terça-feira, 20 de agosto de 2013

Senhores dos Passos na Lua

Desde há 44 anos...
(foto wikipedia)

... que foram feitos os passos para nos convencer desta pegada, na Lua.
Há quem diga que tal pegada só seria possível com humidade, uma humidade que não pode existir na Lua.
Ao andar na praia, sabemos que pegadas destas... só mesmo na areia molhada.
Mas, o que é que isso interessa, se a verdade difundida é propriedade de senhores dos passos lunares?

Seriam "grandes passos da humanidade" ou "grandes passos sem humidade"?...
Foi assim, durante os 4 anos da missão Apollo... depois faltou humidade e humildade para outros passos de humanidade... já lá vão 40 anos.

É claro, seguiu-se Marte, onde tivemos vários Rover a mandar imagens.
O que se notava é que faltava azul nas imagens... porque se o azul fosse corrigido nas fotos, começava a parecer-se muito com paisagens terrestres:


Imagem da NASA, Rover Oportunity, 2004, em Marte... Burns Cliff 

Primeiro, a imagem original. 
Depois os três canais habituais: vermelho, verde e azul.
Nota-se claramente uma falha de intensidade no azul, ao contrário dos outros!
Corrigindo isso (por exemplo: R-64, G-32, B+32) obtém-se a imagem de baixo 
(veja-se ao lado que o azul só foi aumentado um pouco).
Passa a haver um maior equilíbrio na nova imagem, repondo algum azul... 
... e a imagem parece agora muito terrestre!

Bom, mas já falámos extensamente deste assunto... e remeto para o texto anterior:
Hoje foi só para saudar os senhores da Lua, que comemoraram hoje os 44 anos dos passos.

sábado, 10 de agosto de 2013

Ante-revolução

O prefixo "anti" serve normalmente para designar oposição, "antagonismo". 
De forma semelhante, "ant" é também usado para designar o que é antigo... usamo-lo na palavra "antes",  "anterior", mas também na palavra "anta", e em muitos outros exemplos.
Normalmente, não damos muito relevo a eventuais significados na análise da língua, mas estão presentes em muitos e variados exemplos.
O prefixo "pre" também invoca um momento anterior, tal como "prever" será sinónimo de "antever", remetendo ambas para um "ver antes".
Este prefixo "pre" está ligado ao prefixo "re", passando à forma repetitiva. A palavra "ré" significa, por si só, uma parte traseira. No entanto, é como se o tempo tivesse decorrido, e há um voltar atrás, um "recuar". 
Quando escrevemos "prever" é diferente de "rever", porque no primeiro caso envolve uma "pre-visão" que fazemos, antes da ocorrência, e no segundo caso trata-se de uma "re-visão" do ocorrido.

Os anos são revoluções da Terra.
O termo astronómico "revolução" mantém o significado original - um regresso ao ponto de partida.
O termo social "revolução" perdeu esse significado, pelo menos na sua generalização popular.
No fim da evolução do ano, a Terra volta à mesma posição, e portanto as "primaveras", simbolizadas por movimentos sociais revolucionários, acabam por ser regressos a um ponto de partida. O movimento nasce numa primavera, com a promessa de um verão... "verão justiça", "verão liberdade", "verão igualdade", "verão que será tudo bom, etc.". 
Segue-se o outono em que as folhas onde foram escritas essas promessas caem por terra. Pelo que, prestes a cumprir-se o ciclo anual, vem a parte mais dolorosa dos anais, onde surge o frio do inverno, que parece um inferno. O inverno é "in"-"entre", "verno"-"povo, servos, escravos". E será essa massa que morre para renascer noutra forma, noutra "prima-vera", noutra "primeira verdade", que dará um novo "verão"...

A primavera surge assim para milhões de criaturas como a primeira, porque nunca conheceram outra... é assim que funciona a revolução terrestre, a repetição funciona como uma primeira vez, quando perdida, ou  está ausente a memória.

