Uma coisa é um tribunal espanhol declarar ilegal o referendo que pergunta:
Há formas mais e menos inteligentes de actuar...
Convirá notar que nada parece preparado para um esboço de independência catalã - começando logo pelo simples facto da polícia local catalã - os "Moços de Esquadra", ficar ameaçada judicialmente de desobediência ao estado espanhol, por não reprimir o acto eleitoral, como o fez a polícia nacional.
Como a Catalunha não possui uma constituição ou tribunais independentes do centralismo espanhol, vê-se dependente dessa legislação, e da imposição dela, feita pela polícia nacional... que até outra notícia, tem liberdade de acção na Catalunha. Isto para não falar no exército... já que o único existe é o exército espanhol.
Numa situação destas, o estado espanhol procurará cada vez mais evitar protagonismo de catalães, bascos ou mesmo galegos, na hierarquia do funcionalismo público, e tentará fechar-se cada vez mais num protagonismo castelhano. Por outro lado, na Catalunha, todos os lugares públicos terão a mesma tendência, de protagonismo externo, por influência de Madrid, e de protagonismo interno, por influência de Barcelona. A sociedade espanhola tenderá a dividir-se e a desconfiar mais de si mesma.
Por isso, seria pouco mais do que retórica, se fosse feita uma declaração de independência unilateral, quando no território catalão o único poder de força física e legal é controlado por Madrid... e os responsáveis catalães tendem a ficar a falar sózinhos, se não seguirem por uma via mais radical, ou serão decepcionantes e irão passar por fracos, ou até traidores, mesmo que consigam algum acordo vantajoso negociado com Madrid.
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Resultados: (3h00, 2/10/2017)
Os resultados foram conhecidos já no início do dia seguinte, mostrando que os votantes não atingiram a metade dos eleitores catalães: 2,020 milhões de votos "sim" num total de 2,242 milhões de votantes... o que deu uma esperada maioria esmagadora de 90%, mas sendo apenas 42% dos 5,343 milhões votantes potenciais, levará a que o resultado não seja considerado suficientemente vinculativo - por quem quiser alinhar por esse argumento.
Como bastaria juntar a este valor meio milhão de votantes "não" para manter uma esmagadora maioria, e assim obter o quórum para metade dos votos do colégio eleitoral, o governo catalão poderá argumentar que estes votos são suficientes para concluir... e tudo se resume a um agremiar de vontades dentro da sociedade catalã, para efectivar passos seguintes, sendo claro que já ninguém na Catalunha duvida da vontade clara de independência... seja essa vontade mostrada com um cravo vermelho ou não.
Os argumentos de "legalidade" invocados por Espanha, e pela maioria dos estados europeus, que procuram lavar as mãos do problema, rondam a imbecilidade política. A legalidade resulta de leis, aprovadas por políticos, e só são consideradas leis universais as resultantes da "declaração dos direitos do homem" - e se houve alguma violação desses direitos fundamentais foi feita por um impedimento policial de cariz violento, com quase 900 feridos, visando impedir uma votação.
O resultado poderia ser ilegal à luz castelhana, mas isso deveria apenas significar a inutilidade da votação, e nunca o impedimento da sua realização. O governo de Madrid misturou tudo na sua imbecilidade.
A constituição espanhola... é, como o nome indica, "espanhola"! Pouco importa que também tenha sido aprovada na Catalunha, porque nunca foi opção referendada ficar ou sair de Espanha.
O problema é a simples não identificação dos catalães com o estado espanhol, castelhano, algo que tem o sentido mais profundo enraízado numa cultura e língua diferentes, algo que os portugueses melhor que ninguém deveriam entender.
Neste momento a Catalunha pode ser considerada violentada pelos castelhanos de Madrid. Continuará a ser indiferente aos espanhóis dizerem que os catalães puseram os pés fora da legalidade espanhola, porque os catalães já há muito que estão com a cabeça fora de Espanha.
A Espanha continuará a insistir na indissolução de um casamento medieval de 1493, argumentando que o divórcio é proibido pela constituição, mas já há muito que perdeu o amor da Catalunha, e não é certamente com vergastadas policiais que o conseguirá, e também duvido muito que neste momento "presentes caros" resolvam o problema... até porque tem outras consortes (País Basco, Galiza e Andaluzia), que aguardam o desfecho deste episódio do mau humor do violento esposo castelhano.
- Quer que a Catalunha seja um estado independente na forma de uma república?
... outra coisa completamente diferente é o estado espanhol proceder, num desenquadramento total da democracia, inclusivé com repressão policial, ao tentar evitar que as pessoas se dirijam a escolas, e outros locais, simplesmente para colocar um papel numa urna.
Os primeiros confrontos da manhã, já são fotografias partilhadas na comunicação social:
Confrontos da polícia com votantes, na manhã de 1 de Outubro, Barcelona (imagens)
Há formas mais e menos inteligentes de actuar...
De uma forma ou de outra, este referendo na Catalunha tomou os noticiários como primeira página internacional, e já se tinham realizado outros referendos com propósito análogo (em 2014), que tinham passado completamente despercebidos. Assim, o governo catalão terá conseguido um eco ímpar para o seu propósito - marcar a independência catalã como um dos temas correntes mais importantes da política internacional.
Os votos não precisam de ser contados para sabermos o resultado - o voto na independência será esmagador, até porque quem não quer a independência provavelmente nem sequer irá votar, porque não dá significado, nem concorda com o referendo.
