Em 1970 terá ocorrido em França uma tragédia marcante - um violento incêndio que vitimou 146 jovens, a quase totalidade dos 152 que se encontravam no Club 5-7. Assistiam a um concerto de uma banda em ascensão, denominada Storm, cujos membros também pereceram... um problema recorrente - o fecho das saídas terá impedido a saída dos jovens.
Os jornais da época terão usado descrições e títulos menos apropriados, como "dancing em chamas", ou "baile trágico"... e, o então já satírico L'Hebdo Hara-kiri, decide também fazer o seu título, na mesma ocasião em que o "herói nacional", Charles de Gaulle, presidente cessante, morre em Colombey:
Baile trágico a Colombey (*) - 1 morto (Charles de Gaulle) |
Esta provocação sobre o "mau gosto" dos títulos jornalísticos foi um certo hara-kiri do L'Hebdo, que por ordem do Ministério do Interior francês foi encerrado.
Renasceria alguns meses mais tarde com o nome "Charlie Hebdo" e se este "Charlie" é remetido para o ícone da banda desenhada, Charlie Brown, é também claro que o nome Charlie se referia mais à morte do anterior jornal, motivado pela morte de Charles, de Gaulle.
Apesar das diversas vicissitudes, críticas e ameaças, os fundadores foram carregando o projecto satírico, que juntava a pertinente crítica política e social ao simples "mau gosto". Ao "mau gosto" instituído por unanimismo, como são exemplo estes títulos sobre o desaparecimento do Boeing da Air France:
imagens daqui |
Quem se lembraria de associar as 228 vítimas a abstenções nas eleições europeias?... e no entanto, muito provavelmente seria uma crítica velada ao jornalismo de "bom gosto", que por essa altura encheria primeiras páginas com o problema da abstenção eleitoral para o parlamento europeu (órgão perfeitamente simbólico da corte dos poderes instituídos na Europa), descurando outras notícias mais relevantes.
Assim, o atentado ocorrido ontem foi sem dúvida um corte impiedoso na liberdade de se exprimir fora de um molde, do molde do "politicamente correcto", que tanto tem servido os poderes instituídos como arma de censura.
Como curiosa consequência, o site do jornal Charlie Hebdo foi silenciado... ou seja, em vez de se manter algum ponto de acesso aos conteúdos, "alguém" pensou ser mais apropriado colocar uma frase icónica: "Je suis Charlie"
Que Charlie? o de Gaulle, ou o Brown?
Portanto, um politicamente correcto "Je suis Charlie" sobrepôs-se ao trabalho politicamente incorrecto que era ali feito. Se o objectivo dos atacantes era silenciar o conteúdo incómodo do jornal, não o desligaram da internet, mas esta decisão apareceu a complementar a tarefa.
Por isso, a frase "não estávamos lá dentro" aplicada ao avião que se despenha, é uma capacidade de autocrítica social sarcástica perante a tragédia alheia. Tragédia com que os próprios viviam como ameaça, e cujo cartoon seguinte aparece como premonitório
... e não foi preciso chegar ao fim de Janeiro para que fossem vítimas dos personagens que caricaturavam.
Há um confronto entre "o medo do que pode acontecer" e "o medo do que acontece". O medo do que pode acontecer é fonte para muito do medo que acontece, porque com isso se legitima a violência preventiva. Os jornalistas do Charlie Hebdo desafiaram o medo do que poderia acontecer, e só assim se pode viver sem medo. O medo do que acontece, não é medo, é simplesmente uma reacção natural.
Até que o medo surja como facto inevitável, não devemos viver sob o medo imaginado, porque o medo imaginado nada resolve, só alimenta mais medo imaginado.
Devemos evitar que o que não existe ganhe existência através da sua implantação pelo medo.
O dragão, o papão, que assusta os adultos, são estes actos tresloucados, irracionais, e o facto de eles vitimarem quem os desafiava, nada prova - a resposta ensinada é simples - não fomos nós... e os que restam, enquanto houver quem resista aos medos, garantem que esses fantasmas não se implantarão.
(*) Uma coincidência linguística sobre este título de Colombey ocorrerá em Columbine...
