Se o dia 11 de Setembro ganhou um significado internacional ligado à queda das Torres do World Trade Center em 2001, em Nova Iorque, a data tem outros significados locais, bem diferentes de paragem para paragem. Vamos focar no caso de Barcelona, sem relação directa com os últimos atentados ocorridos em Agosto.
No caso da Catalunha, a data de 11 de Setembro é o dia nacional da Catalunha, relacionando-se com o cerco de Barcelona (1713-14) por tropas franco-espanholas, que redundou nesse dia de 1714 com a queda da cidade, e o fim das aspirações de Independência, após a decisão da guerra de sucessão espanhola, com desfecho favorável à casa francesa de Bourbon com Filipe V.
Queda da cidade após cerco, fim da aspiração independentista catalã.
Monumento a Rafael Casanova, líder de Barcelona nesse cerco.
Estando prevista a realização do referendo independentista para o dia 1 de Outubro deste ano, após a decisão do parlamento catalão a 6 de Setembro, e face à invocação de inconstitucionalidade declarada logo no dia seguinte pelo tribunal constitucional espanhol, prevê-se uma instabilidade crescente, entre aspirações nacionalistas locais, e imposições espanholas centrais, até ao final deste mês de Setembro.
Face a confrontos anteriores, nomeadamente a guerra civil espanhola, é sabido que estas tensões podem disparar de forma algo incontrolada, em pouco tempo, e com consequências algo imprevisíveis. Digamos que, apesar doutras notícias que apontem problemas mundiais noutras partes do globo (por exemplo, a longa novela norte-coreana)... uma casmurrice cega de ambos os lados, especialmente do lado espanhol, pode tornar este problema catalão no problema mais grave dos próximos tempos, com proporções que a UE tende a ignorar olimpicamente, mas que pode vir a ter que repensar seriamente, em breve.
Lembramos ainda o 11 de Setembro no Chile, que representa a data do Golpe que matou Allende e colocou Pinochet no poder, em 1973... com uma benção e apoio dos EUA, que parece estar hoje mais do que confirmada.
Golpe de Pinochet, onde é morto Salvador Allende
Vai ser muito complicado porque abriria caminho para outras tentativas de autodeterminação como por exemplo na Galiza e País Basco. Não será uma luta fácil a dos Catalães mas desejo-lhes a Independência. Isto iria equilibrar o poder na Península e acabar de vez com a hegemonia espanhola (leia-se castelhana).
ResponderEliminarCuriosamente, neste 11 de Setembro, todos os jornais que vi lembraram-se da data catalã, que normalmente era ignorada... e só o fizeram porque se perspectiva o referendo. Grandes manifestações, como esperado:
Eliminarhttp://www.dn.pt/mundo/interior/concentracao-em-barcelona-pede-independencia-da-catalunha-8762869.html
... mas também há o problema de uma parte considerável da população catalã nem falar catalão, porque a sua ascendência não é catalã, e até à morte de Franco em 1975 o catalão era proibido (tal como o basco ou galego).
Eu também simpatizo com a ideia de independência catalã - aliás eles gostam de nos atirar à cara que Portugal só restaurou a independência em Dezembro de 1640, porque Madrid já estava a tentar esmagar a revolta catalã desde Junho de 1640. E também é verdade que a principal parte da Guerra de Restauração só aconteceu já com D. Afonso VI e o Marquês de Marialva, depois da revolta da Catalunha ter sido esmagada.
O problema é que Portugal esteve só 60 anos com capital em Madrid, e eles estão há mais de 500 anos na união espanhola. A história é comum nesse período, nomeadamente na colonização americana.
Se eles invocassem uma independência, mantendo também Filipe VI como rei, o impacto seria talvez menor do que pretenderem fazer uma república à parte... mas imagino que isso seja completamente inviável.
Será claro que os restantes países europeus irão colocar-se do lado de Madrid, porque é politicamente correcto, mas nos bastidores interessa à maior parte das nações europeias que Espanha se divida, porque fica mais fraca.
É como o João diz, depois seriam dois países com ~ 10 milhões, e um país com 30 milhões, e o equilíbrio seria muito maior. Passaria a ter que haver um entendimento peninsular que não passava sempre pela vontade de Madrid. Duvido que os galegos e andaluzes tenham a mesma força para pedir as suas independências... e o problema com os bascos, é que também reclamam território francês (aliás a Catalunha também incluíria Perpignan) e os franceses de Paris nisso são ainda mais cegos e surdos que os espanhóis de Madrid.
Portanto, este "pequeno incidente" catalão tem perspectivas de ser incendiário de muitos outros, pelo que duvido que chegue apenas a vontade popular.
Este problema só acaba quando os catalães votarem "não à independência", e para isso os espanhóis têm que registar muito mais castelhanos como catalães, coisa que não conseguem em pouco tempo.
