O contexto socio-político da peça "As Aves" é o da partida da Expedição Siciliana, que será desastrosa para Atenas, e que ditará a sua derrota na Guerra do Peloponeso.
A ideia cretina de Péricles, de extorquir os parceiros da Liga de Delos (a União Europeia da época) e assim fortalecer Atenas à conta do tributo das outras cidades, determinou essa guerra interna entre os gregos, de que Esparta e os seus aliados saíram depois vitoriosos.
Há assim inúmeras referências, piadas, que só podem ser entendidas compreendendo o contexto e os protagonistas. A wikipedia tem uma lista exaustiva bastante boa.
Por exemplo, uma piada às localizações envolve a galé Salamina que tinha ordens de prender Alcibiades na Sicília. Outra piada envolve os atrasos do seu aliado, general Nicias. Fala-se num Mar Vermelho (Eritreu) como localização grega, ao mesmo tempo que cidades aliadas de Esparta eram classificadas como não-gregas. Aquele Mar Vermelho deverá referir-se ao mar vizinho ao Estreito de Gibraltar, e não ao Egípcio.
Toda a alegoria da peça, na constituição de um bloqueio dos pássaros aos tributos dos humanos aos deuses, e assim na substituição dos deuses pelos pássaros, pode ser encarada como um bloqueio dos aliados de Esparta ao tributo recebido por Atenas, na Liga de Delos.
Por exemplo, no contexto da Guerra do Peloponeso, o acesso ao santuário de Delfos estava bloqueado na Beócia, que era então aliada de Esparta contra Atenas.
Há diversos níveis, e ao mesmo tempo os pássaros revelam truques de como podem iludir os humanos no seu favorecimento. Por exemplo, monitorizando de alto o que se passa, podem saber onde os antigos esconderam tesouros, e depois revelar a localização aos humanos mais devotos. Isto é uma forma típica da classe dominante, sacerdotal, poder acertar nos presságios de boa-fortuna, já que controlando cargos e bens, pode favorecer a sua obtenção.
Mais inteligente do que isso, só conseguir ter pessoas a ouvir confissões e preces íntimas, e depois a transmiti-las para decisão favorável ou desfavorável, consoante o interesse da classe de confessores.
A ideia cretina de Péricles, de extorquir os parceiros da Liga de Delos (a União Europeia da época) e assim fortalecer Atenas à conta do tributo das outras cidades, determinou essa guerra interna entre os gregos, de que Esparta e os seus aliados saíram depois vitoriosos.
Há assim inúmeras referências, piadas, que só podem ser entendidas compreendendo o contexto e os protagonistas. A wikipedia tem uma lista exaustiva bastante boa.
Aliados de Esparta (a azul) e de Atenas (a vermelho). |
Toda a alegoria da peça, na constituição de um bloqueio dos pássaros aos tributos dos humanos aos deuses, e assim na substituição dos deuses pelos pássaros, pode ser encarada como um bloqueio dos aliados de Esparta ao tributo recebido por Atenas, na Liga de Delos.
Por exemplo, no contexto da Guerra do Peloponeso, o acesso ao santuário de Delfos estava bloqueado na Beócia, que era então aliada de Esparta contra Atenas.
Há diversos níveis, e ao mesmo tempo os pássaros revelam truques de como podem iludir os humanos no seu favorecimento. Por exemplo, monitorizando de alto o que se passa, podem saber onde os antigos esconderam tesouros, e depois revelar a localização aos humanos mais devotos. Isto é uma forma típica da classe dominante, sacerdotal, poder acertar nos presságios de boa-fortuna, já que controlando cargos e bens, pode favorecer a sua obtenção.
Mais inteligente do que isso, só conseguir ter pessoas a ouvir confissões e preces íntimas, e depois a transmiti-las para decisão favorável ou desfavorável, consoante o interesse da classe de confessores.
Acabei por ter ainda que consultar uma versão transcrita de uma cópia grega, em 1834:
até porque grego é uma língua de que sei apenas fazer a transcrição das letras, e pouco mais.
Mas as versões inglesa e francesa diferiam nalgumas coisas, até na colocação das falas. Indo ao texto "original", tive uma pequena surpresa. Parecerá não ser relevante, mas vejamos as três formas:
- (Inglês) If on the other hand they recognize that you are God, the principle of life, that. you are Earth, Saturn, Posidon, they shall be loaded with benefits.
