quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

The Ego has landed

13 de Setembro de 1999... para quem não sabe, a Lua deixou a órbita terrestre, e navega pelo espaço.
Essa antevisão de futuro aparece agora como lembrança do passado.

Espaço 1999 foi uma série de culto dos anos 70, produção de 1973-74, da ITV inglesa e da RAI italiana, estreou em 1975 (em Portugal em 1977, creio).
Nos Pinewood Studios, onde Kubrick tinha realizado o "2001 Odisseia no Espaço", Gerry e Sylvia Anderson iriam produzir uma "série de culto" dos anos 70 e seguintes, depois de se terem estreado com UFO, uma série sobre abdução para efeitos de transplantes de órgãos (trama depois abordada de forma notável no filme de 2005, "A Ilha").

Nesta produção europeia, havia uma significativa evolução de cenários futuristas, relegando quase para fantasia grosseira a anterior, e mais famosa série, Star Trek (1966-69).
Martin Landau (John Koenig), Barbara Bain (Helena Russell)
com os produtores Gerry e Sylvia Anderson.  

É claro que o tempo não perdoa, e as calças boca-de-sino típicas dos anos 70 marcam um desses aspectos de antevisão de moda falhada. 
Porém o mais interessante é relembrar como algumas concepções mudaram muito na passagem entre os anos 70 e 80, sendo mais impressionante o conceito de computador. Quando não vivemos a época é difícil perceber a mudança de mentalidades, e quando a vivemos esquecemo-nos facilmente.
Um computador antes de 1980 era uma caixa com luzes coloridas ou com fitas magnéticas. 
A entrada e saída era feita com cartões e papelinhos. Nos episódios de Espaço 1999 não temos nenhum écran de computador, temos sim écrans televisivos. Quando muito, os computadores falavam (caso de HAL em 2001), ou então mandavam recadinhos em papel... nada de écrans. E isto era suposto ser normal.
Quando nos anos 1970 apareceram os primeiros relógios digitais, ou calculadoras, que hoje custam 1 euro, foi uma novidade imensa. Só quando em 1980 apareceu o primeiro Sinclair e pouco depois o ZX Spectrum, é que o público percebeu que o écran da televisão podia ser usado para leitura de computador. Os walkie-talkies eram aquilo que mais se aproximava de um telemóvel, mas a ideia de ter um pequeno aparelho móvel de comunicação (como os do Capt. Kirk), era mesmo ficção. Poder ver a cara do outro num pequeno écran, como no caso dos comunicadores da Base Alfa, era ainda muito futurista. 
Por um lado olhamos para trás e vemos como estavam distantes dos nossos olhos tecnologias que se vieram a impor como naturais - mas só foram vistas como naturais, simples, depois de explicitadas. No entanto as ideias eram conhecidas de quase todas as pessoas ligadas ao meio.
Sou daqueles que não viu grande interesse na internet, mas essa ideia existia. Logo com os ZX Spectrum o pessoal podia passar programas com um telefone e gravador... A questão era a dissociação com o aspecto comercial. Não liguei à internet, mas passados 5 anos já tinha feito um "facebook" para comunicar com os amigos. Era algo muito simples de fazer, muita gente o fez, e o facto da ideia ter sido apenas popularizada 10 anos depois, dando protagonismo a um qualquer miúdo, é apenas um conto de fadas de Hollywood. 
No entanto, se computadores e telemóveis pareciam coisas complicadas nos anos 70, mas naturais nos anos 80, a possibilidade de ter uma Base Alfa na Lua em 1999, era algo perfeitamente aceite como possível nos anos 70, e já vista como improvável nos anos 80. 

Em 1973-74, estávamos ainda em rescaldo do programa lunar Apollo, e o nome "Águias" dado às naves, seria influência do módulo lunar "Eagle", registada na célebre frase da Apollo XI: 
"The Eagle has landed
(curiosamente também nome do último filme de Sturges, 1976, que invoca um duplo de Churchill).

A guiar o Águia estava Alan, guia australiano, e a guiar a reflexão científica estava o Prof. Victor Bergman, isto na 1ª série, já que na 2ª série (1976) entraria a célebre Maya, com a faculdade da metamorfose.

Águia e Maya já teriam há muito justificado esta menção a 1999, noutra altura até mais apropriada, e tendo em atenção este episódio "Another Time, Another Place", a colisão de dois universos representados na Lua, poderia ter sido tema há dois meses atrás, ou há mais de dois anos atrás (na imagem que a guia pousou uma águia com água pelo bico).

