quinta-feira, 20 de junho de 2019

Nebulosidades auditivas (71)

And truth is:
... you can't hide from the truth, because the truth is all there is.

Roisin Murphy - The Truth (live at Ancienne Belgique 19.11.07) do projecto
Handsome Boy Modeling School (album So... How's Your Girl?, 1999) 

Roísín Murphy, que foi figura principal dos Moloko, aparece aqui numa participação especial, na melodia "The Truth".

Se apenas existisse verdade, não existiria falsidade. A verdade é o universo que nos une, enquanto a mentira e o engano fazem-nos desviar por caminhos de perdição, mostrando o que poderia ser, o que cada um gostaria que fosse... desviando e separando até ao ponto de regresso ao único caminho possível, até ao regresso do entendimento ao caminho da verdade. 

terça-feira, 18 de junho de 2019

Pan-demónio

Uma semi-surpresa nas últimas eleições, foi a eleição de um deputado do PAN (pessoas, animais e natureza), fazendo-se crer que tal ideologia teria qualquer coisa de novo.
Como é óbvio, o respeito pelos animais, etc, não é ideia nova... mas será menos conhecido que teve um dos maiores suportes no Partido Nazi. 

Goering proibe a vivisecção animal,
e os animais respondem com a saudação nazi.
A Alemanha nazi tornou-se pioneira em protecção dos animais, sendo o primeiro país a banir vivisecção animal em 1933, conforme se pode ver num panfleto nazi ilustrativo...


Aliás Goering ia mais longe, anunciando que havia a necessidade de leis para proteger os animais (na sua criação, transporte, etc) e mostrar simpatia pelo seu sofrimento, devendo isto ser leis de humanidade. 


Acresce que Hitler, a partir de 1938, tornou-se vegetariano convicto, e teria como um objectivo o fim da chacina animal para consumo humano, após a guerra.

Além de todas estas virtudes que o PAN enaltece, o líder nazi também promoveu que o tabaco e o álcool fossem banidos da sociedade alemã.


Portanto, em poucas palavras, Hitler estava completamente alinhado com a ideologia actual do politicamente correcto, pelo menos no que diz respeito à protecção de animais, ambiente, anti-tabagismo e até anti-alcoolismo. Quem sabe, seria talvez defensor das "alterações climáticas", caso o assunto fosse à época abordado.

Do lado do menos politicamente correcto, estava o destino que Goering preconizava para quem desrespeitasse as leis que protegiam os animais: campos de concentração. 
Portanto, a humanidade ideal nazi passava por tratar humanos abaixo de cão.

Agora, o PAN optou por algo semelhante. 
Num artigo de Daniel Oliveira, "Mendigo abaixo de cão", citamos o seu comentário certeiro (para variar) a propósito da caricata regulamentação animal que o PAN propôs à Assembleia Municipal de Lisboa:
Noutra norma, o regulamento pede para, quando se retira o animal ao seu dono, “ter em conta a dor ou sofrimento que pode ser causado ao animal resultante da sua ligação afetiva ao detentor ou a outros animais”. Não tem uma linha sobre a dor ou sofrimento causado ao dono. É como se os animais passassem a ocupar, no ordenamento jurídico, o lugar das crianças, com o seu bem-estar à frente do ser humano adulto. Na realidade, é assim mesmo que o PAN vê as coisas.
Atendendo ao grotesco caso do pitbull Zico, neste "progressismo" demente os animais estão mesmo acima das crianças, pois nem sequer a morte de um bebé os sensibilizou, conseguindo projectar na besta agressora a personificação de um anjo vítima da sociedade.

Nada disto surpreende quem estiver mais atento, porque demagogicamente é fácil proclamar-se "progressista" com ideias que têm milhares de anos. O respeito pelos animais, levado ao ponto do vegetarianismo, é uma filosofia que tem na Índia adeptos há milhares de anos. Aliás, já falámos aqui do caso Bisnau, em que a protecção da vida era levada mais longe, incluindo as árvores.
Os nazis inventaram um mito ariano com raízes indo-europeias, em que o aspecto vegan se encaixava bem, especialmente comparando com a prática kosher judaica, e similares árabes (ou até cristãs), onde os animais eram sangrados em sofrimento até à morte. O aspecto vegetariano vestia assim uma capa de superioridade ética e moral, na conduta animal, que acompanhava de mãos dadas com o lado negro do desrespeito pela vida humana.

