sábado, 14 de outubro de 2017

2049, Los Angeles, duplicado

Fui ver a nova versão do Blade Runner, colocada em 2049, em Los Angeles.

Acontece que o número 2049 em Los Angeles está associado a um grande empreendimento feito em 1975, as Century Plaza Towers com os números 2029 e 2049 do Century Park...
São uma cópia menor das torres gémeas do World Trade Center, de Nova Iorque, inauguradas dois anos depois, em Los Angeles, pelo mesmo arquitecto - M. Yamasaki, mas com menos de metade da altura das irmãs nova-iorquinas, feitas em 1973.
2049 Century Plaza Towers, Los Angeles

Como a moda de erguer duas torres iguais foi tão repetida, ao ponto de se tornar maçadora, sinalizo apenas que os filmes Blade Runner são da Warner Bros e não da 20th Century Fox, dona dos terrenos da Century City, onde se encontra empreendimento (que agora é 21st Century Fox, com sede em Manhattan, também numas torres gémeas...)

Quanto ao filme, e não querendo fazer aqui nenhum spoiler, é bastante mais enfadonho que o primeiro da série, chegando a parecer um filme intelectual francês ou russo, com quase 3 horas.
Denis Villeneuve, canadiano, tinha realizado já o "Homem Duplicado" (uma adaptação do romance de Saramago), ou o "Primeiro Encontro" (ou "A Chegada", The Arrival), ambos bastante mais conseguidos, na minha opinião.
Aqui o ponto centra-se na validade das memórias dos replicantes, mas o assunto é mal explorado, talvez por falta de um bom argumento, como era o de Philip K. Dick.
O ponto é que a validade das memórias é remetida para a memória dos outros, sobrepondo-se à memória do próprio, apenas porque sim!
No caso do filme original, o ponto fulcral do argumento era a memória do próprio ser questionada por ser conhecida dos outros, da corporação Tyrell, mas também Philip K. Dick não entrou no assunto desse conhecimento poder resultar doutra forma. Numa sociedade cada vez mais vigilante, onde todo o percurso e conversas são registadas, não será difícil saber quais são as memórias mais significativas de cada um (em vários casos, basta ler o seu facebook), e argumentar que tais memórias são implantadas, fazendo o próprio duvidar do que experienciou.
Tal como no assunto do Homem Duplicado, quem expor demasiado a sua vida, ao ponto de tornar o seu interior como exterior público, no limite corre o risco de ser questionado ou duplicado. Afinal, quando os pensamentos mais íntimos, são partilhados com amigos ou psicólogos, deixam de ser íntimos, e passam a ser propriedade "pública". Num outro sentido, que Saramago não explorou, acontece o mesmo, ainda mais facilmente, sobre a pessoa que se fecha em demasia... porque conhecendo-se pouco, sem dificuldade a sua escassa parte pública poderá ser duplicada por qualquer outro replicante. À parte a questão das memórias, o filme pisa praticamente os mesmos passos do anterior, faltando-lhe muito de original.


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