As coincidências são para ser tratadas como empatia entre observador e observado, com culpas e desculpas remetidas a ambos. 
Retomamos aqui o artigo sobre o Soma, citando A. Sramana sobre essa bebida:
Astrologicamente, Soma é o regente invisível da Lua, que representa também o símbolo da ilusão, da Deusa Maya. Soma é o Deus misterioso que desperta a natureza mística e oculta da humanidade.
(...) Hoje em dia essas plantas são chamadas enteógenas, que significa: capaz de suscitar a experiência de Deus em si mesmo. (...) O seu uso desperta na consciência a sensação inefável de fazer parte da
Totalidade. Esta não é uma abstração e sim uma verdade que se encontra nas camadas mais profundas do nosso ser.
Se há psicotrópicos que levam ao mais íntimo confronto do Ego consigo, com a totalidade, etc... o que é certo é que essas imagens íntimas podem servir de inspiração a muita arte, religião, filosofia e ciência.
Não é a mesma coisa transmitir depois essa informação à população por palavras, por quadros, por música... pode-se tentar sugerir, mas é completamente diferente, até que o outro sinta o mesmo.
As ideias são colocadas à porta, mas não é nada claro que o receptor abra essa porta para as recolher, porque simplesmente pode nem se aperceber que há ali uma porta.

Falta o clique... e esse clique pode ocorrer no final de um episódio do Espaço 1999 (pois!), no final de um filme, pela leitura de um livro, etc. Por isso, o efeito de inspiração introspectiva que o Soma desperta poderá ser obtido doutras formas, beneficiando de forma indirecta da inspiração de outros.
Passar do cinema à simulação de realidades virtuais é tentação à condução de realidades feitas por outros, e não é o caminho do próprio.
Beneficiará mais em "ví-deos", colocando-se a meio caminho, entre a sua percepção e o convite alheio.
Porque a visão é estereoscópica, e deu-os olhos, um olhar interior, e um olhar exterior. Vi-são dual. Se há convite à união ou totalidade, conforme é dito, isso é um erro - porque não se pode igualar o que é distinto... dois não podem ser um, efectivamente. Só o podem ser como ideia potencial, sempre inacabada, sempre incompleta.

Era hábito na primeira série de Espaço 1999 abordar de forma simples temas com um complexo significado filosófico. Poderíamos ver facilmente alusões à "alegoria da caverna" platónica, ao problema da imortalidade, etc... Os produtores cinematográficos e televisivos, desde a estreia da Twilight Zone, em 1959, empenharam-se em desafiar à reflexão filosófica.

Numa modelação simplificada, quando somos forçados a esquecer átomos, moléculas, etc... todo um complexo caos, que parte do universo decide que as bolas do Euromilhões saem para o Fulano X e não para o Y? Um grão de poeira, um sopro de ar, basta isso para alterar dramaticamente a vida, a muitos quilómetros de distância?
Onde ficariam os milhões de universos alternativos, onde calha a combinação Y e não a X?
Ora, cada micro-evento destes passa-se 25 vezes a cada segundo, e de entre as múltiplas alternativas, sabemos que estamos presos a uma única versão. Em parte é decisão nossa, no sentido em que sabemos justificar escassas acções conscientes, mas isso é uma minúscula parte, quando comparamos com tudo aquilo que nos escapa por completo.

Neste episódio Another Time, Another Place, vemos o confronto entre duas versões alternativas do universo, mas a questão é o que determina uma versão e não outra qualquer?
Por muito que melhoremos a modelação, teremos que ter afastados o nosso melhor modelo da realidade que presenciamos?

A minha perspectiva acerca disso é muito simples...
Teremos o maior caos possível dentro da mínima ordem.
A ordem será a necessária para que tudo seja explicável, e o caos será o suficiente para que não seja possível fazer isso completamente em tempo algum.
As razões já foram aqui apresentadas.
Por isso, e como os processos físicos vão sendo condicionados, pouco a pouco, com o nosso conhecimento da verosimilidade, o maior factor caótico de instabilidade não virá da natureza, respeitando os seus propósitos implícitos.
A maior instabilidade estará no pensamento. Ou seja, curiosamente a tendência parecerá ser permitir o maior número de pensamentos alternativos, sem que essa divergência condicione uma convergência saudável, mínima.

