Caso alguém perguntasse qual seria o grande desígnio da humanidade, por estes dias responderia - "... um eterno recreio", ou mais apropriadamente ao dia de hoje, "... um eterno carnaval".
"Vai passar "- Chico Buarque de Holanda
Bom, e por que não acontece? ... por medo!
Vai passar?
1) Medo de irrelevância.
- Vai passar, legal! Mas vou desfilar, ou não?
- São milhares de pessoas, você é apenas mais um!
- Mas eu, sou eu! Também tenho direito a desfilar na frente!
- Qual é o problema?
- Ele quer ter protagonismo, que ir na frente do corso!
- Tudo bem, você vai para a cabeça do corso, para o carro principal!
2) Medo de relevância:
- Vai passar, legal! Mas, espera... ainda é legal?
- Não, não foi autorizado!
- Então, vou na frente de um desfile proibido?
- Foi o que você pediu!
- Não, não mereço! Quero passar despercebido...
Na relação que estabelecemos com os outros, o que sobressai é o medo:
- Quando a situação é boa, sobressai o medo de não ser notado.
- Quando a situação é má, sobressai o medo de ser notado.
O apogeu de alegria não acontece quando há apenas uma alegria individual, acontecerá quando toda a comunidade acreditar que já não tem razão para ter medo de coisa alguma.
O raciocínio humano é profundamente engraçado!
Quando se trata de ser vencedor da lotaria, o milhão de perdedores não interessa. O próprio reclamará o direito a ser vencedor. Mas se for uma maleita rara, que atinge um em cada milhão, tudo se inverte.
A vontade de pertencer ao grupo dominante, a vontade que o indivíduo tem de se destacar, é tão forte, que tolda qualquer raciocínio objectivo.
O indivíduo que de manhã saúda efusivamente o ditador, com uma mudança de regime ao meio-dia, tenderá a compensar a atitude com uma efusiva repulsa ao final da tarde.
Em 1989, na antiga RDA, meses antes de cair o Muro de Berlim, o regime anunciava votações de 98.85% nos candidatos comunistas. Menos de um ano depois, em 1990, o partido comunista obteve menos de 17% nas primeiras "eleições livres".
Mais perto, num congresso em Matosinhos, José Sócrates teve em 2011 uma reeleição no PS com 93,3% dos votos, pouco antes de perder as eleições nacionais com 24% dos lugares.
Só quem nunca esteve em assembleias, é que não percebe a dificuldade de ser o único com o braço no ar... Ter razão é um sério inconveniente, quando a maioria erra por sistema.
Porque a razão da maioria, é uma razão em si mesma, mesmo sendo absurda.
Liberdade é ausência de medo.
Os grupos encontram a sua cola numa lógica canina de fidelidade.
A ausência de medo, é aí um inconveniente.
Num grupo, um membro deve ter medo de estar isolado. A lógica dos grupos é desenvolver uma corte de fidelidade cega. Quem repele a fidelidade é uma aberração isolada.
As ideias... as ideias são apenas uma desculpa para colar o grupo inicialmente. Uma vez estabelecida a hierarquia da liderança, as ideias passam a ser as da liderança, as dos líderes, e tudo o resto desvanece.
Para uma eterna luta de ideias, estas precisam de adeptos racionais, que não as descartem à primeira mudança de clima. Por isso, todas as ideias, que visam apenas fortalecer a lógica de grupo, e que vão desde perseguição, terror, horror, engano, falsidade, aproveitamento, exploração, exclusão, etc... continuam a exibir o seu pragmatismo eficiente, e a impor um medo subjacente.
Recreio?
As crianças querem brincar desde que haja um pai que assegure a segurança.
E por isso é tão fácil fazer passar os ditadores como pais da nação.
1) Medo de irrelevância.
- Vai passar, legal! Mas vou desfilar, ou não?
- São milhares de pessoas, você é apenas mais um!
- Mas eu, sou eu! Também tenho direito a desfilar na frente!
- Qual é o problema?
- Ele quer ter protagonismo, que ir na frente do corso!
- Tudo bem, você vai para a cabeça do corso, para o carro principal!
2) Medo de relevância:
- Vai passar, legal! Mas, espera... ainda é legal?
- Não, não foi autorizado!
- Então, vou na frente de um desfile proibido?
- Foi o que você pediu!
- Não, não mereço! Quero passar despercebido...
Na relação que estabelecemos com os outros, o que sobressai é o medo:
- Quando a situação é boa, sobressai o medo de não ser notado.
- Quando a situação é má, sobressai o medo de ser notado.
O apogeu de alegria não acontece quando há apenas uma alegria individual, acontecerá quando toda a comunidade acreditar que já não tem razão para ter medo de coisa alguma.
