A situação ficou tão ridícula que desde 2010, contrariando as mui certas e mui doutas previsões de "aquecimento global", praticamente todos os anos, se batem uns ou outros recordes de temperaturas baixas, grandes nevões, etc.
Já sabemos que devido a essas inconsistências evidentes, mudou-se a retórica - essa arma da política, e deixou-se de falar em "aquecimento global", usando-se o termo redudante "mudanças climáticas", mas à mesma para referir o efeito de estufa, o aumento de temperatura, etc. A metereologia passou a ser mero disparate político, sem qualquer conexão com a realidade... ou melhor, a realidade ajusta-se melhor se a palestra for dada no Verão.
Agora, a tempestade Jonas deixou Nova Iorque debaixo de um intenso nevão, que foi aproveitado até para snowboard nas ruas de Manhattan. Se havia conferências sobre "aquecimento global", ficaram (de)retidas na neve.
Winter Storm Jonas proves global warming fears exaggerated (theRebel.media)
Como diziam os sujeitos deste apontamento noticioso:
- ... yeah, we had a bad decade so far, with big mega blizzards hitting, and the global warming activists, as you pointed out are trying to have it both ways now.
- ... it was nice and warm a few weeks ago in the Northeast and across most of North America... so the global warming activists were saying: "you see, it's a very warm winter: that's proof of warming". Now a big snow storm, and they say: "you see, that's a proof of climate change".
Quando Al Gore, e outros, falavam no início dos anos 2000, as previsões apontavam normalmente para 2020, que era então um ano distante, e como lembrava o jornalista - era suposto por esta altura contarmos às crianças sobre a recordação da neve em Nova Iorque.
Bom, mas pelo menos esta encenação ridícula pode servir para baixar a emissão de poluentes, o que tem esse lado positivo, ainda que isso também traga várias facetas de perseguição e inquisição ao cidadão, que se verá sujeito a legislação mais apertada, que tornará os produtos mais caros, e a sua vida cada vez mais controlada para limitar a sua "pegada ambiental".
O contexto socio-político da peça "As Aves" é o da partida da Expedição Siciliana, que será desastrosa para Atenas, e que ditará a sua derrota na Guerra do Peloponeso.
A ideia cretina de Péricles, de extorquir os parceiros da Liga de Delos (a União Europeia da época) e assim fortalecer Atenas à conta do tributo das outras cidades, determinou essa guerra interna entre os gregos, de que Esparta e os seus aliados saíram depois vitoriosos.
Há assim inúmeras referências, piadas, que só podem ser entendidas compreendendo o contexto e os protagonistas. A wikipedia tem uma lista exaustiva bastante boa.
Aliados de Esparta (a azul) e de Atenas (a vermelho).
Por exemplo, uma piada às localizações envolve a galé Salamina que tinha ordens de prender Alcibiades na Sicília. Outra piada envolve os atrasos do seu aliado, general Nicias. Fala-se num Mar Vermelho (Eritreu) como localização grega, ao mesmo tempo que cidades aliadas de Esparta eram classificadas como não-gregas. Aquele Mar Vermelho deverá referir-se ao mar vizinho ao Estreito de Gibraltar, e não ao Egípcio.
Toda a alegoria da peça, na constituição de um bloqueio dos pássaros aos tributos dos humanos aos deuses, e assim na substituição dos deuses pelos pássaros, pode ser encarada como um bloqueio dos aliados de Esparta ao tributo recebido por Atenas, na Liga de Delos.
Por exemplo, no contexto da Guerra do Peloponeso, o acesso ao santuário de Delfos estava bloqueado na Beócia, que era então aliada de Esparta contra Atenas.
Há diversos níveis, e ao mesmo tempo os pássaros revelam truques de como podem iludir os humanos no seu favorecimento. Por exemplo, monitorizando de alto o que se passa, podem saber onde os antigos esconderam tesouros, e depois revelar a localização aos humanos mais devotos. Isto é uma forma típica da classe dominante, sacerdotal, poder acertar nos presságios de boa-fortuna, já que controlando cargos e bens, pode favorecer a sua obtenção.
Mais inteligente do que isso, só conseguir ter pessoas a ouvir confissões e preces íntimas, e depois a transmiti-las para decisão favorável ou desfavorável, consoante o interesse da classe de confessores.
Acabei por ter ainda que consultar uma versão transcrita de uma cópia grega, em 1834:
até porque grego é uma língua de que sei apenas fazer a transcrição das letras, e pouco mais.
Mas as versões inglesa e francesa diferiam nalgumas coisas, até na colocação das falas. Indo ao texto "original", tive uma pequena surpresa. Parecerá não ser relevante, mas vejamos as três formas:
(Inglês) If on the other hand they recognize that you are God, the principle of life, that. you are Earth, Saturn, Posidon, they shall be loaded with benefits.
(Francês) Mais si les hommes vous regardent toi comme dieu, toi comme la vie, toi comme la Terre, toi comme Cronos, toi comme Poseidon, tous les biens leur arriveront.
(Grego) en d' égontai sè Theon, sè Bíon, sè dè Gên, sé Kronon, sè Poseido, ... agath autoisin panta parestai.
A tradução francesa estará melhor (pelo menos coloca Cronos e não o romano Saturno), mas faz o esforço de não colocar nem "deus", nem "vida" com maiúsculas, enquanto a inglesa substitui Bion por "princípio da vida", mas tiram ambas um factor importante - todos os substantivos ali deviam ser encarados como divindades.
A lista de divindades gregas, menciona "Bia" como "força", mas não aparece nenhuma divindade associada à vida, ou seja, a Bio. Não é isto irrelevante, porque se Teo (Deus e não Zeus) pode ser referido como princípio das coisas, definir uma entidade separada, Bio (Vida), para o princípio da vida, faz igualmente sentido, tendo o velho Cronus associado ao Tempo.
É claro que separar a criação das coisas da criação da vida não seria conveniente ao monoteísmo, e talvez por isso, na tradição que nos foi chegando, se tenha perdido o conceito separado.
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As Aves
(de Aristófanes)
(continuação)
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Pistétero: Primeiro aconselho que as aves se reúnam numa cidade e que eles construam um muro de grandes tijolos, como está na Babilónia, rodeando as planícies do ar e toda a região do espaço que divide a terra do céu. Poupa: Oh, Cebrion! Oh, Porfírio! Um lugar terrivelmente forte!
Pistétero: Então, quando estiver bem feito e concluído, exige-se de volta o império de Zeus. Se ele não concordar, se ele recusar sem se confessar batido, declarais uma guerra santa contra ele. Proíbam os deuses, de agora em diante de passar no seu país, com seus paus em riste, como até aqui, com a finalidade de os usar nas suas Alcmenas, suas Alopes, ou suas Semeles! Se eles tentarem passar, colocam anéis em seus paus para que eles não possam mais fazer amor.
Envia outro mensageiro para a humanidade, que irá anunciar-lhes que as Aves são reis, e de futuro, eles devem antes de tudo sacrificar a si, e só depois aos deuses; e que é apropriado designar a cada divindade o pássaro associado consigo. Por exemplo, se estão sacrificando a Afrodite, devem ao mesmo tempo oferecer cevada para o galeirão; se estão imolando uma ovelha para Poseidon, devem consagrar trigo em honra do pato; se um boi está sendo oferecido a Herácles, deixem bolos de mel dedicados à gaivota; se uma cabra está sendo morta por Zeus Rei, há um Rei-pássaro, a carriça, a quem o sacrifício de um mosquito macho é devido, antes do próprio Zeus. Euelpide: A noção de um mosquito imolado é encantadora! Agora deixemos o grande Zeus trovejar!