Do ponto vista informativo, de um universo que cria informação constante, não apenas por criar... interessa criar o maior número de observáveis distintos, e o maior número de observadores que interpretem consistentemente o resultado... procurando relações a um nível cada vez superior.
O nihilismo avançou com a ideia caótica de que tudo era equivalente, tudo era indiferente. Isso é uma influência de um mundo de sonhos sem referência de realidade. Só que até os sonhos precisam de uma realidade para existirem... até a noção de vazio precisa de alguém que a pense.
Para haver verdade só pode existir um universo.
Havendo dois ou mais universos, seria possível ser num e não-ser noutro. Havendo só um, isso é contraditório. É a unicidade universal que determina a contradição.
As outras ramificações da árvore de possibilidades são apenas ideias, sonhos, fora deste tempo, deste universo.

To be or not to be... ou como escrevi levemente há uns tempos:
1 01 A? - One or not one, hey?
2 02 B? - To or not to be?
3 03 C? - Tree or not tree, see?
4 04 D? - For or not for thee?
Gimme 5!

A alternativa OU, está explícita geometricamente nas letras O e U.
O - é o universo fechado.
U - é o universo aberto.

O fecho do universo num aquário é uma possibilidade impossível.
A capacidade reprodutiva é conceptualmente imparável a qualquer tempo. Se o universo fosse um aquário com um peixinho laranja, automaticamente haveria um universo superior com uma infinidade de aquários com peixinhos laranja, e depois com peixinhos de todas as cores e feitios, etc...
O universo que é único é o universo aberto, que acolheu a árvore de possibilidades sem se fechar, engolindo tudo no único acordo possível, que equilibra as bifurcações dos ramos com as das raízes.
É para esse acordo que acordamos.
Com a ligação conjuntiva E vemos É 3.
O U ... E 3 ... W M
(símbolo de Touro, Mercúrio+) (oito) (símbolo de infinito) 

Nestes símbolos, sim bolas ou bolos, vemos como a geometria das letras tem co-reias de ligação, e só mencionamos as mais evidentes (p.ex. outras S Z 2 5).
Por isso, as somo e assumo que sumo e soma podem ter outros significados, inclusive somar e sumir.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Nebulosidades auditivas (8)


In the beginning there was the 0 1 bit.

Kraftwerk - Computer Love

8 bit makes a byte

IIO - Rapture

1 MeGA-byte

Jamiroquai - Cosmic Girl

TeRa-byte or MeGA-baite

Neneh Cherry, Yassou N'Dour - 7 Seconds

0 TeRa-byte

Massive Attack - Teardrop

the beat

Massive Attack - Angel

let there be beat
Faithless - God is a DJ

(0,1) beat

Faithless - We come 1


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Sumo

Sendo a Soma uma bebida na tradição hindú, algo comparável à Ambrosia grega, na sua versão mais superlativa remeteria ao Sumo. 
A palavra sumo passou a designar indistintamente uma bebida, mas também o topo de uma hierarquia.
O caso religioso mais conhecido é o do Sumo Pontífice, fazendo hoje um ano que Bento XVI abdicou dessa função. Há um ano, o tema neste blog acabara de ser outro... o Abraçadabra, e se alguma relação se estabelecia com bebidas, era com o leite de cabra, Almateia, ou com pequenas cabras, que como diminuitivo de capri, passavam a capelas. Já se sabe que o "ch" desviou-se do "c" qual chapelada, e no francês e inglês temos "chapelles" e "chapels".

Já aqui vimos que o prefixo "su" indicara o superlativo, como o monte Sumero se sobreporia ao anterior monte Mero, central na cosmologia budista e antes na hindú.
Também no Xintoísmo o Sumo tornou-se uma palavra importante, ligada a evocações de lutas de deuses transportadas para o círculo terrestre, ou seja o ringue, chamado dohyo, onde há quatro direcções associadas a cores e espíritos (norte-negro-tartaruga, oeste-branco-tigre, sul-pássaro-vermelho, este-dragão-azul). 
Como vemos, dragões azuis e águias vermelhas, não serão novidade... ainda que o pássaro possa ser fénix, e o tigre ser o unicórnio Qilin.

