É claro que na wikipedia não se disse mais nada... para bom entendedor, é mais que suficiente. Para os que não entendem, ou fazem que não entendem, qualquer conclusão adicional só levaria a razões para a exclusão da observação objectiva. 
28 de Julho de 1945 - um bombardeiro choca com o Empire State Building
Este exemplo do semelhante embate do B-25 com o Empire State Building é convenientemente pouco conhecido hoje em dia, e não faz parte de considerações sobre o 11 de Setembro, porque o desfecho foi bastante diferente... e nada teve a ver com "atentados terroristas".

Aconselho fortemente a leitura do artigo (P. W. Kincaid, 21/5/12):

... onde as explicações estão dadas com bastante detalhe, acerca deste planeamento de atentado interno sob o nome de Operação Northwoods.

Um dos aspectos focados é que a designação "ground-zero" só se aplicava a explosões nucleares, e foi desde logo usada "inadvertidamente" como forma de identificar o ponto de impacto no solo. A presença de materiais radioactivas, as doenças dos sobreviventes, a redução a pó de cimento, etc... tudo isso são muitas das provas apresentadas, mas que de nada servem para ajudar a visão dos cegos.

O efeito Ifigénia
As razões que teriam motivado tal acção são de maior dificuldade de interpretação, especialmente para quem está habituado a estórias da carochinha.
Porém, usamos um exemplo que nos chega da Antiguidade - o sacrifício de Ifigénia, pelo pai Agamémnon, tendo em vista bons augúrios e ventos para a expedição Grega contra Tróia.
Guerra de Tróia - O sacrifício de Ifigénia por Agamémon 
Outro exemplo possível, é o da disposição de Abraão em matar o seu filho Isaac, para se conformar à vontade divina... com a diferença que no caso de Isaac não foi concretizado.
Mas, basicamente podemos enquadrar o assunto na disposição clássica para o terror - "se isto é o que faço aos meus, o que acham da minha determinação nesta guerra?"
Uma hipótese do que estava em causa, tem a ver com a regulação do mercado financeiro... a desregulação tinha sido considerada como forma de forçar a queda económica da URSS, mas o monstro financeiro deveria ser confinado de novo, e os seus donos não terão reagido bem, até pela previsível queda do NASDAQ:
The stock market crash of 2000–2002 caused the loss of $5 trillion in the market value of companies from March 2000 to October 2002.[15] The September 11, 2001, attacks accelerated the stock market drop; the NYSE suspended trading for four sessions. When trading resumed, some of it was transacted in temporary new locations.
Apesar desta queda, a especulação foi retomada, até à nova queda de 2008/09, afinal resultado natural do processo fictício de fabricar dinheiro com base em nada... uma forma essencial de manter o poder económico sobre os estados, ao invés de o manter explicitamente por chantagem de ameaça militar.

Os fantoches nacionais
Nesta orquestração de inteligência duvidosa, nem tudo é reprimido, porque interessa também manter vivo o mito do terror, e manter a ideia de que se controla o processo de forma inteligente, ao ponto de inverter a culpa, os autores, etc... e é claro, há sempre fantoches úteis, prontos a fazer os papéis mais miseráveis da condição humana, como nos casos de Durão Barroso ou José Sócrates.
Sobre Durão Barroso, o sucessor de Balsemão no Grupo Bilderberg, quaisquer palavras são demais, e de um dos personagens mais rasteiros da nossa história, pode sempre esperar-se pior. Não é muito diferente da dupla que fez com José Sócrates, este mais no papel de idiota útil, como quando em 8 de Setembro de 2005, ou seja 4 anos depois do atentado ao WTC, fazia análoga demolição das torres gémeas da Torralta: 
Tróia - implosão das torres gémeas da Torralta - 8 de Setembro de 2005.
[vídeo suprimido - outro link]

Curiosamente esta demolição em Tróia era o vídeo de apresentação dos "Homens da Luta" no seu programa "Vai tudo Abaixo", grupo que caricaturando o tempo revolucionário, acabou por levar ao festival da Eurovisão de 2011 um personagem vestido de "militar de Abril", conforme teria pretendido Duarte Mendes em 1975.

E porque a história de Tróia acaba por não aparecer desligada do assunto, fica aqui o texto de Damião de Castro que citei em Ré Vista (4):
Mas já chama pelas nossas atenções o estrondo da Armada de Ulysses rompendo as correntes do Tejo, e devassando as suas margens no anno 77 do governo do velho Gorgoris, pai do celebrado Abidis. Poetas famosos, homens de grandes talentos, e até as Aventuras de Telémaco , obra de um espírito sublime, nos instruem, como reduzidas a cinza as altas Torres de Troia, os autores de tanta ruína se botaram a viajar pelo mundo.
Assim, o que mais pode frustrar a inteligência criadora é a falta de inteligência observadora, e nesse sentido são tolerados e apreciados os comentários de espanto, que servem para encher de vazio balões insuflados que contemplam a sua dimensão nas alturas, antes de serem trazidos ao solo e reduzidos à sua dimensão terrena. Porque se os espanta a razão da sua potência, mais os deveria espantar a razão da sua impotência, por simples voltas ou reviravoltas de um tempo que se cumpriu antes de se cumprir... e não é que não se saiba o que se pensou fazer, e não se fez, porque afinal se fez, sim, mas num tempo que se não cumpriu - ou seja, naquele tempo que está entre o que se pensou que aconteceu e o que aconteceu.