- (Francês) Mais si les hommes vous regardent toi comme dieu, toi comme la vie, toi comme la Terre, toi comme Cronos, toi comme Poseidon, tous les biens leur arriveront.
- (Grego) en d' égontai sè Theon, sè Bíon, sè dè Gên, sé Kronon, sè Poseido, ... agath autoisin panta parestai.
A tradução francesa estará melhor (pelo menos coloca Cronos e não o romano Saturno), mas faz o esforço de não colocar nem "deus", nem "vida" com maiúsculas, enquanto a inglesa substitui Bion por "princípio da vida", mas tiram ambas um factor importante - todos os substantivos ali deviam ser encarados como divindades.
A lista de divindades gregas, menciona "Bia" como "força", mas não aparece nenhuma divindade associada à vida, ou seja, a Bio. Não é isto irrelevante, porque se Teo (Deus e não Zeus) pode ser referido como princípio das coisas, definir uma entidade separada, Bio (Vida), para o princípio da vida, faz igualmente sentido, tendo o velho Cronus associado ao Tempo.
É claro que separar a criação das coisas da criação da vida não seria conveniente ao monoteísmo, e talvez por isso, na tradição que nos foi chegando, se tenha perdido o conceito separado.
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As Aves
(de Aristófanes)
(continuação)
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Pistétero: Primeiro aconselho que as aves se reúnam numa cidade e que eles construam um muro de grandes tijolos, como está na Babilónia, rodeando as planícies do ar e toda a região do espaço que divide a terra do céu.
Poupa: Oh, Cebrion! Oh, Porfírio! Um lugar terrivelmente forte!
Pistétero: Então, quando estiver bem feito e concluído, exige-se de volta o império de Zeus. Se ele não concordar, se ele recusar sem se confessar batido, declarais uma guerra santa contra ele. Proíbam os deuses, de agora em diante de passar no seu país, com seus paus em riste, como até aqui, com a finalidade de os usar nas suas Alcmenas, suas Alopes, ou suas Semeles! Se eles tentarem passar, colocam anéis em seus paus para que eles não possam mais fazer amor.
Envia outro mensageiro para a humanidade, que irá anunciar-lhes que as Aves são reis, e de futuro, eles devem antes de tudo sacrificar a si, e só depois aos deuses; e que é apropriado designar a cada divindade o pássaro associado consigo.
Por exemplo, se estão sacrificando a Afrodite, devem ao mesmo tempo oferecer cevada para o galeirão; se estão imolando uma ovelha para Poseidon, devem consagrar trigo em honra do pato; se um boi está sendo oferecido a Herácles, deixem bolos de mel dedicados à gaivota; se uma cabra está sendo morta por Zeus Rei, há um Rei-pássaro, a carriça, a quem o sacrifício de um mosquito macho é devido, antes do próprio Zeus.
Euelpide: A noção de um mosquito imolado é encantadora! Agora deixemos o grande Zeus trovejar!
Poupa: Mas como a humanidade nos reconhecerá como deuses e não como gaios? Nós, que temos asas e voamos?
Pistétero: Tolices! Hermes é um deus - tem asas e voa, e assim fazem muitos outros deuses. Primeiro de tudo, a Vitória [Nike] voa com asas douradas, Eros é sem dúvida também alado, e Iris é comparada por Homero a uma pomba temerosa.
Euelpide: Mas não vai Zeus tonante [trovejante] enviar seus raios alados contra nós?
Poupa: E se os homens, na sua cegueira, não nos reconhecem como deuses, e assim continuarem a adorar os habitantes do Olimpo?
Pistétero: Em seguida, uma nuvem de pardais gananciosos por milho deve descer sobre seus campos e comer todas as sementes. Veremos então se Demeter vai deixá-los sem trigo.
Euelpide: Por Zeus, ela vai cuidar bem que não, e vai vê-la inventando mil desculpas.
Pistétero: Os corvos também irão provar sua divindade, bicando os olhos de seus rebanhos e de suas manadas de bois; e depois deixem Apolo os curar, já que ele é médico e é pago para isso.
Euelpide: Oh! não faça isso! Espere até que primeiro eu venda meus dois novilhos.
