Falando de joguetes sul-americanos, a situação venezuelana chegou ao ponto Zugzwang.
Surge assim a pergunta:
Zugzwang é um termo de xadrez, que significa que quem é obrigado a jogar, fica numa posição pior do que a que tinha anteriormente.
Foi praticamente isso que aconteceu a Guiado, ou melhor Guaidó, cuja situação política vai ficando cada vez mais frágil, a cada iniciativa que toma.
Ao contrário do que suspeitariam os analistas ocidentais, Nicolas Maduro foi resolvendo de forma muito subtil o "pequeno problema" de ter outro fulano reconhecido como presidente pela comunidade ocidentalizada.
O que fez Maduro? - Não fez nada.
Claro que muito terá feito nos bastidores, mas para além de convocar os seus apoiantes, não tomou nenhuma iniciativa drástica contra o impostor.
O efeito de ter a comunidade internacional a reconhecer Guaidó, não afectou muito mais do que já estava, porque como os EUA declararam um embargo internacional à Venezuela, seria difícil criar dificuldades maiores do que as já existentes, exceptuando qualquer acção militar.
Como Maduro não fez nada, Guaidó sentiu necessidade de convocar a "revolução", e no dia 29 de Abril procurou ter a população e os militares do seu lado. Se a população ainda foi aparecendo, os militares contavam-se pelos dedos... e então como manifestação do seu real poder, Maduro fez um desfile com centenas ou milhares de militares.
Não foi preciso mais nada, para que ficasse bem claro que Guaidó, apesar do ruidoso unânime apoio internacional, esse apoio conta pouco internamente, especialmente entre os militares.
Surge assim a pergunta:
- Mas a questão é mesmo, para quê?
Não o prendendo, deixa cada vez mais claro que toda a força de Guaidó é externa, e de um forte, mas dividido sector interno, ligado à comunicação social. Não o prendendo, foi deixando-o numa posição cada vez mais frágil e irrelevante...
Convém lembrar que a Venezuela se orgulha de ser o primeiro país a abolir a pena de morte, e nesse aspecto o Regime Bolivariano de Chavez pode vangloriar-se de não seguir o exemplo dos EUA.
Além disso, mesmo que Chavez tivesse tentado um golpe de estado em 1992, tal como o tentou agora Guaidó, Chavez chegou ao poder por via eleitoral, com 56% nas eleições presidenciais de 1998.
Maduro também acabou de ser reeleito presidente em 2018, mesmo que a oposição não queira reconhecer essa eleição.
Tivesse Guaidó conseguido agora manter a população em manifestações constantes, como aquelas que foram ocorrendo em Paris nos últimos 6 meses, pelos "coletes amarelos", e não deixaria de ter maiores perspectivas de conseguir alguma coisa.
Estivesse Maduro na posição de Macron, e passaria por infligir fortes cargas policiais, fazer prisões indiscriminadas, etc... assim vamos apenas tendo as habituais fake news de uma imprensa ocidental que chega a ser ridícula, por ser tão condicionada.
A questão é que precisamente estas situações acabam sempre por envolver acções militares. Faz-me lembrar a nossa guerra civil fratricida entre os liberais liderados por D. Pedro com o apoio internacional vs os absolutistas com o apoio da populaça liderados por D. Miguel. Normalmente nestas situações ganha aquele com maior predisposição a vergar-se aos interesses das nações mais poderosas. Aqui isso ainda não só aconteceu porque as balança tem os dos dois lados da contenda equiparados e dá que pensar mesmo a esta malta sem escrúpulos que começar uma 3ª guerra mundial seria um pouco extremo. Enquanto as guerras pelas arábias forem dando dinheiro podemos estar "descansados".
ResponderEliminarAb
JR
Passado quase um mês sobre este postal, é interessante ver como já todos esqueceram a Venezuela, e é praticamente como se nada se tivesse passado:
EliminarVenezuela crisis: What happened to uprising against Maduro?
https://www.bbc.com/news/world-latin-america-48476300
No entanto, é claro que o problema está lá, a situação económica se não melhorar vai levar a um novo assalto... todos sabem disso, e esperam. Por isso, é claro que os EUA e Europa continuam a estrangular economicamente a Venezuela até que ela ceda.
Isto é uma nova evolução dos cercos.
Antigamente faziam-se cercos a cidades, agora fazem-se cercos a países!
Ao fim de alguns meses ou anos, as pessoas não aguentam, começam a faltar medicamentos, comida, etc... e acabam por se render. Cuba tem conseguido resistir, mas será mais complicado à Venezuela manter-se na mesma senda, se ainda assim forem fazendo eleições.
Sim, o caso com D. Miguel foi claramente um "orgulhosamente sós" que correu mal, quando tinha uma Quádrupla Aliança pronta a intervir. Agora, só em último caso se chega ao ponto de recorrer a guerras efectivas. É possível conseguir o mesmo, ou mais, com menos esforço. Isso foi o que se tirou do último crash bolsista de 2008-09. Os estados estão reféns da finança internacional, e fazem tudo para a manter conforme está. Será muito complicado perceber como se irá desenvolver uma quebra do equilíbrio existente, mas não creio que haja necessidade de confrontos armados.
Abç
Sim, concordo e espero igualmente que não passe para algo pior.
ResponderEliminarAb
JR