Nota adicional ---------------------------
Agradeço um comentário que permitiu corrigir o texto, colocando o nome do agente russo que tinha publicado o vídeo, e aproveito para deixar o link para o texto que está disponível numa tradução portuguesa:

domingo, 1 de maio de 2016

Nebulosidades auditivas (35)


A spider wanders aimlessly within the warmth of a shadow
Not the regal creature of border caves
But the poor, misguided, directionless familiar
of some obscure Scottish poet

The mist crawls from the canal
like some primordial phantom of romance
To curl, under a cascade of neon pollen
while I sit tied to the phone like an expectant father
Your carnation will rot in a vase.

Marillion - Bitter Suite (in Misplaced Childhood)

Entre 19-21 de Abril de 1974, na estância de esqui francesa de Megève (criada pelos Rothschild uns 50 anos antes como alternativa a St. Moritz) decorreu a habitual reunião anual do grupo Bilderberg (sem qualquer participante ibérico).
Ou seja, exactamente no fim de semana que antecede a quinta-feira de 25 de Abril de 1974, ou ainda, na véspera da chegada dos navios da NATO a Lisboa.

O grupo Bilderberg foi liderado desde a fundação e até 1975 pelo príncipe consorte da Holanda, Bernhard von Biesterfeld (e herdeiro da casa do Conde de Lippe) cuja "imagem de marca" era aparecer sempre com um cravo branco na lapela.
O príncipe Lippe-Biesterfeld, presidente do grupo Bilderberg,
usava sempre um cravo branco na lapela.
A razão deste seu apego ao cravo (que nunca deixava de usar), era entendida no quadro do seu papel de resistência à ocupação nazi da Holanda na 2ª Guerra Mundial, ou seja, no quadro do Giroflé-Girofla. Aliás, aquando da "libertação de Viena", pelo exército soviético, os moradores foram "convidados" a usar cravos vermelhos no dia 1 de Maio de 1944 (ou seja, 30 anos antes):
It was May Day, and a big parade was laid on for the Russians. Austrian flags had been made out of old swastikas, and the women had fashioned headscarves out of the same material. The people wore red carnations and greeted one another with the word 'Freiheit' or 'freedom', rather than the usual 'Griiss Gott!' The Russians made the city a present of tons of provisions. The Viennese said it was all food they had plundered from them in the first place.
O cravo vermelho era já um símbolo socialista, usado em comemorações do 1º de Maio, afinal o dia Mayday - passara do pânico do perigo de tomada de poder pelo "Demo" popular, para a domesticação desse animal selvagem com um regime fantoche de ilusões infantis, chamado "Demo-cracia". 

Portanto, podemos pensar que naquele fim-de-semana de 21 de Abril de 1974, uma certa elite que se reunia na estância de Megève, desconhecia por completo o que se iria passar no dia 25, e que por uma certa junção de coincidências, a esquadra da NATO estava em Lisboa de visita, e a D. Celeste da loja do Franjinhas, essa é que tinha um bom stock de cravos, antes da época, conseguindo simbolizar a revolução com centenas de cravos, para agrado do príncipe Bilderberg, surpreendido com a coincidência (para mais informação - notando que Medeiros Ferreira esteve na reunião Bilderberg antes de Balsemão)
As espingardas do MFA decoradas com cravos (de diversas cores). [img]
Numa certa coincidência adicional, de que já falámos noutra "nebulosidade auditiva", a operação da NATO agendada para o dia 25 de Abril de 1974, chamava-se Patrulha da Madrugada (Dawn Patrol)... e seria assim um espectáculo de coordenação de vontades, assistir à representação portuguesa no Festival da Canção de 1975, com a canção Madrugada (afinal, a patrulha tinha sido um sucesso):
Madrugada - Festival de 1975 (Duarte Mendes quis ir trajado de militar de Abrilmas apenas 
conseguiu levar o cravo ao peito, tal como depois levaram os vencedores de 1976
mostrando que havia diversos pais para aquele símbolo).

Ora, o problema da nossa audição local é que raramente, e só por alguma sorte, conseguimos ouvir vozes mais distantes, por muito que gritem, e tentem se fazer ouvir.
O dia 25 de Abril não ficou apenas uma data importante para Portugal... tratou-se ainda do dia de desembarque em Gallipoli, na Turquia, no quadro da 1ª Guerra Mundial.

Assim, no ano passado comemoraram-se 100 anos do Anzac Day, já que a 25 de Abril de 1915 um enorme contingente de forças do Império Britânico, especialmente da Austrália e Nova Zelândia, mas também de outras colónias britânicas, perdeu a vida a tentar o desembarque em Gallipoli
25 de Abril de 2015 - Anzac Day - o príncipe Carlos coloca cravos vermelhos
nas campas dos soldados (turcos) que perderam a vida
naquela Madrugada... em Gallipoli.
A flor que é usada nas celebrações do Anzac Day não é o cravo, é a papoila vermelha, e é esse símbolo estilizado que é usado na lapela, não apenas no Reino Unido, mas em toda a Commonwealth, conforme se pode ver que o príncipe Carlos o usou, segurando apenas na mão cravos vermelhos.
Cravos vermelhos que julgo serem o contraponto que os turcos fizeram questão de usar pelo seu lado, pelo lado do inimigo Otomano, que combateu o Império Britânico, mas que igualmente sofreu imensas perdas nessa Madrugada... foi por isso de forma diferente que os turcos viram os cravos portugueses no Festival de 1975, e à canção Madrugada decidiram atribuir uns surpreendentes 12 pontos (ou seja, do total de 16 pontos, aqueles 12 vieram da pontuação máxima dada pela Turquia).

E tal como o príncipe Carlos, herdeiro do trono britânico, segurou na mão os cravos dados pelos turcos, também este ano, no 25 de Abril, o nosso presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, herdeiro do nome de Marcelo, por Marcelo Caetano, deposto na revolução dos cravos, e talvez bem ciente da ambiguidade do símbolo, segurou o seu cravo a meia-haste.