quinta-feira, 24 de abril de 2014

Nebulosidades Auditivas (11)

A ocasião é de ser festivaleiro...
Oooohhh! - It's Napoleon. 
Napoleon, no wonder their song is called Waterloo...
... really entered in the spirit of it all dressed as Napoleon.

ABBA
My, My, at Waterloo Napoleon did surrender... 
The history book on the shelf, is always repeating itself

Dia 24 de Abril de 1974.
Pouco antes, dia 6 de Abril, Paulo de Carvalho tinha ficado em último lugar no festival da Eurovisão.
O até aí desconhecido grupo sueco ABBA ganhava o concurso, o início de uma história de sucesso.
A França, habitual vencedora, no tempo da "chanson française", não participa no concurso - a razão, Pompidou, presidente em exercício, morre. Em respeito às cerimónias fúnebres que se realizam naquele dia, a França decide retirar a sua participação.
Se a ocasião parece fúnebre para os franceses, será apenas irónico ganhar Waterloo, ou será um pouco mais do que isso, o maestro Waldoff aparecer vestido de Napoleão, sabendo-se que os franceses estavam em "retiro"?

A vitória dos ABBA marca praticamente o fim da "chanson" e começa a dinastia "song".
As vitórias de 74, 75 e 76 são de "songs" cantadas em inglês.
Como outro pormenor curioso, o festival de 1974 era suposto ser realizado pelo país vencedor, mas como o Luxemburgo ganhara novamente, passou para a Inglaterra... acrescentando um toque adicional à derrota napoleónica em Waterloo. Em 1977, a França ganha... com Marie Myriam, filha de portugueses, e foi esta a única meia-vitória que a nação tanto procurava no Eurofestival.

Isto não teria importância, não fora a enorme importância dada ao Festival em Portugal, e mesmo na Europa dos anos 60 e 70.
Isto não teria importância, não fora o movimento armado escolher a canção de Paulo de Carvalho como código inicial para o 25 de Abril.

Nada a dizer. Tinha havido alguma polémica, pois "No dia em que o rei fez anos" - Green Windows  tinha colhido favoritismo, mas como vencedora a canção passaria despercebidamente, e só a passagem de Grândola, de Zeca Afonso, na Rádio Renascença seria já algo estranho.

Se o movimento do 25 de Abril tivesse abortado, nunca saberíamos que a programação das músicas na rádio portuguesa poderia servir códigos revolucionários... e quem associasse algo de estranho passaria por alucinado das teorias da conspiração.
Só que neste caso havia mesmo uma conspiração em curso, contra o regime.
Por isso, as teorias da conspiração só o são até ficar evidente que podem ser mais do que "teorias"...
Neste caso a teoria viu-se na prática.

Ora... estava o movimento revolucionário tão no segredo dos "capitães", no dia do Eurofestival?
O Golpe das Caldas, a 16 de Março, tinha deixado a situação bem visível, e só não teria tido entrado na alface, por falta de resposta das outras unidades. Marcelo Caetano convocou as elites militares, a chamada "Brigada do Reumático", mas o problema não estava nem nos generais, e ao contrário do que se pretende passar, também não estava nos capitães. O problema vinha de fora, e a visita a Londres de Marcelo Caetano em 1973 só terá servido para avaliar que a resposta de Marcelo seria pacífica.

Conforme podemos ver nalguns blogs, o hino do MFA, nada mais é do que "A life on the ocean wave", um hino militar do Séc. XIX, escrito pelos americanos Epes Sargent e Henry Russell, e que ficou popular na Inglaterra, conforme se pode ver nesta introdução de um interessante filme da BBC sobre a Guerra das Malvinas. Começa o filme e parece que vamos ouvir um comunicado do Estado Maior das Forças Armadas... (**)

A LIFE on the ocean wave, | A home on the rolling deep,  
Where the scattered waters rave, | And the winds their revels keep:  
Like an eagle caged, I pine  |  On this dull, unchanging shore:  
Oh! give me the flashing brine,  | The spray and the tempest's roar!
 
 Once more on the deck I stand  | Of my own swift-gliding craft:  
Set sail! farewell to the land!   The gale follows fair abaft.  
We shoot through the sparkling foam  | Like an ocean bird set free;—  
Like the ocean bird, our home   |  We'll find far out on the sea.  
  
The land is no longer in view, | The clouds have begun to frown;  
But with a stout vessel and crew,  | We'll say, Let the storm come down!
And the song of our hearts shall be,  | While the winds and the waters rave,  
A home on the rolling sea!  A life on the ocean wave!