Também não é díficil saber quem está a favor (ou seja, mais as famílias de origem catalã), e quem está contra (ou seja, mais as famílias com origem noutras regiões de Espanha)... o que irá dividir ainda mais a sociedade na Catalunha.
Resta apenas saber se o nível de participação será suficiente para se poderem tirar conclusões... ou seja, se o número de votos "sim" se aproximará da metade da população votante da Catalunha. É neste campo que Madrid tentou fechar, e condicionar a votação, o que dará armas retóricas aos independentistas, mesmo se tal não acontecer.
O que poderia ter feito Madrid?
- Haveria múltiplas possibilidades, uma das quais, a mais simples de todas - realizar um referendo a nível nacional ao mesmo tempo!
Ao invés de serem apenas os catalães chamados a decidir sobre a sua independência, todos os espanhóis teriam oportunidade de o fazer. Os espanhóis, em vez de ficarem em casa impotentes a assistir às imagens conturbadas do referendo catalão, teriam oportunidade de se pronunciar contra a independência catalã, dando força à decisão de Madrid, e diminuindo a importância do resultado exclusivo da Catalunha. Seria uma arma política que Madrid poderia usar... assim, o governo madrileno ficará sozinho nas suas decisões.
Convirá notar que nada parece preparado para um esboço de independência catalã - começando logo pelo simples facto da polícia local catalã - os "Moços de Esquadra", ficar ameaçada judicialmente de desobediência ao estado espanhol, por não reprimir o acto eleitoral, como o fez a polícia nacional.
Como a Catalunha não possui uma constituição ou tribunais independentes do centralismo espanhol, vê-se dependente dessa legislação, e da imposição dela, feita pela polícia nacional... que até outra notícia, tem liberdade de acção na Catalunha. Isto para não falar no exército... já que o único existe é o exército espanhol.
Numa situação destas, o estado espanhol procurará cada vez mais evitar protagonismo de catalães, bascos ou mesmo galegos, na hierarquia do funcionalismo público, e tentará fechar-se cada vez mais num protagonismo castelhano. Por outro lado, na Catalunha, todos os lugares públicos terão a mesma tendência, de protagonismo externo, por influência de Madrid, e de protagonismo interno, por influência de Barcelona. A sociedade espanhola tenderá a dividir-se e a desconfiar mais de si mesma.
Por isso, seria pouco mais do que retórica, se fosse feita uma declaração de independência unilateral, quando no território catalão o único poder de força física e legal é controlado por Madrid... e os responsáveis catalães tendem a ficar a falar sózinhos, se não seguirem por uma via mais radical, ou serão decepcionantes e irão passar por fracos, ou até traidores, mesmo que consigam algum acordo vantajoso negociado com Madrid.
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Resultados: (3h00, 2/10/2017)
Os resultados foram conhecidos já no início do dia seguinte, mostrando que os votantes não atingiram a metade dos eleitores catalães: 2,020 milhões de votos "sim" num total de 2,242 milhões de votantes... o que deu uma esperada maioria esmagadora de 90%, mas sendo apenas 42% dos 5,343 milhões votantes potenciais, levará a que o resultado não seja considerado suficientemente vinculativo - por quem quiser alinhar por esse argumento.
Como bastaria juntar a este valor meio milhão de votantes "não" para manter uma esmagadora maioria, e assim obter o quórum para metade dos votos do colégio eleitoral, o governo catalão poderá argumentar que estes votos são suficientes para concluir... e tudo se resume a um agremiar de vontades dentro da sociedade catalã, para efectivar passos seguintes, sendo claro que já ninguém na Catalunha duvida da vontade clara de independência... seja essa vontade mostrada com um cravo vermelho ou não.
Os argumentos de "legalidade" invocados por Espanha, e pela maioria dos estados europeus, que procuram lavar as mãos do problema, rondam a imbecilidade política. A legalidade resulta de leis, aprovadas por políticos, e só são consideradas leis universais as resultantes da "declaração dos direitos do homem" - e se houve alguma violação desses direitos fundamentais foi feita por um impedimento policial de cariz violento, com quase 900 feridos, visando impedir uma votação.
O resultado poderia ser ilegal à luz castelhana, mas isso deveria apenas significar a inutilidade da votação, e nunca o impedimento da sua realização. O governo de Madrid misturou tudo na sua imbecilidade.
A constituição espanhola... é, como o nome indica, "espanhola"! Pouco importa que também tenha sido aprovada na Catalunha, porque nunca foi opção referendada ficar ou sair de Espanha.
O problema é a simples não identificação dos catalães com o estado espanhol, castelhano, algo que tem o sentido mais profundo enraízado numa cultura e língua diferentes, algo que os portugueses melhor que ninguém deveriam entender.
Neste momento a Catalunha pode ser considerada violentada pelos castelhanos de Madrid. Continuará a ser indiferente aos espanhóis dizerem que os catalães puseram os pés fora da legalidade espanhola, porque os catalães já há muito que estão com a cabeça fora de Espanha.
A Espanha continuará a insistir na indissolução de um casamento medieval de 1493, argumentando que o divórcio é proibido pela constituição, mas já há muito que perdeu o amor da Catalunha, e não é certamente com vergastadas policiais que o conseguirá, e também duvido muito que neste momento "presentes caros" resolvam o problema... até porque tem outras consortes (País Basco, Galiza e Andaluzia), que aguardam o desfecho deste episódio do mau humor do violento esposo castelhano.
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