terça-feira, 30 de outubro de 2018

Nebulosidades auditivas (65)

De tempos a tempos, surge Kate Bush, aqui com "Hello Earth", que de acordo com a wikipedia inclui uma parte coral da Geórgia: «The chorale in "Hello Earth" is a segment from the traditional Georgian song "Tsintskaro", performed by the Richard Hickox Singers»

Como esta canção não tem vídeo oficial, fica aqui o vídeo de "MrMarrs", uma daquelas produções caseiras que às vezes aparecem com qualidade semelhante ou superior a muitos vídeos oficiais, bastando para isso trazer segmentos apropriados, que vão do filme Contacto a um vídeo dos Black Eyed Peas.

Kate Bush - Hello Earth (1985)

Watching storms start to form over America
Can't do anything
Just watch them swing with the wind out to sea
All you sailors - get out of the waves, get out of the water

... e quando nos julgamos potentes, sofremos com a nossa impotência. O que é difícil perceber é que a cura para esse sofrimento não é aumentar a nossa potência, tentando uma impossível omnipotência, a cura é simplesmente aceitar a impotência, confome ela se manifesta. Não há diálogo com entidades patologicamente surdas. Murderer of calm... go to sleep little Earth.

Para fãs, a este trecho deve-se seguir, quase obrigatoriamente, "Morning Fog", conforme no álbum "Hounds of Love". Aliás parece-me que as duas canções são uma só.

Kate Bush - Morning Fog (1985)

I am falling like a stone, like a storm, 
Being born again into the sweet morning fog...
You know what? I love you better now.

sábado, 27 de outubro de 2018

Ora, a hora

Não é preciso procurar muito, para encontrar incompetência em tudo o que nos rodeia.

A partir de 1975, ficámos com a sina de que, chegado o inverno, para além de termos menos exposição solar, ficámos sujeitos à "hora de inverno", aquela maravilha que nos deixa de noite às cinco da tarde. Chamou-se a isso DST - Daylight Saving Time.

Durante um breve período, no deslumbre da adesão à CEE, ainda houve a peregrina ideia de ficar na mesma hora de Espanha e da maioria dos países europeus, e quem se lembra disso, lembra-se que no Verão o pôr-do-sol chegava a acontecer bem depois das dez da noite.  

No final de Agosto deste ano, fomos supreendidos com a notícia de que a UE iria propor o fim da mudança de hora, devido a um inquérito em que 80% da população inquirida (ao que consta, quase 5 milhões pessoas, especialmente alemães) tinha respondido que preferiria manter a hora de Verão.

Em Portugal o assunto está delegado no OAL - Observatório Astronómico de Lisboa, tendo uma comissão que praticamente toma esta questão da mudança da hora, como actividade única.
Dipensam-se os comentários jocosos, mas a última coisa que podemos esperar que uma comissão de gambuzinos diga é que os gambuzinos não existem.


O relatório do OAL sobre as razões de apoiar a mudança de hora é mediocre - opinião mais meiga.
Procurando escudar-se em questões técnicas, que são absolutamente triviais, dados os meios actuais, tentam esconder-se num único argumento, enumerando múltiplos cenários desnecessários.
Esse argumento é o de que a actividade humana se centra entre as 7h30 e 17h30, e num desespero que chega a doer pelo irrealismo, é pretendido que o meio-dia coincida com o meio do dia...

Ora 12h00-7h30 dá 4h30 para a manhã, e 17h30-12h00 dá 5h30 para a tarde.
Ou seja, um desequilíbrio de manhãs mais curtas que as tardes em uma hora...
Só que esse desequilíbrio é muito maior, e isso não é minimamente abordado ou admitido.

À excepção de cafés, ou similares, são raros horários anteriores às 8h00, e a maioria dos estabelecimentos comerciais, fora centros comerciais, tem o seu fim de actividade às 19h00.
Isso causa manhãs com 4h00 e tardes com 7h00, num desequilíbrio de 3 horas.

