domingo, 20 de outubro de 2019

Gilet jaune

Os coletes amarelos (gilets jaunes) eram usados no Séc. XVIII e XIX com um significado diferente daquele que assumiram nos dias de hoje, em França.

Portrait de jeune homme en costume marron et gilet jaune (invaluable). 
Manifestação dos "gilets jaunes" em Toulouse.

Apesar de já não constituir notícia há muito tempo, e das manifestações não serem normalmente autorizadas, este movimento dos "coletes amarelos" continuou durante um ano a manter uma actividade semanal, em diversas cidades de França. Neste fim de semana, havia protestos em Paris, Toulouse, Lyon, Clermont-Ferrand, etc. Prevê-se que a actividade vá aumentar daqui a um mês, quando fizer um ano sob o início destas manifestações, iniciadas a 17 de Novembro de 2018.

De peça de indumentária, que era por vezes associada a casamentos, ou até a mau gosto (mediante certas regras de etiqueta da aristocracia do séc. XIX), passando a símbolo de protecção rodoviária, e agora a símbolo de revolta popular, o colete amarelo representa um novo tipo de movimento, de acção persistente. Será um caso único de resistência, até agora ligada a uma oposição ao presidente Macron, mas cujo centralismo é difícil de avaliar e traçar origem, parecendo simplesmente reflectir uma insatisfação popular, e um problema crónico que se instalou na sociedade francesa.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Nobody expects the Spanish Inquisition


Nobody expects the Spanish Inquistion - Monty Python



Num espectáculo digno do absurdo dos Monty-Python, foi de 100 anos a pena somada dada aos 9 catalães acusados de sedição, com penas variando entre os 9 e os 13 anos...

Depois de ouvir o fanatismo castelhano na TVE 24, que ignora quase por completo o problema catalão, tomando pílulas e pílulas de burocracia, dita jurídica, este pequeno apontamento serve para relembrar quem são os vizinhos do lado.


Guerra Civil de Espanha - 1936-38 - Sevilha - mulheres pedem clemência pelos maridos e filhos presos
Terror Blanco (100 a 400 mil mortos) versus Terror Rojo (30 a 70 mil mortos).

Conquistadores espanhóis (Balboa) - Séc. XVI - e fim dos aztecas e incas.

domingo, 13 de outubro de 2019

Nebulosidades auditivas (75)

Este ano (2019) os Chemical Brothers lançaram o álbum "No Geography" com uma série de canções bastante interessantes:

Eve of Destruction, Bango, No Geography, Got to keep on, Gravity Drops, 
The Universe sent me, We've got to try, Free yourself, MAH, Catch me I'm falling


Eve of Destruction...
A perspectiva de destruição é um tema que não tende a desaparecer tão depressa.
Quando falha à sociedade um objectivo comum, a perspectiva de cada um é encontrar o seu objectivo pessoal. Isso pode ser suficiente para a grande maioria da população, mas é um pouco mais complicado. 
A sociedade adopta os objectivos mínimos animalescos - satisfação alimentar, algum sucesso social e sexual, e ponto final. 
Nos últimos séculos, a maçonaria tratou de implementar um esquema ainda mais simplificado, onde o sucesso social seria suficiente para obter tudo o resto, através de uma moeda de troca - a própria moeda, o dinheiro. 
Para esse efeito teria que quebrar a maioria das restrições morais desenvolvidas antes. Ou seja, não se consegue comprar alguém com fortes restrições morais, mas se não as houver, o capitalismo traz quase um paraíso na terra para quem for rico... e como é óbvio, o capitalismo não funciona se todos tiverem o mesmo. Como Aristófanes gozava com os seus conterrâneos, os ideais sociais equalitários só funcionavam havendo escravos. 
Chegando a um ponto de automação em que as máquinas podem funcionar como os escravos de serviço, percebe-se facilmente que isso não interessa a quem tem poder, porque o sucesso social fica por cumprir. O sucesso social de uns significa necessariamente o insucesso dos outros. Se todos tiverem sucesso por igual, não há sucesso nenhum. A economia desenvolveu-se para que o tipo asqueroso com massa possa ser atractivo para as parceiras jovens, caso contrário a atracção seria apenas regulada pelos dotes naturais e não pela posição social.

Isto diz respeito ao objectivo individual, que para 99.99% das pessoas consiste num sucesso social, seja ele maior ou menor. Depois, há toda a falha do objectivo da sociedade, um objectivo global.
Ainda há não muito tempo os sucessos sociais eram medidos por confrontação bélica de países, de religiões ou de políticas. Um objectivo disfarçado é assim manter o poder de uns contra outros, como se isso não passasse de uma forma de competição animal, para domínio de um território de caça.  
Quando no final do Séc. XX, a paz se começou a instalar, disfarçou-se isso com outros objectivos globais, como os sucessos médicos, ou outros sucessos científicos. Na prática não passavam de outra forma de sucessos sociais, porque o que os cientistas visavam seria o reconhecimento social, normalmente na forma de prémios, promoções ou distinções.

Na falha do objectivo espacial, que era um bom motivador de aspirações comuns, e fez sucesso até aos anos 70-80 (para depois cair no ridículo actual); aparece a ecologia como novo velho objectivo, agora reciclado e vendido sob argumentos falaciosos e mentirosos. 
Quem não se revê nesta sociedade baseada na ficção, mentira e corrupção, procura ainda uma alternativa que passa mais por um refazer da sociedade, e que envolve inevitavelmente algum cataclismo. Sucessor da parte mais activa dos movimentos revolucionários, que visavam uma regeneração por aniquilação ordenada, os antevisores das destruições, depois de passadas as datas de 1999 e 2012, estão sempre à busca de uma nova destruição que destrua o mundo que não lhes deu valor, e coloque um novo mundo onde sejam protagonistas... ou seja, na prática é uma outra forma do objectivo de sucesso social. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Presos catalães

No passado dia 11 de Setembro de 2019, voltou a comemorar-se a "diada", o dia dos independentistas catalães, um outro 11 de Setembro, conforme já falámos várias vezes.

Barcelona: a manifestação pró-independência em 11/09/2019 teve 600 mil pessoas (menos que em anos anteriores).

Enquanto o Estado Espanhol continua na sua versão caudilhista franquista, mantendo presos os deputados e membros dos governo catalão, apesar de uma manifestação menos concorrida em 11 de Setembro, os protestos voltaram às ruas no dia 1 de Outubro, quando se comemoravam 2 anos sobre o referendo.

Protestos em Barcelona no dia 1 de Outubro de 2019: "dois anos depois, o combate continua"

Perante a impassividade dos restantes líderes europeus, ou da própria União Europeia, que é uma simples cúmplice da insanidade e despotismo espanhol, será natural que as coisas se possam agravar, para além da simples incapacidade de formar governo em Espanha (que parcialmente resulta de um boicote dos deputados catalães em Madrid).

Espera-se neste mês de Outubro uma decisão do tribunal, um veredicto, acerca dos 12 apóstolos da independência, sem o mentor Puigdemont, que fugiu à Inquisição Espanhola.

Ah, é claro, e sobre o problema catalão, o silêncio da imprensa é o costumeiro.
E é claro, neste assunto delicado, a Amnistia Internacional tenta escapar-se por entre os pingos da chuva, porque não quer irritar los hermanos españoles...

Na prática, e porque o Estado Espanhol não consegue prender 2 milhões de catalães, estão presos os seus principais representantes, simplesmente por terem organizado um referendo... e o que é o mais delicodoce na inquisição, por terem gasto recursos do Estado Espanhol nessa votação.