segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Castro da Cola

A propósito da Cauda do Dragão / Cola do Dragão é digno de nota o Castro da Cola, um sito arqueológico, meio abandonado, próximo de Ourique... de Ourique no Alentejo,

Castro/Castelo de Cola (Ourique, Alentejo)

O sito arqueológico teria sido alvo do interesse de André de Resende, no séc. XVI, e só muito posteriormente, já em meados do séc. XX houve escavações que não foram retomadas pela morte do arqueólogo Abel Viana, que ligava o local a mais uma tradição de tesouro da moura encantada, onde mais uma vez a palavra "mouro" aqui refere-se a tempos pré-romanos.

A palavra Cola surge de novo com um significado incógnito, dúbio, aqui tomado enquanto cauda, apêndice, cólon. É assim interessante associar-lhe uma Nª Srª da Cola da Vila de Ourique, com um Menino ao Colo...

Estas associações fonéticas, fortuitas, acidentais ou não, acabam por levar às coincidências... em 1992, logo após a queda do muro de Berlim, a Coca-Cola decidiu usar Dracola numa sua campanha comercial
Anúncio de 1992 da Coca-Cola (video suprimido)

É claro que 1992 é também o ano da reposição da nova versão de Dracula no cinema... e neste contexto de factos encadeados, os nexos de causalidade podem ser trocados, e serão mais naturais as denominadas "coincidências". Afinal todo o mito moderno do secretismo da fórmula da Coca-Cola serviu também para esconder o secretismo de uma outra Cola, a do Dragão que terá o seu novo ano chinês em 2012...

6 comentários:

  1. Vim aqui parar com base numa pequena pesquisa via web, sobre diversas igrejas onde se inclui a da Cola.
    Todas elas tiveram construção do séc. XVI, ou "reconstrução", pois havia sempre culto anterior. Engraçado, pois é a mesma data em que Marrachique é abandonada... Isto poderá ter alguma razão? Ainda não tínhamos chegado a 1755.

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    1. Bastante interessante, se for sistemático.
      Bom, será mais ou menos natural que a implantação da Inquisição em 1536, que ocorre depois do Grande Sismo de 1531, tenha procurado afastar as populações dos antigos locais de culto "profano", mandando abaixo dolmens, cromeleches, ou castros antigos.
      A técnica usada era mais ou menos "standard"... se o culto era da fertilidade, aparecia em alternativa o culto à Nª Srª do Ó (onde este "Ó" correspondia à forma da barriga grávida).
      No caso da Cola não sei bem qual seria a associação, sendo que a palavra de origem ibérica se liga ainda no castelhano a "cauda".
      Obrigado pelo comentário.

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    2. É muito interessante que certos cultos antigos possam ter perdurado de alguma forma até essa época. É engraçado também a resistência de algumas lendas, apesar de cristianizadas. Como esta aqui http://www.portugalnotavel.com/anta-capela-sao-brissos-senhora-livramento/, por exemplo, com uma Nossa Senhora a relacionar-se com o S. Brissos... A substituição por NS do Ó não é linear. Há outras NS, e outras santas, e santos a tomar também lugares. O mais interessante mesmo é que estas capelinhas, no Baixo Alentejo, são todas da mesma época.

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    3. Sim, houve uma cultura aldeã local, muito importante, que preservou as tradições antigas, perdidas na noite dos tempos.
      Num outro postal, no outro blog que uso, aqui:
      http://alvor-silves.blogspot.com/2016/02/dos-comentarios-18-tauria.html

      fazia referência à tradição do touro embolado, que acidentalmente vi representado numa caverna da Crimeia, numa pintura rupestre.

      O que se poderá ter passado foi o seguinte:

      - Uma tribo em migração, ainda razoavelmente pequena (e que provavelmente estará ligada aos povos indo-europeus do haplogrupo R1b), numa caçada foi surpreendida por um fenómeno conhecido como "fogo de Santo Elmo". Ou seja, os cornos de um veado iluminaram-se e ao mesmo tempo que alguns caçadores foram atingidos por uma bola de fogo, e daí o nome "embolado", como "em bola":

      http://alvor-silves.blogspot.pt/2014/03/dos-comentarios-6-volta-do-mar-negro.html

      Os que presenciaram o fenómeno deram-lhe um significado sobrenatural, passando a venerar o bicho - inicialmente o veado, mas depois como o fenómeno é visto nos cornos de qualquer outro, passou ao touro no caso ibérico.

      Os anciãos acharam por bem fazer passar para sempre essa memória de facto tão insólito, e pode ter sido assim que a tradição do touro embolado, ou da vaca em chamas, chegou até aos dias de hoje.

      Essas tradições só se foram perdendo quando os jovens foram afastados do núcleo local, familiar, e deixaram de considerar os anciãos como fonte de conhecimento, passando apenas a valorizar a escola. Tem havido algum movimento no sentido oposto, mas se atendermos à crueldade de colocar uma vaca em chamas, tem que se arranjar maneira de manter tradições sem lhes manter o lado mais criticável.

      Sobre esse S. Brissos, encontra-se pouco...
      https://books.google.com/books?id=YZgDAAAAYAAJ&pg=PA191

      mas esse caso parece ser culto original de um eremita cristão identificado, enquanto noutros casos se remetiam a tradições politeístas. Não é só a Nª Srª do Ó, a própria Nª Srª da Conceição refere à "Concepção" e mais uma vez à questão da fertilidade.

      Obrigado, e um abraço.

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  2. Infelizmente os anciãos, talvez pela mesma razão, não transmitam os conhecimentos. Ou por preconceito, que é a mesma coisa. Os meus avós, por exemplo, preferem não falar. Dizem que não querem recordar o mau tempo.

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    1. Por outro lado, e falo no meu caso, também não tinha os ouvidos preparados para ouvir, porque se desenvolve uma cultura escolar de que as tradições eram um folclore, não científico, baseado na superstição e crendice. Nuns casos seria, noutros casos nem tanto.
      Houve foi alguma confiança induzida pela sociedade de que a escola seria uma instituição séria e fiável, evitando trabalho educativo aos anciãos e substituindo-se a estes, a todos os níveis... em particular sobrepondo-se ao seu conhecimento.
      Será como daqui a uns 20 anos falar sobre a guerra do Iraque, de terrorismo, do ISIS, etc... A própria informação que nos foi dada, foi torcida e retorcida, e poucos foram sobreviventes e espectadores reais de eventos. Portanto, passados à fase de avôs, teremos uma opinião pouco segura se os netos nos confrontarem com afirmações peremptórias num livro de história... que se seguir uma versão, contará a coisa ao estilo bons contra maus, se seguir outra versão contará a coisa ao estilo maus contra bons, ou ainda mesmo sendo neutro, pode ser igualmente indutor de falsidades por meias-verdades... aliás, o que é o mais habitual.

      O mais fácil de obter respostas não é pela afirmativa... porque poucos têm certeza sobre o que se passou, é mais fácil obter respostas pela negativa. As pessoas têm mais certezas sobre o que não ocorreu.

      Por isso, o caminho da verdade é bastante mais complicado, pois só se vai encontrando eliminando falsidades, uma a uma.

      Abraço.

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