sexta-feira, 29 de março de 2013

WHC (4) Bhimbetka, Chauvet

As pinturas rupestres nas rochas de Bhimbetka, no centro da Índia, são um dos monumentos humanos classificados no World Heritage Convention (WHC) da UNESCO. Já falámos noutros 3 (Paisagem da Ilha do Pico, Villa Romana del Casale e Nemrut Dagi), este será o quarto escolhido, lembrando outras pinturas rupestres mais conhecidas, as da zona de Lascaux, de Altamira, ou ainda as da zona do Coa até ao Escoural.

Não sabemos se se trata de um outro caso isolado, mas curiosamente não há muitas pinturas rupestres que nos levem longe na memória da noite dos tempos. Para além das mais notáveis ibéricas, e especialmente do sul de França, temos alguns registos noruegueses, e estes indianos, na grande superfície euro-asiática. Há outros na América, África, Austrália, mas começaremos por falar nos registos indianos, que nos parecem menos conhecidos.

Bhimbetka (India)
A primeira imagem de Bhimbetka (Madya Pradesh, India) encontramos na página da WHC:

Sendo surpreendentes, não vemos aqui uma arte no traço como acontece em Altamira, Lascaux, ou no Coa. Estas pinturas foram datadas num período até 30 000 a.C., sendo algumas delas consideradas recentes, já dentro do período histórico, e até medieval. 
De acordo com a informação disponível na wikipedia, esta figuração que inclui invulgares imagens cavaleiros, poderá ser datada até 2000 a.C:
Fala-se ainda de representação de bisontes ou rinocerontes, como encontradas no registo europeu, mas incluindo-se ainda tigres, os felinos característicos do subcontinente indiano.

Chauvet, Lascaux, Altamira, Coa, etc.
A grande diferença face às pinturas rupestres europeias (Sul de França e Iberia) acaba por residir na espantosa precisão artística, que ainda hoje surpreende na datação, que nos remete a períodos entre 24 000 e 30 000 a.C., ou seja à época de aparecimento dos Cro-Magnon.
Os notáveis desenhos em Chauvet (sul de França) - bisontes, cavalos, rinocerontes.

"Cave of Forgotten Dreams", um filme de Werner Herzog (2010)

Chauvet será um dos conjuntos mais recentes a juntar à lista de Altamira, Lascaux, e Coa.
Remetemos para a página Arte-Coa, que inclui informação sobre outros locais nacionais (Escoural, Guadiana, Zezere, Ocreza, Fraga do Gato, Mazouco, Sabor), em Espanha (Altamira, Siega Verde, Domingo Garcia, Parpalló), e em França (Rouffignac, Lascaux, Chauvet, Cosquer).

O mais espantoso neste conjunto é que o traço artístico perfeito apareceu como característica quase inata em diversas localizações... deixando a questão de como se poderia ter perdido nalgumas civilizações muito mais avançadas, que se seguiram às tribos habitantes das cavernas.
Enfim, já falámos sobre este assunto no texto sobre a "Hera dos Cobres" (e pela sua actualidade, convirá lembrar que Chipre, a ilha sob investida dos "chiffres" da UE, deriva o nome do Cobre - Cuprus). E só por curiosidade, de Cuprus a Caprus, do Chipre ao chifre da cabra, aparece-nos uma cornucópia primitiva na paleolítica Vénus de Laussel (também Sul de França):
Cornucópia - Vénus de Laussel (~ 25 000 a.C.)
... e sobre as cornucópias de Cíbele também já nos pronunciámos.

Outros registos
O problema principal é que quando passamos para registos seguintes, notáveis, como Çatal Hüyük (~ 7000 a.C.):
... parece ter-se perdido aquele traço artístico, e vemos maiores semelhanças com o registo indiano, talvez precursor de Mohenjo-daro.
E já falámos de Gobekli-tepe um registo fora da habitual cronologia....
Ainda na zona europeia são de referir as inscrições noruguesas em Alta, embora mais recentes (~ 4000 a. C.).

