Surrogates (os "Substitutos") e Avatar são ambos filmes do final de 2009, abordando praticamente o mesmo assunto, mas em histórias razoavelmente distintas. O primeiro é um filme da Disney, o segundo um filme de James Cameron.
Em Portugal, sendo um lançado no final de Outubro e o outro em Dezembro (de 2009), ao contrário de uma espampanante publicidade de Avatar, o filme Surrogates teve praticamente publicidade nula, e eu só dei conta da sua existência passados alguns anos.
Para não variar, Avatar é considerado como mais um filme referência de Cameron, e o outro teve críticas normalmente severas. Felizmente, e de um modo geral, as pessoas habituaram-se a ligar pouco mais do que nada à opinião dos críticos, mas dificilmente podem ver filmes que não sabem estar em cena, já para não falar da esmagadora maioria da produção, que nem sequer chega ao circuito de distribuição.
Ambos os filmes tratam de avatares, ou substitutos...
A grande diferença é que Surrogates tem uma ideia perigosa, e Avatar tem uma ideia trivial.
Por isso, seria natural evitar falar em Surrogates.
Os substitutos em Surrogates representam uma efectiva possibilidade de evolução da sociedade, que poderá pretender-se ser acessível apenas a uma elite. Actualmente, o que temos é ainda o plano de uma vida "real", mas que já entra online para assumir vivências alternativas (por exemplo, o execrável Second Life, ou outros jogos MMPORPG).
No filme, as coisas invertiam-se... os robots passavam a interagir na realidade, e todas as pessoas que os controlavam estavam reguardadas em quartos, praticamente sem contacto entre si, a não ser através dos robots substitutos, avatares de si mesmos.
Surrogates ("Os substitutos") 2009 - trailer
Avatar é uma história cor-de-rosa, com grandes efeitos especiais, onde um soldado paraplégico tem oportunidade de se tornar num salvador de um mundo de ficção, e é pouco mais que isso.
Avatar - 2009 - trailer
Enquanto os robots existentes autonomamente pouco mais conseguem do que caminhar atabalhoadamente, é muito mais possível termos um controlo efectivo e surpreendente em máquinas de qualquer dimensão. Ou seja, tal como hoje temos drones a substituir aviões de combate, não é difícil pensar em soldados de aço, quase indestrutíveis, a serem comandados à distância, sem o perigo da presença em combate. Será como pensar num Iron Man, mas obviamente sem a necessidade de estar alguém dentro do fato, podendo estar a milhares de quilómetros na segurança de um bunker. É claro, não falamos de um ou dois, falamos de muitos milhares de combatentes destes, que tornam qualquer combate contra humanos, num simples extermínio.
É por isso que a ideia de Surrogates é perigosa...
Ninguém espera cruzar-se na rua com autómatos indestrutíveis, comandados à distância sabe-se lá por quem... Sendo praticamente indestrutíveis, tornariam ridículas quaisquer tentativas policiais de os deterem. Ninguém espera acordar para um tipo de terrorismo, que seria verdadeiramente terrorismo, caso os detentores dessa tecnologia estivessem em parte incerta, inacessíveis.
A situação já é bastante incómoda com os drones brinquedos, que têm a vantagem de terem uma bateria de longevidade reduzida, e são guiados com alcance de curta distância. No entanto, basta pensar que a bateria passava a durar horas, e que o alcance de controlo passava a ser possível a quilómetros, para podermos ter drones brincalhões a entrar sorrateiramente em cerimónias oficiais. E isto é suficientemente incómodo, sem pensar que poderiam trazer bombas, ou outro material menos inofensivo.
O futuro está aí, e não é por não se falar do assunto, que ele desaparece... resta o conforto de se pensar que quem quis ter responsabilidade de coordenar os destinos da humanidade, sabe o que está a fazer, e se contenta em bisbilhotar a nossa privacidade para evitar males maiores.
Finalmente, convém notar que esta posição de controlo à distância sobre avatares é a mesma que nós temos sobre o nosso corpo, sendo ele próprio visto como um avatar.
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