Em 12 de Setembro de 1980, o General Kenan Evran liderou um golpe de estado na Turquia, e foi depois eleito presidente do país, em 1982, onde se manteve no poder até 1989. Este foi o último assinalável golpe de estado na Turquia, até estes acontecimentos da noite de 15 de Julho de 2016.
Curiosamente, passado um ano, em Outubro de 1981, Rod Stewart (o cantor que gostaria de ter sido futebolista) lançava um dos seus maiores sucessos "Young Turks".
Young Turks - Rod Stewart (1981)
"Jovens turcos" foi uma designação muito particular na história da Turquia, que teve a ver com o movimento político no início do Séc. XX, que transformou o decadente Império Otomano num estado com uma Constituição, procurando copiar os restantes modelos europeus, e de certa forma ainda os ideais da revolução francesa.
O termo ganhou conotação com uma rebeldia impetuosa, e por vezes desmedida... afinal, é durante o governo dos "jovens turcos", que se dará o genocídio na Arménia, em 1915, para além da aliança estratégica com a Alemanha, ter levado à dissolução do império otomano após a derrota na 1ª Guerra Mundial.
É no sentido de rebeldia juvenil que a canção de Rod Stewart irá buscar o título da canção, em nada se referindo à Turquia, que estava então sob controlo dos militares, com a constituição suspensa.
De entre os diversos países de orientação muçulmana, a Turquia foi sendo vista como uma certa excepção, onde o factor religioso não influenciava muito o funcionamento laico do estado, e de certa forma isso foi sendo tomado como missão dos próprios militares, desde Ataturk.
A subida ao poder de Erdogan veio mudar essa tendência laica, passando a figurar uma tendência de regresso aos velhos valores morais religiosos. A influência dos militares foi sucessivamente questionada, pelo novo poder islâmico, a ponto do velho General Kenan Evran ter sido julgado e condenado a prisão perpétua em 2014, quando já contava 96 anos.
Tal como no Egipto ou na Argélia, é o poder ditatorial dos militares que tem evitado que estes estados de confissão islâmica tenham degenerado em repúblicas religiosas, como aconteceu no caso do Irão.
Quanto ao golpe ocorrido, ao mesmo tempo que se reuniam os representantes dos negócios estrangeiros dos EUA e Rússia (Kerry e Lavrov), levantou algumas suspeitas de anuência, para regresso a um estado laico. Após o falhanço da insurreição, coloca-se a questão de ter sido o próprio Erdogan a orquestrar um golpe fictício, com o objectivo de aumentar os seus poderes e fazer agora uma purga na administração mais laica - militares e juízes, que caíram no erro de apoiar o golpe e assim explicitarem a sua oposição. Só que as coisas nunca são simples, e a ausência de identificação clara da hierarquia que apoiou o golpe pode também indiciar que esta encenou um primeiro golpe para ver a resposta militar, aguardando para fazer um segundo golpe mais contundente... tudo dependendo da atitude que Erdogan irá adoptar. Afinal, convém não esquecer que antes do 25A também houve uma fidelíssima brigada do reumático, após o 16M.
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