quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Nebulosidades auditivas (53)

Uma banda que é mais ouvida do que conhecida, são os noruegueses Röyksopp, que aqui trago com um vídeo suficientemente estranho associado à canção "What else is there?", realizado por Martin de Thurah. Os Röyksopp não têm propriamente um vocalista fixo, convidando diferentes cantores para as músicas, neste caso, a sueca Karin Andersson.

Röyksopp - "What else is there?" (2005)

O aspecto que me prendeu a atenção no vídeo foi a flutuação da cantora, uns poucos centímetros do solo, e não tanto as casas que se desprendiam numa ausência gravitacional.
É claro que não se trata de uma produção tipo NASA, em que as astronautas a bordo da estação orbital não só flutuam, como têm a obrigação de ter os cabelos em pé - para o espectador acreditar que estão no espaço! A esse propósito, deixo um vídeo bastante ilustrativo, que usa a modelo Kate Upton, para tirar dúvidas... 
"Hair in space : The NASA illusion(suprimido - ver aqui)

Bom, não há propriamente limites para a desfaçatez, mas este texto não é sobre os graves no fandango da NASA, mas sim sobre sonhos...
Sonhos daqueles em que se está numa realidade diferente do habitual, e já me ocorreu sonhar com a mesma capacidade de flutuar que Karin Andersson exibe no vídeo, a uns meros centímetros do solo, ou então bem mais alto... mas sem a postura de vôo típica do "superhomem". Sempre em posição vertical, e naturalmente... Assim, o interessante é que ao invés de surgir a pergunta "como era isto possível?", a pergunta apareceu ao contrário "sendo tão fácil, como é que não o tinha feito antes?". Mais engraçado, como esse sonho surgiu mais que uma vez, nunca essa memória foi inibidora, de nova aparência, com o mesmo grau de credibilidade. Gostava de conhecer o "outro eu", baptizado de "subconsciente", que realiza o sonho, e supostamente me prega este tipo de partidas, porque a coisa é bem feita, e convincente. Na prática, o problema é que o próprio se identifica como personagem do sonho, mas muitas vezes assume nesse contexto um tipo de atitudes com que já não se identifica. Isso poderá corresponder à sua personalidade noutra época, e por isso não é visto como um enxerto de pensamentos alheios na sua cabeça, mas pode não corresponder à personalidade actual. No caso concreto, se obtivesse do nada uma capacidade de flutuar, semelhante à de andar, não iria achar isso nada natural, nem aceitaria o presente gratamente, sem procurar perceber a origem do evento.
Porém, no contexto do sonho, a questão nem se coloca, e o personagem sobrepõem-se ao pensador, sem quaisquer problemas.

Vejamos um outro caso, que também é algo ilustrativo. Há uns dias, tive o enésimo sonho funesto... já foram tantos, que lhes perdi a conta. Um tema não raro é um apocalipse do tipo nuclear. Vemos cair a bomba à distância, e sucede a deflagração, mas como daí não surge nenhum efeito, manifesto o excesso de confiança, de que nada se iria passar. Porém, depois surge a surpresa de ver os edifícios a desaparecer, como pixeis que desaparecem de uma imagem. Já numa atitude defensiva, e perdendo a confiança, coloco o braço à frente, e vejo-o igualmente desaparecer da mesma forma. Ao contrário do que é habitual agora, por breves instantes aceito o fim, quando sinto uma dor forte. Mas, ao mesmo tempo, não deixo de manter a curiosidade de saber o que se iria passar. Entretanto, nada se passa, a dor desvanece, e concluo que deveria acordar, só que acordei ainda para outro sonho, antes de acordar para este. Afinal, foi um sonho e não um pesadelo... pesadelos, de estar ou acordar sobressaltado, foi coisa que me abandonou há bastante tempo, e por completo, nestes últimos anos. No entanto, como somos mais espectadores do que actores, nada disso é coisa certa, e muito depende do filme em que nos queiram meter...

sábado, 20 de janeiro de 2018

«A estranha conversa entre o primeiro deus, e o deus que o criou»