Os restaurantes percebem bem o "assunto astronómico" e têm o seu meio-dia regulado para o meio do dia de trabalho, ou seja, abrem às 12h00 e fecham às 15h00, com o meio-dia às 13h30, coincidindo exactamente com o meio do período que vai das 8h00 às 19h00.
Surpreendentemente, e como estranhamente sabem que a actividade humana termina às 19h00, abrem os restaurantes para jantar às 19h00, e não às 17h30.

É claro, pode pretender o OAL diferentemente, se conseguir que os restaurantes sirvam os almoços das 10h30 às 13h30, e comecem a servir os jantares às 17h30. Os jornais das 20h00 passarão então a ser emitidos às 18h30. Podem ainda tentar que as aulas comecem às 6h30, em vez das 8h00, e que as lojas fechem às 17h30 em vez das 19h00.

Tudo isso é perfeitamente possível, mas corresponde apenas a ignorar que a actividade humana está centrada no horário das 13h30, que durante o horário de Verão corresponde aí ao meio-dia solar.

Por isso, se houvesse alguma intenção de regulação da luz do dia com a actividade humana, não se deveria fazer qualquer alteração de hora... mas, ui, ui... isso seria assumir que o meio-dia solar ocorreria mais próximo das 13h30 do que das 12h00.

Quanto à efectiva poupança de energia eléctrica, para uma sociedade que se habituou a ser noctívaga, pois isso seria um detalhe "mínimo", que não interessaria às empresas eléctricas.

No entanto, sendo até sensível ao desagrado de rumar ao trabalho ainda de noite, não me desagradaria esta mudança de hora no final de Outubro, contando que o assunto estaria equilibrado. Ou seja, se a mudança é feita menos de 2 meses antes do solstício, a nova mudança deveria ser antes de 2 meses depois do solstício... ou seja, antes do fim de Fevereiro.
Não é isso que acontece, a próxima mudança será a 30 de Março de 2019... e o OAL reconhecendo esta desproporção, é ainda mais caricato apontando o outro sentido, o sentido EDP - ou seja, antecipar a hora logo em Setembro e não em Outubro.

Estive no Brasil numa altura em que o Sol nascia pouco depois das 5h00, e nunca vi tanto desperdício de actividade humana, porque as coisas só começavam efectivamente a funcionar no horário clássico. Portanto, o assunto não é de menor importância, mas a maneira como é abordado revela muito do que está instalado.

O que está instalado é simples... a partir do momento em que a iluminação artificial substituiu a natural, o Inverno deixou de ser um tempo de repouso de actividades campestres, para ser um tempo de trabalho nocturno. E assim, a grande graça de iluminação do génio humano, passou a receber todas as sombras de desgraça pela simples perversidão humana dirigente.

domingo, 21 de outubro de 2018

Novelo das 8 (2) - tanques e a roupa suja

- Referes-te a tanques?
- Sim, mas não a tanques militares. 
Tanque comunitário. (imagem)

- Ah... quando acumulava a roupa suja?
- Não, o que acontecia quando a roupa era roubada?
- Não percebo.
- De quem era a culpa, da lavadeira, da governanta, ou do mordomo?
- A culpa seria do ladrão, ou está-me a escapar qualquer coisa?
- Esquece lá o ladrão. Ninguém quer saber dele nem da lavadeira. Escolhe, governanta ou mordomo?
- A roupa ainda era usada?
- Não, era velha.
- Bom, se a ideia era despedir a governanta, parece-me ideia do patrão.
- Nesta casa não há patrão, nem CEO, nem nada dessas coisas.
- Ou seja, há quem mande, mas não quer que se saiba quem é...

sábado, 20 de outubro de 2018

Novelo das 8 (1) - julgamento de Sócrates

- Pois bem, mas não foi Sócrates o pior dos seus acusadores?
- A questão não é tanto essa.
- Que nome se dá a um sorteio que é repetido até que sai o resultado pretendido?
- Nomeação... afinal, a corja escolheu o nome.
- Eu diria antes... completa ausência de vergonha.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Nebulosidades auditivas (64)

Surgiu agora num anúncio e nunca me lembro de a ter ouvido antes. Mas há melodias que estavam no ar quando éramos crianças, e que talvez por isso colam ao ouvido como se estivessem estado sempre presentes.
Rolling Stones - She comes in colours (1967)


domingo, 14 de outubro de 2018

O Leslie e o Ciclone de 1941

Na passagem da noite de ontem para o dia de hoje, a comunicação social deu rédea solta aos ventos fortes trazidos pela tempestade "Leslie". Poderia ler-se: 
... e não vale a pena colocar mais, porque a característica típica da comunicação social dos dias de hoje é papaguearem todos o mesmo conteúdo, com uma pequena variação de palavras.

