segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pelo mesmo prisma...

Baker Street é talvez o tema mais conhecido do escocês Gerry Rafferty, lançado em 1979, onde sobressai o solo de saxofone.

Anos antes, em 1971 ficou famoso o roubo de Baker Street, de onde saíram quase duas centenas de caixas de depósitos do Lloyd's Bank, suspeitando-se que conteriam "material sensível"... isso levou a um boato sobre o uso da directiva D-Notice, que compromete os meios de comunicação ingleses a não divulgar informações de carácter secreto - neste caso, as que poderiam estar nas caixas roubadas.

Que os meios de comunicação estão controlados pela governação, há muito que deixou de ser novidade, mas digamos que só mais recentemente, com os casos de Julian Assange e Edward Snowden, se tem feito gala disso.
De qualquer forma, a história das fugas de informação sobre o controlo global são algo caricatas:
- Como a população não tem outra forma de ser informada, que não seja através dos canais habituais de informação, se estes estão controlados... a própria história da fuga de informação é interna ao controlo.
Será algo equivalente a sabermos através das quadrilheiras do bairro que a informação que veiculam não é fidedigna. A única novidade será serem as próprias a dizê-lo.

O José Manuel fez referência ao afundamento do RMS Lancastria em 1940.
Tratou-se da maior tragédia da marinha britânica, com 4000 mortos, na ordem do triplo do que tinha acontecido com o Titanic, mas a situação era outra - a apressada evacuação britânica de França, perante o avanço das tropas nazis, e o colapso aliado em Dunquerque.

Não foi considerada uma boa ideia noticiar tal tragédia do RMS Lancastria, a apesar do grande número de mortos, bastou ir informando as famílias que a sorte funesta tinha ocorrido por outra forma.
Esse é um exemplo conhecido do uso da D-Notice enviada aos jornais ingleses.
A população não sendo informada, procurava-se que o acontecimento não tivesse tido lugar.
Tal manipulação e secretismo justificar-se-ia no contexto da 2ª Guerra, mas não se justificaria depois. Porém, quando os órgãos oficiais são resistentes a reconhecer erros, deturpações, mentiras às populações... porque é sempre a história do Pedro e do lobo - assumida uma mentira, perde-se credibilidade. 

Além disso, haveria um outro pequeno problema em tempos de paz...
Se a Inglaterra viesse falar do RMS Lancastria, seria natural surgir o caso do MV Wilhelm Gustloff
MV Wilhelm Gustloff (navio hospital) ~ afundamento com mais de 9000 mortos

e de vários outros navios que transportavam essencialmente civis alemães que escapavam ao avanço russo pelo lado da Prússia-Polónia, na chamada Operação Hannibal.

É que o afundamento do MV Wilhelm Gustloff é de longe a maior tragédia em vidas humanas, só comparável a outros afundamentos nessa operação. Citando aqui a wikipedia:
The figures from the research of Heinz Schön make the total lost in the sinking to be about 9,343 total, including about 5,000 children. This would represent the largest loss of life resulting from the sinking of a single vessle in maritime history.

Ora, numa altura em que se pretende manter todas as virtudes do lado aliado, e actos demoníacos do lado nazi, não convirá ainda sair com uma notícia da morte de 5000 crianças num navio hospital, por culpa do lado vencedor. Assim, parece que as 4000 mil vítimas militares do lado inglês do RMS Lancastria poderiam manter-se na versão de não-notícia, imposta pela D-Notice, sob pena de acordarem a memória das 5000 crianças alemãs que perderam a vida nas geladas águas do Báltico.

Curiosamente, o nome do navio - Wilhelm Gustloff, era o nome de um activista suiço, fundador do partido nazi em Davos, assassinado em 1936 por David Frankfurter, um judeu de origem croata.
Esta história é suficientemente sinistra, porque David Frankfurter, que comete um assassínio político premeditado (porque "estava farto das difamações nazis sobre os Protocolos de Sião"), irá cumprir pena na Suiça, sendo libertado em 1945 para ser considerado um herói israelita, exercendo funções na Defesa desse Estado religioso - morrerá apenas em 1982.
Apesar da Suiça ter mantido a neutralidade, parece algo estranho que a todo-poderosa máquina de guerra germânica, não tivesse exercido pressão suficiente para uma deportação do criminoso confesso.

A nomeação do navio como Wilhelm Gustloff é dada como uma tentativa de vitimização dos nazis, perante o assassínio a sangue-frio, e Hitler terá dado instruções para não retaliação na comunidade judaica, ao que consta para evitar um boicote dos Jogos Olímpicos de 1936.
Como nome associado a vitimização, certamente que o navio Wilhelm Gustloff não regista hoje apenas o nome da vítima do disparo de um judeu anti-nazi, mas muito mais o registo de 9000 mortes, resultantes dos disparos do submarino comandado por A. Marinesko
Não fica apenas a ideia de que o nome "Wilhelm Gustloff" era para afundar, porque constam terem sido afundados quase 200 navios nessa fuga alemã da Polónia, sendo este apenas o caso mais grave. Outro afundamento grave, duas semanas antes do suicídio de Hitler, foi o do MV Goya com um registo de ~7000 mortos.

