sexta-feira, 6 de abril de 2018

Lei - sai Carles, entra Lula, não Lulia

Sai Carles Puigdemont... porque os tribunais alemães não quiseram repetir a história, e desta vez consideraram inadmissíveis as acusações de rebelião e alta-traição, pedidas pelo judicialismo espanhol.
Num comentário, escrevi que estava "com alguma curiosidade para perceber o que a Alemanha iria fazer, porque tinha independência económica para fazer o que lhe apetecesse à Espanha, e não iria ficar muito bem na fotografia se participasse directamente na entrega do Puigdemont para o cárcere." Acabaram por decidir bem, para surpresa geral, especialmente dos Torquemadas espanhóis, que nem se atreveram a criticar a decisão alemã... 

Entra Lula... porque já falámos aqui sobre o juiz brasileiro Sérgio Moro, 
e portanto, não é de espantar que tenha decidido a rápida prisão de Lula, dada a sua apadrinhada ascensão pela novela político-judiciária brasileira.

Não Lulia, porque Michel Temer Lulia (sim, o apelido é Lulia...) foi gravado a autorizar um suborno. Ora, um detalhe, que pouco impressiona o justicialismo exemplar de Brasília, capaz de destronar e prender presidentes.
Quando a população prefere esmagadoramente Lula a Lulia, nada como uma justiça selectiva, para completar o sistema democrático. Não nos esquecemos das exemplares democracias, onde o Politburo conhecia melhor o bem para o povo, do que a maioria do próprio povo.

Lei
A lei do leitão é a do leite - mama ou morre.
A porca - no leito, e a lei do leite entre leitões, que se deleitam.

A coisa complica-se quando são muitos a mamar, e há mais leitões que tetas ou leite.
Aqui funciona a lei preferida dos bacorinhos - a lei dos "mais aptos", normalmente os mais velhos, que tendo acesso às primeiras tetas, crescem e vão remetendo os mais novos para as mais pequenas... ou para nenhuma.
A celebração do poder judicial como não escrutinável...

Lei na pedra
É mais conhecida a lei da pedra, em apedrejamentos, praticados pelos judeus.
Porém, para a mitologia religiosa, ficou a lei escrita na pedra, como Mandamentos.
Há um pequeno detalhe, um eventual Moisés é colocado historicamente no Séc. XIII a.C., portanto uns 300 a 600 anos antes de serem encontrados os primeiros escritos hebraicos. 
O paleo-hebraico, que é fenício pintado pelos judeus como "hebraico antigo" é do Séc. X a.C., e pelo menos estamos com 300 anos de diferença.
Os mandamentos em francês - Phillipe de Champagne (1648)

Ou seja, havendo algo escrito na pedra, não seria em hebraico... mas também não é relevante, porque acreditando em milagres, nada é impossível, e o racional não interessa. Ou para grandes racionalistas, como os franceses, obviamente, teria sido escrito em francês...

Leitura
Lei aparece como forma imperativa do verbo ler. 
Agora dizemos irregularmente "lede", mas a sua forma regular seria "lei".
Isto é um indicador da forma escrita da lei, e terá sido essa a novidade... especialmente se escrita em pedra, porque seria mais dificilmente falsificável.

Quando vemos em latim "legis", e os diversos prefixos que herdámos - legislar, legislação, legítimo,... devemos notar que o "g" foi uma letra usada como o "h", muitas vezes sem valor fixo, variando, confundindo-se ainda com o "c".
Assim, também "legis" poderá ser lido como "lehis", ou seja, "leis".

Quanto ao leite, aparece na forma latina como "lacte", e conforme já referi, muitas são as palavras latinas onde o "ct" foi substituído por "it" (direito - directo, respeito - respecto, eleito - electo, ...).
Se aqui fizermos o mesmo, obtemos "laite" e a diferença para "leite" é mínima.


Interessa que há uma conexão entre as palavras, que é mesmo reconhecida, remetendo-a a um termo indo-europeu primitivo "leg" que significaria colectar. Interessando referir que "colecta" pareceria ter a variante "coleita", que é como quem diz "colheita", só que nesse caso ambos vêm de "colher"... 

A relação da lei com os leitões, explanada acima, fica ao leitor... ou lector.

4 comentários:

  1. Ahh muito bom!! Mais uma vez que grande viagem filológica!!Portanto, quem não respeita os "mandamentos da pedra", leva uma pedrada que nada mais é que um "mandar uma pedra". Ehehe um pobre contributo mas de boa vontade.

    Bom fim de semana,

    JR

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    1. Obrigado... já foi fora de tempo, porque hoje tinha uma reunião cedo. Já tinha esta do leite e dos leitões, e da porcaria em geral, guardada há muito tempo. Só escrevi um bocadito, e já ia grande demais.

      Essa dos Mandamentos também é interessante.
      Mandamento, tal como Comandar, vem de Mandar.

      Ora, Mandar é Mã+dar, ou seja, Mão Dar.

      Dar a Mão, poderia ser uma espécie de analogia com o pai que leva o filho pela mão. Porém, parece que ganhou um significado menos benigno, e em vez de "Dar a Mão" parece que ficou "Dar com a Mão", que é como quem diz, uma valente palmada.
      Como há ainda o significado de enviar em Mandar, que é um "Dar com a Mão", mas arremessando qualquer coisa, é mais natural que fosse mesmo mandar um estalo.
      Seja de uma forma ou doutra, parece-me que Mão+Dar está na origem de Mandar.
      Por exemplo, Comandar, lê-se claramente Com+Mão+Dar, e portanto o comando deveria envolver tabefes... Pelo menos em casa, quem Com a Mão Dava, era quem Comandava.

      Mandamento, para além da declinação habitual de Mandar, aqui tem outra particularidade, porque lendo Manda+Mente, refere-se ao propósito de Mandar nas Mentes. Era esse o propósito dos mandamentos, mandar as mentes para uma vida menos pecaminosa.

      Como bem referiu, primeiro a lei era escrita na pedra, depois se não entrasse assim na cabeça, na mente, a forma de tratar o problema era enviar as pedras directamente à cabeça, numa manifestação cultural perdida - o apedrejamento. Um tratamento literal, digamos.

      Bom fim de semana.

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  2. Ainda se podia interpretar de outro modo... No seguimento da hipótese "mão+dá+mente" vamos lá ver é se a "mente" não virá de "mentira". Sabemos que por vezes para comandar, a mão que dá, mente. Eehehhe outro humilde contributo.

    Cumpts,

    JR

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    1. Sim, claro que... de mente demente, a mente mente.
      E os ingleses diriam mind your mind.

      https://odemaia.blogspot.pt/2011/06/la-palisse-roma-e-pavia-verdadeira.html

      porque depois há todos os advérbios de modo terminados em "mente".

      Abç

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