Ora, acontece que ninguém fez referência à pior ocorrência de ventos fortes do Séc. XX - um "ciclone". 
Estou a falar concretamente do Ciclone de 1941, e pego na menção feita na página do IPMA (no ano passado):
  • 2017-02-16 (IPMA) Foi há 76 anos, a 15 de Fevereiro de 1941, que o País foi varrido de forma muito violenta por uma depressão muito cavada que passou a ser conhecida como o “ciclone de 1941”. (...) Em Lisboa foi registado um valor de rajada de 129 km/h, Coimbra registou 133 km/h e no Porto, Serra do Pilar, 167 km/h, momento em que o anemómetro se avariou.
Basta ir ao site da Câmara Municipal de Lisboa para encontrarmos a notícia do Ciclone de 1941:
  • 1941 - CICLONE - No dia 15 de fevereiro de 1941 Portugal foi assolado por um ciclone que deixou um rasto de destruição por todo o país, além de um elevado número de mortos, de feridos e de desaparecidos. A extensão e a gravidade dos danos levaram mesmo a que este fosse recordado como "o dia do ciclone".
  • Segundo informações da época, o ciclone formou-se entre a Madeira e o Cabo de S. Vicente e o vento terá atingido em Lisboa a velocidade de 127 km/h. No resto do país os ventos atingiram valores ainda mais elevados, com o anemómetro da Serra do Pilar a registar rajadas de 167 km/h.
  • Os danos provocados foram consideráveis: estradas cortadas, milhares de árvores arrancadas, casas destelhadas, chaminés derrubadas, famílias sem-abrigo, ligações telegráficas e telefónicas interrompidas, naufrágio de embarcações, etc., como poderá ser constatado nas notícias publicadas no periódico O Século que aqui disponibilizamos.

Que ninguém tenha mencionado o assunto, não será estranho porque o Ciclone de 1941 não ficou registado como "furacão"... e na competência típica desta época (ou noutra opinião, vergonhosa incompetência), os peritos chamados para comentar estavam mais sintonizados em ajustar o evento à moda das "alterações climáticas". 
Todos comeram por boa a referência a 1842, porque o evento deve ter sido classificado recentemente como "furacão", ao contrário do "ciclone" que ocorreu em 1941. Assim, na sua gloriosa competência de correr bases de dados, lembraram um episódio pífio do Séc. XIX, mas esqueceram um outro, que era só 100 anos mais recente. Um hino também à competência informática que vai gerindo bases de dados, e à sua "inteligência artificial".
Foi sendo feito o discurso de agrado jornalístico, para encher o espaço morto... porque felizmente os ventos foram apenas fortes, sem consequências letais, como em 1941. A Protecção Civil pôde então mostrar a sua efectiva competência, e sair de mansinho com a fatiota de heroína da catástrofe que anunciou, primeiro mais, depois menos, depois mais ou muito mais.

Como em 1941 o anenómetro da Serra do Pilar (Porto) avariou a 167 Km/h, desta vez os registos do Leslie dispararam até 176 Km/h na Figueira da Foz, parecendo estabelecer novo recorde nacional!
É este tipo de informação parcial que é também completa desinformação - em 1941 as estações de medição contavam-se pelos dedos, actualmente essa medição é feita facilmente em qualquer lugar.

Vendaval "Zé Povinho" de 2009
Mas há mais falta de memória!
Ainda há pouco tempo, em 23 de Dezembro de 2009, a região Oeste foi devastada por um vendaval que terá atingido medições de vento entre 140 Km/h e 220 Km/h. Não teve direito a nome, mas vamos por-lhe o nome de "Zé Povinho"...

