Comemoraram-se, há duas semanas, os 50 anos do Woodstock de 16-18 de Agosto de 1969.
Esteve ainda considerado um Woodstock 50 em 2019, mas a organização falhou na sua realização.
O que é certo é que durante os anos seguintes, Woodstock era uma palavra que resumia a mística hippie dos anos 60, ligada ao movimento esotérico da "Era de Aquário".
No início dos anos 80, a geração seguinte sentia-se órfã de um evento semelhante. Em 1979, o lançamento do musical "Hair" de Milos Forman, baseado no musical da Broadway de 1968, chamado "Hair: The American Tribal Love-Rock Musical", serviu para relembrar que esse espírito hippie tinha existido, e tinha sido perdido.
Afinal, os jovens com 20 anos nos 1960's tinham passado a 40 anos em 1980, e os hippies eram agora yuppies, que dos charros de erva nos jardins tinham passado às linhas de coca nos gabinetes.
Também ao movimento hippie estava associada a guerra do Vietname, ou outras guerras coloniais, mas o revivalismo purificado gosta apenas de recordar o seu lado cor-de-rosa.
O equivalente ao Woodstock para os anos 80 terá sido o Live Aid, e isso mostra bem as diferenças.
O pretexto foi uma causa humanitária muito louvável... terminar com a fome em África, em particular na Etiópia. Infelizmente a sociedade ocidental usa estes cinismos na forma superlativa, quando na prática o que era difícil era alinhar na passerelle uma boa quantidade de prima-donas musicais, que boicotariam a presença se não achassem ter o devido destaque no alinhamento.
Já tinha sido experimentado o Band Aid no Natal de 1984, e no início de 1985 o USA for Africa.
Duas iniciativas deprimentes na sua superficialidade, sendo muito pior a americana que a inglesa.
Interessava aos ingleses ser amigo de Bob Geldof e aos americanos estar nas boas graças de Michael Jackson, para não ficarem de fora do clube do chá das 5, do evento de caridade. Prince não constou do USA for Africa, como também Michael Jackson acabou depois por se auto-excluir do Live Aid.
O Live Aid de 1985 teve assim dois palcos, um inglês em Wembley, com 70 mil espectadores, e um palco americano no JFK stadium de Filadélfia, com 90 mil espectadores. O evento foi de tal forma publicitado que envolveu a transmissão TV em directo a potencialmente 2 mil milhões de pessoas.
Em 13 de Julho de 1985, a maioria dos jovens do planeta tinha a televisão ligada no Live Aid.
O alinhamento inglês prometia um bom espectáculo, onde Bono tentou brilhar de forma exagerada e artificial (como passou a ser seu timbre), mas de facto, o que prendeu a atenção e valeu a tarde perdida em frente ao televisor, foi o momento em que Freddie Mercury actuou e interagiu com o público, em especial no final da canção Radio Gaga.
Ao pé da actuação de Mercury, os outros artistas ficaram pouco mais que vulgares...
Esteve ainda considerado um Woodstock 50 em 2019, mas a organização falhou na sua realização.
Foi entretanto relembrado que o Woodstock de 1969 teve uma organização problemática, que uma grande parte das bandas recusou ou cancelou, e que o espectáculo apenas se realizou porque havia mesmo vontade de o fazer... algo que parece ter falhado neste Woodstock 50.
O Woodstock terá sido lamacento ou imundo, mal organizado, mas o que interessou para o mito foi uma das maiores junções hippies, com bandas e música de qualidade, num ambiente artificial de "paz e amor". Se não eram as melhores ou as mais populares bandas, o próprio festival acabou por servir de cartão de visita para a posterioridade.
Dadas as circunstâncias, as interpretações mais ou menos caóticas, como as dos The Who, ou a de Jimmy Hendrix, tornaram-se maiores do que é dado ver, talvez porque se apressou a exacerbar o evento para o campo da imaginação.