Poupa: Mas como a humanidade nos reconhecerá como deuses e não como gaios? Nós, que temos asas e voamos? Pistétero: Tolices! Hermes é um deus - tem asas e voa, e assim fazem muitos outros deuses. Primeiro de tudo, a Vitória [Nike] voa com asas douradas, Eros é sem dúvida também alado, e Iris é comparada por Homero a uma pomba temerosa. Euelpide: Mas não vai Zeus tonante [trovejante]enviar seus raios alados contra nós? Poupa: E se os homens, na sua cegueira, não nos reconhecem como deuses, e assim continuarem a adorar os habitantes do Olimpo? Pistétero: Em seguida, uma nuvem de pardais gananciosos por milho deve descer sobre seus campos e comer todas as sementes. Veremos então se Demeter vai deixá-los sem trigo. Euelpide: Por Zeus, ela vai cuidar bem que não, e vai vê-la inventando mil desculpas. Pistétero: Os corvos também irão provar sua divindade, bicando os olhos de seus rebanhos e de suas manadas de bois; e depois deixem Apolo os curar, já que ele é médico e é pago para isso. Euelpide: Oh! não faça isso! Espere até que primeiro eu venda meus dois novilhos.
Pistétero: Se, por outro lado, eles reconhecerem que vós sois Deus [Theo], a Vida [Bio], a Terra [Gea], Cronos, Poseidon, então a eles devem ser dados benefícios. Poupa: Então, indique-me um desses benefícios. Pistétero: Em primeiro lugar, os gafanhotos não comerão as vinhas em flor - uma legião de corujas e falcões vai devorá-los. Além disso, os mosquitos deixam de devastar os figos - um bando de tordos devem engoli-los todos, até ao último.
Poupa: E como devemos dar riqueza para a humanidade? É a sua paixão mais violenta! Pistétero: Quando consultarem os presságios, vós ides orientá-los para as minas mais ricas, vocês devem revelar os melhores empreendimentos ao adivinho, e não mais naufrágios ocorrerão ou marinheiros vão perecer. Poupa: Não mais perecem? Como é possível? Pistétero: Quando os augúrios são examinados, antes de iniciar uma viagem, o pássaro não vai deixar de dizer: "Não comece! Haverá uma tempestade", ou então: "Vá! Você vai fazer um empreendimento mais rentável." Euelpide: Comprarei uma embarcação e irei para o mar, não ficarei consigo. Pistétero: Irá descobrir-lhes tesouros, que foram enterrados em épocas anteriores, que conhecerá. Então os homens não dizem: "Ninguém sabe onde escondi meu tesouro, excepto se for um pássaro." Euelpide: Venderei o meu barco e comprarei uma pá para desenterrar os tesouros. Poupa: E como é que lhes daremos saúde, que pertence aos deuses? Pistétero: Se são felizes, não é isso o melhor para a saúde? O homem miserável nunca está bem. Poupa: A idade avançada também habita no Olimpo. Como lha poderemos dar? Devem eles morrer na juventude? Pistétero: Por Zeus, as aves adicionarão trezentos anos à sua vida. Poupa: Tirados de quem? Pistétero: De quem? De si mesmas. Não sabe que o corvo grasnante vive cinco idades humanas? Euelpide: Ah! ah! São muito melhores reis para nós do que Zeus!
Pistétero (solenemente): Muito melhores, não são? Em primeiro lugar, não teremos de construir templos de pedra talhada, fechados com portões de ouro; vão morar entre arbustos e matas de carvalho verde; o mais venerado dos pássaros não terá outro templo do que a oliveira; não temos que ir sacrificar a Delfos ou a Ammon. Em pé, no meio do medronho e oliveiras silvestres, estendendo as nossas mãos cheias de trigo e cevada, rezaremos para nos darem uma parte das bênçãos que gozam, e imediatamente iremos tê-las por alguns grãos de trigo.
Líder do Coro: Ó homem idoso, que eu detestava, é-me agora o mais querido de todos. Jamais deixarei de seguir o seu conselho. Coro (cantando): Inspirado por suas palavras, ameaçaremos nossos rivais, os deuses, e juramos que se marcharem em aliança connosco contra os deuses e forem fiéis à nossa gesta, leal vínculo sagrado, iremos brevemente quebrar-lhe ceptro. Líder do Coro: Tudo o que exige força de execução, faremos nós; e o que exige pensamento e deliberação deverá vir de si.
Poupa: Por Zeus! Não é tempo de atrasos e demoras como Nicias; vamos agir o mais rapidamente possível .... Em primeiro lugar, venham, entrem no meu ninho construído de mato e lâminas de palha, e digam-me vossos nomes. Pistétero: Isso é fácil; meu nome é Pistétero, e o dele, Euelpides, do bairro Crios. Poupa: Óptimo! Boa sorte para vós. Pistétero: Aceitamos o presságio. Poupa: Venham! Pistétero: Muito bem, você é quem nos deve levar e apresentar. Poupa: Venham então.
(A Poupa começa a voar para longe)
Pistétero: Oh, não! Volte aqui. Olá! Vocês podem voar, mas nós não! Diga-nos como segui-los. Poupa: Bem, bem! Pistétero: Lembro a fábula de Esopo. É dito que a raposa se saiu muito mal, porque tinha feito aliança com a águia. Poupa: Esteja descansado. Devem comer uma certa raiz e as asas irão crescer nos ombros. Pistétero: Então, vamos entrar. Xanthias e tu, Manodorus, peguem na nossa bagagem.
Líder do Coro: Olá! Poupa! Está-me a ouvir? Poupa: Qual é o problema? Líder do Coro: Leva-os para um bom jantar e chame a sua companheira, a melodiosa Procne, cujas canções são dignas das Musas. Ela deliciará os nossos momentos de lazer. Pistétero: Oh! Eu te conjuro, acede à sua vontade; faz sair o amável pássaro. Euelpide: Por Zeus, deixe-a sair, para que possamos contemplar o rouxinol. Poupa: Seja como desejam. Sai, Procne, mostra-te aos convidados.
(Procne aparece como jovem flautista)
Pistétero: Oh! grande Zeus! Que belo passarinho! Que forma delicada! Que plumagem brilhante! Sabe quanto eu gostaria de ficar entre as suas coxas? Euelpide: Ela é deslumbrante sobre todo o ouro, como uma jovem. Oh, como eu gostaria de beijá-la! Pistétero: Como, pobre homem, se ela tem duas pequenas pontas afiadas em seu bico?! Euelpide: Eu iria tratá-la como um ovo. A casca deve ser removida antes de comer. Gostaria de tirar a sua máscara e, em seguida, beijar o seu belo rosto. Poupa: Vamos entrar. Pistétero: Mostre-nos o caminho da Boa Ventura!