"Mau tempo deixa rasto de destruição: zona oeste é a mais afectada, 
mas as chuvas e o vento forte vão continuar a atacar."
No vendaval de 2009 falou-se em falhas de energia a 350 mil pessoas.

A princípio passou por ser um vendaval, um temporal, ou até um "tornado", depois dada a extensão afectada chamou-se-lhe mesmo "furacãozinho"... e interessou medir ventos de 220 Km/h, porque, por exemplo, a EDP não seria responsável pelos danos com essa velocidade de vento!

Qual o problema?
O problema parece ter sido simples. Ninguém no "estrangeiro" tinha classificado a alteração atmosférica com um "nome da treta" e não estando classificado como furação, como aconteceu com o Vince (2005), o Ophelia (2017) ou o Leslie (2018), também falha nas bases de dados de pacotilha, usadas pelos "peritos" nacionais, despreocupados com o Zé Povinho.
Assim, apesar da destruição ter sido muito superior à ocorrida agora pela passagem do "furacão" Leslie, o fenómeno passou por ter sido um "vendaval" ou "temporal", nomes menos pomposos, dignos da condição Zé Povinho.

Mais uma vez, ninguém se quis lembrar disto! Aqui a situação é mais engraçada, porque se em 1941 a maioria dos "doutores da mula ruça" não eram nascidos, em 2009 viveram o evento.

Temporal "Max" de 2010
Como o que falta aos encartados são nomes criativos, há talvez que colocar o nome do fadista madeirense Max aos terríveis acontecimentos que caíram sobre a Madeira em Fevereiro de 2010.
Não houve grandes ventos, mas caso o furacão Leslie tivesse trazido grandes chuvas, como é habitual, poderia desenvolver-se uma situação similar à de 2010.

Como a tempestade "Max" também não está nas bases de dados doutorais de "furacõezinhos", é natural o pessoal esquecer-se como aquele inverno de 2009/2010 foi particularmente nefasto e funesto no território nacional... sem que se associasse tanto às mudanças climáticas, como é agora moda ir fazendo.
Este "temporal" está classificado na Wikipedia como "aluvião" (... nomes não faltam):

47 mortos e 4 desaparecidos
250 feridos e 600 desalojados
É disto que estamos a falar...
Passados 8 anos já ninguém se quer lembrar.
Estamos numa sociedade sob efeito "Alzheimer".

Sim, mais uma vez, ninguém pode dizer que se esqueceu... o Leslie antes de passar por Portugal, passava pela Madeira, haveria sempre o perigo de chuvas torrenciais, e não vi vivalma ou canal televisivo relembrar o que aconteceu em 2010.

Natural e Artificial
Esses acontecimentos do inverno de 2009/2010 não os esqueço, e nem sempre os associo a fenómenos naturais. Mas isso é uma outra conversa, sobre a qual faltam dados mais objectivos para prosseguir. Porque a principal questão da alteração climática não é tanto o que se está a passar, ou o que se passou, mas sim a vontade de alterar o que se está a passar... e com a desculpa da acção global de todos, surge um pretexto ilibador para a acção particular de alguns.

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Nota adicional:  Ver também:  o blogue "Vedrografias":

sábado, 13 de outubro de 2018

Lua - proibida a menores de 80 anos

Restam 4 dos 12 apóstolos, digo homens, que "alegadamente" deixaram pegadas na Lua:

  • 1- Neil Armstrong (faleceu em 2012)
  • 2- vivo - Buzz Aldrin (tem 88 anos)
  • 3- Charles Conrad (faleceu em 1999)
  • 4- Alan Bean (faleceu em 2018)
  • 5- Alan Shepard (faleceu em 1998)
  • 6- Ed Mitchell (faleceu em 2016)
  • 7- vivo - David Scott (tem 85 anos)
  • 8- James Irwin (faleceu em 1991)
  • 9- John Young (faleceu em 2018)
  • 10- vivo - Charles Duke (tem 83 anos)
  • 11- vivo - Harrison Schmitt (tem 83 anos)
  • 12- Eugene Cernan (faleceu em 2017)

Espera-se que o último seja mantido em suporte de vida além dos 100 anos, para dar tempo para encenar a próxima ida à Lua, provavelmente feita já com protagonistas chineses ou russos.