Isto apenas para concluir que há uma série de factos que não convêm ser publicitados, assim como há uma série de enfabulações que convêm ser mantidas, relativamente a muitos acontecimentos históricos, e não interessa se são mais antigos ou mais recentes.

A D-Notice relativa ao RMS-Lancastria pode ter tido estas razões, mas muitas outras ocorrem todos os dias na selecção noticiosa. Nem sempre há um interesse em estupidificar as notícias, porque o maior desafio é manter entretida uma população minimamente inteligente. Aí a fasquia sobe, mas há a ilusão de que as notícias, mesmo as mais relevadoras, não serão capazes de coordenar uma revolta contra os poderes instituídos.
Por exemplo, apesar das D-Notices, há um acesso ao programa de vigilância PRISM
 
... que vai buscar aquelas referências de controlo maçónico, tão caras às novas "teorias de conspiração". Sim, são novas, porque apenas mudam nas referências aos velhos Protocolos de Sião.
A revelação desse "protocolos" serviu essencialmente para lançar uma onda de movimentos nacionalistas que se procuravam libertar do jugo de uma ameaça internacional, vista na altura - pelos movimentos fascistas e nazistas, como estando a ser controlada internacionalmente pelos banqueiros judeus. Hoje, o cenário não mudou muito. Há quem ligue hoje o financiamento do nazismo e fascismo à própria maçonaria e até aos próprios judeus. A situação, como sempre mostra-se confusa, porque se tenta encontrar um inimigo externo, quando o inimigo principal é sempre interno - ou seja, são os medos. Estes medos são tanto mais justificados, quando há um nexo que o justifica.

Assim, para além do controlo global, parece importar fazer notar que ele existe, assinalando como potencial inimigo qualquer um... Ora quando se remete o medo ao vizinho, como actualmente se pretende fazer, com ameaças terroristas, está-se a institucionalizar o medo de tudo, que se reduz assim a um medo de si. O que parece insuportável ao toureiro profissional é deparar-se com um enorme touro manso, que não reage, apesar da aproximação que lhe faz, e tende a arriscar mais, a mostrar-se mais.

Por exemplo, neste slide de Snowden, vemos a ideia da encriptação no armazenamento em nuvem. A informação está encriptada na internet pública, mas é depois guardada como texto descodificado, para facilitar a análise de texto pela NSA. Ou seja, a ideia será procurar que as pessoas confiem no ladrão "bom", apresentando-lhes ladrões "piores". Que confiem na segurança de uns, temendo a insegurança de outros.
É claro que, apesar de todo o controlo, o medo de quem detém o poder continuará... pela razão mais simples de todas - quem detém o poder sabe que não há razão especial para o deter, é apenas mais um objecto funcional numa estrutura complexa que foge à sua compreensão.


3 comentários:

  1. Sobre "guerras marítimas" ver na Wiki uma batalha na costa portuguesa que desconhecia, onde os britânicos ficam mais uma vez mal na pintura da história universal:

    Batalla del Cabo de Santa María (1804)
    http://es.wikipedia.org/wiki/Batalla_del_Cabo_de_Santa_Mar%C3%ADa_%281804%29

    Felicitações pelo artigo " Pelo mesmo prisma..." aqui do Alvor/Da Maia, gostei de ler, e tenho que ver melhor pois tem uns dados prismáticos que desconhecia.

    Eu misturo a 1ª com a 2ª geralmente pois estão interligadas estas guerras mundiais, compreendo quem tenha medo utilizado desde sempre para dominar as populações, CIA/NSA/DIA, MOSAD, FSB exKGB, MOSSAD, SIS-MI6, DGSI francesa etc. é gente a mais e suficiente para desencadearem a WW3 sem que os políticos se dêem conta. Se se meter tudo na tal nuvem online; icloud / OneDrive / Google e outras Cloud poder evitar o que disse Albert Einstein sobre outra "nuvem" : "Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas poderei vos dizer como será a Quarta: com paus e pedras..." estou de acordo em que estes ratos das secretas espiem o planeta inteiro, prefiro isso ao tal "USA PATRIOT Act" ser copiado a nível global, tudo o que impeça (retarde) a WW3 é bom.

    Têm aqui mais 4 post para bichanar, se desejarem:

    Oliver Stone défend Vladimir Poutine
    http://www.20min.ch/ro/news/dossier/ukraine/story/Oliver-Stone-defend-Vladimir-Poutine-25541396
    Le réalisateur américain a pris la défense du président russe, qui n'a «pas lâché la Crimée», dans un entretien publié mardi. Le cinéaste estime que la crise ukrainienne est avant tout le résultat de la stratégie de l'Otan.