Uma parte da Igreja sabia do que se ia passar, uma parte do Exército sabia do que se ia passar, e creio que só o povo e boa parte do Governo e das elites é que não sabiam... Por isso, como em todas as revoluções, a medida foi a da inacção e não do sucesso da acção. O regime praticamente não reagiu.

Assim, os serviços secretos estrangeiros estavam mais do que carecas de saber... estavam apenas a avaliar a tensão nos fios das marionetas, para que nada se partisse muito.
Quando as coisas começam a resvalar no período quente de 1975, temos o maestro Pedro Osório e o cantor Duarte Mendes a chegarem de cravo ao peito ao festival
Discreto, mas simbólico.

Em 1976, a situação já está controlada, mas como resquício a RTP organizara o festival apenas com Carlos do Carmo... ele seria sempre o vencedor, só ficou por escolher a canção que levava.
Pois, houve tempos assim...
Em resposta, os ingleses Brotherhood of Man e o maestro, chegam de cravo ao peito, tal como tinham feito os portugueses em 1975.
Discreto, mas simbólico. Save your kisses for me... foi o título vencedor


Mas não vou terminar com a "song", como dos cravos e cravas, passamos ao francês giroflé e giroflá, regresso à "chanson", e recupero o postal que fiz sobre o Giroflé, Giroflá:

... e, entrada a hora, termino com uma música de Zeca Afonso...
Índios da Meia-Praia (Zeca Afonso)

... por razões que ficam pelo meio de Alvor e Lagos, e por letras que cantam a mais que um tempo, nem sempre com o significado literal, pois o tolo no barco é toro (01:46).

_________________________
(**) Actualização (25/04/2016)
Foi substituído o link do vídeo com o documentário da BBC (que desapareceu entretanto do Youtube), por um vídeo semelhante da ITV, com o regresso do "SS Canberra, the Return, July 11, 1982", um navio com mais de 2 mil marines que haviam participado na Guerra das Malvinas, e que eram recebidos em glória, em Southampton.
Ainda sobre este assunto ver, por exemplo isto ou isto.
 (10/06/2019) Outras actualizações de vídeos desactivados - nomeadamente Girofle, Girofla.

8 comentários:

  1. Já não me recordava da música de fundo dos "Comunicados", do tal Heróico Movimento, que nas horas vagas; porque todos os movimentos, têm direito a descansar; entre o Chá das Cinco com Carluci e o Jantar das Oito, nas Herdades Alentejanas, se entretinha a vender espingardas de pressão de ar para a África.... que fora....mas que também já não era.

    Gostei particularmente das cravejantes mensagens trocadas entre a Maçonaria Portuguesa e a Inglesa, nas lapelas do Festival das condizentes Cançonetas.
    Antes Cravos, que Compassos, já que os Cravos são mais subtis. E a Seita quer-se Secreta.

    Tudo está bem, quando acaba bem.
    Eis-nos por isso regressados, ao explendor da não identidade, ao son do Giroflé, Giroflá!

    Maria da Fonte

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    1. Depende, cara Maria da Fonte, depende onde se crava o compasso.
      Não fosse tanta a tourada, ainda estive para enfiar a Tourada, que ganhou em 1973.
      Aí pode-se ver como a única reacção do regime à provocação organizada foi tentar meter umas câmaras à frente do Tordo cantador. Um Tordo muito solto e confiante, mas com uma tourada muito mais mansa quando chegou à Eurovisão.

      Porque é diferente agir sozinho, ou aparecer sozinho com uma máquina oleada atrás.
      Os primeiros são malucos, os segundos são heróis.

      Na troca de mensagens, aquele "save your kisses for me..." parece mauzinho mesmo, até porque no palco, atrás, está representado foco de uma parábola.

      E se tudo não passam de coincidências, como se pretende, por exemplo que a escolha do hino do MFA tenha sido um mero pegar de disco no Rádio Clube Português, então isso ainda deveria deixar menos descansado o pessoal, já que se não foram os ingleses a gozar e manipular o pessoal, foi mesmo o destino...

      Abraços!

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    2. Coincidências?!
      Não, caro Alvor! Não há coincidências.
      Foi tudo bem organizado, e devidamente pago, ou não fosse o "dinheiro que comanda a vida".
      Até os adreços, que aqui serviram de password para o exterior, surgiram súbitamente, do nada.
      Como por magia, as heróicas espingardas, foram subitamente adornadas de Cravos Vermelhos.....O Símbolo da CYTI de Londres.

      E eu, que na época desconhecia o significado, levei um sobressalto, quando uns anos depois, vi, na primeira vez que fui a Londres, sobre as mesas do restaurante, pequenos ramos de Cravos Vermelhos.

      Coisa triste...a ignorância!
      Nesse ano, foi a minha...

