Este texto é também sobre Stephen Hawking, que faleceu há uns dias.
O uso de sintetizadores foi popularizado no final dos anos 60 - por exemplo, era famoso o órgão de Ray Manzarek nos Doors. No entanto, bandas que usassem exclusivamente sintetizadores, só apareceram com o movimento New Wave, na transição do final dos anos 70 para o início dos anos 80, quando passaram a fazer sucesso as baterias electrónicas. Como a fartura deu em excesso, no final dos anos 80, voltou-se à formação tradicional de bandas pop.
Pioneiros na música electrónica, minimal repetitiva, levando o conceito até ao limite robótico, estiveram os alemães Krafwerk. Este "Trans-Europa Express" de 1977 é um bom exemplo:
Kraftwerk (1977) - Trans-Europe Express
Uma particularidade menos conhecida, é que apesar de ter sido razoavelmente simples simular música electronicamente, por exemplo, num computador, foi alguma surpresa a dificuldade em simular a voz humana. Não deveria ter sido surpresa... porque afinal de contas, cada pessoa tem uma voz diferente, e há milhões de pessoas! Passar um texto a voz era simples, mas ficava estranho, e muito mais difícil era passar voz a texto (ainda hoje existem múltiplas dificuldades e falhas).
É neste contexto, do lado simples, que aparece a voz de Stephen Hawking... muito similar à voz sintetizada que podemos ouvir na faixa "Computer World" (1981), e que ele teria a possibilidade de operar, a partir de 1986.
Inicialmente o sistema era controlado pelo premir de um botão, associado à escolha de palavras, mas tendo ficado evidente que não havia aí nenhum movimento perceptível, a partir de 2005... foi dito que o sistema reconhecia o movimento do queixo por infravermelhos (entre outras coisas, como a previsão de palavras, que é usada nos telemóveis).
Há até um programa online que permite simular a mesma voz:
Durante estes 30 anos não conheci a utilização do mesmo sistema, ou similar, em mais ninguém, limitado fisicamente. E há diversos casos, nomeadamente em pessoas que são vítimas de AVCs, ou de acidentes limitadores da mobilidade. Tornando-se caso único, até a voz sintetizada acabou por ser uma característica associada a si.
Por muita destreza que Hawking tivesse no controlo dos dedos, e ao contrário da progressiva falta de destreza associada à doença, conseguir com um simples clique falar a uma velocidade aceitável, seria proeza de Guiness... e não vi sequer exemplos de pessoas normais a tentar fazer o mesmo.
Cada um acredita no que quer.
Faço apenas notar que quando a voz perde a tonalidade individual, pode ser usada por qualquer um para o mesmo efeito. Ou seja, qualquer um com acesso remoto ao computador de Hawking poderia dizer o mesmo. A garantia de que era dito por Hawking é apenas a garantia dos crentes, e mais nenhuma outra. Na prática, as instituições que albergavam Hawking podiam colocar no sintetizador o que queriam que Hawking dissesse... e se o fizeram ou não, não sei.
A importância de Hawking seria mínima, mas foi grande o mediatismo científico. Foi alimentada uma figura proeminente, no espaço estratosférico da divulgação mediática, onde a sua incapacidade foi usada a favor da fama.
Nem tão pouco teve nenhuma teoria minimamente comprovada, perdendo a sua última aposta com Higgs, na descoberta do bosão. Higgs recebeu o prémio Nobel, Hawking não... mas acabou por ter fama como se tivesse recebido vários.
Poderia perder-se tempo a falar da "teoria de tudo" que era um básico nada. Um vício habitual de físicos que se esforçam por não perceber mesmo nada do mínimo de racionalidade filosófica.
Há quem o faça, nos circuitos onde o parecer é mais que o ser, e onde as complicações da linguagem simplificada de "buracos negros" e outras fantasias como "matéria negra", servem o propósito de uma comunicação que visa um enorme buraco negro social.
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