    Do Oliver Stone vi recentemente "Les États-Unis, l'histoire jamais racontée" é fiquei impressionado com história do presidente Truman, entre este e Hitler que o Diabo escolha, espero ver o próximo de Oliver Stone "Ukraine en feu".

    Li há uns 40 anos que os soviéticos utilizavam um método parecido para espionagem:
    La transmisión asistida de pensamiento es ya una realidad
    http://fronterasdelconocimiento.com/w3/?p=6644#more-6644

    Para quem goste de geopolítica, e muito actual da TV suíça, que recomendei no blog do Publico aos leitores de Francisco Louçã:

    Mikhaïl Gorbatchev aborda a crise actual na Ucrânia / UE / NATO
    17.09.2014
    "L'OTAN veut que tout le monde lui obéisse"
    Dans une interview à la RTS, le Nobel de la paix et ex-président de l'URSS a critiqué l'Otan [e a UE...]
    "On essaie de nous attirer dans une nouvelle guerre froide"
    http://www.rts.ch/info/monde/6151163-mikhail-gorbatchev-l-otan-veut-que-tout-le-monde-lui-obeisse.html

    http://www.lepoint.fr/monde/mikhail-gorbatchev-on-essaie-de-nous-attirer-dans-une-nouvelle-guerre-froide-18-09-2014-1864286_24.php

    e mais antigo demonstra a imprevisibilidade em geopolítica:
    01.91. 2012
    Darius Rochebin reçoit Mikhaïl Gorbatchev
    http://www.rts.ch/video/emissions/pardonnez-moi/3686316-mikhail-gorbatchev.html

    Cpts.
    José Manuel CH-GE

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    1. Muito obrigado pelas diversas informações.

      Por acaso tinha falado duma das Batalhas Marítimas do Cabo S. Vicente:
      https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cape_St._Vincent
      quando falei das Laranjas e dos Marotos:
      http://alvor-silves.blogspot.com/2014/05/guerra-das-laranjas-e-marotos.html

      ... mas não tinha visto essa do Cabo de Sta. Maria.
      É claro que num período tão largo de história escapam-nos imensos detalhes, e não há nada a fazer. São repetidas as mesmas coisas à exaustão, e deixa-se uma enorme quantidade de coisas de fora.

      Na lista de Batalhas do Cabo S. Vicente é curioso que só é nomeada uma antes dos descobrimentos
      https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cape_St._Vincent_(1337)

      ... um curioso episódio que envolve Pessanha, uma derrota naval de Afonso IV, que desconhecia.
      É claro que a costa portuguesa só se tornou palco de conflitos alheios por via da débil restauração de independência - que só seria forte com D. João V... mas depois veio o Marquês para reduzir tudo de novo à submissão britânica.

      Quanto a Putin e Gorbashov, é claro que a Rússia com Gorbashov foi demasiado naïve ao confiar na política americana de Wall Street, e Putin agora vai tentar não ceder em nenhuma das mesmas artimanhas habituais... que transformam bancos maus em bancos bons, à conta da população, e coisas semelhantes.

      Não conheço o filme de Stone sobre Truman, mas do que já li sobre o assunto, a questão das bombas atómicas não demoveu os japoneses, que estavam determinados na sua resistência, tal como esteve Hitler até ao fim.
      Repare-se que não se conhecem deserções em massa do exército ou população alemã, perante o avanço dos aliados. Não teve um exército rebelde alemão a combater do lado ocidental. Talvez até tenha tido mais colaboracionismo francês com os nazis do que o oposto.
      Por isso, os lados pareciam determinados numa luta até à extinção final, tal era a convicção na sua causa - alemães e japoneses - o mesmo não se passou com os italianos, onde houve sempre resistência a Mussolini.

      O que mudou a decisão japonesa foi muito mais a perspectiva de invasão russa, com a derrota na Manchúria, e consequente ameaça à perda das ilhas, ou pelo menos de parte delas. Por isso, o acordo de rendição aos americanos foi na base de manterem a integridade territorial - algo que não aconteceu na Alemanha.

      A ideia de um Japão dividido entre americanos e russos, como aconteceu na Alemanha, não agradava aos japoneses. Por isso, creio que a insistência nas bombas atómicas, foi mais uma pressão final americana para reduzir a possibilidade negocial japonesa ao mínimo.

      Obrigado e um abraço.

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    2. Entretanto ao ver hoje o Público reparei que o Oliver Stone visitou o Porto:
      http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/oliver-stone-apresentou-no-porto-a-sua-visao-critica-da-historia-americana-1671049

      creio que o último filme que tinha visto dele foi sobre o conflito israelo-palestiniano
      http://www.imdb.com/title/tt0368922/
      ... um filme documentário bastante interessante.

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