      Abraço

      Maria da Fonte

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    3. Maria da Fonte, não podemos rejeitar as coincidências, senão a nossa vida fica um inferno.
      É o caos que nos livra da ordem infernal.
      Lembra-se que tive que fechar o primeiro blog, ao fim de algumas semanas...
      Porquê? Porque estava a rejeitar coincidências, e estava no caminho de relacionar tudo.
      Isso é um caminho muito perigoso...
      Agora, o que devemos é apontar aquelas que dificilmente passam por coincidências.

      Por exemplo, o Eurofestival de 1976 é muito curioso, porque a Suécia depois de ter ganho em 1974, e ter organizado em 1975 decide não participar em 1976.
      A canção dos Brotherhood of Man, que ganha, só não recebe alta pontuação da Itália e da Irlanda.
      Ora a Irlanda dá o máximo à Itália e a Itália dá o máximo à Irlanda... e isso é daquelas coincidências em que ninguém pode acreditar. Mostra talvez que o lado católico estava fora daquela jogada.
      Essa canção é tão mázinha, que "save your kisses for me..." termina dizendo "you are only three!"... um bebé. Portanto, tal como o "depois do adeus" é do género "macho", mas vai mais longe dando 3 anos... provavelmente ao bebé que era o movimento revolucionário português, parido nos serviços secretos britânicos, aquando da visita de Marcelo Caetano à Inglaterra. Note-se que em 1973 foi fundado o Expresso, do logista "pilgrim" Balsemão, e curiosamente também o macavenco Partido Socialista, do "notre ami"...
      Quem foram os senadores de serviço a esta 3ª República? - Soares e Balsemão...
      Sá Carneiro foi uma pedra no sapato, descalçada por Kissinger...

      Quanto aos cravos da City londrina, creio que o Carlos S. Silva deu uma vez um link (do filme Mary Poppins?) em que se mostrava o tal valor simbólico do cravo para a finança.

      Os ingleses usam a palavra "Carnation" que é correspondente ao nosso Encarnado, com o significado de "encarnação"... e portanto até aqui, nas cores e flores, tem referências messiânicas. O nosso nome "cravo" remete para os cravos pregados aos pés e mãos, e a velha questão de sempre era a de associar a Jesus, Messias reencarnado, ou a outro Messias encarnado.
      O lado católico sempre foi mais pela rosa... pelo rosário, com os espinhos, e o movimento Rosacruz, que falamos do outro lado, parece ser símbolo disso concatenando até na palavra a rosa à cruz.
      Do lado judeu, creio que a experiência com as tulipas holandesas foi justamente para divertir desse simbolismo católico ligado a Jesus... para além dos judeus terem assim extorquido o dinheirinho todo aos holandeses.

      Agora, vamos lá... como se processa uma "reencarnação"?
      Nos dias que correm tivemos simbolicamente a Dolly, o cordeirinho que saiu por clonagem. Os católicos tiveram sempre muito cuidado em guardar relíquias de todos os santinhos... e em princípio haverá material genético de muito santo.
      Desde quando se começou a tentar usar "barrigas de aluguer", ou fertilização in vitro?
      Os ingleses apresentaram o primeiro em 1978.
      Agora, será que não houve tentativas secretas, muito anteriores?

      Assim, não me admiraria que houvesse um plano secreto de Parque Jurássico... não com os dinossauros - que não interessam a ninguém, mas sim com eventuais restos humanos, cuidadosamente guardados ao longo de inúmeras gerações!

      Pode ser ficção científica, mas que tal coisa já passou pela cabeça de alguém e que é levado a sério... disso não tenho grandes dúvidas. Pode até ter múltiplas mãezinhas a serem convencidas a albergar no seu ventre uma possível "reencarnação" de grande personagem.
      Do ponto de vista científico da "carne", do "encarnado" literal, creio que essa abordagem deve constar nos planos, se não foi já levada à prática! E é claro, a lista deve ser secretíssima, como é evidente!

      Há coincidências, mas, nem humanos, nem deuses, têm o poder sobre elas... estão acima de tudo isso.

      Abraços

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  2. Hummm.... interessante este seu último comentário... A serem verdade essas experiências, será então para breve que teremos o tão desejado Messias hebreu?! Estes há muito que o esperam... pois não aceitaram a versão mais "rosa-cruz"...

