terça-feira, 28 de abril de 2020

Liberdade do silêncio (3) ... chiu!

Passou um ano sobre o acidente que vitimou 29 turistas alemães, na Madeira:
Alguém ouviu falar sobre o assunto?
Consegui ver uma notícia num jornal da Madeira:


Bom, o Funchal Notícias só refere que passou um ano sobre o assunto, para lembrar os profissionais que acorreram ao acidente, e já está!

Sim, eu sei já tinha falado sobre isto em Agosto:


Não se soube mais nada, mesmo? 
Sim, houve um certo desfecho. O pessoal não é completamente estúpido. 
Em 19 de Dezembro, os jornais, quais papagaios aprendizes de Goebbels, papaguearam a mesma notícia no mesmo dia: 
Mas ninguém quis saber mais nada, será?
A culpa foi do motorista, caso encerrado, fecha o dossier.
Nem o mínimo trabalho de investigação, duma audaz jornalista polémica, da treta, que pseudo-fazem tremer os inquiridos... 
Niente, zero, nada, nadinha.
Não havia a necessária protecção na berma da estrada, mas isso não interessa nada.
Chiu, está calado!  
O homem já foi julgado e já foi dado como culpado, ou não? 
Essa notícia não encontrei... 
Who cares?

Uma das coisas engraçadas pós 25 de Abril, e que me impressionou, foi a reacção à novela Gabriela. Todo o pessoal sabia que era uma obra de ficção, mas a malta ponderava sobre o desfecho da novela, como se ali houvesse alguma incógnita... tanto mais que já tinha passado no Brasil. 
Depois, vemos o Wrestling, em que toda a gente sabe da manipulação, e é o mesmo... atrai multidões!

Passa-se o mesmo com a Novela das 8, que vai para o ar, em todos os telejornais das 20h00.
Toda a malta sabe ou deveria saber que aquelas notícias são completamente manipuladas, aqui não é pelo Chavez, nem pelo Maduro, segundo o oficial da CIA seria/será por uns mecos da Linha de Cascais, mas mesmo assim, o pessoal continua a entusiasmar-se com este novelo da treta?

É que até no Wrestling, eles tentam fazer algumas variações de poder, para o povo não se aborrecer...

domingo, 26 de abril de 2020

Nebulosidades auditivas (80)

Valete (2017) Rap consciente

terça-feira, 21 de abril de 2020

Nebulosidades auditivas (79)

Depois de ser promotor dos Sex Pistols, Malcom McLaren desenvolveu alguns trabalhos individuais, começando com este "Buffalo Gals", que fez algum sucesso em 1982, fazendo aparecer o som Hip-Hop electrónico, quando ainda era recente. Os restantes trabalhos posteriores tiveram pouco impacto, talvez exceptuando uma versão pop de Madama Butterfly (un bel di vedremo).

Malcolm McLaren (1982) Buffalo Gals

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Covide 19

Covide, em Terras do Bouro, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, é uma pequena povoação, que dá nome a uma freguesia desse concelho.

No meio do parque, surge uma placa no meio de um trilho, que indica 19 Km para Covide. 
Essa placa não teria qualquer importância até há uns meses atrás, quando a OMS decidiu nomear a doença associada ao novo corona-vírus como Covid-19.
A placa Covide 19 (imagem), e uma imagem da povoação Covide.

Poderia não haver mais nada a acrescentar, para além da coincidência, do nome, do número e até o boneco circular do veado lembra a corºnea do vírus. Nada tem de especial a povoação mais próxima de Covide ser Freitas, porque a Srª da Graça está a uns 60 Km de distância. Seria um pouco estranho pensar-se em algo muito intrincado para justificar qualquer relação entre umas coisas e as outras.

Porém, um detalhe interessante é a referência ao nome do trilho "Cidade da Calcedónia".
Esta referência a Calcedónia, que parece completamente despropositada aparecer no Minho, seria razão para justificar uma menção ao assunto, por si só.

Calcedónia era uma cidade do outro lado de Bizâncio, passando o Estreito do Bósforo, e tal como Bizâncio, Calcedónia era remetida a uma fundação mítica no Séc. VII a.C. 

Ficou conhecido o Concílio de Calcedónia, que reafirmou Jesus Cristo na condição de pessoa única, e igualmente enquanto Deus e Homem... um dogma que provocou algumas cisões, nas igrejas ortodoxas orientais, especialmente tendo em atenção a referência os evangelhos de Mateus e Marcos que citam a frase de Jesus: "Deus, Deus, porque me abandonaste?".