Claro que as ideias de respeito e protecção dos animais e da natureza são excelentes.
Não será por serem defendidas por gente com fusíveis queimados, que passam a ser más.
Simplesmente também não é por idiotas defenderem boas ideias que passam a ser modelos sensatos.
Os nazis tiveram algumas excelentes ideias, mas também puseram a humanidade abaixo de cão.
Ora, quando o ganir canino toca mais que o choro humano, a ameaça à humanidade está presente.

Na melhor das hipóteses, estes grupos sociais resultam de malta que anda à procura de uma causa, de um grupo de fidelidade para socializar, e o pretexto de defender animais é apenas um entre muitos, como seria apanhar beatas, fumar charros, beber imperiais, ou evitar a extinção dos gambuzinos.
Na pior das hipóteses, têm mesmo os fusíveis queimados e não há recuperação racional possível.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Nebulosidades auditivas (70)

O triplo F português consistia em Futebol, Fado e Fátima... ou pelo menos assim foi entendido durante os anos 1960-70, na promoção popular que o regime de Salazar levava à população.
No futebol foram os anos gloriosos de Eusébio como estrela mundial, no fado projectava-se a figura de Amália internacionalmente, e finalmente o papa Paulo VI comparecia à comemoração dos 50 anos de Fátima. No entanto, convém notar que o F que Portugal procurava não era o do Fado, mas sim o do Festival. Era o Festival da Canção que fazia parar o país e aguardar a votação do júri, sempre penosa. 

Com o passar do tempo, o festival caíu quase no esquecimento, e a RTP chegou a desistir de participar. 
Até que algo misteriosamente Salvador Sobral, irmão de Luísa Sobral, trouxe o caneco de Kiev, em 2017, com uma canção engraçada, simples e menos boba que o cantor.
Salvador Sobral vence a Eurovisão em 13 de Maio de 2017

Em que data ocorre a final de Kiev?
- 13 de Maio de 2017.
Ou seja, na noite de sábado em que Fátima recebia o Papa Francisco, para a comemoração do centenário das aparições.
Acrescia ainda nesse mesmo dia, o Benfica de Eusébio, vencer o primeiro tetracampeonato. Não era uma competição internacional, mas essa tinha sido ganha em França, no ano anterior (Euro 2016).

O triplo F num só dia. Influência da Santa? Coincidência?
Haverá quem acredite que sim...
Já abordei o assunto no postal anterior FFF, e pouco há a acrescentar ao que Salvador disse:
« ... isto estava tudo comprado na verdade!»
Digamos que Saramago ganhar o Nobel da Literatura em 1998, 500 anos depois de Vasco da Gama ter aportado à Índia, também poderá ter sido coincidência. Haverá quem acredite que sim... Haverá ainda Lobo Antunes, que já se sabe não liga ao assunto, nem quer saber que passam agora 500 anos da saída de Magalhães. Talvez espere pelos 500 anos do lançamento dos Lusíadas, em 2072.

Voltando à actualidade. Em 2018 nem sei o que se passou no festival, organizado por cá - terá sido qualquer coisa sem qualquer interesse. Mas este ano, felizmente que o festival voltou a servir para alguma coisa menos trivial, aparecendo o desconcertante Conan Osiris. Goste-se ou não da desarmonia em tom cigano ou hindú, pelo menos ainda há quem se entretenha em valorizar o que é interessante e não óbvio.
Conan Osiris - Telemóveis (Festival RTP da Canção)

Apesar deste F ter falhado rotundamente nos F's festivaleiros, e de 2019 não ser ano de visita papal a Fátima... neste fim-de-semana, voltou a funcionar o F do futebol, com a conquista da Taça das Nações da UEFA