segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Abraçadabra

Este texto pode ser visto como sequência do "Panóptico ou ovo de colon", ainda que tenha alguma independência face a esse.
A sequência estabelece-se pela representação caprina de Pan, e pela fábula da alimentação de Zeus, através do leite de cabra de Amalteia, ou Adamanteia, no Monte Ida, ou Monte da Cabra, Aigaion (ou Egeon). 
No mar Egeu, ou no mar Mediterrâneo, em geral, as cabras acabaram por polvilhar ilhas... e seriam um animal que permitiria uma subsistência razoável a pequenas comunidades insulares. Se há locais onde se pode considerar que o gado caprino poderia ser levado a um estatuto de divindade da natureza, seria claramente a bacia mediterrânica e as suas ilhas. 
O pequeno Zeus/Jupiter, poderia ser escondido pela mãe Raia, e alimentado, numa das ilhas mediterrânicas, onde as cabras lhe serviriam de bom sustento de sobrevivência, até que estivesse em condições de liderar a Titanomaquia, contra o pai, Cronos/Saturno.
Esta eventual alegoria representa ainda a possibilidade de isolamento e crescimento independente de uma pequena comunidade insular, afastada dos conflitos continentais, desenvolvendo-se secretamente um "pé-de-cabra" até poder intervir com grande poder autónomo e sofisticado, para abrir uma estrutura maior. 
Abracadabra... Q'abra, Q'abram, sendo preferível não a versão do sacrifício Q'ordeiro, e lembrar "Le grand dictionnaire" do Padre Louis Moreri (edição de 1731), que diz que os gregos tinham o C como um sigma Ç, devendo ficar por isso a versão Abraçadabra, na forma s'abra, s'abram.

A cornucópia de Cíbele seria de corno de cabra (também vista como um corno partido de Amalteia), e Egipan (ou Aigipan), uma interpretação de Pan, irmão de Arca(s), iria colocar-se ao lado de Zeus contra Tifon, na Titanomaquia. Assim, é interessante termos junto à constelação de Capricórnio, de Egipan, a estrela Capella... que significa "cabra pequena", em honra de Amalteia.
Não sei se há autorização ortográfica para levantar o duplo "ll", talvez pelo significado religioso de capela, capelão, etc... porém também já vimos, em múltiplos exemplos, que estas imposições às mentes, partem de-mentes, foram sem-mentes, e serão la-mentos em co-mentos, que serão sempre poucos para repor a mente que mente a si própria. Talvez os cabelos disfarcem as mentes dos capelos...

Um dos locais apontado para o Monte Ida ou o Aigaion, tem sido a ilha de Creta, mas de entre as diversas ilhas emblemáticas pela sua referência a gado caprino, não nos devemos esquecer de Capri, uma pequena ilha ao lado de Nápoles. Foi Augusto que comprou a ilha (em troca por Ischia, aos Napolitanos), e foi aí que Tibério instalou o seu governo. É ainda aí que veremos situada a acção do filme "The Last Legion", como refúgio do pequeno Rómulo Augustulo, o último imperador de Roma:

The Last Legion encenava uma versão alternativa para o mito de Artur, Merlin, e da espada Excalibur, fazendo a ponte da sucessão britânica do império romano, também explorada por via da consagração do imperador Constantino em York. Outro filme consagrado, que diz respeito à queda do Reino das Duas Sícilias (Nápoles e Sicília), é "O Leopardo" (ou antes o serval... sendo que cerval é o lince), de Luchino Visconti, onde lembramos a frase inicial, que era mote do protagonista: "Para que tudo permaneça igual, é preciso que tudo mude". E a este propósito, lembramos ainda que Fernando de Aragão, patrocinador da viagem de Cristovão Colombo, ou Colon, acumulou também os Reinos de Sicília e de Nápoles.

Regressando à figura caprina, para além da simbologia dos seus pés, há uma simbologia ligada à sua cabeça, enquanto uma das três partes da Quimera, sendo as outras duas: a capita de leão e a cola, ou cauda, de serpente. Acresce a isso a figura caprina no pentagrama invertido (Baphomet), talvez procurando completar com 5 extremidades a parte da cabeça, numa tentativa simplista de imitar as outras derivações em 5 extremidades dos 5 membros... sendo necessário abdicar de outras derivações no caso masculino, o que nos levaria de novo ao drama eunuco, ou a uma estilização angelical, assexuada. A separação entre bodes/cabras e cordeiros/ovelhas é ainda mencionada no Evangelho de S. Mateus 25 (31-46), representando um símbolo de divisão ":" em julgamento. Há um outro símbolo de divisão racional "/", que leva em conta a simplificação definida até à evidência de factores primos, irredutíveis.

Se a utilização de contagem em base decimal derivou de uma simplificação digital, literalmente de uma contagem por dedos, também sabemos que essa base corpórea nada traz de especial face a outras  bases... os polvos se contassem pelos seus 8 tentáculos, chegariam à mesma aritmética.
Por isso, algum tipo de simbologia, à falta de melhor explicação, parece completamente fortuita e não racional. Há imensas "leis" que são pura descrição empírica. A certa altura, procurou-se relacionar as distâncias dos planetas ao Sol através da Lei de Bode, para depois verificar que não se aplicava a Neptuno (aliás, já teria uma pseudo-excepção na cintura de asteróides), ou a Plutão (este foi recentemente desclassificado como planeta...).

Porém, há outras relações, mais profundas, que causam admiração, e que não devem ser desconsideradas do plano filosófico/epistemológico. Por exemplo, a Identidade de Euler
eπ i + 1 = 0
foi desde logo considerada como uma fórmula algo "mágica", no sentido em que combinava vários elementos fundamentais da matemática, nomeadamente a soma, multiplicação e exponenciação, bem como as principais constantes matemáticas. Para além do 0 e 1, o "i" representa a unidade imaginária "raiz de -1", o e=2.71828... a base logarítmica de Neper, e claro, o π=3.14159265... da trigonometria.

Por exemplo, se o 7 pode ser encarado como simbólico por realizações ou interpretações humanas, sejam as 7 maravilhas do mundo (mera escolha), sejam as 7 cores do arco-íris (mera interpretação - há uma variação contínua de cores), tem algum significado astronómico quando ligado às fases da Lua (cada fase demora aproximadamente 7 dias), mas isso diz respeito a uma interpretação circunstancial.
No entanto, quando 22/7 é uma boa aproximação de π, ou 355/113 é ainda melhor (e até a melhor, em certo sentido), entramos em questões que escapam por completo à nossa compreensão actual.
Porquê? Porque algumas leis dizem respeito a particularidades "físicas", mas quando estabelecemos este tipo de relações, constatamos uma relação entre rotações (círculos) e rectas, que parece particular do nosso universo, ou da nossa forma de o entender. 
Num certo sentido, podemos ver que o valor particular π=3.14159265... é uma marca nossa, do nosso universo, da forma como idealizamos a sua geometria, mas não temos nenhuma justificação para aquele valor, parecendo completamente arbitrário, casual. Só que não o é...