Segundo informação do trilho, a designação que reporta a Calcedónia vem de eruditos portugueses do Séc. XVI, que teriam associado ali a vinda dos Argonautas e a fundação da cidade (que ao que parece seria um povoado romano). 
Veja-se o trilho da Cidade da Calcedónia, que curiosamente, começa em Covide... onde? 
- No Largo do Calvário. Apenas mais uma coincidência.

Se quisermos entrar ainda por esse lado, veja-se o episódio de Hermano Saraiva (A Alma e a Gente série IV - 51), que faz referência à tradição local da "Toalha de Água às Mãos".

Num site de trekking encontramos diversas fotografias, em particular esta foto da fenda da Fraga da Calcedónia, que é bastante ilustrativa da dimensão que as pedras do Gerês, em particular dos blocos que definem esta fenda.

Para finalizar, são ainda interessantes as moedas associadas à cidade de Calcedónia (que é agora um bairro de Istambul).
Porque o Bósforo teria o nome como origem bois (Bós) e passagem (poro), em grego, aparecendo nas moedas da Bitínia que referem a cidade, a designação KAΛX que é um prefixo "calc" semelhante ao que encontramos em Cálculo, e cuja origem latina remete para pedras, ou seja, para a sua contagem... Ainda que as pedras, cálculos, não fossem supostamente tão grandes quanto as que encontramos na Peneda-Gerês...
Tetradracma Calcedónio (Bitínia), circa 370 a.C.














Nota: No Portugal Antigo e Moderno, Pinho Leal deixa estas palavras sobre Calcedónia e Covide.
CALCEDONIA— cidade antiga de que falam Strabão, Plínio, Pomponio Mella e outros, a qual, segundo eles, existiu na parte septentrional da Lusitânia; mas cujo sitio certo se ignora. (Vide Covide.) Passava por esta cidade a via militar romana chamada Geira. (Vide Geira.) 
COVÍDE — freguesia, Minho, comarca de Villa Verde, concelho de Terras de Bouro, (extincta comarca de Pico de Regalados) 30 kilometros a NO de Braga, 385 ao N. de Lisboa, 90 fogos. Em 1707 tinha 73 fogos. Orago Santa Marinha. Arcebispado e distrito administrativo de Braga. Era antigamente deste mesmo concelho, mas da comarca de Viana. Situada entre serras, próximo do Zêzere. (...)Tinha antigamente o privilegio de se não fazerem aqui soldados, com a obrigação de guardarem à sua custa a Portela do Homem, das invasões dos galegos. 
Sobre um cabeço a E. da bacia onde está situada a povoação, existem as ruínas de uma atalaia dos antigos lusitanos, ou de um castro romano. É tradição que foi aqui a antiga cidade de Cálcedonia (outros dizem que esta cidade foi a 12 kilometros ao N., já em terreno da Galiza). Este sitio não podia conter mais do que uma fortaleza. Há ainda por estes sítios restos de marcos milliares e vestígios da via militar romana chamada Geira. Em Sá ha um cruzeiro feito de um marco miliar, sem inscripção. Tem a data de 1736, provavelmente quando fizeram o cruzeiro. 
No lugar da igreja está outro cruzeiro, coberto de zinco, e assente sobre uma coluna que foi padrão romano. A inscripção não se pôde ler, por estar enterrada a parte que a contém. 
A pequena distancia a E. de Covide, está a capela de Santa Eufemia, e junto a ela um penedinho de forma esferoidal, para o qual se sobe por alguns degraus de cantaria e dominado por uma pequeaa cruz de granito. Chama-se Penedo da Santa, ou Penedo de Santa Eufemia. Nele se vêem vestígios de muitas pegadas de um pé delicado. É tradição que fugindo Santa Eufemia à perseguição de seu pai, governador romano de Braga, vagueara por estas serras e que fazendo oração sobre este penedo, aí deixou gravados os sinais de seus pés. Na aldeia de Covide apareceu pelos anos de 1855, em uma escavação, um forno, construído de tijolo. 
Esta freguesia está situada em um pequeno vale, ao S. do Gerez, É terra fria e húmida no inverno; mas tem bons prados artificiais e naturais. Produz muito milho, linho e centeio, alguma castanha e pouco mau vinho verde. Cria bastante gado bovino, da raça de Barroso. (...)

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Bicho de contas

Há um indicador que tem as contas actualizadas do número de infectados pelo corona-vírus registados até à corrente data:

e que mostra de forma razoável como a propagação da epidemia está a ficar controlada na maioria dos países que decretaram medidas de contenção, mesmo que haja um panorama algo descontrolado a nível mundial:
 
Após um rápido crescimento que se deveu à situação na China, o número estabilizou ligeiramente, até à propagação na Europa, e depois na América, que fez disparar este número, de novo. É de esperar que uma situação deste género volte a ocorrer, nos diversos países que ainda não têm a situação sob controlo, e por isso podemos estimar que mais que no final de Abril possam existir 10 milhões de infectados, e em Maio poderemos contar com perto de um milhão de mortos. Não me parece expectável que a pandemia passe o mês de Maio, em todo o mundo.
Como a contabilização será deficiente em muitos casos, isso poderá não ser imediatamente reflectido.