Isto porque estreou ontem o filme "First Man", que já teve uma pequena controvérsia, ao não incluir a imagem da bandeira americana a ser "espetada" na Lua.


Ficamos à espera da produção russa ou chinesa... talvez espetem a bandeira noutro sítio, ao lado, ou tirem a bandeira americana - tudo depende do tipo de drama que estiver a ser preparado.

Parece que estou a ouvir a minha avó - "... estás a ver, eu não te dizia?"


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A velha e a nova Caledonia

A velha Caledonia era a designação romana para a Escócia. Tem todo aquele sabor dos galos celtas, como em Gales, Galiza, Galícia, ou Galatia, mas aqui mais ao estilo de Cale, do Porto Cale.

Nova Caledónia foi depois uma designação acomodada por Cook na sua "descoberta" austral.
Tipicamente a ilha terá sido visitada por Pedro Fernandes Queirós, e certamente muito antes disso, por outros navegadores portugueses.

Em breve a Nova Caledónia, actualmente sob jugo francês, irá a um referendo de autonomia, conforme foi aqui informado pelo José Manuel Oliveira.

O referendo irá ocorrer no dia 4 de Novembro de 2018:
e as sondagens apontam para uma vitória do "Não", o que é facilmente entendível, já que os franceses encarregaram-se da técnica de pacotilha habitual - encheram a ilha ainda com migrantes, de forma a tornar a população indígena muito minoritária.

A situação é razoavelmente bem explicada neste vídeo da PressTV - "We are Rebels".

We are Rebels - New Caledonia (Press TV, 2014)

Os habitantes originais da ilha teriam o nome de Canaques, e pode-se aqui falar de
Carnac versus Canaque

... no sentido em que Carnac fica em França (é verdade, há também Karnak no Egipto, mas se os egípcios foram ali colonizadores, pois ninguém soube), enquanto Canaque é o povo da ilha (também se escreve agora Kanak, talvez para parecerem mais egípcios!).

A sua tentativa de independência tem mais de 30 anos, e teve um desgraçado episódio em 1988, com uma intervenção militar francesa, quando alguns canaques tomaram reféns na ilha de Ouvéa, tendo culminado na execução de 19 elementos canaques, pelos franceses... numa típica manifestação de que a descolonização dos portugueses era imperativa, mas a dos franceses nem por isso.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Outubro catalão - repressão aspañolada

No assunto catalão reconhecer qualquer autoridade a Espanha, é não reconhecer a existência da Catalunha, ou não conhecer a história antiga da Catalunha, que remonta à constituição da própria Espanha na união matrimonial de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os chamados "reis católicos". É assumir uma inviolabilidade desse casamento de 5 séculos, e recusar um direito democrático ao divórcio das populações.

O rei de Espanha é uma figura caricata, como não o é a rainha de Inglaterra. Pouco mais representa do que o pior de um passado decadente, em que foi renascida uma nobreza pedante, amarrada a protocolos, títulos e à revista Hola. Ao invés de apoiar a vontade democrática de um dos seus reinos, preferiu manter-se no poder pela força de uma constituição que o tem como apêndice facultativo. Não terá aprendido nada com uma rainha inglesa que é também rainha do Canadá e da Austrália, sem nunca impor a vontade de Otava ou Camberra ao parlamento de Londres.
Neste momento não é rei da maioria dos catalães, mesmo sendo rei da Catalunha.

