sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Méee (4) Ecce Echelon

Houve Julian Assange, houve Edward Snowden... mas então, e Carlos Coelho?
Para quem não se lembra do eurodeputado do PSD, deixamos aqui a sua importante iniciativa de divulgar o 112 como número de emergência europeu:

Quem observar o vídeo, pode reparar no que é dito (no instante 1:09)
No anúncio, diz-se que ligar para o 112 "funciona sem rede".
Segundo Carlos Coelho, a existência de rede é apenas um detalhe sem importância, e quando se trata de "chamadas de emergência", podemos ficar descansados, que estamos sempre ligados! Mais um pouco, e Carlos Coelho diria que nem era preciso bateria ou até telemóvel.
Qualquer desmistificador de serviço (dos muitos comentadores empregados pelas televisões, ou seja, um moço de recados para acalmar o povo), diria que se trata de um lapsus linguae, e o que se deverá entender é que o sistema de emergência funciona usando outras redes... mas não é isso que é dito! 

Porém, Carlos Coelho vai mais longe nesta questão do 112... lembrando que a 11 de Fevereiro (ou seja, 11/2) se celebra o "Dia Europeu do 112":

Quererá pois Carlos Coelho sugerir que a 11 de Setembro se comemora o "Dia Americano do 911?"
Não parecerá "politicamente incorrecto" usar a figuração do 11/2 na Europa, quando nos EUA o número de emergência 911 se liga directamente ao atentado de 11 de Setembro de 2001?

A coisa poderia ficar por aqui, e seria fácil criticar Carlos Coelho pela falta de bom senso político.
Só que Carlos Coelho não está propriamente desligado deste assunto...

Foi ele que chefiou a equipa da Comissão Europeia que investigou o programa ECHELON, onde os serviços secretos de Sua Majestade (UK, Canada, Australia, Nova Zelândia), se coordenavam com os serviços secretos da pródiga ex-colónia (EUA), para controlar todas as comunicações internacionais. 

Hoje em dia já poucos se lembram do ECHELON, e fez-se de conta que Assange ou Snowden vieram depois dar novidades... que praticamente estavam já todas escarrapachadas no relatório da Comissão chefiada por Carlos Coelho.

O relatório sobre o ECHELON é aprovado no Parlamento Europeu quando?   
- No dia 5 de Setembro de 2001, ou seja, menos de uma semana antes do 9/11.

Conforme Carlos Coelho se lamenta (texto citado em baixo), se tudo estava pronto a 5 de Setembro de 2001 para divulgar publicamente o relatório - que culpabilizaria o ECHELON de ser um efectivo esquema dos EUA espiarem o mundo inteiro, inclusive os aliados europeus. Porém, a burocracia do Parlamento Europeu achou que seria altamente desapropriado levantar essa acusação na semana seguinte, dado o clima de terror instalado a 11 de Setembro.

Portanto, o relatório sobre o ECHELON realizado pela comissão de Carlos Coelho parece que só voltou a ser mencionado em 2014, conforme se pode ver no texto assinado pelo próprio... mesmo assim um texto que passou completamente submerso e fora de qualquer menção em noticiários, principais ou secundários.
Conforme salienta Carlos Coelho, se em 2001 o controlo "já estava como estava", passados 15 anos só é de esperar que esteja muito "pior", dados os avanços tecnológicos.
Portanto, podemos ter todas as comentadeiras televisivas a fazer o "méee..." habitual, acreditando que os botões dos aparelhos (de que não entendem patavina) só fazem aquilo que mandamos fazer.
Saberão agora que o FireChat permite o envio de mensagens, mesmo quando são desligados os servidores de internet, algo que estariam antes prontos a classificar como impossível. Da mesma forma dirão que o telemóvel emitir sem rede é coisa de lunáticos de "teorias de conspiração", e enquanto moços de recados, estão assim prontos a aviar os fregueses, orgulhosos do seu papel ridículo no sistema, só por estarem dentro do balcão.

Porém, convém não esquecer que é ditado antigo dizer-se que "as paredes têm ouvidos", e nada há de novo nesta vontade de espiolhar, e na capacidade de o fazer, acima do que a população tem conhecimento. Só que uma coisa é ter ouvidos, outra coisa é ter cabeça para distinguir o ruído da melodia, e isso não se aprende mais pela evolução da tecnologia.

Segue o discurso de Carlos Coelho, publicado a 5 de Novembro de 2014:

_______________________________________________________________________
The Echelon Affair: A History of the Investigation and its significance today

I would like to Congratulate and thank the European Parliament Research Service for organising this event and for allowing me to be surrounded at this table with good friends.
There are times when the European Parliament is able to be strong enough and united enough to stand up for european values and to be ahead and not behind.
We asked ourselves a lot of questions:
  • 1- After the falling down of the Berlin wall and the end of the cold war, could the USA switch the use of IT Intelligence Network from military targets to economy spying?
  • 2- Could our allies be spying on us, undermining fair trade and honest competition and collecting a huge amount of data targeting innocent citizens, despising all the core values on Privacy and Human Rights? 
  • 3- Could a member of EU (UK) be an active part on a spy network against other European countries?
And the answer to all these question was yes.