Os casos exemplares de contenção foram os imediatamente afectados - Coreia e Japão.
A Coreia do Sul tem uma curva (logarítmica) quase constante desde 8 de Março (desde essa altura o número de novos casos é residual, entre 100 e 200 casos diários):
Como habitual nestes casos, a progressão é inicialmente exponencial - isso todos referem, mas depois sofre uma curvatura gaussiana (disso ninguém fala...) tendendo a estabilizar ou diminuir, consoante o sucesso na contenção ou cura. Nestes gráficos do worldometers.info não são contabilizadas as curas, porque aí veríamos a curva descer - aliás dos ~ 10 mil infectados, restam 4 mil não curados, na Coreia.

Este mesmo tipo de curva (logarítmica) pode ser visto no caso português:

mas como as medidas de contenção foram tomadas tardiamente (quando comparado com a Coreia), o crescimento prolongou-se no tempo - na Coreia demorou 3 semanas a contenção e estabilização, em Portugal já passou um mês desde o 1º caso, mas só há medidas restritivas há 2 semanas. 

Foi por esta razão, porque este tipo de fenómenos tem um comportamento que dentro de certos parâmetros pode ser algo previsível que, num postal de 22 de Março, quando ainda haviam apenas 1600 casos em Portugal, fiz a seguinte previsão:

Os pontos a vermelho são os valores que se conheciam, e os pontos a azul são os que se verificaram depois. Ou seja, os valores seguiram dentro de uma das curvas expectáveis para o crescimento.
Por exemplo, disse que os valores a 31 de Março seriam ~ 8500, e foram 8250 anunciados no dia 1 de Abril. Na realidade, há duas semanas atrás, pareceu-me que a curva poderia ser ainda mais acentuada, na pior estimativa (curva a preto), e não tinha visto o caso de sucesso coreano.
Não se tratou de acertar por acertar, nem há qualquer interesse neste "acerto", é pouco relevante que a DGS não actualize bem as bases de dados, ou que faltem milhares de testes. Neste tipo de análises, o que interessa é perceber a tendência, e essa é mais ou menos estanque à divulgação... até ao momento em que a política começa a torturar os números, e esses números não correspondam a nada de real.

Parece-me plausível que possamos antecipar o pico dos casos para uma data anterior ~ 10 de Abril, com um número de casos em Portugal perto dos 15 mil. Não será um pico, porque o número de recuperados (registados) é ainda pequeno.

Percebe-se talvez melhor a questão dos japoneses em não quererem comprometer a realização dos Jogos Olímpicos em 2020, porque foram eficazes a conter a epidemia (têm menos de 3 mil casos), e provavelmente entenderam que os restantes poderiam fazer o mesmo... isto claro, se tivessem feito o mesmo controlo de entradas de estrangeiros, ou de pessoal em viagem. Coisas básicas que a DGS ou a OMS tardaram a perceber ou exigir, por incompetência, ou outra competência... 

A Espanha vai ultrapassar a Itália em número de infectados, pois a situação italiana já está quase estanque, mas também deverá estabilizar por volta da Páscoa, não devendo atingir os 200 mil infectados. A situação italiana pode considerar-se praticamente estanque, neste domingo deverá atingir o topo (inferior a 130 mil), começando a estabilizar (ou seja, depois terá variações com menos de mil novos infectados por dia).

Mesmo no caso dos EUA, que aparece agora como principal foco, e algo descontrolado, com efeito a situação está a começar a inverter-se, e poderá mesmo não chegar aos 500 mil infectados com tendência a abrandar, na semana depois da Páscoa... e Trump poderá dizer que a situação estará controlada antes de Maio, com um número de mortos muitas vezes inferior ao que pensou.

Bom, mas tudo isto são previsões numéricas, sujeitas aos diversos imponderáveis, que podem transformar uma tendência noutra bem diferente. Estas contas são básicas e podem ser feitas por qualquer um com alguns conhecimentos de matemática na universidade. Uma análise mais detalhada nem sempre dá melhores resultados... porque os imponderáveis são imponderáveis.
No entanto, começando a bater certo sistematicamente, é natural que se usem como objecto orientador, e sempre são melhores do que estimativas vindas do nada, e tomadas ao sabor do vento, conforme as que habitualmente ouvimos.
Uma coisa a averiguar será a de saber se este bicho é um bicho de contas certas, ou não.