terça-feira, 6 de junho de 2017

A bala da lei

É bastante mais provável alguém ser morto por um polícia do que por um terrorista... 

Esta foi a conclusão de um estudo nos EUA, que contou por base em registos oficiais, 8882 mortes pela polícia americana (supostamente mais de metade desnecessária), à data (2016) e desde o 11 de Setembro. A média ronda as 1000 mortes por ano, o que levou a que um analista tivesse dito em 2012 que era 8 vezes mais provável ser morto por um polícia, do que por um terrorista. Ou como, Snowden terá dito, era mais provável morrer pela polícia, ou até pela queda na banheira, do que por um terrorista.
No entanto, as mudanças para leis que infernizaram a vida dos cidadãos exigia um argumento persistente de medo, e uma forma eficaz de o passar - os jornais e as televisões.

No passado sábado, as televisões (SIC-N, RTP-3) interromperam a programação habitual para iniciar em directo a transmissão de mais um episódio da série de "terror". Começou a história por ser um atropelamento com feridos, e antes de qualquer notícia de mortes ou esfaqueamentos, logo toda a programação parou... o que é especialmente caricato em Portugal, que nunca teve qualquer registo terrorista, e onde o atropelamento mortal é uma tragédia constante das nossas estradas. Simplesmente foi dado o aviso noticioso internacional de que aquele caso era para reportar, e as televisões cumpriram imediatamente o seu papel obediente.

É notável que a posteriori, passados quase 3 dias sobre o incidente, contadas 7 vítimas mortais (para além dos 3 atacantes), apenas se conhece a identidade de duas delas - uma noiva canadiana atropelada, e um francês esfaqueado (ver por exemplo, Who are the victims of the London attack?). Procurei saber ontem, e os vários artigos que vi, que falavam das vítimas, faziam praticamente o mesmo - davam a história da noiva com detalhe, e ignoravam por completo o que se tinha passado com os restantes, enrolando a notícia com factóides. 

Ora, não me parece que seja muito difícil distinguir, em poucas horas, entre quem foi atropelado e quem foi esfaqueado, mas não havia informação acerca da causa da morte das restantes vítimas.
Ao contrário, havia a informação de que a polícia tinha feito uma vítima com um tiro na cabeça, e de que os agentes policiais tinham descarregado as armas sobre o local do ataque, havendo 18 feridos ainda em estado grave, sem ser especificada a causa.
Parece haver algum embaraço policial em identificar "quem foi vítima do quê"... mas é fácil distinguir ferimentos de balas, de facas, ou atropelamentos... quando os atacantes apenas teriam facas. Ao manter tudo em segredo, com cumplicidade de não inquirição pelos órgãos de informação, seria de questionar se a maior parte das vítimas não poderá ter sido causada pela própria intervenção policial... independentemente do tiroteio (relatado pela própria polícia como "tiroteio sem precedentes") ter sido mais ou menos justificado.
Não encontrei nada num sentido ou noutro, mas passando o período de 48 horas em que o caso é notícia de primeira página, entra-se numa selecção noticiosa ainda maior do que será sabido, e do que ficará por saber... e parece que este caso tem todo o aspecto de ir deixar muita coisa por saber.

2 comentários:

  1. Para não destoar - neste momento as 3 televisões (RTP-3, SIC-N, TVI-24), pararam a emissão, para dar conta da presença em Paris, junto à Notre-Dame, de "um homem com um martelo"...
    Seria Thor?
    O mais provável seria ser um carpinteiro, mas como França está em Estado de Emergência há 2 anos, se um polícia é ameaçado com uma martelada, a força policial trata de neutralizar "tamanha ameaça" com vários tiros.

    A novela continua, cada vez com aspectos mais grotescos, de um absurdo que leva mais de uma centena de polícias a isolar a zona, porque um qualquer maluco exibe descontroladamente um martelo.
    Dissesse alguém que isto iria acontecer há uns 30 anos atrás - parar uma cidade e as notícias mundiais por causa de um martelo - e toda a gente gozaria com tamanha estupidez...

    ResponderEliminar
  2. O epílogo informativo foi "mais ou menos" dado no artigo do The Guardian, quase 5 dias depois do ataque:

    https://www.theguardian.com/uk-news/2017/jun/07/london-bridge-attack-last-of-eight-victims-identified-as-xavier-thomas

    A ausência de informação das autoridades inglesas, assinalada neste post, sofreu mesmo um comentário amargo do ministro dos negócios estrangeiros espanhol:

    «The country’s foreign minister, Alfonso Dastis, said he was “rather baffled” that London had not been able to clarify the situation more than three days after the attack.»

    No entanto, nada que se pareça com um esclarecimento minimamente claro ou consistente... nos curtos 8 minutos entre o telefonema para a polícia e a morte dos atacantes, múltiplas pessoas tiveram actos heróicos de deter os 3 atacantes, que nesse período feriram gravemente 48 pessoas, 21 das quais em estado crítico, para além das 8 mortes. Colocando cada atacante em lutas corporais com dezenas de pessoas em poucos minutos, incluindo respostas heróicas, não sendo impossível, é um cenário que normalmente só associamos a antigos filmes de artes marciais.

    Ver ainda https://en.wikipedia.org/wiki/June_2017_London_attack

    ResponderEliminar