O raciocínio humano é profundamente engraçado!
Quando se trata de ser vencedor da lotaria, o milhão de perdedores não interessa. O próprio reclamará o direito a ser vencedor. Mas se for uma maleita rara, que atinge um em cada milhão, tudo se inverte.
A vontade de pertencer ao grupo dominante, a vontade que o indivíduo tem de se destacar, é tão forte, que tolda qualquer raciocínio objectivo.
O indivíduo que de manhã saúda efusivamente o ditador, com uma mudança de regime ao meio-dia, tenderá a compensar a atitude com uma efusiva repulsa ao final da tarde.
Em 1989, na antiga RDA, meses antes de cair o Muro de Berlim, o regime anunciava votações de 98.85% nos candidatos comunistas. Menos de um ano depois, em 1990, o partido comunista obteve menos de 17% nas primeiras "eleições livres".
Mais perto, num congresso em Matosinhos, José Sócrates teve em 2011 uma reeleição no PS com 93,3% dos votos, pouco antes de perder as eleições nacionais com 24% dos lugares.
Só quem nunca esteve em assembleias, é que não percebe a dificuldade de ser o único com o braço no ar... Ter razão é um sério inconveniente, quando a maioria erra por sistema.
Porque a razão da maioria, é uma razão em si mesma, mesmo sendo absurda.
Liberdade é ausência de medo.
Os grupos encontram a sua cola numa lógica canina de fidelidade.
A ausência de medo, é aí um inconveniente.
Num grupo, um membro deve ter medo de estar isolado. A lógica dos grupos é desenvolver uma corte de fidelidade cega. Quem repele a fidelidade é uma aberração isolada.
As ideias... as ideias são apenas uma desculpa para colar o grupo inicialmente. Uma vez estabelecida a hierarquia da liderança, as ideias passam a ser as da liderança, as dos líderes, e tudo o resto desvanece.
Para uma eterna luta de ideias, estas precisam de adeptos racionais, que não as descartem à primeira mudança de clima. Por isso, todas as ideias, que visam apenas fortalecer a lógica de grupo, e que vão desde perseguição, terror, horror, engano, falsidade, aproveitamento, exploração, exclusão, etc... continuam a exibir o seu pragmatismo eficiente, e a impor um medo subjacente.
Recreio?
As crianças querem brincar desde que haja um pai que assegure a segurança.
E por isso é tão fácil fazer passar os ditadores como pais da nação.
Re: “Só quem nunca esteve em assembleias, é que não percebe a dificuldade de ser o único com o braço no ar...”
ResponderEliminaraconteceu-me isso à pouco numa AGC aos quais previamente informei por carta que estava o condomínio em vias de insolvabilidade, e que tinham que eleger outro primeiro ministro, preferem ir à falência que questionar o chefe em exercício das suas funções, Hitler é um bom exemplo, trabalhei em várias empresas, sarls ou familial o esquema é igual, podem ir à falência que ninguém se atreve a denunciar um problema ou ladrão, aliás como todos andam a roubar algo não podiam (eu pude e foi despedido rapidamente por não alinhar nas jogadas sujas) a espécie humana não tem futuro, se auto extinguirá porque não tem capacidade individual na sua maioria.
As TV’s temáticas em principio iriam acabar com hegemonias criaram uma alienação colectiva por visto que se escolha uma como modelo e refugio, sendo o ser humano cópia de cópia e mistura de criador com criatura criada pucos terão parte do criador e muitos do criado seu servo.
Cumprimentos
José Manuel
Exacto.
EliminarComo o esquema de base é a corrupção, as pessoas acabam por alinhar nessa patranha, e depois já se sentem meio cúmplices do que se passa. Além disso, como investiram nessa corrupção, fechando os olhos a tanta coisa, ou recebendo uma pequena vantagem, preferem não apostar numa mudança, porque lhes parece que isso pode ser pior.
Ou pior, acham que numa circunstância corrupta, o melhor é estarem com um chefe que seja bom nessa modalidade... porque se ficarem com um "anjinho" arriscam a ficar pior.
Assim é natural apostarem num crápula, pensando que ao menos é um crápula da casa, que os protege dos crápulas exteriores! Esquecem naturalmente que estão todos a favorecer, e a eleger, justamente crápulas. Não há diferenças entre assembleias de condomínio, concelhias ou distritais de partidos, sindicatos, etc...
Enquanto não for estimulada uma sociedade de indivíduos intransigentes com aberrações, tudo tende para essa impassividade de julgar que o problema não é seu - porque não é só seu!
É muito difícil encontrar pessoas livres, José Manuel.
Mais difícil ainda é encontrar pessoas que apreciem que os outros sejam livres e não sejam fiéis a si, nem a ninguém!
Abraços!