(A Poupa volta para o mato, seguida dos dois homens)
(Ouve-se a flauta. O coro encara a plateia)
Coro (cantando): Pássaro dourado adorável, a quem prezo acima de todos os outros. Você, a quem me associo com todas as minhas canções, rouxinol, você veio, você veio, para se mostrar a mim e me encantar com sua música. Vem, tu que tocas melodias primaveris na harmoniosa flauta, conduz os nossos anapestos.
Líder do Coro: Fracos mortais, acorrentados à terra, criaturas de barro frágil como a folhagem da floresta, você infeliz raça, cuja vida é apenas escuridão, tão irreal quanto uma sombra, a ilusão de um sonho, ouvi-nos, a nós seres imortais, etéreos, sempre jovens e ocupados com pensamentos eternos, pois vamos ensiná-los sobre todos os assuntos celestiais. Deveis conhecer a fundo o que é a natureza dos pássaros, a origem dos deuses, dos rios, de Érebo e do Caos. Graças a nós, até Pródico irá invejar-vos o conhecimento. No início havia apenas Caos, a Noite, o negro Érebo, e o profundo Tártaro. Não havia terra, nem ar, nem céu. Em primeiro lugar, a Noite de asas negras colocou um ovo sem germe no seio das profundezas infinitas de Érebo, e a partir deste, após a revolução de longas eras, Erossurgiu gracioso com suas brilhantes asas douradas, veloz como os turbilhões da tempestade. Ele uniu-se nas profundezas do Tártaro com o escuro Caos, alado como ele, e assim gerou a nossa raça, que foi a primeira a ver a luz. Que os imortais não existiram até Eros reunir todos os ingredientes do mundo, e desse casamento surgiu o Céu, Oceano, a Terra e a raça imperecível de deuses bem-aventurados. Assim, a nossa origem é muito mais antiga do que a dos moradores do Olimpo. Nós somos a descendência de Eros; existem milhares de provas para mostrar isso. Temos asas e prestamos assistência aos amantes. Quantas jovens bonitas, que tinham jurado a permanecer insensíveis, abriram suas coxas por causa de nosso poder e se rendem a seus amantes no final de sua juventude, sendo levadas pelo dom de uma codorniz, de um galeirão, um ganso, ou um galo. E que serviços importantes não rendem as aves aos mortais! Primeiro de tudo, marcam as estações do ano: primavera, inverno, e outono. O grou gritante migra para a Líbia - adverte o lavrador a semear; o piloto de largar o leme e dormir; aconselha Orestes a tecer uma túnica, de modo a que o frio rigoroso não o leve a despir os outros. Quando o milhafre reaparece, ele anuncia a volta da primavera e o período em que a lã da ovelha deve ser cortada. É vista a andorinha? Todos se apressam a vender a túnica quente para comprar algumas roupas leves. Nós somos para vós Ammon, Delfos, Dodona, o vosso Febo Apolo. Antes de empreender qualquer coisa, um negócio, um casamento, a compra de alimentos, consultam os pássaros lendo os augúrios, sinais que informam dos azares. Convosco uma palavra é um asar, um espirro um asar, uma reunião um asar, um som desconhecido um asar, um escravo ou um jumento um asar. Não é claro que somos um profético Apolo para voz?
(Mais rapidamente a partir daqui.) Se nos reconhecerem como deuses, seremos vossas musas divinatórias de azares, através de nós, sabereis os ventos, as estações - verão, inverno, e os meses temperados. Não iremos para as nuvens mais altas, como fez Zeus, seremos voz entre vós, e vos daremos, a seus filhos e aos filhos de seus filhos, saúde e riqueza, vida longa, paz, juventude, risos, músicas e festas; em suma, estareis tão bem na vida, que ficareis cansados e esmagados com prazer.
Primeiro Semi-Coro (cantando): Oh, rústica Musa de variado acorde, tiotiotiotiotiotinx, cantarei convosco no bosque e no topo da montanha, tiotiotiotinx. Espalharei sagrados cantos da minha garganta dourada em homenagem ao deus Pã, tiotiotiotinx, e a partir do topo da densa folhagem, a nossa voz se misturará com poderosos coros que exaltem Cibele no topo das montanhas, totototototototototinx. Vinde aos nossos concertos que Frínico trata de pilhagem como uma abelha trata a ambrosia de suas canções, a doçura que tanto encanta o ouvido, tiotiotiotinx.
Líder do primeiro Semi-Coro: Se um dos espectadores desejar passar o resto da sua vida tranquilamente entre as aves, venha ter connosco. Tudo o que é vergonhoso e proibido por lei na Terra é, pelo contrário honroso entre nós pássaros. Por exemplo, aí é crime bater no pai, mas connosco é um ato estimável; é aceitável acertar em cheio no pai, dizendo: "Venha, levante o esporão se quiser lutar." O escravo, se foi marcado a ferro pela fuga, essa marca é como a de um francolim manchado. Se é um frígio como Spintharus? Entre nós, seria o frígio pintassilgo, da raça de Philemon. Se é escravo e Cário como Execestides? Connosco pode inventar antepassados, pode sempre encontrar relações. Quer o filho de Pisias abrir os portões da cidade para o inimigo? Deixe-o tornar-se uma perdiz, a prole apropriada do seu pai; connosco não há qualquer vergonha em escapar tão habilmente como uma perdiz.
Segundo Semi-Coro (cantando): Assim, os cisnes nas margens do Hebrus, tiotiotiotiotiotinx, misturam as suas vozes numa serenata a Apolo, tiotiotiotinx, e as suas melodias ultrapassam as nuvens etéreas; tiotiotiotinx; o espanto assusta tribos de animais; e acalma numa serenidade sem brisa, totototototototototinx; todo o Olimpo ressoa, e com pasmo apreende os seus governantes; chorando as Cáritas e Musas, filhas do Olimpo, repetem o pio, tiotiotiotinx.
Hipalectrião - parte galo (alectrion), parte cavalo (hippo).
Líder do segundo Semi-Coro: Não há nada mais útil, nem mais agradável, do que ter asas. Para começar, suponhamos que um espectador está cheio de fome, e cansado dos coros dos poetas trágicos; se fosse alado, sairia a voar, ia a casa jantar e voltava de barriga cheia. Algum Patroclides, aflito nas fezes, não sujaria a sua capa, poderia voar, largando a carga e gases, regressando satisfeito. Se algum, não importa quem, mantém relações adúlteras e vê o marido da amante nos lugares de senadores, pode abrir as asas, voar para ela, e depois de a possuir, retomar aqui o lugar. Não é o dom mais precioso de todos, ser alado? Olhem para Diitrephes! As suas asas eram apenas vime entrelaçado, e ainda assim conseguiu ser eleito como filarco e depois hiparco; sendo ninguém, voou alto; e é agora o melhor Hipalectrião da tribo.
Aristófanes usa nesta peça uma lenda sobre Tereus, rei da Trácia, que teria sido encenada antes em forma de tragédia, por Sófocles, havendo ainda uma outra versão de Filócles. Sobre essas peças anteriores só chegou um conhecimento indirecto, como a referência que Aristófanes aqui lhes faz.
A tragédia de Tereus: num quadro de Rubens, com o sacrifício de Itys numa taça do Séc. V a.C.
A lenda de Tereus tem um lado canibal sinistro, que se pode depois reencontrar em Titus Andronicus, peça de Shakespeare (ou mais recentemente nos filmes Delicatessen, ou Hannibal).
A tragédia começa com a violação de Tereus sobre Filomela, irmã da sua mulher Procne, que ele visitara. Para evitar que a cunhada falasse do sucedido, decide prendê-la e cortar-lhe a língua.
No entanto, Filomela consegue fazer chegar à irmã tapeçarias onde relata o sucedido. As duas irmãs, filhas do rei de Atenas, decidem uma vingança ainda mais sinistra... Procne mata o próprio filho Itys, e serve-o ao pai, Tereus. As irmãs completam a vingança sobre Tereus, revelando-lhe ter comido o próprio filho.
Tereus tentará matá-las, mas elas escapam, protegidas pelos deuses do Olimpo, que decidem transformá-los em pássaros: Tereus em Poupa, Procne em Rouxinol, e Filomela em Andorinha (em versões posteriores, os pássaros aparecem trocados).
Interessa-me referir mais um detalhe sobre a forma como Tereus é logo invocado na peça, como:
- "um pássaro que não nasceu de um".
Esta referência à poupa é entendida pela transformação de Tereus, que não nasceu pássaro, nasceu homem; mas pode ser entendida como génese de ave que não resulta de ovo, na questão primeva sobre a origem dos animais.
Note-se ainda que a poupa foi igualmente colocada a liderar os pássaros num poema persa medieval, do Séc. XII, "A Conferência dos Pássaros".
O mito da sobre a cotovia, que referi no postal anterior, Aristófanes parece sugerir ser de Esopo (de um "Esopo das Aves"), e assim tem sido incluído nas compilações das suas histórias infantis, mas é remetido a uma lenda ainda mais antiga.
Poupa (cantando no matagal): Querida companheira, deixe essa sonolência. Faça jorrar de sua boca divina os hinos sagrados em acordes melodiosos, lamentos sobre o destino de nosso filho Itys, causa de tantas lágrimas nossas. A tua voz pura subirá pelas folhas do teixo até ao trono de Zeus, onde Febo te escuta. Febo com seu cabelo dourado, responde às tuas elegias melancólicas, reúne o coro dos deuses e de seus lábios imortais derrama-se um canto sagrado de vozes abençoadas.
(Uma flauta imita o canto do Rouxinol, ou seja, Procne)
Pistétero: Oh, por Zeus! Que voz charmosa tem esse passarinho. Ele encheu todo o mato com uma melodia melicodoce!
Euelpide: Silêncio!
Pistétero: Qual é o problema?
Euelpide: Fique parado!
Pistétero: Porquê?
Euelpide: A Poupa vai cantar de novo!
Poupa (cantando no mato): Epopopoi-popoi-popopopoi-popoi, aqui, aqui, rápido, rápido, rápido, meus companheiros no ar. Todos os que pilham as férteis terras dos lavradores, as tribos inumeráveis que se reúnem e devoram as sementes de cevada, de voo rápido e canção doce. E vós, cujo suave pio ressoa através dos campos com o grito de
"Tio tio tio tio tio tio tio tio";
e vós cuja voz se ouve sobre os ramos de hera nos jardins; e as aves de montanha, que se alimentam nos olivais selvagens, de bagas ou medronheiro, apressem-se ao meu chamado,
"Trioto, trioto, totobrix"!,
vós também, que engolis os mosquitos nos vales pantanosos, e vós que habitais as pradarias de Maratona, húmidas de orvalho, e você, francolim com asas salpicadas. Vós também, guarda-rios, que esvoaçais sobre as ondas do mar. Venham aqui ouvir as notícias. Agrupamos aqui todas as tribos de aves de pescoço longo. Um velho inteligente veio até nós, com novas ideias e novas empreitadas. Venham todos ao debate aqui, aqui, aqui, aqui.
Pistétero: Vê algum pássaro? Euelpide: Por Febo, não! Estou-me esforçando, varrendo os céus com a vista. Pistétero: Não valeu a pena à Poupa enterrar-se no mato como uma Tarambola chocadeira.
Flamingo.
Um pássaro (que entra): Torotix, torotix.
Pistétero: Espere, amigo, não é um pássaro. Euelpide: Por Zeus, é um pássaro, mas de que tipo? Não é um pavão? Pistétero: (A poupa sai da moita): A Poupa vai-nos dizer. O que é este pássaro?
Poupa:Não é um daqueles que está acostumado a ver. É um pássaro dos pântanos. Euelpide: Oh! oh! Mas é muito bonito, com suas asas carmesim, como as chamas. Poupa:Sem dúvida; na verdade, ele é chamado de flamingo. Euelpide (excitado): Oi, olá... Estou a chamá-lo! Pistétero: Está gritando porquê? Euelpide: Ora, está aqui um outro pássaro. Pistétero: Sim, de facto; este é um pássaro muito estranho, - e pergunta à Poupa: Quem é este pássaro, vindo além das montanhas, com um olhar tão solene quanto estúpido? Poupa: Chama-seMedo. Euelpide: O Medo! Mas, por Herácles, como, se um Medo, voasse para aqui, sem um camelo? Pistétero: Aqui está um outro pássaro com uma crista.
(Em seguida, as inúmeras aves que compõem o Coro vão chegando.)
Euelpide: Ah! Curioso. Poupa, você não é o único de seu tipo, então? Poupa: Este pássaro é o filho de Filócles, que é filho de Poupa; de modo que sou avô; assim como se poderia dizer, Hipponicus, filho de Callias, que é filho de Hipponicus. Euelpide: Então este pássaro é Callias! Olha, que montão de penas perdeu ele! Poupa: Isso é porque ele é honesto. De modo que os informadores o tramaram, e as mulheres também arrancaram as suas penas. Euelpide: Por Poseidon. Vê aquele pássaro multicolor? Qual é o nome dele? Poupa: Esse? Esse é o Glutão. Euelpide: Existe outro glutão além de Cleonymus? Mas se ele é Cleonymus, ele não atirou fora a sua crista? Mas qual é o significado de todas estas cristas? Será que estes pássaros vêm para disputar o prémio duplo-estádio? Poupa: Eles são como os Cários, que se agarram às cristas de suas montanhas para uma maior segurança.
Pistétero: Oh, Poseidon! olha o que enxames terríveis de aves estão se reunindo aqui! Euelpide: Por Febo! Que nuvem! A entrada do palco não é mais visível, tão perto voam uns dos outros. Pistétero: Aqui está a perdiz. Euelpide: Ora, ali está o francolim. Pistétero: Ali está o pato. Euelpide: Aqui está o guarda-rios, e pergunta à Poupa: Que pássaro é esse, atrás do Guarda-Rios? Poupa: Esse é o barbeiro. Euelpide: O quê? Um pássaro um barbeiro? Pistétero: Ora, Sporgilus [barbeiro famoso em Atenas] é um deles.
Poupa: Aí vem a Coruja. Euelpide: E quem é que traz uma coruja para Atenas? Poupa (apontando para as várias espécies): Aqui está a pega, a rola, a andorinha, o mocho-orelhudo, o abutre, o pombo, o falcão, a pomba, o cuco, o pé-vermelho, o barrete-vermelho, o barrete-púrpura, o falcão, o mergulhador, o tordo, a águia-pesqueira, o pica-pau ... Pistétero: Oh! Que montão de pássaros! Euelpide: Oh! Um monte de melros! Pistétero: Como eles ralham, como eles gralham! Que barulho! Que barulho! Euelpide: Estão-nos com má vontade? Pistétero: Oh! Ali! Ali!... Eles estão abrindo os bicos e olhando para nós. Euelpide: Ora, pois estão!