Encontrei uma gravura antiga, sobre as ruínas de Persépolis, que carrega um significado e beleza na pose dos leões... passeando sobre ruínas de uma civilização que tanto os caçava, como venerava.
Uma irónica visita de leões às ruínas de Persépolis (autor desconhecido)

A repetição é a força mais poderosa nos mecanismos universais... é de certa forma "a ordem por detrás do caos". Foi na repetição da revolução terrestre que se estabeleceram alguns mecanismos naturais... as plantas e animais aguardam as primaveras para induzirem nova repetição de processos de reprodução. 
E, afinal, a descendência dos seres pouco mais parece ser que uma repetição de si próprios. 
No entanto, esta repetição dá-se a diversos níveis. 
Há repetições atómicas, microscópicas, que decorrem a um nível temporal ínfimo, e depois há repetições que se manifestam mais demoradamente, como no caso da revolução terrestre. Individualmente, cada processo não parece passar de repetição... mas as ligeiras diferenças acabam por fazer toda a diferença.

No texto Abraçadabra, lembrámos a citação do filme de Visconti: 
Para que tudo permaneça igual, é preciso que tudo mude...

Porém, nem tudo permanece igual, e ao fim das mudanças necessárias, a vida unicelular de bactérias levou a complexos seres... a plantas, a animais, ao domínio de grandes bestas, e até ao aparecimento humano.

É natural questionar a violência de todo o processo evolutivo, assim como é comum assumir natural a repetição do ciclo revolutivo. Um não se desliga do outro... há uma repetição que encaramos como ordem, mas depois há pequenas mudanças, fruto do "caos", que subvertendo a ordem acabam por trazer novidade à velha ordem.

Monte Semeru (ou Sumero), na Indonésia

A referência ao monte Semeru na Indonésia, é uma ilustração do monte Sumero, o monte central do universo na cosmologia budista.
Notamos aqui a entrada do prefixo "Su" para qualificativo superior do monte Mero pré-existente na cosmologia hindú. Esse mesmo "su" está também no prefixo de "sufixo", apontando para o posterior, ou topo, como na palavra "sumo", ou "superior", e no prefixo "sup" (e em "sub" por inversão).
Há um outro prefixo "Pos", que aponta também para o "após", até porque é habitual ver como "pós", ou como "pó", o que restará após a morte. Curiosamente, pó ou cinzas, remeteriam para um culto de cremação dos corpos em piras funerárias. Por outro lado, a palavra "funeral" remete-nos para um prefixo "fun" que está presente no "fundo", como num ritual de enterramento.
Não é fácil perceber se há apenas uma coincidência entre "Sumero" e "Sumério", já que se os sumérios seriam muito anteriores aos budistas, seriam posteriores aos hindús.

Estes são apenas alguns exemplos, a propósito da palavra "revolução" e algumas outras. O prefixo "pro" tem também um significado direccional, algo oposto a "pre". Na antevisão, o "pró" aparece como razão favorável, enquanto o "pré" aparece em contraponto, como requisito. No português, ter o "pró" como contracção de "para o", é significativo, e deve dar o mesmo sentido ao prefixo "prá". Curiosamente, indo ainda pelas contracções "pó" e "pá", remete-se ao destino no pó da cinza ou na pá da terra...
Ao contrário de "ré", sozinho o prefixo "ró" não tem uso aparente, mas "roda" ou "rolar", digamos que rolam nesse sentido de direcção natural.
Podemos ainda reparar que em "revolta" há a junção de "re" com "volta", onde o prefixo "vol" representa normalmente o regresso, como em "volver" ou "voltar", num rodar de 180º, face à direcção seguida. Assim, quando escrevemos "revolver" indicia essa acção de ir repetidamente num sentido e no oposto, remexendo para ver. Quando escrevemos "revoltar" deve pois significar uma acção que mistura direcções opostas, agora um remexer para estar...