Pistétero: Se, por outro lado, eles reconhecerem que vós sois Deus [Theo], a Vida [Bio], a Terra [Gea], Cronos, Poseidon, então a eles devem ser dados benefícios.
Poupa: Então, indique-me um desses benefícios.
Pistétero: Em primeiro lugar, os gafanhotos não comerão as vinhas em flor - uma legião de corujas e falcões vai devorá-los. Além disso, os mosquitos deixam de devastar os figos - um bando de tordos devem engoli-los todos, até ao último.
Poupa: E como devemos dar riqueza para a humanidade? É a sua paixão mais violenta!
Pistétero: Quando consultarem os presságios, vós ides orientá-los para as minas mais ricas, vocês devem revelar os melhores empreendimentos ao adivinho, e não mais naufrágios ocorrerão ou marinheiros vão perecer.
Poupa: Não mais perecem? Como é possível?
Pistétero: Quando os augúrios são examinados, antes de iniciar uma viagem, o pássaro não vai deixar de dizer: "Não comece! Haverá uma tempestade", ou então: "Vá! Você vai fazer um empreendimento mais rentável."
Euelpide: Comprarei uma embarcação e irei para o mar, não ficarei consigo.
Pistétero: Irá descobrir-lhes tesouros, que foram enterrados em épocas anteriores, que conhecerá. Então os homens não dizem: "Ninguém sabe onde escondi meu tesouro, excepto se for um pássaro."
Euelpide: Venderei o meu barco e comprarei uma pá para desenterrar os tesouros.
Poupa: E como é que lhes daremos saúde, que pertence aos deuses?
Pistétero: Se são felizes, não é isso o melhor para a saúde? O homem miserável nunca está bem.
Poupa: A idade avançada também habita no Olimpo. Como lha poderemos dar? Devem eles morrer na juventude?
Pistétero: Por Zeus, as aves adicionarão trezentos anos à sua vida.
Poupa: Tirados de quem?
Pistétero: De quem? De si mesmas. Não sabe que o corvo grasnante vive cinco idades humanas?
Euelpide: Ah! ah! São muito melhores reis para nós do que Zeus!
Pistétero (solenemente): Muito melhores, não são? Em primeiro lugar, não teremos de construir templos de pedra talhada, fechados com portões de ouro; vão morar entre arbustos e matas de carvalho verde; o mais venerado dos pássaros não terá outro templo do que a oliveira; não temos que ir sacrificar a Delfos ou a Ammon. Em pé, no meio do medronho e oliveiras silvestres, estendendo as nossas mãos cheias de trigo e cevada, rezaremos para nos darem uma parte das bênçãos que gozam, e imediatamente iremos tê-las por alguns grãos de trigo.
Líder do Coro: Ó homem idoso, que eu detestava, é-me agora o mais querido de todos. Jamais deixarei de seguir o seu conselho.
Coro (cantando): Inspirado por suas palavras, ameaçaremos nossos rivais, os deuses, e juramos que se marcharem em aliança connosco contra os deuses e forem fiéis à nossa gesta, leal vínculo sagrado, iremos brevemente quebrar-lhe ceptro.
Líder do Coro: Tudo o que exige força de execução, faremos nós; e o que exige pensamento e deliberação deverá vir de si.
Poupa: Por Zeus! Não é tempo de atrasos e demoras como Nicias; vamos agir o mais rapidamente possível .... Em primeiro lugar, venham, entrem no meu ninho construído de mato e lâminas de palha, e digam-me vossos nomes.
Pistétero: Isso é fácil; meu nome é Pistétero, e o dele, Euelpides, do bairro Crios.
Poupa: Óptimo! Boa sorte para vós.
Pistétero: Aceitamos o presságio.
Poupa: Venham!
Pistétero: Muito bem, você é quem nos deve levar e apresentar.
Poupa: Venham então.
(A Poupa começa a voar para longe)
Pistétero: Oh, não! Volte aqui. Olá! Vocês podem voar, mas nós não! Diga-nos como segui-los.
Poupa: Bem, bem!
Pistétero: Lembro a fábula de Esopo. É dito que a raposa se saiu muito mal, porque tinha feito aliança com a águia.
Poupa: Esteja descansado. Devem comer uma certa raiz e as asas irão crescer nos ombros.
Pistétero: Então, vamos entrar. Xanthias e tu, Manodorus, peguem na nossa bagagem.