Associação de conveniências dos barões deu na criação de Nações (Portugal exemplo) quando estas não lhe dão proveito privilégios que exigem associam-se à outras, fazem e desfazem Impérios. Franceses desde a queda dos espanhóis nas Américas substituíram trabalho de polícia na África ao serviço do Vaticano feito por portugueses, actualmente têm os franceses 3 frontes de guerra contra o califado, em 2015 a França continua a viver da venda de armamento e energia eléctrica nuclear, Estado que vende armas têm que estar permanentemente em guerra para mostrar eficácia das suas.
ResponderEliminarO Charlie é de Gaulle napoleónico imperialista mascarado de inventor protector dos direitos do homem, da paz na Europa com a UE também de sua autoria, do outro lado está o califado islâmico resposta a um imperialismo católico ocidental com uma ditadura religiosa integrista, ambos dão protecção pão e circo a quem se submeta debaixo das sua torres e minaretes, há quem desde sempre prefira ficar de fora, emigrar para zonas geográficas à parte deste conflito.
Para mim esta história do Chalie Hebdoe é mal contada, de toda a maneira a luta de civilizações nunca parou e está no seu auge, prudência, pois não se trata de liberdade de impressa, as coisas são mais complicadas.
Para quem duvide dos barões remeto para artigos que relatam a injecção de capitais feitos pelos da droga na banca quando da crise Lehman Brothers, se alguém duvidar que a França vive da venda de armamento recomendo de ver somente programas de TV tipo O Preço Certo da RTP, pois afinal é isso o fundamento simples do problema da humanidade, o dinheiro.
Cpts.
José Manuel CH-GE
Théories du complot et images truquées à la pelle
La Police nationale a dû intervenir sur Twitter pour demander aux internautes de cesser de diffuser des informations farfelues qui perturbent son travail.
http://www.20min.ch/ro/news/monde/story/Theories-du-complot-et-images-truquees-a-la-pelle-12424558
Caro José Manuel, sim é natural que a história não esteja bem contada, mas também não está muito mal contada.
EliminarOu seja, neste caso, talvez mais importante do que saber os detalhes da história, foi importante ver a defesa da liberdade de expressão, feita quase transversalmente. A ponto de serem poucos os que se atreveram a considerar sobre o conteúdo politicamente incorrecto, que provocara a ira islamita. O pior seria mesmo procurar alguma justificação num atentado contra a liberdade de expressão, algo que não aconteceu.
Quanto aos factos estranhos, começam logo com imediata deslocação do Hollande ao cenário do atentado. Se houvesse um desconhecimento completo da ameaça, o natural era proteger o presidente... e não levá-lo imediatamente para o local do atentado.
Mesmo se a suposta "selfie" é falsa, se a citação do Houllenbecq é falsa, se a pintura dos retrovisores é falsa,
www.franceinfo.fr/emission/le-vrai-du-faux/2014-2015/charlie-hebdo-avalanche-de-complots-rumeurs-et-images-detournees-09-01-2015-07-23
... mesmo com todas essas naturais farsas, há alguns detalhes que mostram que a história não parece estar toda bem contada. É incompreensível que o site do Charlie Hebdo tenha sido imediatamente silenciado... qual seria o tema da próxima semana?
No entanto, também não me parece ser uma história muito mal contada, e até outras novidades, parece-me correcto tomá-la como verdadeira.
Sim, é sabido que as potências têm um mercado de armas que acham por bem escoar, e a França é talvez o caso mais pragmático a nível Europeu.
A luta de civilizações continua sim, e só aparentemente há alguma trégua mundial, motivada pelo comércio global.
No entanto, a desproporção é de tal maneira grande, que facilmente os líderes se deslocam em conjunto a uma manifestação em Paris, sem temer os muitos fanáticos dispostos a marcar a sua posição num palco gigantesco.
Por isso, a civilização ocidental aparentemente em completo controlo da situação, graças ao seu enorme controlo global.
O que pode ser parte da história mal contada é que a vigilância global é tão eficaz e tão grande que, quando falha, pode pensar-se que é quase propositado. Esse é que pode ser outro lado conspirativo. Quando os serviços secretos conhecem um ameaça, mas não fazem o necessário para a deter.
Abraços.
Re: "É incompreensível que o site do Charlie Hebdo tenha sido imediatamente silenciado... qual seria o tema da próxima semana?"
ResponderEliminarNão sei nada sobre o Charlie Hebdo, mas essa dum terrorista se esquecer da ID no carro que utilizou na fuga e que levou de imediato a serem identificados é difícil de acreditar...