Ao escrever, é fácil lembrar outras palavras, e uma delas é "escrever".
A "cré", uma espécie de gesso, era usada para escrever. É natural que o verbo "crer" se possa remeter à "cré", ao que estava escrito, que tinha "crédito"... e era assim mais fiável. Como registo, remete a um passado, e o "ré" de anterior, é apropriado. Portanto, o "cre" em "escrever" pode remeter a ver o escrito nessa "cré". Pode argumentar-se que há outros contra-exemplos "cretinos"... mas uma coisa não tem a ver com a outra, podem ter origem importada, ou aparecerem em interpretação... um "crescer" pode ser foneticamente um "crê ser", onde o "cre" surge já na interpretação do acreditar.

São vários os prefixos que se associam facilmente às proposições, como o "com", "de", "em", etc... por exemplo em "concorrer", "decorrer", "incorrer" (o "em" passa frequentemente a "in").
Assim, o "com", "con" ou "co" remete para uma companhia, um conjunto (o concorrer será entrar no conjunto da corrida), enquanto o "de" remete para uma pertença (o decorrer será estar dentro da corrida), e o "em" remete para uma entrada (o incorrer será entrar na corrida).
Por outro lado, o prefixo "des" significa uma oposição, papel que é desempenhado também pela proposição "a" (mas nem sempre...). Aqui, as formas "discorrer" ou "acorrer" não significam a priori uma oposição à corrida. O "acorrer" remete simplesmente a um ir "a correr" (tal como "socorrer", com o "su" superlativo), enquanto que o "discorrer" pode significar a oposição, no sentido em que se percebe o significado da corrida.
O som "des" significar cancelamento não deixa de levar ao carácter decimal da numeração, já que chegados a "dez" acabariam os dedos... de forma semelhante o prefixo "sim" ligaria ao cinco, pelo lado afirmativo. Uma "mão cheia", ou um "dá cá mais cinco"... apontam nesse sentido de positividade para o cinco.
As duas mãos abertas são ainda hoje um símbolo de paragem, como um certo "já chega".

Nas pinturas primitivas quando aparece uma só mão, poderia significar mais do que uma assinatura, mas sim uma concordância... enquanto que duas mãos poderiam significar um registo de oposição. Isto dependeria obviamente dos códigos, mas será instrutivo não tomar apenas as mãos como simples assinaturas...

Cave de las manos (Argentina, circa 10 000 a.C.)
As mãos presentes nas cavernas podem não significar meras assinaturas do passado...
... podem remeter para uma contagem de posições (as mãos a branco num sentido, a preto noutro)

Há aliás uma característica numérica nas línguas indo-europeias, que é conhecida... o "nove" parece ser sempre próximo de "novo" (neuf-neuf, neun-neu, ...), tal como "noite" estar foneticamente próxima de "oito" (nuit-huit, nacht-acht, ...).
As outras etimologias que estive a referir é claro que se adaptam especialmente ao português... e pouco interessa se batem certo ou não com alguma etimologia do latim, porque o assunto ultrapassa as formatações que se pretenderam fazer - interessa o que resultou do intencional e não intencional.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O Abade e o hábito

Imagine-se que, ao passear por uma praia da Bretanha, nos deparamos com uma escultura destas:

- Restos de monumentos de civilização antiga, perdida?
Seria uma possibilidade... por perto encontramos outras esculturas igualmente estranhas:

Acontece que estas e outras esculturas na Praia de Rothéneuf são atribuídas a um padre:
vítima de acidente que o deixaria surdo e mudo (no registo municipal de 1894 de Langouet, é registada uma "dureza de ouvido"). Recolhe-se a uma praia de Rothéneuf, onde durante 13 anos vai fazer mais de 300 esculturas nos rochedos da praia.
 
O Abade Fouéré e algumas esculturas mais "naïves" nas rochas de Rothéneuf.

Portanto, toda a história é assim consistente. Temos um abade, que se isola e vai esculpir 300 obras no seu retiro. Essas obras são ainda hoje visíveis, excepto alguns totens e outras esculturas em madeira, que desaparecem em 1940 (não sei se antes ou depois da invasão alemã da França).