Líder do Coro: Olá! Poupa! Está-me a ouvir?
Poupa: Qual é o problema?
Líder do Coro: Leva-os para um bom jantar e chame a sua companheira, a melodiosa Procne, cujas canções são dignas das Musas. Ela deliciará os nossos momentos de lazer.
Pistétero: Oh! Eu te conjuro, acede à sua vontade; faz sair o amável pássaro.
Euelpide: Por Zeus, deixe-a sair, para que possamos contemplar o rouxinol.
Poupa: Seja como desejam. Sai, Procne, mostra-te aos convidados.
(Procne aparece como jovem flautista)
Pistétero: Oh! grande Zeus! Que belo passarinho! Que forma delicada! Que plumagem brilhante! Sabe quanto eu gostaria de ficar entre as suas coxas?
Euelpide: Ela é deslumbrante sobre todo o ouro, como uma jovem. Oh, como eu gostaria de beijá-la!
Pistétero: Como, pobre homem, se ela tem duas pequenas pontas afiadas em seu bico?!
Euelpide: Eu iria tratá-la como um ovo. A casca deve ser removida antes de comer. Gostaria de tirar a sua máscara e, em seguida, beijar o seu belo rosto.
Poupa: Vamos entrar.
Pistétero: Mostre-nos o caminho da Boa Ventura!
(A Poupa volta para o mato, seguida dos dois homens)
Coro (cantando): Pássaro dourado adorável, a quem prezo acima de todos os outros. Você, a quem me associo com todas as minhas canções, rouxinol, você veio, você veio, para se mostrar a mim e me encantar com sua música. Vem, tu que tocas melodias primaveris na harmoniosa flauta, conduz os nossos anapestos.
Líder do Coro:
Fracos mortais, acorrentados à terra, criaturas de barro frágil como a folhagem da floresta, você infeliz raça, cuja vida é apenas escuridão, tão irreal quanto uma sombra, a ilusão de um sonho, ouvi-nos, a nós seres imortais, etéreos, sempre jovens e ocupados com pensamentos eternos, pois vamos ensiná-los sobre todos os assuntos celestiais. Deveis conhecer a fundo o que é a natureza dos pássaros, a origem dos deuses, dos rios, de Érebo e do Caos. Graças a nós, até Pródico irá invejar-vos o conhecimento.
No início havia apenas Caos, a Noite, o negro Érebo, e o profundo Tártaro.
Não havia terra, nem ar, nem céu. Em primeiro lugar, a Noite de asas negras colocou um ovo sem germe no seio das profundezas infinitas de Érebo, e a partir deste, após a revolução de longas eras, Eros surgiu gracioso com suas brilhantes asas douradas, veloz como os turbilhões da tempestade. Ele uniu-se nas profundezas do Tártaro com o escuro Caos, alado como ele, e assim gerou a nossa raça, que foi a primeira a ver a luz. Que os imortais não existiram até Eros reunir todos os ingredientes do mundo, e desse casamento surgiu o Céu, Oceano, a Terra e a raça imperecível de deuses bem-aventurados. Assim, a nossa origem é muito mais antiga do que a dos moradores do Olimpo. Nós somos a descendência de Eros; existem milhares de provas para mostrar isso. Temos asas e prestamos assistência aos amantes. Quantas jovens bonitas, que tinham jurado a permanecer insensíveis, abriram suas coxas por causa de nosso poder e se rendem a seus amantes no final de sua juventude, sendo levadas pelo dom de uma codorniz, de um galeirão, um ganso, ou um galo.
E que serviços importantes não rendem as aves aos mortais!
Primeiro de tudo, marcam as estações do ano: primavera, inverno, e outono. O grou gritante migra para a Líbia - adverte o lavrador a semear; o piloto de largar o leme e dormir; aconselha Orestes a tecer uma túnica, de modo a que o frio rigoroso não o leve a despir os outros. Quando o milhafre reaparece, ele anuncia a volta da primavera e o período em que a lã da ovelha deve ser cortada. É vista a andorinha? Todos se apressam a vender a túnica quente para comprar algumas roupas leves. Nós somos para vós Ammon, Delfos, Dodona, o vosso Febo Apolo.