Fora da zona europeia, são razoavelmente conhecidos outros registos de pinturas rupestres:



  • Serra da Capivara (Brasil), 
  • Entre os bosquímanos (África)
  • Entre os aborígenes (Australia)


  • __________________________________
    Notas adicionais [4/5/2013]

    1ª) As figuras na Serra da Capivara, encontrei-as pela primeira vez nestes posts do Portugalliae:
    que evidenciam alguma semelhança no estilo com estas pinturas indianas, dos bosquímanos, do Sahara, ou dos aborígenes.

    2ª) Este artigo pode ainda ligar com a questão da mobilidade humana, nomeadamente com a constatação de que a ligação na plataforma euro-asiática poderia ser feita, a pé, de uma ponta na Ásia à outra na Europa, em menos de um ano, por rotas seguras. 
    Acresce que a distância entre os locais ibéricos, e do sul de França, envolve distâncias que normalmente se fariam a pé no espaço de uma semana, e havendo contemporaneidade indicia tratar-se de uma mesma comunidade, ou no mínimo de comunidades que estavam em grande contacto.

    2 comentários:

    1. Olá boa noite,

      Se me permite faltaria acrescentar Parc national de Serra da Capivara - Patrimônio Cultural da Humanidade - UNESCO, a Sudeste do Estado do Piaui - Comunas de São Raimundo Nonato, São João do Piaui e Canto do Butriti - S8 25 W42 20 onde se encontra a "Pedra Furada" do Brasil, estão 1200 abrigos, mais de 800 têm centenas de pinturas e gravuras, uma é a mais antiga pintura de um barco feita pela humanidade, também tem homens caçando provavelmente dinossauros, tudo isto são provavelmente os mais antigos registos rupestres pré-históricos das Américas (55 000 a 60 000 anos). Mas para mim a mais sublime e bela dada a sua perspectiva digamos em 3D é a do urso polar xamânico suspenso, condiz pouco com a latitude... e magníficos os homenzinhos a acenarem para o ar com uns giros sacos no braço, se quiser acrescentar esta foto do urso ao seu artigo:

      http://portugalliae.blogspot.ch/2009/08/mais-antiga-pintura-de-um-barco-feita.html

      Brasil berço da humanidade?
      Cerca de 300 Geoglifos foram identificados e registados no Brasil

      http://portugalliae.blogspot.ch/2010/01/brasil-berco-da-humanidade.html

      Boas leituras, cumprimentos, José Manuel CH-GE

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      1. Olá José Manuel,
        tem razão, deveria dar mais destaque à Serra da Capivara, e só coloquei o link da wikipedia. Vou também colocar o seu, aliás, acho que foi no seu site que vi pela primeira vez.

        Aqui estava mesmo só a referir os euro-asiáticos, no sentido de que seria suposto haver mais... repare, em toda a Ásia, será que há só este indiano?

        Depois, este assunto ligava também com a questão da mobilidade.
        Ou seja, era possível, andando a pé, ir da ponta da Ásia à ponta da Europa num espaço de um ano, sem andar a correr... excepto para fugir das feras!

        Isso mostrava que seria possível a uma comunidade humana ter uma expansão territorial mais global, num espaço de tempo curto.
        Ao contrário, tem-se criado a ideia de que estas migrações só seriam possíveis ao longo de milhares de anos...
        Não terá sido nem só num ano, nem em milhares de anos, provavelmente as contas ficam pelo meio, em centenas ou dezenas de anos.

        No caso da zona Ibérica até ao Sul de França, creio que há todas as razões para pensar que se tratava da mesma comunidade. Basta ver que extensões de 1000 Km se fariam em menos de um mês. Do Côa a Altamira, chegava-se no espaço de menos de uma semana. Distâncias semelhantes de Altamira a Chauvet... por isso, sendo contemporâneos, havia certamente um grande contacto, e o mais natural era tratar-se da mesma comunidade.
        Não se vêem registos de conflito.

        Muito obrigado pelo apontamento.
        Cumprimentos.

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