Porque o que temos neste momento em Madrid, é um governo aspañolado, repressor da vontade expressa de uma província fundamental. Passado um ano sobre o referendo catalão, regressou à Catalunha o pesadelo inquisitorial aspañolado. Quarenta anos após Franco, as prisões políticas regressaram. 
Em 4 de Julho, seis dos presos políticos, presos em Outubro de 2017, foram transferidos da prisão de Madrid para prisões na Catalunha:
  • Oriol Junqueras, Jordi Sanchez, Jordi Cuixart, Carme Forcadell, Raul Romeva, Dolors Bassa. 
Estão presos preventivamente, acusados de rebelião, sedição e peculato(!), após o referendo de independência da Catalunha.

Manifestação em Julho para a libertação dos presos políticos

Como é óbvio, nem sequer houve qualquer julgamento, houve apenas uma detenção preventiva... que em breve irá fazer um ano. O crime gravíssimo de que são acusados resume-se a organizarem eleições com o mandato popular que os elegera... em particular para isso mesmo.
Como Madrid não pode decretar a prisão de 2 milhões de catalães, prende os representantes, que cometeram o crime de representarem quem os elegeu.
A repetição das eleições, engendrada por Rajoy, repetiu o resultado. A menos que o governo aspañolado esteja a pensar numa deportação em massa de populações, a vontade catalã parece complicada de tornear, a bem.

Entretanto, Puigdemont, o presidente fugitivo, escapou-se da justiça alemã, porque os tribunais alemães tiveram pelo menos o bom senso de não ser arrastados por completo para o pântano españolito. Puigdemont, não podendo ser reeleito, decidiu formar o Governo da Catalunha no exílio. 

Neste sábado já houve manifestações complicadas e neste dia 1 de Outubro são esperadas mais:

Justiça...
Portugal não tem propriamente uma justiça recomendável, basta avaliar pelo caso de Maria de Lurdes Rodrigues, em que a liberdade de expressão do cidadã foi espezinhada por uma justiça carente de bom nome e respeitabilidade.
Maria de Lurdes vive um martírio há 22 anos, ou pelo menos há 18 anos, desde que decisões judiciais controversas e desfavoráveis a levaram a uma guerra contra justiceiros nacionais, tão bem falantes quanto arrogantes, tão libertários quanto pequenos déspotas.
Armada de uma perigosa folha de papel e de palavras, que não agradaram ao judicialismo embuçado, de capa negra, teve agora o seu pedido de liberdade condicional recusado.
Presume-se que a perigosa prevericadora, pudesse continuar a usar palavras perigosíssimas, como falar em "gangue da justiça". Avaliando pelo tempo que já perdeu no assunto, estaria já livre se em vez de papel, tivesse atingido quem acusava de forma menos pacífica.
Os gangues entendem melhor quem fala a sua língua.

Noutro caso, igualmente pouco recomendável, Julian Assange viu em 2016 a Comissão de Direitos Humanos da ONU dar-lhe razão, e recomendar à Inglaterra e à Suécia, a sua libertação, bem como o pagamento de uma devida indemnização!
Claro que a ONU não interessa nada, e passados mais de 2 anos, continua tudo na mesma... ou pior. Afinal dois advogados de Assange já faleceram em circunstâncias pouco claras, e os EUA estão a preparar uma acusação contra ele.

A liberdade de expressão nunca foi reprimida entre coscuvilheiras, ou em discussões clubísticas (mas até nisso parece estar a mudar). A liberdade de expressão sempre foi um problema quando era verdadeiramente incómoda e atingia quem detinha cargos de poder. Nesse aspecto, as democracias vêem-se cada vez reféns dos votos do "politicamente correcto", e não hesitam em cavalgar ondas censórias, porque são elas próprias que agitam essas ondas, e definem o que é ou deixa de ser "politicamente correcto", pela sua política.
O direito, que poderia ser uma disciplina objectiva, acomodou-se a uma clubite de interesses definidos em escritórios, paróquias, ou salas de avental. É o último garante de um poder sem qualquer escrutínio, que tem imunes juízes que invocam a jurisprudência bíblica ou o hedonismo económico.
Como poder imune, autoprotegido, que conta com a colaboração policial, não há dúvida que o nome "gangue da justiça" parece demasiado acertado para poder estar errado.

Balanço do 1 de Outubro de 2018:
New York Times:

The Guardian: