Nobody does it better, makes me feel sad for the rest...
Carly Simon, uma das minhas vozes preferidas, começava assim o tema do filme "The spy who loved me", da saga James Bond, aqui com Roger Moore, e Barbara Bach como "Bond girl" (e que depois se casaria com Ringo Starr).
Carly Simon - Nobody does it better (James Bond - "The spy who loved me", 1977)
É interessante que no final desta introdução, M diz "Send me an agent, AAA"...
Fala-se bastante em AAA, enquanto rating de crédito de agências financeiras, e durante a "crise" também em Eurobonds (European Bonds) como possível solução. O nome Bond também significa "obrigação" e as três letras são um sistema da sua classificação.
Assim, uma alusão a AAA e Bond, é uma piada subtil, certamente propositada.
Note-se que tal como 007 seria o código de James Bond, aqui AAA seria o código de Miss Moneypenny (nomenclatura igualmente económica).
Estes filmes faziam especial sentido no tempo da Guerra Fria, em que o espião de Sua Magestade fazia melhor que os espiões americanos, contra russos e outros "malvados", de serviço.
A ideia de ver os russos no papel de "inimigos de serviço", deixou de estar na moda, até ao momento em que Vladimir Putin arranjou uma esquema "democrático" de se manter indefinidamente no poder.
Putin, com 18 anos no poder, distancia-se assim de Angela Merkel, apenas com 13 anos consecutivos.
Mesmo assim, Putin teve que usar Medvedev para alternar como presidente, enquanto o cargo de chanceler alemão não tem limitações no tempo.
Enquanto isso, pelos Estados Unidos passaram 4 presidentes (Clinton, Bush, Obama, Trump), e pelo Reino Unido 4 primeiros ministros (Blair, Brown, Cameron, May)... bom mas a recordista de tempo no cargo é claramente Isabel II, com 66 anos enquanto rainha.
Isto, a propósito da história absurdo-caricata de relações internacionais, envolvendo uma tentativa de assassinato do ex-espião Sergei Skripal, e que afectou também a sua filha.
Quando se tratou do envenenamento de Litvinenko, com Polónio 210, no ano de 2006, a situação também teve um grande mediatismo internacional, mas nada que se assemelhe à desproporcionada escalada global que agora envolveu expulsão de diplomatas, pela maior parte dos países europeus:
Países que expulsaram diplomatas russos devido ao caso Skripal (info)
Esta situação começa por ser caricata, porque nenhum faleceu, e a filha parece estar a recuperar bem.
Não tem nenhum precedente.
Ou seja, nunca em simultâneo tantos países decidiram expulsar diplomatas.
Que o Reino Unido tomasse uma atitude, seria expectável, mas enfim... tudo fraquíssimo, pois não exibiu provas publicamente. Que isso levasse à expulsão de diplomatas russos do UK, enfim...
Que, por arrasto, Trump quisesse assumir uma posição anti-Rússia, enfim... percebe-se porque tinha sido acusado de ganhar as eleições com expedientes informáticos russos... whatever!
Agora que, sabe-se lá porquê, mais 20 países tenham querido fazer o mesmo, só faz sentido se estivermos a jogar o jogo "Follow the leader".
Das múltiplas acusações que têm vindo a ser lançadas contra a Rússia, e houve muitas, especialmente desde a anexação da Crimeia... podiam ter escolhido muitos pretextos, mas este pseudo-envolvimento numa tentativa de assassinato, não faz sentido.
Skripal foi acusado de traição e preso em 2006, justamente no ano em Litvinenko morreu.
Em 2010 a Rússia fez uma troca de prisioneiros espiões com os EUA e UK, pelo que Skripal não teria grande interesse para os russos (nem deveria ter para os britânicos, que não o vigiavam).
Tendo isto acontecido na semana anterior à reeleição de Putin, tal acto só o desfavoreceria... e os eventuais interessados nisso seriam opositores internos ou externos.
Com "provas" de ligação à Rússia, que fazem lembrar as provas de armas de destruição massiva no Iraque, ou seja - que são invocadas mas não são conhecidas... a posição inglesa tornou-se aberrante, mas não tão aberrante quanto a de todos os carneirinhos que a seguiram.
Acresce a toda esta situação as acusações de que o Facebook permite usar informação pessoal dos utilizadores... e parece que estamos a viver num mundo de crianças, que acreditavam no Pai Natal, e que não sabiam que podem ser manipuladas ou enganadas.
Provavelmente as acusações à Rússia de interferências no Brexit, na eleição de Trump, nas eleições da Catalunha, e em qualquer outra em que os resultados sejam diferentes dos esperados, resumem-se a essa notável descoberta sobre o Facebook.
As coisas chegaram a um ponto em que já faltam os bons argumentistas para a narrativa dos media internacionais, sendo vendidas agora histórias da carochinha, sem sentido nenhum.
Em fim, enfim, outro vídeo da Carly Simon, apropriadamente com uma letra infantil Itsy bitsy spider:
Carly Simon (1987): Coming Around Again / Itsy bitsy spider
(concerto em Martha's Vineyard... a ilha "chique", onde tinha casa de férias)