Antes de empreender qualquer coisa, um negócio, um casamento, a compra de alimentos, consultam os pássaros lendo os augúrios, sinais que informam dos azares. Convosco uma palavra é um asar, um espirro um asar, uma reunião um asar, um som desconhecido um asar, um escravo ou um jumento um asar. Não é claro que somos um profético Apolo para voz?
(Mais rapidamente a partir daqui.)
Se nos reconhecerem como deuses, seremos vossas musas divinatórias de azares, através de nós, sabereis os ventos, as estações - verão, inverno, e os meses temperados. Não iremos para as nuvens mais altas, como fez Zeus, seremos voz entre vós, e vos daremos, a seus filhos e aos filhos de seus filhos, saúde e riqueza, vida longa, paz, juventude, risos, músicas e festas; em suma, estareis tão bem na vida, que ficareis cansados e esmagados com prazer.
Primeiro Semi-Coro (cantando): Oh, rústica Musa de variado acorde, tiotiotiotiotiotinx, cantarei convosco no bosque e no topo da montanha, tiotiotiotinx. Espalharei sagrados cantos da minha garganta dourada em homenagem ao deus Pã, tiotiotiotinx, e a partir do topo da densa folhagem, a nossa voz se misturará com poderosos coros que exaltem Cibele no topo das montanhas, totototototototototinx. Vinde aos nossos concertos que Frínico trata de pilhagem como uma abelha trata a ambrosia de suas canções, a doçura que tanto encanta o ouvido, tiotiotiotinx.
Líder do primeiro Semi-Coro: Se um dos espectadores desejar passar o resto da sua vida tranquilamente entre as aves, venha ter connosco. Tudo o que é vergonhoso e proibido por lei na Terra é, pelo contrário honroso entre nós pássaros. Por exemplo, aí é crime bater no pai, mas connosco é um ato estimável; é aceitável acertar em cheio no pai, dizendo: "Venha, levante o esporão se quiser lutar." O escravo, se foi marcado a ferro pela fuga, essa marca é como a de um francolim manchado. Se é um frígio como Spintharus? Entre nós, seria o frígio pintassilgo, da raça de Philemon. Se é escravo e Cário como Execestides? Connosco pode inventar antepassados, pode sempre encontrar relações. Quer o filho de Pisias abrir os portões da cidade para o inimigo? Deixe-o tornar-se uma perdiz, a prole apropriada do seu pai; connosco não há qualquer vergonha em escapar tão habilmente como uma perdiz.
Segundo Semi-Coro (cantando): Assim, os cisnes nas margens do Hebrus, tiotiotiotiotiotinx, misturam as suas vozes numa serenata a Apolo, tiotiotiotinx, e as suas melodias ultrapassam as nuvens etéreas; tiotiotiotinx; o espanto assusta tribos de animais; e acalma numa serenidade sem brisa, totototototototototinx; todo o Olimpo ressoa, e com pasmo apreende os seus governantes; chorando as Cáritas e Musas, filhas do Olimpo, repetem o pio, tiotiotiotinx.
Líder do segundo Semi-Coro: Não há nada mais útil, nem mais agradável, do que ter asas. Para começar, suponhamos que um espectador está cheio de fome, e cansado dos coros dos poetas trágicos; se fosse alado, sairia a voar, ia a casa jantar e voltava de barriga cheia. Algum Patroclides, aflito nas fezes, não sujaria a sua capa, poderia voar, largando a carga e gases, regressando satisfeito. Se algum, não importa quem, mantém relações adúlteras e vê o marido da amante nos lugares de senadores, pode abrir as asas, voar para ela, e depois de a possuir, retomar aqui o lugar. Não é o dom mais precioso de todos, ser alado? Olhem para Diitrephes! As suas asas eram apenas vime entrelaçado, e ainda assim conseguiu ser eleito como filarco e depois hiparco; sendo ninguém, voou alto; e é agora o melhor Hipalectrião da tribo.
Poupa: Oh, Cebrion! Oh, Porfírio! Um lugar terrivelmente forte!
Galeirão |
Carriça |
Por exemplo, se estão sacrificando a Afrodite, devem ao mesmo tempo oferecer cevada para o galeirão; se estão imolando uma ovelha para Poseidon, devem consagrar trigo em honra do pato; se um boi está sendo oferecido a Herácles, deixem bolos de mel dedicados à gaivota; se uma cabra está sendo morta por Zeus Rei, há um Rei-pássaro, a carriça, a quem o sacrifício de um mosquito macho é devido, antes do próprio Zeus.
