quarta-feira, 30 de março de 2016

Lava pura

... ora lá ore, ora cá ore.

O ataque bombista em Lahore, no Paquistão, causou mais do dobro de vítimas do que o ocorrido em Bruxelas no início da semana. 
A cidade de Lahore, foi conhecida como "Lavapura", significando "cidade de Lava", onde Lava é um dos filhos de Rama, um avatar de Vixnu, na epopeia Ramayana. Aliás não é a única cidade a reclamar essa designação (sendo outra Lopburi, na Tailândia, onde restam impressionantes ruínas Khmer).  

(snapshot da pesquisa Google)
A situação no Paquistão, em particular em Lahore, arrisca tornar-se frequente, pois há um ano ocorriam também atentados, e nos tempos que correm, com frequentes atentados na Turquia e noutros pontos, os serviços diplomáticos devem passar o tempo a enviar telegramas de condolências.

Ocorrido no dia de Páscoa, o Papa chamou particular atenção para este atentado, tendo em conta o seu carácter religioso sistemático, visando a comunidade cristã no Paquistão. 
De certa forma, o Papa marcava a intolerância dos que lá oram pelos que cá oram, ou dos que oram lá a Alá, e dos que oram cá a Cristo.

Parecendo todos "crimes dignos do maior repúdio", o seu significado não deve ser misturado.
A sociedade é completamente insana em condenar um atentado suicida, porque se recusa a extrair o seu significado mais evidente. A condenação do atentado suicida é feita no momento em que o bombista se faz explodir, levando as vítimas consigo no seu destino funesto.
Como a sociedade não consegue fazer reviver o homicida, que definiu a sua pena no acto, expressa a sua frustração por não o poder condenar em vida, através de palavras vãs, de repúdio, que servem apenas como cera para tapar os ouvidos de algum discurso racional.

Sempre que um elemento da sociedade estiver suficientemente mal ao ponto de se querer suicidar, pois lamento imenso, mas a sociedade tem que ganhar consciência que ele pode arrastar no seu desespero muitos outros. Não é uma situação nova, por muito que se queira despistar os cidadãos.
Durante a 2ª Guerra Mundial, quando o Japão se viu numa posição militar desesperada, começaram a usar os seus pilotos Kamikaze, como forma mais eficaz de causar baixas no inimigo. Isso foi perfeitamente entendido, por muito nefasta que tenha sido a estratégia. 

Portanto, chega a meter dó ouvir discursos condenando os suicidas, como se eles próprios não tivessem já cumprido uma pena de morte. É claro que esses discursos visam especialmente os mandantes, mas se eles conseguem voluntários para a causa, é porque conseguem induzir essa disposição nos executantes. 
O Estado Islâmico saiu de uma intervenção armada dos EUA no Iraque, inventada com um falso pretexto de "armas de destruição maciça"... este termo antes tenebroso, chega hoje a parecer ridículo, de tal forma foi ridícula esta invenção de G.W. Bush, e seus companheiros, na luta contra o "Eixo do Mal". As armas de destruição maciça foram sim utilizadas para reduzir o Iraque a um monte de escombros, com um reduzido número de baixas, e implantando a filosofia Kamikaze entre os combatentes iraquianos... a única forma de causar maior número de baixas era com atentados suicidas. Essa foi uma escola formada no desespero de uma subjugação armada desproporcionada.

Agora, a grande diferença entre um atentado como o executado contra o Charlie Hebdo, ou como o executado em Lahore, é na escolha selectiva das vítimas... algo significativamente diferente de um atentado que pode vitimar qualquer transeunte. E se podemos e devemos ser firmes em condenar atentados que se dirijam contra a liberdade de expressão, ou contra a liberdade de religião, não é a mesma coisa do que condenar atentados de desespero - que são praticamente acções militares, e que se visam atacar a liberdade de circulação... não é por convicção filosófica, mas é apenas por pragmatismo estratégico dos mandantes.
Trata-se de uma guerra... e procurar eliminar o adversário até à extinção é mais doença dos executantes, sejam eles terroristas armadilhados com bombas artesanais, ou generais dispondo de drones armadilhados com bombas sofisiticadas. Enquanto não se perceber o que é viver com o outro, em sociedade, a sociedade estará sempre fragilizada.

Quem lá ore em Lahore, será tão diferente de quem cá ore com vinho de Cahors, simbolizado como sangue de Cristo, na eucaristia? 
- Que terra liga os terrores de Maelbeek, e os "terroirs" de Malbec?
Esta simples ligação de Cahors é sempre complicada de entender face aos desígnios de um Chaos omnipresente, umas vezes tendo expressão em mentes insanas, e outras sem qualquer expressão remissível a protagonistas humanos.
(daqui)

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