Vem isto a propósito de um texto sobre a bebida "Soma", referida num comentário de Maria da Fonte, e que transcrevemos mais abaixo (xamanismoancestral.com.br).
A ligação ao transcendente tanto se poderia manifestar directamente com os alucinogénios, como a bebida Soma, como doutra forma mais indirecta... através da casualidade no resultado de um jogo. Os lutadores, e espectadores de Sumo, batem palmas, de forma a atrair a atenção dos deuses no combate e assim poderem prescrutar alguma intenção pelo resultado. Quando um lutador menos favorito saísse vitorioso de um combate, era provável que se pudesse inferir daí uma intervenção superior.
Havia assim um convite a que os deuses, ou espíritos, se pudessem manifestar no círculo da realidade terrestre... da única forma possível efectivamente - ou seja, através da interpretação da improbabilidade como não sendo algo casual, sendo sim causal.
Esta é assim uma visão mitológica muito próxima da que era usada também pelos gregos, atribuindo personificações e consciência a acontecimentos que vemos como casuais, e que já referimos nalguns textos anteriores. É completamente distinta da visão alternativa, sugerida por visões... que ora transporta para a profundidade da ligação da consciência ao universo, ora transporta para visões inspiradas, que libertariam um génio criador, de temas com mais ou menos futuro! 
Essa última faceta está muito bem descrita nas linhas que se seguem, e que passamos a citar:

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Popper, the failure man

Uma das grandes influências filosóficas do Séc. XX, para o bem e para o mal, está expressa nalgumas ideias de Karl Popper. No que diz respeito à ciência, instituiu uma ideia de necessidade de possível falsificação da teoria, para poder ser considerada científica. Se a ideia do caminho era a verdade, isto abriu portas escancaradas à mentira.
(imagem daqui)

O início do Séc. XX foi um tempo complicado, em que a ciência abria à população uma catadupa de nova informação. E creio que muita era mesmo nova, não era uma simples repiscagem de coisas conhecidas há muito e escondidas nos armários.
Como objectivo de utilitarismo, importava acabar com teorias místicas, e distinguir o que era do domínio da crendice, do que poderia ser usado em benefício de uma sociedade produtiva. Interessava dar relevo à ciência e acabar de vez com teorias criacionistas, religiosas, que procuravam igual credibilidade, entretanto perdida.
As ideias de Popper assentaram que nem uma luva na instrumentalização utilitária da sociedade.

À partida, o raciocínio invocado parece ter o sentido matemático da "prova por contradição" - se chegamos a uma contradição é porque uma das hipóteses está errada.
Só que não é isso que Popper quis dizer:

... o que Popper exigiu à ciência foi uma rasteira a si própria. 
Não havia cá lugar a afirmações categóricas, quem fazia uma teoria tinha que abrir porta à possibilidade de falsificação da sua teoria. Portanto o réu tinha que apresentar defesa mostrando ao acusador uma porta para rebater o que dizia. Isto era, ou não era, o paraíso dos inquisidores instituídos? 
Ou seja, por definição nunca haveria nada certo... o paraíso do niilismo, do caos, do conhecimento vazio. Muita gente ficou muito contente, porque a "realidade aceite", volátil, essa sabiam manobrá-la bem.

No entanto, estas ideias de Popper acabaram por esmorecer, pela evidência. Tudo o que seria evidente, não era falsificável, deixando de o ser. Por exemplo, a própria ideia darwinista de "sobrevivência dos mais aptos" estaria em causa, sendo uma tautologia... se sobrevivessem os menos aptos, é porque a aptidão tinha sido mal definida.
Mas havia um maior problema... a matemática não encaixava, e ainda hoje não é bem vista como ciência, por ser impossível falsificá-la. Ficou de fora, tal como já tinha ficado fora dos prémios Nobel. 
Os magos nunca gostaram de ter esse pilar de certezas, e usaram de múltiplos estratagemas para lidar com essa componente indispensável, alicerce total da ciência, que era ao mesmo tempo incómoda, por não admitir truques de magia. Foram assim instituídos os habituais faróis de navegação, que prenderiam a atenção dos navegantes, não querendo que os batéis isolados saíssem da rota dos complicados problemas inúteis, que eram úteis ao utilitarismo social de manter o rebanho produtivo.

Portanto, a ciência enquanto jogo aberto contra o casino que esconde o fiel da roleta, esse tinha um destino de lucro infindável. A roleta seriam os burros que andariam às voltas, sem perceberem que não havia nenhum caminho - o objectivo era apenas tirar água do poço.
Les jeux sont faits... game over!