No entanto...
No entanto, esta situação levanta algumas questões interessantes.
Há outros casos semelhantes?... alguns que podemos ver listados aqui, em particular o Facteur Cheval, anterior a este, iniciado em 1879, e que pode ter inspirado a ideia.

Ou seja, para aqueles que vendem livros, enchendo os programas do "Canal História", dizendo que os trabalhos de maçonaria antiga eram algo só possível de fabricar com a ajuda de "civilizações extra-terrestres", os exemplos de realização individual são elucidativos de como essa ideia é exagerada e completamente dispensável... pode servir outros propósitos de alienação, com ideias alienígenas.

Efectuar grandes monumentos reside muito mais na vontade e determinação de os realizar, do que na capacidade e recursos técnicos ao alcance. Se há algo estranho, é não haver muito mais casos destes espalhados pelo mundo...

Bom, e como distinguir se se tratam de realizações recentes, ou mesmo de realizações antigas?
Na prática, sem registo histórico fiável, ou técnica fidedigna de datação, é um exercício de fé!
Podemos pensar numa história completamente diferente... qual?
- E se... e se o Abade Fouéré tivesse apenas esculpido apenas algumas das rochas, bonecos mais naïves, que contrastam claramente com outras esculturas de traço sofisticado?
 
... uma coisa são bonecos meio infantis (veja-se o desenho da casa), 
outra coisa são esculturas com alguma sofisticação.
Trata-se de obra do mesmo artista?

(fotos: waswoutch em tejiendoelmundo.wordpress.com)

Ou seja, será que a reclusão do Abade Fouéré não seria uma missão de despiste, com o propósito de evitar a completa destruição dos monumentos existentes na praia... a que ele juntou outras esculturas mais simples?

Acresce que a segunda imagem que aqui colocámos (parecendo a "velha da Serra da Estrela"), é uma pedra diferente, que teve de ser erguida para ser colocada ali... algo difícil de ser feito numa praia de calhaus, por uma só pessoa!

As esculturas em causa poderiam ter sido feitas em qualquer época, por qualquer escultor dotado, e não propriamente por um abade amador... talvez se tenha perdido o registo. 
Antes da menção ao Abade Fouéré, parece não haver muitas menções a Rothéneuf. 
Encontrei esta citação na Revue de Paris de 1841 (pág. 172), que fala de "esculturas e degraus gigantes feitos pela natureza", que se viam na entrada do forte :
Lorsque, du haut des remparts de Saint-Malo, l'œil suit, dans sa courbe régulière et gracieuse, le large ruban de sable qui tranche d'un côté sur le cordon d'écume, éternelle bordure de l'Océan, de l'autre sur la pâle verdure des miels, le regard se trouve arrêté par une masse de roches escarpées qui forment cap et s'avancent brusquement dans la mer. Le fort de Rotheneuf est perché, comme un nid d'aigle, sur l'extrême pointe de ce cap. Sa situation est telle que, vus de profil à une certaine distance, ses ouvrages avancés paraissent dépasser le bord et pendre, soutenus par une force inconnue, sur le gouffre qui mugit et tourmente incessamment leur base. Le côté du cap qui regarde la ville surplombe et forme comme un immense perron renversé, dont chaque marche serait un accident du roc, une saillie bizarrement découpée dans la pierre. Cet escalier géant, que nul être humain ne s'est sans doute avisé de descendre, a son dernier degré sur la plage, toute hérissée en cet endroit de rescifs aux pointes abruptes et dentelées. L'autre côté, qui domine la baie de Rotheneuf, descend par une pente, praticable il est vrai, mais bien rapide encore, jusque sur la grève. 
A referência não é muito significativa, e nada esclarece sobre a existência prévia de esculturas... também é natural que se tais referências existissem, elas não sejam do conhecimento público, dada a história oficial que tudo atribui ao Abade.
Neste caso, o Abade Fouéré fez o hábito...