Euelpide: A noção de um mosquito imolado é encantadora! Agora deixemos o grande Zeus trovejar!
Poupa: Mas como a humanidade nos reconhecerá como deuses e não como gaios? Nós, que temos asas e voamos?
Pistétero: Tolices! Hermes é um deus - tem asas e voa, e assim fazem muitos outros deuses. Primeiro de tudo, a Vitória [Nike] voa com asas douradas, Eros é sem dúvida também alado, e Iris é comparada por Homero a uma pomba temerosa.
Euelpide: Mas não vai Zeus tonante [trovejante] enviar seus raios alados contra nós?
Poupa: E se os homens, na sua cegueira, não nos reconhecem como deuses, e assim continuarem a adorar os habitantes do Olimpo?
Pistétero: Em seguida, uma nuvem de pardais gananciosos por milho deve descer sobre seus campos e comer todas as sementes. Veremos então se Demeter vai deixá-los sem trigo.
Euelpide: Por Zeus, ela vai cuidar bem que não, e vai vê-la inventando mil desculpas.
Pistétero: Os corvos também irão provar sua divindade, bicando os olhos de seus rebanhos e de suas manadas de bois; e depois deixem Apolo os curar, já que ele é médico e é pago para isso.
Euelpide: Oh! não faça isso! Espere até que primeiro eu venda meus dois novilhos.
Pistétero: Se, por outro lado, eles reconhecerem que vós sois Deus [Theo], a Vida [Bio], a Terra [Gea], Cronos, Poseidon, então a eles devem ser dados benefícios.
Poupa: Então, indique-me um desses benefícios.
Pistétero: Em primeiro lugar, os gafanhotos não comerão as vinhas em flor - uma legião de corujas e falcões vai devorá-los. Além disso, os mosquitos deixam de devastar os figos - um bando de tordos devem engoli-los todos, até ao último.
Poupa: E como devemos dar riqueza para a humanidade? É a sua paixão mais violenta!
Pistétero: Quando consultarem os presságios, vós ides orientá-los para as minas mais ricas, vocês devem revelar os melhores empreendimentos ao adivinho, e não mais naufrágios ocorrerão ou marinheiros vão perecer.
Poupa: Não mais perecem? Como é possível?
Pistétero: Quando os augúrios são examinados, antes de iniciar uma viagem, o pássaro não vai deixar de dizer: "Não comece! Haverá uma tempestade", ou então: "Vá! Você vai fazer um empreendimento mais rentável."
Euelpide: Comprarei uma embarcação e irei para o mar, não ficarei consigo.
Pistétero: Irá descobrir-lhes tesouros, que foram enterrados em épocas anteriores, que conhecerá. Então os homens não dizem: "Ninguém sabe onde escondi meu tesouro, excepto se for um pássaro."
Euelpide: Venderei o meu barco e comprarei uma pá para desenterrar os tesouros.
Poupa: E como é que lhes daremos saúde, que pertence aos deuses?
Pistétero: Se são felizes, não é isso o melhor para a saúde? O homem miserável nunca está bem.
Poupa: A idade avançada também habita no Olimpo. Como lha poderemos dar? Devem eles morrer na juventude?
Pistétero: Por Zeus, as aves adicionarão trezentos anos à sua vida.
Poupa: Tirados de quem?
Pistétero: De quem? De si mesmas. Não sabe que o corvo grasnante vive cinco idades humanas?
Euelpide: Ah! ah! São muito melhores reis para nós do que Zeus!
Pistétero (solenemente): Muito melhores, não são? Em primeiro lugar, não teremos de construir templos de pedra talhada, fechados com portões de ouro; vão morar entre arbustos e matas de carvalho verde; o mais venerado dos pássaros não terá outro templo do que a oliveira; não temos que ir sacrificar a Delfos ou a Ammon. Em pé, no meio do medronho e oliveiras silvestres, estendendo as nossas mãos cheias de trigo e cevada, rezaremos para nos darem uma parte das bênçãos que gozam, e imediatamente iremos tê-las por alguns grãos de trigo.
Líder do Coro: Ó homem idoso, que eu detestava, é-me agora o mais querido de todos. Jamais deixarei de seguir o seu conselho.