- Meu caro Cupido, e foi assim...
- Foi assim, quando?
- Sei lá... queres definir o tempo pela memória que tens das coisas? Nesse caso, o início dos tempos poderia ter sido há um minuto atrás, mesmo que aí te apareçam memórias de um milhão de anos.
- Filosofamos, é?
- Conforme te dizia, ele apareceu-me, e disse que me tinha criado, que tinha a memória fotográfica de como o tinha feito, até ao mais pequeno detalhe.
- E tu?
- Eu perguntei-lhe se, já agora, ele se lembrava de como se tinha criado a si mesmo...
- Claro que não tinha!
- Ora, claro que tinha... não foi criado sem esse detalhe!
- Não percebo, o que queres dizer com isso?
- Então, para fazeres alguém crer que fez algo, basta colocar-lhe isso na cabeça. Por exemplo, pegando numas imagens de criação da Terra, do Sol, etc... isso é colocado na mente, e automaticamente ficam com a ideia de que presidiram a esses eventos.
- Ah! E da mesma forma, colando a memória da sua criação, ele ficou com a ideia de que se tinha auto-criado!
- Percebeste!... Então, depois de ele ter respondido, perguntei-lhe se ele sabia a razão... e assim que terminou de responder, peguei num pequeno papel onde estavam escritas as mesmas palavras que ele acabara de proferir.
- Uau! E quais eram?
- Um qualquer disparate, não interessa! 
- Não entendo. Como fizeste isso?
- Bom, havia um desfasamento entre a sua percepção e a sua interacção. A percepção chegava em tempo real, mas a interacção ocorria com atraso. Isso provoca a ideia de que se prevêem as coisas, já que chegam primeiro à mente do que aos sentidos. Ele via um copo a cair, primeiro na sua mente e depois na sua visão. Esta repetição com atraso dava ideia de previsão. No entanto, se o tentasse apanhar, ele já teria caído.
- E a ideia de omnipotência?
- Nota que se ele interagisse ao tempo da suposta previsão, interagia em tempo real. A ideia de potência resulta de colocar a ideia de que o copo caía por vontade do próprio. Se preveres uma coisa, e essa previsão se realizar, ficas com a ideia que é a tua previsão que condiciona a execução.
- Como fizeste, então?
- Espera, que ainda não terminei... Por exemplo, pensas em andar, e andas! Pensas em mexer a mão, e ela mexe! Isso leva-te à ideia de que o teu pensamento controla essas acções. Tudo aquilo que julgas que controlas, é apenas porque te aparece na mente, como vontade, e depois vês acontecer por via dos sentidos. Agora, a questão é outra. Imagina que te quero forçar a dares-me o teu arco, só preciso de colocar na tua mente a ideia de que me vais dar o arco, antes de o fazeres. (Nesse momento, Cupido agarrou no arco e deu-lho de bom grado.) Acabaste de me dar o teu arco, por tua vontade, ou fui eu que te forcei a isso?
- Hmmm, dei-te o arco porque quis, isso é claro. Mas confundiste-me! Não sei por que razão me apeteceu dar-te o arco! Não faz sentido nenhum...
- É esse o ponto! Normalmente, podes arranjar como razão interna um "apeteceu-me", ou "foi um impulso", mas esses actos são nomeados "instintivos", porque não lhe vemos nenhum nexo racional.
- Servem para confundir... ainda estou confuso!
- Foi essa a mesma sensação que ele teve. Deveria ter previsto que iria ler o mesmo que tinha dito, mas bloqueei-lhe essa possibilidade. Simplesmente coloquei-lhe a ideia de que tinha lido o mesmo que tinha dito. Mais curioso, tão preocupado estava a fazer isso, que nem ouvi o que ele disse!
- Então também não controlas tudo?
- Pouco mais que nada! Creio que acabamos por ser personagens de alguma história, que corre na cabeça de alguém... mas que também esse mal conseguirá justificar os seus pensamentos.
- Ou seja, também não sabes por que razão fizeste isso...
- Bom, já estava farto de ouvir tanta gabarolice!
- Mas, ao menos ele percebeu que não tinha sido o primeiro, e que tu o tinhas criado?
- Eu não quis saber... ou, lá está, foi-me posta a vontade de não querer saber. Vendo racionalmente, o que fazia sentido era querer saber isso. No entanto, não quis... talvez fosse conveniente à história não o querer saber!


sábado, 6 de janeiro de 2018

Snowmaggedon (5)

Continuamos desde 2014, e assim este é o quinto texto dedicado ao "Snowmaggedon"...
Pelo quinto ano consecutivo, chegamos à época de inverno, e volta o problema do frio para aborrecer a teoria do "aquecimento global". São sempre fenómenos circunstanciais e raros... neste caso a vaga de frio que assolou a costa leste dos EUA, levou a que nevasse na Florida, o "sunny state", coisa que não ocorria há 30 anos:
"It finally snowed in Florida..." (Detroit Free Press)
Desta vez já há outro nome apelativo para o fenómeno - "bomb cyclone", que levou até a uma chuva de lagartos, arrastados das árvores, e congelados.