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    1. Olá Amélia,
      por acaso pelo judaico, como estariam mais à espera do primeiro, seria um pouco complicado ser uma "reencarnação"... só se fosse de Moisés, ou pegando das previsões de ser pelo lado da tribo de David, seria de David, ou talvez de Salomão... mesmo assim acho que, a haver algo desse género, seria mais pelo lado cristão do que pelo lado judaico. Afinal, por descendentes da tribo de David, acho que podem ter como candidatos uma boa parte da população mundial.
      Porquê? Porque ao fim de 10 gerações temos 1024 "octo-avós", e cada um desses tem pelas 10 gerações anteriores os mesmos 1024.
      Ou seja, ao fim de 20 gerações temos 1 milhão de antepassados.
      Quando falamos de 20 gerações falamos em média de 25 anos por geração, ou seja, fazendo as contas a 500 anos dá as tais 20 gerações...
      No caso português, alguém com avós em Lisboa, praticamente pode remeter antepassados à maioria da população portuguesa na época dos descobrimentos.

      Mais, fazendo 40 gerações, passamos ao bilião de pessoas, ou seja, quase 200 vezes mais do que a população mundial. E estamos apenas no tempo de D. Afonso Henriques... nem chegámos ao romanos!

      Isto só não acontece quando as populações estão isoladas, e portanto não há entrada de nenhum "estrangeiro". Mas mesmo nas terrinhas mais isoladas, apareciam sempre uns saltibancos e mercadores com disposição prá brincadeira, o que praticamente contaminou toda a população mundial, quer se queira, quer não.
      Tirando de ilhotas remotas, ou de paragens proibidas, devemos ter antepassados em todo o mundo antigo a 2000 anos de distância.
      Porque 2000 anos dá 80 gerações, ou seja, 1 trilião de "avós". Mesmo que haja muitas repetições, e haverá certamente, haverá alguns que não são.
      Mesmo a realeza, que cuidou de ter cuidado na linhagem, não evitou a bastardia, e isso deixou uma quantidade indeterminada de ligações, que basicamente remetem toda a população a ter Carlos Magno como antepassado. A única diferença entre o pessoal é que não sabe determinar essa linha que normalmente resulta de bastardia de descendentes que já eram nobreza secundária, passando a meros fidalgos... e depois nem isso.
      Curiosamente, é pela parte da realeza que há mais repetições... porque eram todos primos, e se há pessoal com menos probabilidade de ter ascendentes do mundo inteiro, nos últimos 1000 anos, é essa nobreza. Mesmo assim não escapa aos 2000 anos.

      Mas, sim, basicamente a estória judaica não se pode desligar desse prometido messias, mas dadas as circunstâncias, acho que têm que considerar quase ou o mundo inteiro como pesquisa válida - não podem excluir ninguém com antepassados na Europa, Mediterrâneo, Médio Oriente, e mesmo toda a Ásia, e África, por exemplo.

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    2. "Porque 2000 anos dá 80 gerações, ou seja, 1 trilião de "avós". Mesmo que haja muitas repetições, e haverá certamente, haverá alguns que não são.".. Sim, é verdade - muitas das ligações se repetem... como os meus amigos na genealogia dizem somos primos uns dos outros (em diferentes graus e dezenas de vezes)... isto porque temos irmãos, tios, tias, primos, primas, noras, genros, sogros, sogras.. etc... e como se isso não bastasse, tempos primos a casar com primos... por exemplo nas nossas beiras, já percebi pelas pesquisas que até a um passado recente era normal os casamentos serem entre pessoas com alguma tipo de parentesco (os parentescos ultrapassavam as aldeias)... todas aquelas famílias têm ligações de parentesco entre si... para não se repetirem teria que haver filhos únicos sucessivamente e mesmo assim seria difícil...
      Quanto ao resto... falei dos hebreus, porque finalmente conseguiram regressar a "casa"... e talvez com esse regresso o seu mais que desejado salvador e guerreiro apareça, pois parece já ter uma "casa" pronta para o receber...
      Em relação aos outros... em tons mais rosados... creio que de certa forma sentem-se mais seguros, pois já têm O seu salvador.. e quanto à SUA reencarnação, sempre houve muito por onde escolher, ou seja, foi havendo ao longo do tempo várias referências aproximadas... santos, santas, mártires, beatos, beatas, papas, pastores, pastoras, guias... eu sei lá... enquanto que os primeiros têm tido guias mais ou menos "rabinos"... ;)

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    3. Ah... mas o que é curioso é que os mais ortodoxos - verdadeiros, dizem que esse regresso a Israel é uma blasfémia, porque interpretam a sua diáspora como uma vontade divina.
      O regresso a Israel faria parte desse messianismo. Assim, romperam o acordo - voltaram sem a vinda messiânica.

      Na perspectiva cristã, houve um certo messianismo com S. Francisco de Assis, mas isso não é a doutrina católica habitual. Há alguma contradição no desejo... por um lado há um querer da figura humana, mas ao mesmo tempo com faculdades divinas.
      Se é homem não é deus... a menos que se queira brincar com as palavras, e mais não se diga que os homens são deuses.

      Abraços.

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