The temporary committee worked hard and well.
We had a good team of members, a very good rapporteur - Gerhard Schmid, who was a Vice-President of the EP at the time, an experient staff led by David Lowe and the cooperation of all EP services such as STOA, that provided an excellent Study, in which we can corroborate the expertise and knowledge of Mr Duncan Cambel.

The Study in questioned has showed us that the Echelon Network (USA, UK, Canada, Australia, New Zealand) were intercepting:
  • - Telephone calls (including mobiles)
  • - fax communications
  • - e-mail messages
  • - radio communications
  • - satellite communications
  • - submarine cables
  • - optic fibre cables
According to William Sandeman (former Director of NSA and former Deputy-Director of CIA) we know that, in 1992, 22 years ago, Echelon services were able to intercept 1 million of communications each 30 minutes, that means 48 million each day!

With the evolution of technology we can imagine how many communications they can intercept nowadays.

What is happening now it is not different from what we discovered at the time. What has changed is no such more that the advance of technology, the scale of interception and the huge amount of data collected ....

Let me share 3 short stories about our temporary committee on Echelon:

1- Not all americans tried to deny what was happening:

James Woolsey, former Director of CIA, whom we met in Washington, wrote in The Wall Street Journal on 17 March 2000, and I quote "Yes, my continental European friends, we have spied on you. And it's true that we use computers to sort through data by using keywords".
And when we met him personally, he confirmed everything he had written before.

2- USA at the last time decided not to speak /receive the ECHELON European Parliament Delegation.

On the exactly same day we were departing Brussels on our way to the United States, we received the information that all the scheduled meetings had been cancelled:
  • - CIA Director
  • - NSA Director
  • - State Department
  • - Senate Select Committee on Intelligence
  • - Department of Justice
  • - Fort Meade
  • - National Intelligence Council Department of Defence
  • - Secretary for Trade Development
  • - Advocacy Centre
Meetings scheduled by the Clinton Administration were suddenly cancelled by the new Bush Administration. 
It was impossible not to conclude that they had a lot to hide...
On such a short notice, already in the States, one of the few meetings we could arrange was in Congress, at the House Permanent Select Committee on Intelligence, with Porter Goss. He was the Chairman of the special Committee assuring the control and overview of Intelligence Services. Curiously some years later the same Porter Goss would be CIA Director.

3-  Echelon Report was never published by EP

Neither the 44 Recommendation approved by the plenary. All the information is available somewhere inside the EP archives and websites. But the EP's Bureau 5 to 5 votes did not allow the publication on the Report, as it was regularly the procedure at the time.
One single and weak explanation: Our report was approved in Strasbourg 5th September 2001 one week before the terrorist attack.

EP Bureau, which took its decision after 9/11 probably decided not to hurt our american friends and ironically the first time EP gives publicity for our work is now with this initiative from the EP that I welcome and thank specially to Iolanda Mombelli and Franco Piodi.

We should not deny the facts and hide our work on behalf of our transatlantic friendship.
And the facts prove that our silence did not help to make things better.
The reality we are facing now is much worse the one we faced 14 years ago.

Thank you very much!



sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A cerca de Mesquinhos e Sacanas (2) Doce lar anjinhas

A propósito do comentário de João Ribeiro no texto anterior sobre "Mesquinhos e Sacanas", que trata da polémica sobre a origem das laranjas em Portugal, fui encontrar um esclarecimento dado por José Tavares de Macedo, em 1855. Ao bom jeito sacaninha do mesquinho, vemos que a questão passou até por distinguir laranjas "doces", de laranjas "amargas"... 
Mesmo assim, José Tavares de Macedo encontra documentação da Idade Média (1330) que mostraria o conhecimento de laranjas doces, então descritas como "limões doces como açúcar"... e se questionarmos como era conhecido o açúcar, pois isso é ainda outra história amarga, que mostra que não houve limites à imposição de restrições à humanidade, por parte de sacanas mesquinhos. 
Em particular, cita o Roteiro de Vasco da Gama, dizendo que chegados a Mombaça em 1498 teriam sido presenteados com duas almadias... "que trouxeram muitas laranjas, muito boas, melhores que as de Portugal".

Algo que parece razoavelmente inacreditável seria fazer crer nos Séculos XVIII e XIX que não haveria laranjeiras em Portugal, e que só começariam a ser cultivadas no início do Séc. XVII, havendo-as antes desde o tempo dos árabes... pelo menos!