Outra coisa que salta aos olhos é a veemência com que certas Tv's oficiais francesas se empenharam a desmentir analistas USA/UK dos terroristas serem profissionais.
O que sei é que as pessoas vêm na França um país de liberdade igualdade e fraternidade dos direitos do homem e das luzes, para mim só se forem as das 360 e tais ogivas nucleares que têm (mais que o UK).
Há uns anos por causa dos protestos aos ensaios nucleares em Moruroa o governo francês mandou meter uma bomba num navio da Greenpeace única vítima um fotografo português, é para mim exemplo da beatitude do estado francês, outras más línguas dizem que os bombardeamentos humanitários franceses com os seus Rafale do "Barão" Dassault à Líbia e queda do Kadhafi foi para impedir a moeda única que propunha para a África, haveria muita coisa a dizer em desabono que dá para desconfiar do Charlie Hebdo dos franceses e da França, mas não merece a pena pois as pessoas estão cegas pela propaganda.
O efeito provocado por Charlie Hebdo é uma redução das liberdades pois elas vão ser reduzidas, este jornal satírico não prestou bom serviço à democracia, antes pelo contrário só a prejudicou, nada denunciou que não se conhecesse, viveu do escárnio de baixo nível, há limites para a sátira, o único benefício aos meus olhos seria pararem a islamização da Europa mas isto é outro tabu pois as pessoas desconhecem o que é o Islão, pensam que há bons e maus, mas no fundo são todos iguais, Islão só há um e ninguém pode alterar uma só palavra da sua doutrina, mas o mais lamentável é que muita gente está a converter-se ao islamismo por causa da decadência moral da sociedade ocidental.
Acendi duas velas do altar do meu Buda pela paz no mundo, mas não sou Charlie...
Cpts.
José Manuel CH-GE
P. S.
Nos anos 80 um francês colega meu de trabalho foi ferido com gravidade quando duma explosão dum caixote de lixo em Genève, as pessoas já esqueceram os atentados das Galarias Lafayette, e quantos portugueses sabem disto tudo? poucos...
http://fr.wikipedia.org/wiki/Attentat_de_la_rue_de_Rennes
Caro José Manuel,
Eliminarcertamente que os inúmeros defeitos, as farsas, o abuso de poder, são motivo para que haja afastamento de uma moralidade decadente, e procura noutras paragens de outros valores. Só que, como sabemos, as idas para outras paragens só encantam a início, até que se perceba outros defeitos. A vida ocidental ainda é agradável e motivo de imigração vinda de todas as partes, pelo que esse será um sinal de que, apesar de tudo, o que temos aqui não sendo muito perfeito, ainda é invejável. É claro, está a piorar... e pela primeira vez em muitos séculos, para a nova geração não se afigura melhor futuro do que para a anterior.
Tem toda a razão, o Charlie Hebdo não era propriamente um elemento completamente fora do sistema, e não publicou nada de relevante que não fosse conhecido.
Sobre a França, basta notar o caso do Massacre de Paris de 1961:
http://en.wikipedia.org/wiki/Paris_massacre_of_1961
Afinal, foi também uma manifestação em Paris, como a de domingo, mas com um final bem mais sangrento - entre 40 e 200 executados, onde muitos corpos foram deitados ao rio Sena.
Isso ter passado completamente em silêncio durante 30 anos, em toda a comunidade internacional. Só foi denunciado numa série britânica em 1992 e só foi reconhecido pelo governo francês em 1998, quando já tinham Papon para arcar com todas as culpas, e tentar livrar o "grande Charlie"... de Gaulle, de qualquer ligação.
Ora, creio que este Charlie Hebdo não foi nenhuma fonte para espiar esse mal, pelo menos antes de todos os outros o terem feito.
Por isso, tem razão, pode não ter havido nada de revelador naquela publicação, tirando uma certa vontade de provocar nos limites do bom gosto. No entanto, também havia algum sentido crítico no limite dos nossos tabús de aceitação da provocação.
Interessante, como episódio caricato final, é este novo postal - que coloquei hoje - onde vemos que a farsa dos líderes acompanhou as farsas dos desenhadores.
Curiosamente não vi Passos Coelho, ainda pensei que se tivesse enganado e ido mesmo à manifestação popular, ou... claro, hipótese remota, tivesse o bom senso de não se juntar ao passeio dos Charlots. Porém, afinal estava simplesmente para trás, ocultado pelo destaque que lhe dão nestas coisas - nulo.
Abraços.