O incêndio ocorrido na madrugada de 14 de Junho, na Torre Grenfell, em Londres, é mais uma situação de grande tragédia que ocorre numa Inglaterra especialmente afectada nestes últimos dois meses.
Perante as imagens da rápida propagação do grande incêndio, que afectou a torre de 24 andares, houve quem questionasse se o prédio iria resistir estruturalmente, talvez por influência de informação errónea, propagandeada como causa de colapsos de estruturas de ferro - e relembramos o assunto do 9/11 que já tratámos. No entanto, mesmo com chamas de proporções gigantescas, consumindo o prédio durante quase 20 horas, também este prédio não cedeu estruturalmente.
Incêndio da Torre Grenfell em Londres (14/06/2017) após 3 ou 4 horas do início.
De novo, os responsáveis tentaram conter a informação e minimizar a estimativa do número de mortos, inicialmente apontando para 17, depois para 30, reconhecendo só dois dias depois que o destino dos "desaparecidos", não deveria ser dissociado duma contagem final do número de vítimas mortais, ultrapassando uma centena.
Independentemente de considerações sobre a qualidade do novo revestimento, que actuou como um pavio incendiário, tudo indica que o maior número de vítimas ocorreu entre as pessoas que confiaram nas instruções da polícia, aguardando o socorro no seu apartamento, sem procurar escapar quando o incêndio podia ainda permitir uma descida, que salvou os restantes sobreviventes, mesmo dos últimos andares.
A polícia terá seguido o manual de instruções de emergência para o edifício, sem cuidar que os pressupostos eram verificados. Apesar do prédio ter sido inspeccionado pelos bombeiros na semana anterior, estas inspecções de rotina são muitas vezes uma burocracia de assinaturas.
Facilmente as pessoas depositam a sua confiança no sistema, tanto mais quanto é complicada essa burocracia, fazendo-as crer num grande cuidado e controlo profissional. Essa confiança na polícia foi aqui testada ao ponto de irem contra o bom senso, que seria abandonar o edifício rapidamente.
Certamente que haverá responsabilidades apuradas a posteriori, mas o sistema não quererá reconhecer responsabilidades a priori - ou seja, que os habitantes deveriam obedecer às instruções policiais, sem questionar a sua lógica, quando o bom senso indicava um caminho oposto - o caminho de se porem a salvo do progresso das chamas.
O Grande Incêndio de Londres em 1666 mudou por completo a percepção da sociedade inglesa, levando a grandes transformações na sua organização. Tratando-se este de um incêndio restrito, e reduzido a um prédio, não deixa de mostrar falhas graves, aplicáveis a tantos outros edifícios do mesmo tipo, que simplesmente não permitem o socorro a vítimas encurraladas em andares superiores, até porque as maiores escadas de bombeiros chegam apenas até 10 andares, quando outros meios não são viáveis.
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