Donde surge então esta "confusão"?
Na referida obra, publicada pela Academia de Ciências em 1885:


(pag. 123)

onde se diz a certa altura:
Foi algum tempo opinião geral, e ainda hoje é crença vulgar entre nós, que pela primeira vez veio a larangeira à Europa trazida pelos Portuguezes da China a Portugal. Confirmava-se esta crença com um passo, mal entendido, das obras ineditas de Duarte Ribeiro de Macedo [1], Acha-se hoje demonstrado o erro desta persuasão. Entre os Auctores que tem tractado desta materia é Galesio, o que, quanto nos consta, mais cabalmente, e com maior exactidão a tratou [2].
Onde o comentário [1] diz o seguinte
As palavras de Duarte Ribeiro de Macedo, a que nos referimos, são as seguintes: «D. Francisco Mascarenhas trouxe a Lisboa do anno de 1635 uma larangeira que mandou vir da China a Goa, e d'ahi para o seu jardim de Xabregas, onde a plantou. Se então soubera a producção dcsta nobre planta, e a riqueza que nella franzia á sua patria, tivera razão de cuidar que fazia um grande serviço ao Reino, talvez mais util, que o que lhe fizerão os primeiros descobridores e conquistadores do Oriente.» Obras Ineditas de D. R. de M. Lisboa 1817. p. 118-119.

Estas palavras que parecem confirmar a crença vulgar, illudirão de tal forma o estimavel Auctor da Memoria sobre a Agricultura Portugueza, impressa no vol. V. das Economicas da Academia R. das Sciencias, que "escrevendo da época decorrida desde o reinado de D. Manoel até ao do Senhor D. José" julgou poder affirmar que "as laranjas.. . começarão entre nós a cultivar-te no curso desta época. D. Francisco Mascarenhas (continua o mesmo escritor) em 1635 mandou vir da China a Goa, e daqui ao seu jardim de Xabregas as primeiras arvores de espinho que entrarão na Europa".
e onde a citação [2] é apenas a referência ao "Traité du Citrus" (Georges Galesio. Paris 1829).

José Tavares de Macedo invoca mesmo escritores árabes, para mostrar que, segundo Abu Zacaria, a laranja se cultivava em território nacional no Séc. XII, concedendo apenas que nessa altura se trataria de laranja não doce.
Acresce ainda uma referência do navegador Cadamosto (explorador associado à descoberta de Cabo Verde), que escreve uma anedota sobre a abundância de laranjas mesmo na Ilha da Madeira... tendo sido assim levadas logo no tempo da colonização.

Ora apesar deste esclarecimento ter sido dado, e bem explicado há mais de 150 anos, sem grandes margens para dúvidas, vemos que a versão que permanece ou volta a aparecer, sempre, é a mesma que existira antes - ou seja, de que as laranjas teriam vindo da China com os portugueses. 
Os sacanas são teimosos.

Nota: Tudo isto faz-me lembrar uma citação que é a atribuída a Goebbels sobre os ingleses, ou sobre a vantagem de manter uma grande mentira:

The English follow the principle that when one lies, 
it should be a big lie, and one should stick to it. 
They keep up their lies, even at the risk of looking ridiculous.

Ora, conforme temos visto desde o 11 de Setembro de 2001, quanto maior é a dimensão de uma mentira, mais dificilmente as pessoas acreditam que pode haver uma conspiração tão grande que sustenha tais mentiras, e portanto, por uma simples questão de facilidade de vivência, é mais cómodo assumir que se trata de verdade.
Em 2003 acreditavam de igual modo nas versões oficiais do 9/11, e no pretexto da Invasão do Iraque, pelas armas de destruição massiva. Passados 13 anos, aceitam as dúvidas sobre as armas iraquianas, até porque o assunto chegou a inquérito condenatório, e a conspiração ficou oficial, mas nem se admite qualquer teoria de conspiração sobre o 9/11, porque não é oficial.
Ou seja, não se aprende nada! Os mesmos continuam a acreditar apenas no que é oficial, seja num sentido de conspiração ou num sentido oposto. 
Há muitíssimo mais provas de que a versão oficial do 9/11 é um total embuste, muito mais contundentes e claras quando comparadas com as armas iraquianas... mas quando se alinha pelo coro noticioso das "telenovelas das 20h00", a que chamam "telejornais", apenas interessa o coiro oficializado. 

sábado, 13 de agosto de 2016

Língua d'Ó (A2)

Letra A (continuação)

