A música pop/rock moderna foi divulgada em Portugal em 1979-80 muito graças à recém criada Rádio Comercial, e em especial ao Luís Filipe Barros... um nome que vai passando hoje como quase esquecido.
A malta ligava-se ao "Rock em Stock" quase invariavelmente para poder ouvir as últimas novidades da cena musical britânica... e é claro, o programa caiu mesmo na altura em que se deu a sua maior explosão discográfica. Na maior parte das vezes, usavam-se as cassetes, não muito manhosas, crómio, dolby, etc, para gravar os programas. Ainda encontro cassetes desse tempo... e não fosse a qualidade perdida, seriam muito boas de se ouvir de novo. Convém lembrar que nessa altura o "rock português" praticamente não existia, e foi muito através da promoção que Luís Filipe Barros fez, que desde Rui Veloso, a UHF e GNR, encontraram espaço de divulgação.
Não muito depois, a Renascença criou a RFM, e um concorrente "Cor do Som", que pouco mais era que uma cópia do original. Luís Filipe Barros acabou por sair de cena nos anos 90, numa altura em que passei a seguir o António Sérgio, com o "Som da Frente", um pouco mais alternativo... ou como ele gostava de dizer "... os outros é que tinham ouvidos a menos".
Hoje, este tipo de programas dificilmente existem, e os que permanecem estão na Antena 3, mas ao fim de tanto tempo, a noção de novidade deixou de ter a relevância que tinha na juventude.
Serve esta introdução para dizer que comprei o álbum Movement dos New Order, em 1981, antes sequer de saber que tinham existido os Joy Division. Estou em crer que o álbum Closer chegou a Portugal ao mesmo tempo... e inevitavelmente comprei-o logo de seguida. Estamos a falar de tempos em que a minha mesada dava para um álbum e mais nada, por isso, perante tanta novidade a escolha tinha que ser bem ponderada.
Se o pessoal gostava de quase toda a New Wave que saía de Inglaterra, já não achava assim tanta piada à música depressiva dos Joy Division e New Order. Normalmente, pediam-me para desligar aquela música fúnebre.
Ian Curtis suicidou-se há 40 anos, em 18 de Maio de 1980, e nesse aspecto tornou-se também num ícone de uma certa juventude... quando ainda não era moda ser-se "alternativo". Para todos os efeitos, Movement dos New Order foi sempre para mim o melhor álbum, só comparável depois a álbuns dos The Cure.
Mas, com efeito a voz de Ian Curtis fez falta aos New Order, tal como os Joy Division teriam sido pouco sem Bernard Sumner e Peter Hooke. Depois de Power, Corruption and Lies, os New Order perderam muito do seu carácter contestatário, que inicialmente os confundira com tendências "nazis".
Bernard Sumner teria afirmado: "You all forgot Rudolf Hess"...
Rudolf Hess, que tinha feito uma tentativa de paz em 1941, sendo capturado/traído em Inglaterra, era então o único prisioneiro de Nuremberga em Spandau.
E essa mensagem passava não apenas nos Joy Division, quando na canção Warsaw ditavam o seu número de prisioneiro em Inglaterra. Passava também em coisas bem mais lamechas, como os Spandau Ballet. Percebia-se haver uma mensagem subreptícia que era passada aos jovens ingleses, procurando sensibilizar para um certo encobrimento - Rudolf Hess estava proibido de ser entrevistado, ou ter contacto com o exterior, e acreditaria ainda no grande complot judeu para dominar o mundo... e que, além disso, os judeus seriam capazes de controlar as mentes alheias, em particular para as fazer acreditar no Holocausto. Entretanto Rudolf Hess suicidou-se em 1987, a prisão foi demolida, o muro caiu, e muitas das coisas antes relevantes deixaram de o ser.
Desse tempo, restam pequenas pérolas, como The Eternal, e é nesse contexto que Ian Curtis continua a ser lembrado, passados 40 anos, tendo um filme completamente dedicado a si - "Control" de Anton Corbjin (2007), onde é possível ver que no prelúdio de um grande sucesso a nível internacional, a vida de Ian Curtis continuava a ser uma mesquinha realidade de um subúrbio de Manchester.
Joy Division (1980) The Eternal, do album Closer
[vídeo - "atrocityexhibition12", "big mick"]
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