Coro (cantando): Inspirado por suas palavras, ameaçaremos nossos rivais, os deuses, e juramos que se marcharem em aliança connosco contra os deuses e forem fiéis à nossa gesta, leal vínculo sagrado, iremos brevemente quebrar-lhe ceptro.
Líder do Coro: Tudo o que exige força de execução, faremos nós; e o que exige pensamento e deliberação deverá vir de si.
Poupa: Por Zeus! Não é tempo de atrasos e demoras como Nicias; vamos agir o mais rapidamente possível .... Em primeiro lugar, venham, entrem no meu ninho construído de mato e lâminas de palha, e digam-me vossos nomes.
Pistétero: Isso é fácil; meu nome é Pistétero, e o dele, Euelpides, do bairro Crios.
Poupa: Óptimo! Boa sorte para vós.
Pistétero: Aceitamos o presságio.
Poupa: Venham!
Pistétero: Muito bem, você é quem nos deve levar e apresentar.
Poupa: Venham então.
(A Poupa começa a voar para longe)
Pistétero: Oh, não! Volte aqui. Olá! Vocês podem voar, mas nós não! Diga-nos como segui-los.
Poupa: Bem, bem!
Pistétero: Lembro a fábula de Esopo. É dito que a raposa se saiu muito mal, porque tinha feito aliança com a águia.
Poupa: Esteja descansado. Devem comer uma certa raiz e as asas irão crescer nos ombros.
Pistétero: Então, vamos entrar. Xanthias e tu, Manodorus, peguem na nossa bagagem.
Líder do Coro: Olá! Poupa! Está-me a ouvir?
Poupa: Qual é o problema?
Líder do Coro: Leva-os para um bom jantar e chame a sua companheira, a melodiosa Procne, cujas canções são dignas das Musas. Ela deliciará os nossos momentos de lazer.
Pistétero: Oh! Eu te conjuro, acede à sua vontade; faz sair o amável pássaro.
Euelpide: Por Zeus, deixe-a sair, para que possamos contemplar o rouxinol.
Poupa: Seja como desejam. Sai, Procne, mostra-te aos convidados.
(Procne aparece como jovem flautista)
Pistétero: Oh! grande Zeus! Que belo passarinho! Que forma delicada! Que plumagem brilhante! Sabe quanto eu gostaria de ficar entre as suas coxas?
Euelpide: Ela é deslumbrante sobre todo o ouro, como uma jovem. Oh, como eu gostaria de beijá-la!
Pistétero: Como, pobre homem, se ela tem duas pequenas pontas afiadas em seu bico?!
Euelpide: Eu iria tratá-la como um ovo. A casca deve ser removida antes de comer. Gostaria de tirar a sua máscara e, em seguida, beijar o seu belo rosto.
Poupa: Vamos entrar.
Pistétero: Mostre-nos o caminho da Boa Ventura!
(A Poupa volta para o mato, seguida dos dois homens)
(Ouve-se a flauta. O coro encara a plateia) |
Líder do Coro:
Fracos mortais, acorrentados à terra, criaturas de barro frágil como a folhagem da floresta, você infeliz raça, cuja vida é apenas escuridão, tão irreal quanto uma sombra, a ilusão de um sonho, ouvi-nos, a nós seres imortais, etéreos, sempre jovens e ocupados com pensamentos eternos, pois vamos ensiná-los sobre todos os assuntos celestiais. Deveis conhecer a fundo o que é a natureza dos pássaros, a origem dos deuses, dos rios, de Érebo e do Caos. Graças a nós, até Pródico irá invejar-vos o conhecimento.
No início havia apenas Caos, a Noite, o negro Érebo, e o profundo Tártaro.
Não havia terra, nem ar, nem céu. Em primeiro lugar, a Noite de asas negras colocou um ovo sem germe no seio das profundezas infinitas de Érebo, e a partir deste, após a revolução de longas eras, Eros surgiu gracioso com suas brilhantes asas douradas, veloz como os turbilhões da tempestade. Ele uniu-se nas profundezas do Tártaro com o escuro Caos, alado como ele, e assim gerou a nossa raça, que foi a primeira a ver a luz. Que os imortais não existiram até Eros reunir todos os ingredientes do mundo, e desse casamento surgiu o Céu, Oceano, a Terra e a raça imperecível de deuses bem-aventurados. Assim, a nossa origem é muito mais antiga do que a dos moradores do Olimpo. Nós somos a descendência de Eros; existem milhares de provas para mostrar isso. Temos asas e prestamos assistência aos amantes. Quantas jovens bonitas, que tinham jurado a permanecer insensíveis, abriram suas coxas por causa de nosso poder e se rendem a seus amantes no final de sua juventude, sendo levadas pelo dom de uma codorniz, de um galeirão, um ganso, ou um galo.