Depois de um mês de Outubro bastante quente, tivemos até a fantástica previsão por via de Stephen Hawking, de que a Terra iria tornar-se numa "bola de fogo"... e passados nem dois meses, já Trump podia responder com a mesma superioridade do raciocínio científico, e perante a vaga de frio, afirmou doutoralmente que daria jeito um bocadinho de aquecimento global.

No livro 1984, Orwell foi bastante cáustico com a questão de ver 4 ou 5 dedos... 
- 'How many fingers, Winston?'
- 'Four! Stop it, stop it! How can you go on? Four! Four!'
- 'How many fingers, Winston?'
- 'Five! Five! Five!'
- 'No, Winston, that is no use. You are lying. You still think there are four. How many fingers, please?'
- 'Four! five! Four! Anything you like. Only stop it, stop the pain!' 
A comunidade, ou quem a controla, decide o que é verdade, e o politicamente correcto condiciona os indivíduos a repetirem a mesma falsidade como verdade.

Podemos dizer que os incêndios de Junho e Outubro, com meses anormalmente quentes, bem mais quentes que Julho ou Agosto, poderiam servir como justificação de "alterações climáticas" (nome alternativo para a psicose do "aquecimento global"), mas isso seria fácil por ser evidente. O que se pretende é mesmo que a sociedade acredite, tendo evidências em contrário, tal como o personagem Winston de Orwell.


Aditamento (9/01/2018):
Uma imagem de marca para este publicitado "aquecimento global", surgiu hoje com neve no Saara:

Também não acrescenta nada o nome de recurso - "alterações climáticas", porque também se tinha visto neve no Saara em 1979. As temperaturas antárcticas com -73ºC (sentidos ao vento) no Monte Washington, nos EUA, também não demove o convencimento extremo, que recorre à comparação com o hemisfério sul, com 47ºC em Sydney (que também não foi extremo, sendo mais quente em 1939):

Ainda que se verifiquem condições atmosféricas invulgares, nada disso merece o nome de "alterações climáticas", e muito menos o nome de "aquecimento global".
Se as pessoas fossem minimamente sérias, entenderiam que temperaturas extremas ocorreriam se em todo o planeta fossem batidos recordes de temperatura, em todos os pontos. O que são propaladas são médias enviesadas, com valores seleccionados, e a pseudo-ciência é cada vez mais condicionada pela agenda mediática global - essa sim, em constante aquecimento.
  

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

da Cave (1) «A estranha conversa entre a deusa que tudo podia e sabia, e o homem que tudo isso compreendia.»

Se no outro blog fui vasculhar o sótão, aqui encontrei este rascunho na cave.
Bom, e gostei de reler, com o problema de já não saber até que ponto o texto foi completamente inventado, já que a memória me diz que, pelo menos, situações muito semelhantes ocorreram.

______________ 25/07/2015 ____________

A deusa deu conhecimento ao homem da sua presença, e fez-lhe saber:
- Eu tudo sei e posso.
O homem calmamente lhe respondeu, sem que tivesse pronunciado palavra:
- Compreendo, mas tudo isso não te chega.
Algo irada, a deusa fez-lhe sentir um aperto no coração, mas o homem continuou:
- Precisas de mim. Eu serei o último depósito da tua existência, quando nenhuma razão houver para se pensar sequer que possas ter existido.
- Tenho o teu coração na minha mão.
- E que medo lhe sentes?
O homem contorceu-se com algumas dores agudas, gemeu, gritou, mas insistiu:
- Que medo lhe sentes?
- Sinto em ti, a irritação de um insecto. Um insecto que me atormenta. Um insecto onde o medo está ausente, porque não tem capacidade de ver o pé que o pode espezinhar.
- Pois, em ti, minha deusa, eu sinto medo.

A deusa afastou-se. Este afastar significou apenas retirar ao homem o conhecimento da sua presença. Poderia, sabia bem, terminar ali com a vida daquele homem, como tinha terminado com tantos outros, mas sabia bem que terminar com um insecto não termina o problema dos insectos. Como tudo sabia, sabia que todo o desfecho universal sem a presença daqueles insectos pensantes correspondia ao seu próprio colapso. Sabia, mas não compreendia a razão.