Abç
Pois já vi uma entrevista em que D. Duarte Pio falava nessa hipótese de Filipe ficar como Rei de uma Catalunha independente mas também calculo que isso seria apoiado apenas por uma minoria dentro de outra minoria. Se a independência da Catalunha se concretizasse como espero que se concretize, a Galiza teria então caminho aberto para uma outra alternativa... Afinal teria sido essa a essa herança de Afonso VI a D. Henrique e D. Tareja e que D. Afonso Henriques ainda tentou por várias alcançar. É uma esperança romântica antiga.
ResponderEliminarEh, eh, o D. Duarte não perdeu o sentido de oportunidade! Só faltava depois dizer que a solução para a Galiza era ele ficar de Portugal e da Galiza, seguindo essa linha que vem do tempo de D. Teresa!
EliminarMas pelo lado galego não se conheço grandes movimentações no sentido de ficarem independentes dos espanhóis, e menos de quererem ficar como parte de Portugal. Mas também é verdade que não conheço o suficiente da história da Galiza, para afirmar isto sem uma certa dúvida.
Abç
Existem algumas pequenas organizações que apostam na reintegração, mais relacionadas com a questão linguística do que propriamente com outra coisa, com Portugal mas nada de grande monta. Franco apesar de Galego fez um excelente trabalho em acabar com qualquer réstia de desejo de autodeterminação dos Galegos inclusive acabar com a própria língua galega. Por acaso essa da Galiza e Portugal debaixo do trono de D. Duarte era uma boa, na minha perspectiva como monárquico claro eheh. Como disse, é uma esperança romântica, ainda assim uma esperança.
ResponderEliminarhttps://pt.wikipedia.org/wiki/Reintegracionismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugaliza
Ab
Pois, os galegos têm essa ligação umbilical a Portugal, que historicamente resulta da ideia de que a língua original teria sido originada e evoluída no tempo dos Suevos.
EliminarIsso é uma questão complicada, cujos segredos estão fechados no Vaticano.
Eu diria que é praticamente certo que o latim não era a língua popular, em nenhuma parte do Império Romano, e daí ter desaparecido sem rasto.
O que penso que havia era uma língua romana, dita "romance", de origem "celta", e que viria muito provavelmente do tempo das inscrições rupestres que iam de Foz Côa, Altamira, até Lascaux, sul de França, e norte de Itália. Ou seja, seria a língua falada no fim da Idade do Gelo, na zona que ia de Portugal, Espanha, França e Itália.
Deveria haver vários dialectos, e pode ter sido assim que apareceram diversos sinónimos, primeiro pela expansão dos gregos, e depois do Império Romano. O latim terá sido uma tentativa de juntar tudo, mas que sendo essencialmente académica, não foi popular ao ponto de resistir.
Quando o Império Romano desabou, os padres em cada Convento (que na altura era uma espécie de distrito), acabaram por orientar a língua em cada parte.
Como os Suevos se isolaram durante dois séculos, foi mais acentuada a diferença entre o que seria português e castelhano. Mas convém notar que os catalães estiveram sempre sob o mesmo poder Visigótico que era o mesmo dos castelhanos, e mesmo assim ficou uma diferença razoável.
O que digo é que quando D. Afonso Henriques veio por ali abaixo, as comunidades lusitanas não falavam árabe, falavam o dialecto português dos tempos antigos. Falavam árabe, como antes falavam latim... só para os efeitos administrativos e legais, e pela mesma razão se perdeu.
Se a nova língua fosse vinda do Reino de Portucale, trocávamos todos os "b" pelos "v". Por isso a ideia de que a Galiza e o Minho estariam na origem da língua tem várias falhas.
A divisão de reinos em Galiza, Astúrias (Castela e Leão), Catalunha, e Navarra, é uma divisão linguística que já existia antes da Reconquista. Não foi uma divisão administrativa feita a esquadro que definiu línguas próprias... até porque o pessoal de Navarra não iria inventar o basco vindo de parte nenhuma!
O problema é que como a indefinição histórica serve outra agenda, os galegos não se lembram de nenhuma herança comum com os portugueses. Até porque o tempo Suevo foi de total ocultação, e não resta quase nada para perceber o que se estava a passar. A ligação histórica que têm e que tem mil anos é com os castelhanos... só a língua é que poderá manter a memória de uma ligação com outros milhares de anos, muito mais antigos.
Por isso é quase uma opção instintiva - alinhar pelo que se conhece, que é a história com Espanha, e esquecer a ligação com a língua portuguesa, que parece só um acidente ocorrido no tempo dos suevos (notando que não restou quase nenhum vocábulo comum à origem Suábia dos suevos).