Líder do Coro: Popopopopopo. Onde está quem me chamou? Onde posso encontrá-lo? Poupa: Estive esperando por você um longo tempo! Nunca falho na minha palavra aos meus amigos. Líder do Coro: Tititititititi. Que boa notícia você tem para mim? Poupa: Algo que diz respeito à nossa segurança comum, e que é tão agradável como é para o assunto. Dois homens, que são pensadores subtis, vieram procurar-me.
Líder do Coro: Onde? Como? O que está dizendo? Poupa: Digo que dois velhos, vindos da morada dos humanos, vieram-nos propor um esquema vasto e esplêndido para nós. Líder do Coro: Oh! é um horrível, inaudito crime! O que você está dizendo?
Poupa: Nunca deixe que as minhas palavras o assustem. Líder do Coro: O que você fez comigo? Poupa: Acolhi dois homens, que desejam viver connosco. Líder do Coro: E você se atreveu a fazer isso! Poupa: Sim, e estou muito contente por tê-lo feito. Líder do Coro: E já estão connosco? Poupa: Tanto quanto eu estou.
Coro (cantando): Aaah! Somos traídos. Sacrilégio! Nosso amigo, que pegou sementes de milho nas mesmas planícies que nós, violou as nossas antigas leis. Quebrou os juramentos que ligam todas as aves. Colocou-nos uma armadilha, entregou-nos aos ataques da raça ímpia que, ao longo de todos os tempos, nunca deixou de nos guerrear.
Líder do Coro: Quanto a este pássaro traidor, decidiremos o seu caso mais tarde. Mas os dois velhos serão punidos já. Vamos rasgá-los em pedaços. Pistétero: Está tudo acabado. Euelpide: Você é a única causa de todos os nossos problemas. Por que me trouxe de lá de baixo? Pistétero: Para tê-lo comigo. Euelpide: Digamos, para me ter derretido em lágrimas. Pistétero: Continue, falando tolices. Como vai chorar com os olhos arrancados?
Coro (cantando): Iooo! Ioooo! Dirigi o ataque, atirai-vos sobre o inimigo, derramai seu sangue; usai as asas e cercai-os por todos os lados. Ai deles! Vamos ao trabalho com os nossos bicos. Vamos devorá-los. Nada pode salvá-los da nossa ira. Nem as florestas da montanha, nem as nuvens que flutuam no céu, nem a espuma das profundezas.
Líder do Coro: Venham, biquem, rasguem em tiras. Onde está o chefe da coorte? Que ele conduza a ala direita.
(Os pássaros atiram-se contra os dois atenienses.)
Euelpide: Este é o momento fatal. Para onde devo voar, infeliz miserável que sou? Pistétero: Aguarde! Fique aqui! Euelpide: Para que eles me façam em pedaços? Pistétero: E como acha que escapará deles? Euelpide: Não faço ideia. Pistétero: Vou-te dizer. Devemos parar e lutar contra eles. Vamos armar-nos com estas panelas. Euelpide: Porquê com as panelas? Pistétero: Assim a coruja não vai atacar-nos. Euelpide: Mas você vê todas aquelas garras em forma de gancho? Pistétero: Tome o espeto e perfure o inimigo do seu lado. Euelpide: E os meus olhos? Pistétero: Proteja-os com este prato, ou com este pote de vinagre. Euelpide: Oh! Que esperteza! Que génio inventivo! Você é um grande general. Maior do que Nicias, quando o estratagema está em causa.
Líder do Coro: Para a frente, para a frente, carreguem com vossos bicos! Venha, nenhum atraso. Desfaçam, arranquem, ataquem, esfolem-nos, e primeiro esmaguem as panelas. Poupa (colocando-se na frente do coro): Oh, mais cruel de todos os animais, porquê desfazer esses dois homens em pedaços, porquê matá-los? O que eles vos fizeram? Eles pertencem à mesma tribo, à mesma família, como a minha esposa. Líder do Coro: Devem ser os lobos poupados? Não são eles nossos inimigos mais mortais? Por isso, vamos puni-los. Poupa: Se são seus inimigos por natureza, são seus amigos no coração, e vêm aqui para lhe dar conselhos úteis. Líder do Coro: Conselho ou uma palavra útil de seus lábios, vinda deles, dos inimigos de meus antepassados?
Poupa: O sábio muitas vezes pode lucrar com as lições de um inimigo, pois a Cautela é a mãe da Segurança. Tal como uma coisa que não aprende com um amigo, mas que um inimigo o obriga a saber. Para começar, foi o inimigo e não o amigo que ensinou as cidades a construir muros altos, a equipar-se com grandes navios de guerra; e é esse conhecimento que protege os nossos filhos, os nossos escravos e nossa riqueza. Líder do Coro: Pois bem, eu concordo. Vamos primeiro ouvi-los, que é melhor. Pode-se aprender algo na escola de um inimigo. Pistétero (para Euelpide): A ira deles parece arrefecer. Recua um pouco. Poupa: É apenas justiça, e vai-me agradecer mais tarde. Líder do Coro: Nunca nos opusemos ao seu conselho até agora.
Pistétero: Estão num estado de espírito mais calmo. Largue a panela e os seus dois pratos; cuspa na mão, como para pegar numa lança, mantenhamos guarda ao campo, perto da panela e olhando o nosso arsenal; pois não devemos fugir. Euelpide: Você está certo. Mas onde vamos ser enterrados, se morrermos? Pistétero: No Cerâmico. Para obter um funeral público, vamos dizer aos Strategi que caímos em Orneae, lutando contra inimigos da terra.
Líder do Coro (para os pássaros): Voltem para as fileiras e guardem a vossa Coragem ao lado de vossa Ira, como estes hoplitas fazem. Vamos saber destes homens quem são, de onde vêm, e com que intenção. Aqui, Poupa, responde-me.
Poupa: Está me chamando? O que quer de mim? Líder do Coro: Quem são eles? De que país? Poupa: Estrangeiros, que vieram de Grécia, a terra dos sábios. Líder do Coro: E que o destino os trouxe aqui à terra dos pássaros? Poupa: O seu amor por vós e o seu desejo de compartilhar o vosso tipo de vida; habitar e permanecer convosco para sempre. Líder do Coro: Com efeito, e quais são os seus planos? Poupa: Eles são maravilhosos, incríveis, inauditos.
Líder do Coro: Ora, pensam eles nalguma vantagem para que se estabeleçam aqui? Estão esperando com a nossa ajuda triunfar sobre seus inimigos, ou sermos úteis aos seus amigos? Poupa: Eles falam de benefícios tão grandes que é impossível descrever ou concebê-los. Tudo será vosso, tudo o que vemos aqui, ali, acima e abaixo de nós; assim eles o atestam. Líder do Coro: São loucos? Poupa: São as pessoas mais sãs do mundo. Líder do Coro: Homens inteligentes? Poupa: A manha das raposas, a esperteza em si mesma. Homens do mundo, astutos, o creme da sabedoria popular.
