sexta-feira, 27 de abril de 2018

Busíris de Isócrates

Busíris é uma das oratórias de Isócrates.
Isócrates, que conheceu Sócrates, dedicou-se à retórica, sendo apelidado "Pai da Retórica".
Qual é o Busíris em questão?

Diodoro Sículo coloca Busíris como fundador da linha dos faraós do Egipto, que reinavam em Tebas. Mas, além disso aparecia num contexto mítico mais alargado, envolvendo Osíris e Hércules. Por exemplo, Bernardo de Brito toma-o como rei da Fenícia, numa aliança que os Lomínios produziram no sentido de se verem livres de Osíris. 
 
Vasos gregos, que ilustram Hércules matando Busíris.

Esta oratória de Isócrates é dedicada, não tanto à história, mas sim ao bom uso da retórica, numa situação que se afigurava complicada - defender o tirano Busíris, que passava por ter morto convidados para jantar, e deles ter feito refeição. 
A cargo da defesa do tirano, Isócrates inventa um personagem, Polícrates, no intuito de mostrar como a sua retórica, e não a de Polícrates, permitiriam uma melhor defesa do sujeito.

O busílis na defesa de Busíris, é que todos sabiam perfeitamente os crimes de que estava acusado, e para Isócrates não valia a pena estar a encontrar justificações artificiais para esses crimes. 
Na sua opinião, o uso da retórica era mais eficaz focando nas virtudes de Busíris, que Isócrates chega a argumentar como fundador da civilização egípcia.

Seria o equivalente de termos um antigo dirigente acusado de corrupção, e os seus advogados estarem mais entretidos em argumentar a sua inocência - algo em que ninguém acreditaria, ao invés de procurarem argumentar que, sem a sua direcção iluminada, o país se teria afundado numa crise. Bom, no caso de Busíris parecia ser mais fácil a Isócrates argumentar pelos aspectos positivos.

Poderá pensar-se que estou a falar de Sócrates e não de Isócrates (ver por exemplo: "O Galo de Sócrates" e "Abade Faria - é do mundo dantes"), mas aí a retórica tem já outra escola, onde uma linha de defesa é o contra-ataque. Ou seja, divertir do assunto em questão, atacar os acusadores, invertendo os papéis de vítimas e criminosos. 

Manobrar a retórica foi uma arte política com sucesso, quando os políticos ainda conseguiam inventar estórias razoáveis, com que iludiam os votantes. Dispensado isso, descuidando na argumentação, na conversa necessária para vender gato por lebre, a arte política resume-se a uma simples tirania de imposição do status quo. As pessoas já sabem que é gato, os políticos pouco tentam iludir, e simplesmente tentarão convencer, no futuro, que lebres foram um mito.

Este texto é sobretudo sobre Busíris e Busílis.
Na minha opinião são a mesma palavra, tal como já se escreveu "simpres" em vez de "simples", ou "blando" em vez de "brando", etc.
Leio a etimologia oficial de "busílis", e enfim...
Na minha opinião, a expressão foi usada de forma erudita, referindo-se à oratória "Busíris" de Isócrates. 
O busílis da questão, seria o uso oportunista da retórica, para iludir verdade num julgamento.
A retórica da falsidade ganhou muito mais adeptos e argumentos ao longo do tempo. 
A verdade passa por ser uma descrição tão honorável quanto a mentira, tendo a verdade a desvantagem de não poder usar da imaginação para poder ser embelezada e colorida com as cores da moda.

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