Se o D. Duarte fizesse a mais pálida ideia do assunto, ainda se poderia perceber alguma razão monárquica, de lhe dar importância. É que a continuação da monarquia britânica pode fazer sentido, porque os segredos familiares do tempo do Império Britânico da Rainha Vitória ainda se podem ter mantido. No caso português, foi tudo perdido com a morte de D. Sebastião, já que a dinastia de Bragança parece ter servido apenas para manter o país em agonia decadente, especialmente no Séc. XIX. Se o discurso do homem mostrasse algum conhecimento invulgar e com nexo, ainda se poderia considerar o assunto. Agora, ter uma ligação apenas pelo ADN, isso só serve para pentear macacos - e isto não é ofensivo, é porque a ligação à chefia antiga ainda nos faria estar a catar piolhos ao macaco-chefe.
Abç
Apesar destas entidades se basearem na ligação linguística Portugal-Galiza, eu vejo a coisa muito anterior, duradoura e profunda do que isso desde os Estrímnios.
EliminarA sua opinião pessoal sobre D. Duarte Pio em nada invalida as vantagens da monarquia constitucional, (que me parece que desconhece?) perante a república, a meu ver mais vantajosa. Em todo o caso não olvide que a dinastia de Borgonha, Avis, Bragança é toda a mesma simplesmente lhe dão nomes diferentes mas a varonia manteve-se, logo a mesma. De qualquer modo Avis perdeu a independência, Bragança recuperou-a e não foi só no tempo dos Bragança que o país agonizou e tem agonizado como bem sabe. O resto são apenas macaquices.
Ab
Peço desculpa. A frase ", a meu ver mais vantajosa" está a mais.
EliminarAb
Pois.
EliminarObrigado pela troca de impressões.
Abç
Se interesse para o "eduquês" aqui fica mais uma, o de terem de aceitar que o zero não foi “invenção” árabe:
ResponderEliminar(…) “Vale lembrar que, antes dos indianos (e de Cristo), babilónios e maias já usavam símbolos análogos ao zero para criar seus próprios sistemas numéricos” https://super.abril.com.br/historia/o-numero-zero-acaba-de-ficar-500-anos-mais-velho/
Sobre a Catalunha recomendo isto tirado dum comentário do Observador:
https://www.youtube.com/watch?v=7_PD3aCR12Q&t=1375s
Cumprimentos
Sim, tem razão, ao usarem um sistema posicional, de base 20 (caso Maia), ou de base 60 (caso Caldeu ou Babilónico), implicava terem que considerar um símbolo para o zero.
ResponderEliminarAliás, seria muito estranho fazer contas de subtrair, sabendo que
2-1=1, mas sem saber que 2-2=0... mas há quem acredite nisso!
Obrigado pelo link acerca do problema muçulmano na Catalunha, que é também instrutivo de mais um problema que se vai agravando... e onde é especialmente caricata a situação das fotos de identidade tiradas com véu. Cada vez mais, o absurdo vai tomando conta dos procedimentos estatais do "politicamente correcto".
Já no que diz respeito a imprimir boletins de voto para o referendo, pois Madrid é bastante expedita a enviar a guarda civil para prender... o que só arrisca a tornar a situação cada vez mais aguda e crítica.
Abraços.
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1141387/lobo-antunes-lamenta-que-portugal-e-espanha-nao-sejam-o-mesmo-pais
ResponderEliminarQue desilusão! Como é possível que se dê destaque a uma notícia destas? Como é possível que este fdp diga uma coisa destas? A falta de respeito perante o seu povo e logo numa Catalunha em luta pela independência. Este Sr. não tem escrúpulos. Com a mania que é "artista" e que é revolucionário não passa de um subserviente idolatrador de espanhóis!
Mas será que existe algum país que recorrentemente tenha de justificar a sua independência deste modo? Será que existe algum país cujos habitantes tenham tamanho défice de auto estima ao ponto de se sentirem seduzidos por perder a sua autonomia? Não entendo o porquê da nossa independência ter de andar constantemente a ser posta em causa, na corda bamba?!
Pois, não leio o Antunes. Parece ter um problema psíquico grave, e quem lhe dá demasiada atenção arrisca contágio. Por curiosidade comecei a ler um ou dois livros dele, e achei uma total perda de tempo. Às vezes olhava para as crónicas dele na visão, e lá tínhamos que ir parar a uma psicose qualquer que lhe tinha ficado de infância, para depois... nada.
EliminarUm grande e balofo nada.
Escreve direitinho, com alguns floreados bonitinhos. Pois dê-se-lhe então uma medalha de distinção da 4ª classe.
Tem um ego tão grande, que nem ele próprio se aguenta... mas isso é problema dele e de quem lhe dá atenção. Por vezes, quando as pessoas querem tanto chamar atenção sobre si, caem na tentação de procurar um disparate qualquer. Olhe, ele que comece a escrever em castelhano...
Não é?! Tenho (quase) a certeza de que já li um livro dele e foi tão bom que não me lembro sequer do nome e nem tão pouco repeti a proeza.
ResponderEliminarEnfim, isto só me chateia mesmo porque são figuras públicas que influenciam a opinião pública, pelo menos a de uns quantos mais influenciáveis e porra, este nosso solo é sagrado! Pelo menos os Portugueses deveriam senti-lo como tal.