Líder do Coro: Diga-lhes para falarem, e falarem rapidamente; porque o prazer de ouvi-lo pareceu dar-me asas.
Poupa (para dois presentes): Vão, você e você, peguem nessas armaduras e pendurem-nas, com boa esperança, no átrio perto da cremalheira, junto à figura do deus que preside e sob sua protecção;
- e para Pistétero: Quanto a vós, exponha o projecto às Aves, diga-lhes por que as juntei aqui.
Pistétero: Não eu, por Apolo. A menos que eles concordem comigo, como o pequeno macaco de um armeiro concordou com a sua esposa, em não me morder, nem me puxar pelos tomates, nem meter coisas pelo... Euelpide (curvando-se e apontando o dedo ao anus): Você quer dizer por aqui? Pistétero: Não, quero dizer pelos meus olhos. Líder do Coro: Concordo. Pistétero: Jura-o! Líder do Coro: Juro-o. E, se eu mantiver a minha promessa, os juízes e espectadores devem dar-me a vitória por unanimidade. Pistétero: É uma pechincha. Líder do Coro: E se eu quebrar minha palavra, possa ter sucesso por apenas um voto.
Poupa (como Arauto): Escutai, ó povo! Hoplitas, pegai vossas armas e voltai para as vossas fogueiras; não deixem de ler os decretos de exoneração que mandamos. Coro (cantando): O homem é uma criatura realmente sagaz, mas, no entanto expliquem. Talvez me mostrem alguma boa maneira de estender o nosso poder, de alguma forma que não tivemos o bom senso de saber e que descobriram. Falai! Para o vosso próprio interesse, bem como o nosso, pois se garantirem alguma vantagem, certamente a partilharemos. Líder do Coro: Mas que objecto vos pode ter induzido a vir até nós? Fale com ousadia, pois não quebrarei a trégua, até nos contar tudo.
Pistétero: Por Zeus,estou explodindo de vontade de falar. Já misturei a massa de meu discurso e nada me impede de amassar-lo... Escravo! Traga o terço e a água, que você deve derramar sobre minhas mãos. Seja rápido! Euelpide: É uma questão de festejar? O que tudo isso significa? Pistétero: Por Zeus, não! Estou à procura de belas palavras, saborosas para quebrar a dureza de seus corações. - Para o Coro: Sofro muito por vós, que fostes ao mesmo tempo reis ... Líder do Coro: Nós reis? Sobre quem? Pistétero: ... de tudo que existe, em primeiro lugar, de mim e de este homem, até mesmo do próprio Zeus. Vossa raça é mais velha do que Saturno, os Titãs e a Terra. Líder do Coro: O quê, mais velhos do que a Terra? Pistétero: Por Febo, sim! Líder do Coro: Por Zeus, mas nunca soube isso antes!
Pistétero: Isso é porque você é ignorante e negligente, e nunca leu o vosso Esopo. Ele é aquele que nos diz que a cotovia nasceu antes de todas as outras criaturas, de facto antes da Terra. O pai da cotovia morreu de doença, mas a Terra não existia então; e ele permaneceu insepulto por cinco dias, quando a ave no seu dilema decidiu, por falta de um lugar melhor, enterrar seu pai em sua própria cabeça. Euelpide: Assim o pai da cotovia é enterrado em Cephalae. Pistétero: Portanto, se existiam antes da Terra, antes dos deuses, a realeza pertence-lhes por direito de prioridade. Euelpide: Sem dúvida, mas afiem bem o vosso bico. Zeus não estará apressado para entregar o seu ceptro ao Pica-pau.
Pistétero: Não foram os deuses, mas os pássaros, que anteriormente eram os senhores e reis sobre os homens; disso eu tenho mil provas. Primeiro de tudo, eu vou apontar-lhe o Galo, que governou os persas antes de todos os outros monarcas, antes de Dario e Megabazo. É em memória de seu reinado que ele é chamado o pássaro persa. Euelpide: Por esta razão também, ainda hoje, só ele entre todas as aves, usa a sua tiara em linha recta em sua cabeça, como o Grande Rei.
Pistétero: Ele era tão forte, tão grande, tão temido, que mesmo hoje, por conta do seu antigo poder, todo o mundo pula da cama assim que ele canta ao amanhecer. Ferreiros, oleiros, curtidores, sapateiros, banheiros, vendedores, afinadores de lira, e armeiros, calçam os seus sapatos e vão para o trabalho antes que seja luz do dia.
Euelpide: Posso acrescentar algo sobre isso. Foi por culpa do Galo que eu perdi uma túnica de lã frígia esplêndida. Estava numa festa na cidade, comemorativa do nascimento de um filho. Eu tinha bebido bastante livremente e tinha acabado por dormir, quando um galo, eu suponho com maior pressa do que o resto, começou a cantar. Eu pensei que era madrugada e parti para Halimus. Mal tinha saído as paredes, quando um ladrão me bateu por trás com a sua clava; Caí e quis gritar, mas ele já tinha fugido com o meu manto.
Pistétero: Anteriormente também o Milhafre era governante e rei sobre os Gregos. Líder do Coro: Os gregos? Pistétero: E quando ele era rei, ele foi quem primeiro lhes ensinou a ajoelhar diante dos milhafres. Euelpide: Por Zeus! Um dia, ao ver um milhafre; ajoelhei-me e inclinei-me tanto para trás com a boca aberta, que engoli uma moeda [obolus], e fui forçado a apresentar em casa a minha bolsa vazia.
Pistétero: O Cuco era o rei do Egipto e de toda a Fenícia. Quando ele gritava "cucu" todos os fenícios corriam para os campos para colher o seu trigo e a sua cevada. Euelpide: Por isso, sem dúvida, o provérbio: "Cucú cucú! Para os campos, circuncidados."
Pistétero: Tão poderosos foram os pássaros, que os reis das cidades gregas, Agamémnon, Menelau, por exemplo, colocavam um pássaro na ponta de seus ceptros, e partilhavam a sua quota de presentes aos príncipes. Euelpide: O que eu não sabia e me surpreendi, foi quando vi Príamo subindo ao cenário nas tragédias com um pássaro. Ele ficava observando Lysicrates para ver se ele recebia algum presente.
[referindo um general ateniense, Lysicrates, que recebia subornos]
Pistétero: Mas a prova mais forte de todas é que Zeus, que agora reina, é representado com uma águia na cabeça como um símbolo de sua realeza; sua filha tem uma coruja; e Febo, como seu servidor, tem um falcão. Euelpide: Por Demeter, tens razão! Mas o que esses pássaros fazem todos no céu? Pistétero: Quando alguém sacrifica e, de acordo com o rito, oferece as entranhas aos deuses, estas aves recebem a sua quota parte perante Zeus. Anteriormente os homens sempre juravam pelos pássaros e nunca pelos deuses. Euelpide: E agora Lampon [um adivinho]jura pelo ganso sempre que quer enganar alguém.
Pistétero: Assim, é claro que vós fostes grandes e sagrados, mas agora vocês são encarados como escravos, como tolos, como Maneses; mandam-vos pedras como aos loucos delirantes, mesmo em lugares santos. Uma multidão de caçadores de pássaros arma ciladas, armadilhas, substâncias viscosas e redes de todos os tipos. Sendo apanhados, são vendidos aos montes e os compradores apalpam-vos para terem certeza de que estão gordos. Se quisessem, serviam-vos simplesmente fritos; mas eles raspam queijo numa mistura de azeite, sílfio e vinagre, à qual se acrescenta um outro doce e molho gorduroso. Tudo é derramado escaldante sobre as vossas costas, como se fossem carne estragada.