Woodstock 1969 - The Who : "My Generation"
O que é certo é que durante os anos seguintes, Woodstock era uma palavra que resumia a mística hippie dos anos 60, ligada ao movimento esotérico da "Era de Aquário".
No início dos anos 80, a geração seguinte sentia-se órfã de um evento semelhante. Em 1979, o lançamento do musical "Hair" de Milos Forman, baseado no musical da Broadway de 1968, chamado "Hair: The American Tribal Love-Rock Musical", serviu para relembrar que esse espírito hippie tinha existido, e tinha sido perdido.
Afinal, os jovens com 20 anos nos 1960's tinham passado a 40 anos em 1980, e os hippies eram agora yuppies, que dos charros de erva nos jardins tinham passado às linhas de coca nos gabinetes.
Também ao movimento hippie estava associada a guerra do Vietname, ou outras guerras coloniais, mas o revivalismo purificado gosta apenas de recordar o seu lado cor-de-rosa.
Hair (filme de 1979) - Age of Aquarius
O equivalente ao Woodstock para os anos 80 terá sido o Live Aid, e isso mostra bem as diferenças.
O pretexto foi uma causa humanitária muito louvável... terminar com a fome em África, em particular na Etiópia. Infelizmente a sociedade ocidental usa estes cinismos na forma superlativa, quando na prática o que era difícil era alinhar na passerelle uma boa quantidade de prima-donas musicais, que boicotariam a presença se não achassem ter o devido destaque no alinhamento.
Já tinha sido experimentado o Band Aid no Natal de 1984, e no início de 1985 o USA for Africa.
Duas iniciativas deprimentes na sua superficialidade, sendo muito pior a americana que a inglesa.
O Live Aid de 1985 teve assim dois palcos, um inglês em Wembley, com 70 mil espectadores, e um palco americano no JFK stadium de Filadélfia, com 90 mil espectadores. O evento foi de tal forma publicitado que envolveu a transmissão TV em directo a potencialmente 2 mil milhões de pessoas.
Em 13 de Julho de 1985, a maioria dos jovens do planeta tinha a televisão ligada no Live Aid.
O alinhamento inglês prometia um bom espectáculo, onde Bono tentou brilhar de forma exagerada e artificial (como passou a ser seu timbre), mas de facto, o que prendeu a atenção e valeu a tarde perdida em frente ao televisor, foi o momento em que Freddie Mercury actuou e interagiu com o público, em especial no final da canção Radio Gaga.
Ao pé da actuação de Mercury, os outros artistas ficaram pouco mais que vulgares...
Life Aid 1985 - The Queen : "Radio Gaga"
Depois, é claro, uma coisa são as intenções da malta jovem (que também não eram muito mais do que assistir ao espectáculo), mas as intenções da ajuda à Etiópia rapidamente revelaram naquilo em que redundaram... leia-se "Live Aid: The Terrible Truth" para entender que a maioria do dinheiro angariado foi canalizado directamente para que o regime do país mais pobre de África, a Etiópia, conseguisse o exército mais sofisticado desse continente.
Os vendedores de armas ingleses e americanos agradeceram a candura dos seus jovens.
É claro que tudo isto se voltaria ainda a repetir, no Live 8, em 2005, de forma muito menos estrondosa, ao comemorar os 20 anos do Live Aid, recuperando a prima dona organizativa, Bob Geldof, que esteve meio-adormecida nas décadas seguintes. Neste caso, o evento teve um toque mais caricato incluindo no desfile Kofi Annan (secretário-geral da ONU), Bill Gates e até Brad Pitt ou David Beckham.
"No more excuses..." foi então o moto usado, e só admirará não terem ainda convencido o Geldof a juntar os amigos para salvar o planeta do "aquecimento global". Pode estar para breve...
O Live Aid, ou o Live 8, não foram mais do que institucionalizações cínicas do legado jovial do Woodstock que, pretendendo terem uma finalidade profilática planetária, não passaram de uma reunião de amigos, apadrinhados pelas editoras e afinal pelo próprio sistema que criticavam...