E que serviços importantes não rendem as aves aos mortais!
Primeiro de tudo, marcam as estações do ano: primavera, inverno, e outono. O grou gritante migra para a Líbia - adverte o lavrador a semear; o piloto de largar o leme e dormir; aconselha Orestes a tecer uma túnica, de modo a que o frio rigoroso não o leve a despir os outros. Quando o milhafre reaparece, ele anuncia a volta da primavera e o período em que a lã da ovelha deve ser cortada. É vista a andorinha? Todos se apressam a vender a túnica quente para comprar algumas roupas leves. Nós somos para vós Ammon, Delfos, Dodona, o vosso Febo Apolo.
Antes de empreender qualquer coisa, um negócio, um casamento, a compra de alimentos, consultam os pássaros lendo os augúrios, sinais que informam dos azares. Convosco uma palavra é um asar, um espirro um asar, uma reunião um asar, um som desconhecido um asar, um escravo ou um jumento um asar. Não é claro que somos um profético Apolo para voz?
(Mais rapidamente a partir daqui.)
Se nos reconhecerem como deuses, seremos vossas musas divinatórias de azares, através de nós, sabereis os ventos, as estações - verão, inverno, e os meses temperados. Não iremos para as nuvens mais altas, como fez Zeus, seremos voz entre vós, e vos daremos, a seus filhos e aos filhos de seus filhos, saúde e riqueza, vida longa, paz, juventude, risos, músicas e festas; em suma, estareis tão bem na vida, que ficareis cansados e esmagados com prazer.
Primeiro Semi-Coro (cantando): Oh, rústica Musa de variado acorde, tiotiotiotiotiotinx, cantarei convosco no bosque e no topo da montanha, tiotiotiotinx. Espalharei sagrados cantos da minha garganta dourada em homenagem ao deus Pã, tiotiotiotinx, e a partir do topo da densa folhagem, a nossa voz se misturará com poderosos coros que exaltem Cibele no topo das montanhas, totototototototototinx. Vinde aos nossos concertos que Frínico trata de pilhagem como uma abelha trata a ambrosia de suas canções, a doçura que tanto encanta o ouvido, tiotiotiotinx.
Líder do primeiro Semi-Coro: Se um dos espectadores desejar passar o resto da sua vida tranquilamente entre as aves, venha ter connosco. Tudo o que é vergonhoso e proibido por lei na Terra é, pelo contrário honroso entre nós pássaros. Por exemplo, aí é crime bater no pai, mas connosco é um ato estimável; é aceitável acertar em cheio no pai, dizendo: "Venha, levante o esporão se quiser lutar." O escravo, se foi marcado a ferro pela fuga, essa marca é como a de um francolim manchado. Se é um frígio como Spintharus? Entre nós, seria o frígio pintassilgo, da raça de Philemon. Se é escravo e Cário como Execestides? Connosco pode inventar antepassados, pode sempre encontrar relações. Quer o filho de Pisias abrir os portões da cidade para o inimigo? Deixe-o tornar-se uma perdiz, a prole apropriada do seu pai; connosco não há qualquer vergonha em escapar tão habilmente como uma perdiz.
Segundo Semi-Coro (cantando): Assim, os cisnes nas margens do Hebrus, tiotiotiotiotiotinx, misturam as suas vozes numa serenata a Apolo, tiotiotiotinx, e as suas melodias ultrapassam as nuvens etéreas; tiotiotiotinx; o espanto assusta tribos de animais; e acalma numa serenidade sem brisa, totototototototototinx; todo o Olimpo ressoa, e com pasmo apreende os seus governantes; chorando as Cáritas e Musas, filhas do Olimpo, repetem o pio, tiotiotiotinx.
Hipalectrião - parte galo (alectrion), parte cavalo (hippo). |
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(continua)
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