Coro (cantando): Ó homem, suas palavras fizeram nosso coração sangrar; Gemíamos sobre a traição de nossos pais, que não souberam como nos transmitir a alta herança que receberam de seus antepassados. Mas eis que um Génio benevolente, um Destino feliz, que vos envia até nós; vós devereis ser nossos libertadores e colocarei o destino dos nossos pequeninos e o nosso em vossas mãos, com toda a confiança.
Líder do Coro: Mas apresso-me a dizer-me o que deve ser feito. Não seremos dignos de viver, se não procurarmos recuperar a nossa realeza por todos os meios possíveis.
(continua) ________________________
Nota Adicional: Por coincidência, os Coldplay lançaram ontem, sábado, um novo vídeo chamado "Birds", o que se junta aos passarinhos que apareceram no doodle da Google, neste final de ano, tudo podendo ser ligado à prevista campanha de extensão dos Angry Birds para cinema (e para banda desenhada, ontem anunciada).
As Aves, ou "os Pássaros", é uma obra crucial de Aristófanes.
Dentro do estilo de comédia, que até pode ser "de mau gosto" para mentes puritanas do Séc. XXI, pelo seu lado mais literal (e menos interessante), tem informações importantes a diversos níveis.
Curiosamente, o que me chamou a atenção para a história foi um tema de Laurie Andersen, que aqui já coloquei noutra ocasião.
Laurie Anderson - The Beginning of Memory
Ela apenas menciona uma curta passagem, mas que é uma história por si mesmo. A ideia notável é a de que o início da memória seria representado por uma cotovia que decide albergar o pai morto na parte anterior da cabeça... numa altura em que não havia Terra para o depositar.
Este é apenas um detalhe, a obra não é longa, deverei conseguir transcrevê-la aqui em poucos postais, e também o faço porque simplesmente não há versões traduzidas em português disponíveis na internet... e algumas traduções, de que vi excertos, eram tão más, que por certo que não farei pior.
Irei usar uma tradução inglesa, e outra francesa, para formar a portuguesa... mas não seguirei nenhuma de forma exacta.
Pistétero: Sim, sim, meu amigo, seguimos certamente o caminho "alado", ao lado.
Euelpide: Filocrates, o vendedor de pássaros, enganou-nos vilmente, quando fingiu que estes dois guias nos poderiam ajudar a encontrar Tereus, a Poupa, que é um pássaro, sem nascer de um. Ele realmente nos vendeu este Gaio, um verdadeiro filho de Tarrelides, por uma moeda [obolus], e este corvo por três, mas o que eles podem fazer? Absolutamente nada, senão bicar e arranhar!
(Para o seu gaio): Qual é o teu problema, que continuas de bico aberto? Quer atirar-nos para um precipício? Não há nenhum caminho por aí!
Pistétero: Nem vestígio de nenhum trilho, em qualquer direcção.
Euelpide: E o que diz o corvo sobre o caminho a seguir? Pistétero: Por Zeus, já não grasna a mesma coisa. Euelpide: E o que caminho diz para seguir? Pistétero: Diz que, à força de bicar, acabará por devorar os meus dedos.
Euelpide: Que infortúnio o nosso! Envidámos todos os esforços para chegar aos corvos, fizemos tudo o que pudemos para esse fim, e não podemos encontrar o nosso caminho!
Sim, espectadores, a nossa loucura é bastante diferente da de Sacas.
Ele não é um cidadão, e de bom grado o seria a qualquer custo; nós, pelo contrário, nascidos de uma tribo e família honradas, e vivendo no meio dos nossos concidadãos, fugimos do nosso país com todas as nossas forças. Mas os grilos apenas cantam junto às figueiras por um mês ou dois, enquanto os Atenienses passam toda a vida a cantar dos julgamentos dos seus tribunais. Por isso, começámos com um cesto, um pote de guisado e uns ramos de mirtilo, e fomos à procura de um país calmo onde residir.
Vamos ter com Tereus, a Poupa, para que nos diga se, nos seus grandes voos, viu alguma cidade assim.
Pistétero: Aqui! Veja!
Euelpide: Qual o problema? Pistétero:Ora, o corvo aponta-me algo lá em cima, há já algum tempo agora.
Euelpide: E o gaio também está abrindo o bico e esticando o pescoço, para me mostrar o quê, eu não sei. Claramente, há algumas aves aqui. Saberemos em breve, se fizermos barulho.
Pistétero:Sabe o que fazer? Bata a perna contra esta rocha. Euelpide: E você com a cabeça, para duplicar o ruído. Pistétero:Bom, então use uma pedra e um martelo. Tome!
Euelpide: Boa ideia! - e assim o faz, gritando: Oh! Aí dentro!... Escravo! Escravo!
Pistétero: O que é isso, amigo? Você diz "escravo", para convocar a Poupa? Seria muito melhor gritar: "Poupa, Poupa!"
Euelpide: Bom... então - Poupa!... Tenho que bater de novo? Poupa!
Estrelinha (saindo da moita): Quem está aí? Quem chama o meu senhor? Pistétero (em terror):Por Apolo, libertador! Que bico enorme!
(Com medo, defeca. Na confusão, o gaio e o corvo fogem)
Estrelinha (igualmente assustado): Credo, são caçadores de pássaros!
Euelpide (ganhando confiança): É assim tão terrível? Não seria melhor explicar?
Estrelinha (igualmente ganhando confiança): Passam por isso!
Euelpide: Mas nós não somos homens!
Estrelinha: Então o que sois?
Euelpide (igualmente defecando): Eu sou Medroso, uma ave da Líbia [África].
Estrelinha: Dizeis disparates!
Euelpide:Então, olha só para os meus pés! Estrelinha: E este outro, que pássaro é? - para o Pistétero: Fala!
Pistétero (a medo): Eu? Eu sou o Merdoso, da terra dos faisões.
Euelpide:Mas você, em nome dos deuses, que animal é?
Estrelinha: Ora, eu sou um Pássaro-Escravo! Euelpide:Porquê, fostes conquistado por um Galo?
Estrelinha: Não, mas quando meu mestre foi transformado numa poupa, ele me implorou para o seguir e servi-lo.
Euelpide:Então, um pássaro precisa de um servo?
Estrelinha: Sem dúvida, porque antes era um homem. Às vezes ele quer comer um prato de sardinhas de Phalerum; Eu pego no meu prato e voo para ir buscar algumas. Às vezes quer uma sopa de ervilhas; e eu arranjo uma concha e um pote, e vou a correr para a fazer.
Euelpide:Então, é verdadeiramente um corredor. Venha, Estrelinha, faça-nos o favor de chamar seu mestre. Estrelinha:Ora, ele acabou de cair no sono depois de comer bagas de mirtilo e algumas larvas. Euelpide:Não importa; acorde-o! Estrelinha:Eu, hein? Ele vai ficar com raiva. No entanto, para o satisfazer, vou acordá-lo.