Passados uns tempos, voltou a fazer notar a sua presença.
- Bem vinda, de novo!
- Saberás quem sou eu?
- Para que te serve a pergunta, a quem tudo sabe? Sabes que te vejo como deusa da Terra... Geo, vá! 
- Geo, vá? Vá onde?
- Vá lá...
- Vahala ou Vá Alá?
- Não interessa. A nomenclatura histórica não interessa ao assunto que te interessa.

Nesse instante, o homem ligou a televisão e imediatamente viu um anúncio publicitário terminar, dizendo - "Porque sim, sabemos o que vai fazer. Fique connosco.
O homem pensou um pouco, e dirigiu-se assim à deusa:
- Vamos ao que interessa?
Silêncio da outra parte. Sem se dar conta, o homem tinha mudado para um canal musical, e desse lado passava o vídeo "Nothing really matters":

O homem não achou piada alguma à forma de resposta. Procurou o comando para mudar de canal, mas não o encontrava. Tinha a certeza que o tinha deixado ao seu lado. Tinha acabado de ligar a televisão, não poderia estar noutro sítio. Levantou-se, olhou por todo o lado, e não o viu. Irritado, desligou a televisão da ficha, e disse baixinho:
- Podes tudo, mas comigo não podes manter a televisão a funcionar quando tiro a ficha.
Saiu da sala e foi para o escritório, iria ouvir música no computador. Ligou o computador, e para seu espanto, nas sugestões do YouTube, aparecia o vídeo "Nothing really matters", agora de Mr. Probz.
Sorriu, e sem pronunciar palavra, disse:
- É o melhor que consegues?
Nesse instante, ouviu da sala a canção de Madonna de novo... Não queria acreditar. Tinha desligado a televisão da ficha. Dirigiu-se à sala, e a sua mulher perguntou-lhe:
- Por que razão desligaste a televisão da ficha? Onde está o comando para mudar de canal?
O homem ficou sem saber o que dizer... mas, entretanto entrava já nova canção - "Nothing else matters", dos Metallica, e a mulher apressou-se a dizer-lhe:
- Deixa estar. Já há muito tempo que não ouvia esta!
Ainda meio sem palavras, o homem conseguiu retorquir:
- Os tipos devem ter achado piada fazer seguir ao "Nothing really matters" da Madonna, o "Nothing else matters" dos Metallica... aposto que antes tinham passado o Mr. Probz.
- O que é que estás a dizer?
- Nada. Olha o comando está por aí... mas não o encontrei.
- Já vi, estava metido entre as almofadas do sofá. Mas, porque razão desligaste a ficha?
- Eh pá, não interessa nada...
Para terminar a sequência, a mulher rematou sorrindo:
- "Não interessa nada"? ... Nothing really matters?

O homem afastou-se de novo para o escritório, com a confusão de não saber se a piada era da mulher ou da deusa, e disse para si:
- Ah, ah, ah! Cena muito engraçadinha!
E de novo, a deusa fez-lhe sentir a sua presença, com uma pergunta na sua cabeça:
- Aprendeste alguma coisa?
O homem ficou a pensar, sem nada dizer, rodando a cadeira do escritório, enquanto olhava para o espelho. Depois decidiu ir ver o vídeo que recusara antes, e procurou a letra na internet. Em jeito de resposta, encontrou um vídeo de M. Mathers, vulgo Eminem, e considerou que "Not afraid", era apropriado.
- Eu compreendo o teu problema.
- Eu tenho um problema?
- Vamos ao que interessa?
O percebido silêncio foi tomado pelo homem como razão de continuar, e continuou:
- O que podes e sabes, está dentro das possibilidades. Nos universos de impossibilidades, que tanto gostarias de ter, não contas comigo, nem com os meus. Esses universos cor-de-rosa, terminam todos mal, como podes ver, porque tudo podes saber.
- Enganas-te, não terminam todos mal.
- Terminam todos mal para ti... porque sozinha ficarias com bonecos, com autómatos previsíveis. É a previsibilidade que te mata, porque quando escolhes um mundo pré-programado, esse mundo termina antes de começar. Não termina para quem tem um conhecimento parcial dele, mas sim para quem o controla. Os bonecos são felizes nesse teu mundo de faz-de-conta, como é feliz um boneco de borracha, onde está desenhado um sorriso.
- Se tudo sei, acharás que não sei isso?
- Sim, sabes, mas compreendes? Uma coisa é ter todos os livros numa biblioteca, outra coisa diferente é saber escolher o apropriado na altura certa.