quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os véus e as velas

Há uma boa quantidade de invenções que são tidas como modernas, mas que não têm nenhuma razão especial para não existirem desde remotos tempos, pelo menos desde a Antiguidade.

Como um desses casos encontramos os "veículos de vela terrestres":
Simon Stevin (1649)
Hendrik Gerritsz (1637)

Um artigo da wikipedia apresenta referências que remetem a originalidade aos Chineses, a Xiao Yi, no Séc. VI d.C., constantes na representação de atlas de Ortelius, Mercator, J. Speed...
Nas grandes extensões planas, este transporte poderia ter utilidade, ainda que limitada. O veículo desenhado por Simon Stevin acabou por ser mesmo construído e usado pelo Príncipe Maurício de Oranje como veículo de entretimento... tal como hoje tais veículos são usados em desporto:

Bicicletas...
Se estas imagens correspondem a uma realidade confirmada, o mesmo já não se passa com algumas imagens fabricadas de bicicletas, que se pretenderam associar à época medieval. 
No entanto, nada seria mais plausível... a tecnologia de um monociclo, bicicleta, ou de um triciclo, esteve disponível para poder ser usada praticamente desde que há rodas... o maior problema seria a existência de estradas compatíveis com o esforço. A bicicleta acabou por se popularizar com o advento das estradas de macadame, depois de McAdam, e após a derrota de Napoleão em Waterloo.
Essa observação é feita num livro de 1867, de Velox (um pseudónimo), sob o título "Velocipedes, bicycles, and tricycles: how to make and how to use them":
Like the coach, they [chariots] were of rude workmanship; but the mind that designed and constructed them probably dreamed of some mode of dispensing with the cattle necessary to move them. Even then canoes moved on the face of the waters and ships on the sea; and it is more than probable that a similar motive power was looked for land.
É natural que um escritor do Séc.XIX se interrogasse sobre a razão do invento aparecer tardiamente, em 1819, já que seria natural o homem procurar usar a roda mesmo sem recurso a animais, como acontecia com as canoas nos rios, e os veleiros no mar. 
Simplesmente o génio humano estava preso na garrafa, e só teve autorização para sair no Séc. XIX, quando subitamente todas as invenções pareciam ser possíveis e naturais. Mesmo assim, Velox consegue encontrar um registo francês de um triciclo, de Blanchard (1779), quarenta anos anterior ao registo habitual:

Também seria natural invocar simples brincadeira de crianças, que tiveram diversas variações... ao meu tempo consistiam em fazer carrinhos de rolamentos, que perigosamente desciam a grande velocidade as colinas. Para esse tipo de coisas, bastavam rodas e colinas suaves... dois factores disponíveis desde os tempos mais primevos.

O bloqueio mental percebe-se lendo alguns textos cristãos. Uma roda dentro de outra roda era associada a uma visão do profeta Ezequiel, e como o Padre António Vieira explicava haveria votos associados a rodas. A duas rodas, o voto de pobreza e castidade, e depois às outras duas votos de obediência. Este género de associações prestavam-se a interpretações proibitivas.

Relógio fora do tempo
Terminamos este pequeno apontamento com um pequeno mistério, que apesar de pouco divulgado, parece ser fidedigno, e nada vi que o desmentisse... 

Trata-se de um relógio do início do Séc. XX, que seria tão miniaturizado que poderia ser usado como anel, mas foi encontrado numa sepultura Ming que deveria estar fechada desde o Séc. XVII. 
Portanto, tal como a máquina de Anticitera é um achado de relógio fora do tempo e lugar.

O pequeníssimo relógio terá "Suiça" escrito nas traseiras (não sei em que língua). Tanto pode revelar que o túmulo foi visitado incognitamente no início do Séc. XX, como revelar uma tecnologia suiça já capaz de produzir peças miniaturizadas por volta de 1600 d.C. Há ainda quem seja logo aliciado para teorias de viagens no tempo... neste caso seria uma viagem passada (c.1900) ao passado (c.1600)!

O mais natural é uma eventual visita "anónima" que deixou aquele vestígio incómodo. Porém, os véus que caíram sobre o progresso tecnológico também nos podem fazer supor que nada impediria que no Séc. XVII houvesse tecnologia capaz de produzir tal proeza, que um imperador Ming não resistiu em levar para o seu túmulo.

Não parecendo ser este o caso, é natural aparecerem cada vez mais registos dúbios, que se verificam serem falsos. Basta uns tantos para descredibilizar tudo o que não tenha a "chancela oficial". Por isso, é mais seguro procurar registos que nos foram chegando do passado, do que seguir novas descobertas publicitadas nas redes sociais, que podem ser resultado de simples tentativa ocasional de conduzir opiniões. Essas novas descobertas podem aparecer como promissoras e certificadas, para depois serem rapidamente descredibilizadas. Os registos do passado têm a vantagem de já terem sofrido a resistência dos tempos, mantendo o seu mistério.

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