(Volta para a moita)
Pistétero (ao Estrelinha que se afasta): Seu bruto malvado. Quase morri de medo! Euelpide:Oh! meu Deus! Foi puro medo que me fez perder o Gaio. Pistétero: Ah! Grande covarde! Estava tão assustado que foi largar o seu gaio? Euelpide:E não perdeu o seu corvo, quando se esparramou no chão? Diga lá! Pistétero: De modo nenhum! Euelpide:Onde está, então? Pistétero: Voou!
Poupa (de dentro da moita): Abram o matagal, para que eu possa sair! - e sai da moita. Euelpide:Por Herácles! Que criatura! Que plumagem! Que significa essa crista tripla?
Poupa: Quem me quer? Euelpide (de bom humor): Os doze grandes deuses quiseram-lhe mal, parece. Poupa: Está bicando as minhas penas? Eu fui um homem, estranhos. Euelpide: Não estamos a zombar de si. Poupa: Então, de quem? Euelpide: Ora, é o seu bico que nos parece ridículo. Poupa: É assim que Sófocles me enfurece nas suas tragédias. Sabe, eu fui Tereus. Euelpide: FoiTereus, mas o que é agora? Um pássaro ou um pavão? Poupa: Sou um pássaro. Euelpide: Onde estão as suas penas? Eu não vejo nenhuma! Poupa: Caíram. Euelpide: Por doença?
Poupa: Não. Todos os pássaros mudam suas penas, você sabe, a cada inverno, e outras crescem. Mas diga-me, quem é você?
Euelpide: Nós? Nós somos mortais.
Poupa: De que terra?
Euelpide: Da terra das belas galés.
Poupa: São heliastas? [jurado na Eclésia, tribunal popular de Atenas]
Euelpide: Não, se alguma coisa, somos anti-heliastas.
Poupa: É esse tipo de semente semeada entre vós?
Euelpide: Procurarias muito, para encontrar pouco, nos nossos campos.
Poupa: O que vos traz aqui?
Euelpide: Queríamos visitá-lo.
Poupa: Para quê?
Euelpide: Porque, como nós, foi um homem; tinha dívidas, como nós; não queria pagar, como nós não queremos; além disso, tendo sido transformado num pássaro, ao voar tem visto todas as terras e mares. Assim, você tem o conhecimento humano e o dos pássaros. E, portanto, lhe imploramos orientação para alguma cidade acolhedora, onde nos possamos abrigar, como em grossos mantos.
Poupa: E estão procurando uma cidade maior que Atenas?
Euelpide: Não, não maior, mas mais agradável para se viver.
Poupa: Então, está procurando um país aristocrático.
Euelpide: Eu, de modo nenhum. Tenho horror ao filho de Scellias.
Poupa: Mas, afinal, que tipo de cidade lhe agradaria?
Euelpide: Um lugar onde o negócio mais importante seria a transacção seguinte. - Algum amigo viria a bater à porta cedo, dizendo: "Por Zeus, esteja na minha casa cedo, logo que você tenha tomado banho, e traga os seus filhos também. Estou dando uma festa, por isso não falhe, ou então não se cruze comigo quando estiver irritado".
Poupa: Ah! A isso é que se pode chamar um "amante de dificuldades"! - e dirigindo-se a Pistétero: E o vós que dizeis?
Pistétero: Meus gostos são semelhantes.
Poupa: E eles são?
Pistétero: Eu quero uma cidade onde o pai de um rapaz elegante pára na rua e diz-me em tom de censura, como se eu o tivesse falhado, "Ah! Está assim bem feito, Stilbonides? Você conheceu meu filho vindo do banho após o ginásio e você nem falou com ele, nem o beijou, nem o levou consigo, nem o apalpou. Será que alguém poderia chamá-lo velho amigo? "
Poupa: Ah! Vejo que vocês são apreciadores de sofrimento. Mas há uma cidade de delícias, como vocês querem. Encontra-se no Mar Vermelho [Eritreu].
Euelpide: Ah não. Não é um porto de mar, onde numa bela manhã a galé Salaminia poderia aparecer, trazendo um processo junto. Você não tem uma cidade não grega a nos propor?
Poupa: Porque não escolhem Lepreum em Elis para a residência? Euelpide:Por Zeus! Eu não podia olhar para Lepreum sem nojo, por causa de Melanthius.
Poupa: Então, há Opuntian Locris, onde vocês poderiam viver. Euelpide:Eu não seria Opuntiano por um talento. Mas, como é viver com os pássaros? Você deve saber muito bem. Poupa: Ora, não é uma vida desagradável. Em primeiro lugar, não se tem bolsa. Euelpide:Isso acaba com um monte de malandragem. Poupa: Para nos alimentar os jardins dão gergelim branco, bagas de mirtilo, papoilas e hortelã. Euelpide:Ora, isso é a vida do recém-casado, de facto. Pistétero: Ah! Estou começando a ver um grande plano, que irá transferir o poder supremo para as aves, se quiserem o meu conselho. Poupa: Tomar o seu conselho? De que maneira?
Pistétero: De que maneira? Bom, em primeiro lugar, não voam em todas as direcções com bico aberto; ele não é digno. Entre nós, quando vemos um homem impensado, perguntamos: "Que tipo de pássaro é esse?", e Teleas responde: "É um homem que não tem cérebro, um pássaro que perdeu a cabeça, uma criatura que não pode alcançar, pois não permanece em nenhum lugar."
Poupa: Pelo próprio Zeus! As vossas tolices atingem o ponto. O que há-de então ser feito? Pistétero: Fundar uma cidade. Poupa: Nós, aves? Mas que tipo de cidade que devemos construir? Pistétero: Oh, realmente, realmente! Você fala como um bobo! Olhe para baixo. Poupa: Estou olhando. Pistétero: Agora, olhe para cima!
Pistétero: O que você viu? Poupa: As nuvens e o céu. Pistétero: Muito bem! Não é este o pólo das aves, então? Poupa: Que pólo?
Pistétero: Ou, se preferir, o seu lugar. E uma vez que ele roda e passa por todo o universo, ele é chamado de 'pólo'. Se você o construir e o fortificar, você vai transformar o seu pólo em uma cidade. Desta forma, você irá reinar sobre a humanidade como você faz sobre os gafanhotos, e você vai fazer com que os deuses morram de fome raivosa.
Poupa: Como assim?
Pistétero: O ar está entre a Terra e o Céu. Quando queremos ir para Delfos, pedimos aos Beócios licença de passagem; da mesma forma, quando os homens sacrificarem aos deuses, se os deuses não pagarem tributo, exercem o direito de cada nação em relação a estranhos, não permitindo que os fumos dos sacrifícios passem pelo vosso território.
Poupa: Pelas Terras, pelas armadilhas, pelas redes, pelas gaiolas! Eu nunca ouvi falar de nada mais inteligentemente concebido. Se os outros pássaros aprovarem, construiremos a cidade juntos.
Pistétero: Quem lhes vai explicar o assunto? Poupa: Tu! Antes de eu chegar eram bastante ignorantes, mas vivendo com eles, ensinei-os a falar. Pistétero: Como os podemos reunir?
Poupa: Facilmente. Eu vou até ao matagal para despertar a minha querida Procne e assim que ouvirem as nossas vozes, eles voarão até nós.
Pistétero: Meu querido pássaro, não vamos perder tempo! Voe para o mato e desperte Procne.