quinta-feira, 19 de abril de 2018

Desafinações visuais (3)

"An Occurrence at Owl Creek Bridge" é uma curiosa história de Ambrose Bierce, escrita em 1890.
O enredo passa-se na Guerra Civil Americana, onde aliás Bierce também combateu, e assenta basicamente num momento de execução por enforcamento. O homem parece escapar, porque a corda à volta do pescoço parte, conseguindo finalmente regressar à sua quinta... mas quando se prepara para abraçar a sua mulher, sente uma pancada no pescoço, e invade-o a escuridão. O autor revela então que a pancada era a da corda a partir o pescoço, e todo o enredo anterior do livro, após "a corda se partir à volta do pescoço", era uma ilusão da consciência, em negação do fim inevitável.

Algo semelhante está no enredo do filme "BZ, Viagem Alucinante" (no original "Jacob's Ladder").

BZ Viagem Alucinante (1990) - Jacob's Ladder

A razão de mencionar este assunto:
Um laboratório suíço negou que a substância, denominada BZ, utilizada para envenenar o ex-espião russo, Sergei Skripal e a filha Yulia no Reino Unido tenha sido produzida na Rússia. A conclusão surgiu através da análise de amostras previamente enviadas pelo Reino Unido.        (Artigo no Correio da Manhã)
Também podemos ver que está em curso um remake de Jacob's Ladder, iniciado em 2016, e previsto estrear em 2018... bom, se é que não tivemos já uma ante-estreia!

O filme de 1990 é alucinante (conforme a oportuna tradução portuguesa fez transparecer), e com as coisas a 30 anos de distância, o filme foi para mim marcante, já que não percebi bem como saí quase ileso de um acidente letal à época, e a perspectiva filosófica do filme era desconfortável.

A substância BZ é uma droga com efeitos psíquicos funestos, tendo sido "alegadamente" usada pelos russos na resposta ao ataque terrorista num teatro de Moscovo, em 2002, e tendo resultado na morte dos terroristas... e também de muitos reféns. Portanto, por esse lado, os russos não ficaram mais salvaguardados do seu uso.
No entanto, o uso reportado no filme era o uso experimental no sentido de aumentar a agressividade para combate dos soldados americanos na Guerra do Vietname. O seu uso experimental pela CIA, entre 1955-75 foi atestado por documentos entretanto desclassificados. Por este lado, também não há inocentes, mas há a vontade infindável de lhes ir dando todos os descontos e contos.

No sentido explicado pelo Major-General Carlos Branco, constituindo-se a Rússia como alvo a abater, pela política externa norte-americana (... e aliados), faltariam pretextos para agravar a tensão, fizessem pouco ou nenhum sentido. As false flag operations precisam apenas de cavalgar um pretexto, nem precisam que este seja bom. Sendo claramente falso, vê-se mais nitidamente a fidelidade incondicional dos aliados, sendo independente da solidez do pretexto.
O caso do espião Skripal foi um, e o alegado enésimo ataque químico na Síria, outro... e as coisas não tendem a diminuir. Até porque, não tendo tido nenhum resultado prático, testaram a obediência das suas nações vassalas. À medida que as alegações do caso Skripal, ou da Síria, vão ficando mais absurdas ou estapafúrdias, os ingleses pensam agora em calar a RT (a televisão russa), e as notícias desaparecem, como se nada tivesse acontecido. Entretanto, a filha de Skripal já está fora do hospital, e os russos alegam que o coma induzido foi desnecessário, propositado para a notícia conveniente...

Uma vontade, que tem estado bastante clara, seria arranjar um pretexto para boicotar o Mundial de Futebol, a realizar em 2018 na Rússia. Uma oportunidade de Putin fazer o seu show internacional, algo que incomoda especialmente o lado politicamente correcto ocidental, a quem estragou o espectáculo degradante que Ieltsin proporcionava à festa do fim soviético.

Para se entender melhor o problema do Mundial de Futebol de 2018, sugerimos:
até porque a contra-resposta russa foi logo inquirir sobre a ida à Lua... ou melhor, alegada ida à Lua.
Digamos que, Portugal boicotar o Mundial de 2018, basicamente o último em que Ronaldo poderá jogar em condições, seria impensável. Há que perceber as razões profundas da diplomacia internacional.

Quem estiver mais atento às explorações espaciais, poderá anda reparar que o fim do Space Shuttle, em 2011, tornou o cosmódromo de Baikonur o único ponto de ligação com a Estação Espacial Internacional, e os astronautas americanos têm que fazer uma visita à Rússia (ou Cazaquistão), se quiserem brincar no espaço. Esta suspensão foi, mais ou menos, pela mesma altura que Obama anunciou Marte como objectivo para 2037 (... para Trump - daqui a 3 anos!). Isto, para não falar dos planos detalhados que a NASA anunciou em 2004, que incluíam uma estação lunar a construir de 2012 a 2020 (sim, faltam menos de dois anos para concluir)!

Claro que a situação é ignorada, tentada passar como se nada existisse, porque não existe nada... ou seja, o programa espacial americano terá sido suspenso por completo, algo que desagradará de forma incontornável aos americanos, mas que poderá ter o contraponto vantajoso da não revelação de provas sobre a não ida à Lua em 1969-73.

Big Bang Theory - episódio em que Howard sai de Baikonur, em direcção à Estação Espacial.

Claro que o que seria mesmo impensável.... seria Putin anunciar a chegada dos russos à Lua, porque entretanto já poderá haver tecnologia suficiente para o fazer (sem a realização cinematográfica de Stanley Kubrick).

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