Uma das variantes que a língua portuguesa exibe como dualidade é a pronúncia alternativa da sílaba "ou" com a sílaba "oi", com exemplos de oiro, toiro, moiro, loiro, etc...
Os casos são sobejamente conhecidos, mas não creio que estejam compilados numa lista exaustiva de possibilidades. De um modo geral todas as palavras que contêm "ouro" alternativamente podem ser ditas ou escritas com "oiro".
Em catalão "boi" diz-se "bou", e "bous" era uma palavra grega para boi.
Portanto, quando lemos "Terras do Bouro" também poderíamos ler "Terras do Boiro", no sentido de "terras do boi"... talvez mais especificamente do boi com grandes chifres, lembrando o toiro, ou ainda o mais primitivo, auroque.
Claro que isto é apenas mais uma simples variação especulativa.
Toiro de Oiro, em Kunming (China)
Os casos são sobejamente conhecidos, mas não creio que estejam compilados numa lista exaustiva de possibilidades. De um modo geral todas as palavras que contêm "ouro" alternativamente podem ser ditas ou escritas com "oiro".
- bouro - (boiro existe na Galiza)
- couro - coiro
- douro - doiro (dourar - doirar; dourado - doirado)
- louro - loiro - lauro (láureo)
- mouro - moiro - mauro
- ouro - oiro - auro (áureo)
- touro - toiro - tauro (táureo)
Portanto, vemos que as variantes "ouro, oiro, auro" eram comuns no que referia a louros, mouros ou touros, mas não tem expressão falar-se em "cauro/cáureo" como variante de "couro"...
Não estou a sugerir que os mouros tinham touros e eram louros, mas enfim, já lá vamos!
Depois, há toda uma conversa induzida, que parece plausível até ao momento em que pensamos nela.
Essa conversa é de que isto seriam variantes populares, características mais a norte ou mais a sul, de usar "ou" e "oi".
Como se houvesse alguma ligação entre as duas sílabas... e não há!
Não se trata de nenhuma tendência fonética, porque:
- "loico" não é alternativa de "louco", nem "poico" de "pouco", nem "roibo" de "roubo".
É claro que nas palavras em que "ouro" é sufixo, é natural ver o mesmo:
- lavoura » lavoira, besouro » besoiro, tesoura » tesoira, agouro » agoiro, vassoura » vassoira, etc.
Mas... nem sempre, é rarissimo ouvir "cenoira" em vez de cenoura.
Onde aparece então essa variante "oi" do "ou"? - Vejamos caso a caso:
- "...oub..." não tem variante "...oib...", por exemplo "soube" não varia para "soibe".
- "...ouc..." não tem variante "...oib...", por exemplo "touca" não varia para "toica".
- "...ouç..." tem variante "...oiç...", por exemplo "louça" em "loiça", "ouça" em "oiça"
- "...oud..." tem variante "...oid...", por exemplo "doudo" e "doido".
- "...ouf, oug, ouj, oul, oum, oun ...", tem o caso singular "papoula" e "papoila".
- "...oup..." não tem variante "...oip...", por exemplo "poupar" não varia para "poipar".
- "...our..." tem variante "...oir...", já vimos este caso!
- "...ous..." tem variante "...ois...", p. ex. "pouso" em "poiso", "cousa" em "coisa"
- "...out..." tem variante "...oit...", p. ex. "couto" em "coito", mas não "outro" em "oitro", etc.
- "...ouv..." não tem variante "...oiv...", por exemplo "ouvir" não varia para "oivir".
- "...oux..." tem variante "...oix...", por exemplo "frouxo" varia em "froixo" (pouco usado).
Conclui-se rapidamente que não há propriamente nenhuma regra, ou tendência fonética, que marque a variação de "ou" em "oi". Há simplesmente um hábito, ou seja, uma herança cultural, dirigido a certas palavras e não a outras.
No caso da variante "ouro", há algo que podemos notar:
Louro, Couro, Ouro, Bronzeado, Bisonte
... ou seja, se o valor da terminação "ouro" tender mais para uma tonalidade metálica que variava entre ouro, cobre e bronze, seria mais fácil entender a associação às folhas de louro, ao couro, ao mouro (no sentido, bronzeado), ou ainda ao touro, admitindo uma coloração primitiva primitiva próxima do bisonte.
Ou, dito ainda de outra forma, que tipo de touro, ou de boi, encontramos nas terras do Bouro?
Portanto, quando lemos "Terras do Bouro" também poderíamos ler "Terras do Boiro", no sentido de "terras do boi"... talvez mais especificamente do boi com grandes chifres, lembrando o toiro, ou ainda o mais primitivo, auroque.
Claro que isto é apenas mais uma simples variação especulativa.
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