01. aparecer ... a parecer (ver parecer: para ser) [parece que aparece, só para contar]
02. aparentar ... a parente (ver parente: par entes) [par de seres]
03. apartar ... a partir (ver partir) [separar em partes] apartes: à partes
04. apertar ... aperto: a perto (ver perto) [ficar demasiado perto]
05. apenas ... apenas ser: a pé nascer (mínimo)
06. apesar ... a pesar (ver pesar) [pesando com isso]
07. aplicar ... aplica: a pelica (usar uma pele) (ver duplica) [usar duas peles]
08. apoiar ... apoio: a poio (ver pôr) [há a poia, mas também há o poio]
09. apontar ... aponta: a ponta (ver ponta) [no sentido da ponta]
10. apostar ... aposta: a posta (ver pôr) [a parte posta... como aposta]
11. apreciar ... a pré cear (ver cear) [antes de comer a ceia]
12. aprender ... a prender (ver prender) [prender a atenção]
13. apresentar ... apresente: a presente (ver presente: pré sente) [a presentear]
14. apressar ... apressa: a pressa (ver pressa)
15. apurar ... apuro: a puro (ver puro) [ficar puro] (apuros: entre puros)
16. aquecer ... a que ser [no gelo, aquecer para ser, para não morrer]
17. aqui ... a qui (cá), aquilo [aqui-lo: trazer-lo aqui]
18. aquém ... a quem? (ver quem) [pergunta retórica, no sentido da resposta: ninguém]
19. arranjar ... a ranger (ver ranger) [mudar com algum ranger de dentes]
20. arrasar ... arraso: a raso (ver raso) deixo no solo (rás) [notando que sol é Rá]
21. arrastar ... arrasto: a rasto (ver rasto) pelo solo (rás) deixa rasto
22. arre ... a ré (ver rasto) exclamação "para trás" [arre burro de Mação... carregado de feijão]
23. arredar ... a ré dar : dar lugar atrás (ré) [fui arredado: fui à ré dado]
24. arrumar ... a rumar (ver rumar) [dar rumo às coisas]
25. assar ... assara: a sara (ver sarar) [com sentido de saber (ou sabor)]
26. assim ... a sim (ver sim) [com sentido de sim]
27. assentar ... a sentar (ver sentar
28. assustar ... assusto: a susto (ver suster
29. atacar ... ataco: a taco (dar com taco)... amassar (usar a maça, para fazer massa)
30. atentar ... atento: a tento (ver tentar)... atenção (a tensão)
31. atender ... a tender (ver tender) [que pode tender para um pedido]
32. aterrar ... aterra: a terra (ver terra) ... aterrador: a terra dor [dor de enterrar]
33. atingir ... atinge: a tinge (ver tingir) tinta ou sangue que tinge
34. atirar ... a tira (ver tirar, retirar) visando tirar ou retirar
35. atrair ... a trair (ver trair: com outra ir)
36. atrás ... a trás (ver trás) na traseira, com parte moral: a traz : traz quem fica atrás
37. atravessar ... através (ver trave, entrave) passar uma trave que barra o caminho
38. aura ... ao Rá (Sol), aurora : aura hora (ora ao Sol)
39. autor ... ao Tor (Touro, Thor)
40. autorizar ... autorizo - pelo autor do equilíbrio (iso) [em oposto: avacalhar]
41. auxiliar ... ao si liar (ligar) [auxilia, ligando a si]
42. avaliar ... avalia: a valia (ver valer) mais valia - mais que vá ligar (ver ligar)
43. avançar ... avancei: a vã sei; avanço: a vã sou [?? no sentido... vã glória: vangloriar]
44. avariar ... a variar (ver vários) [?? problemas com o que varia do normal]
45. ave ... a vê (ver ver)
46. avisar ... a visar (ver visar) ... avisei:  a vi, sei!
47. avós ... a voz (ver vós, voz) ... a vós, a voz dos avós.
48. avivar ... aviva: a viva (ver viver
49. azeite ... a sei te [??o azeite fica por cima, ou unção?]
50. azul ... a sul [sul meridional é sol ao meio-dia; e à noite, pelo azul se pode saber o sul]

Bom, a tarefa continua... haveria muitos outros óbvios, e facilmente se percebe uma separação "a-qualquer-coisa", ainda que possam funcionar apenas nalgumas conjugações verbais (uma formatação gramatical deverá ter sido posterior). 
Os menos óbvios têm as dúvidas e especulações inerentes. 
Por exemplo, já falei bastante sobre Anas e Anos, aqui deixaria apenas isto:

51. ana, anais ... a nas(cer), renascer, periódico (anas = luas) (ver nascer)
52. ano, anus ... a no(vo), a nós (ver ), a nus (ver )
      [ano solar, Ianus, por contraposição a ana, lunar, Diana, o período de 28 dias]
      [tempo solar, Dia, Rá(budo) por contraposição a Ré(gras) lunar]

Havendo muito mais, perder-se-ia mais tempo só a falar de anos e anas. 
Interessa que palavras com "nas" (cuidado ao ler rapidamente) estão ligadas ao nascimento, pelo menos todas as que usam "nas" como prefixo.
Continuo razoavelmente convicto que a língua é um produto feminino, feito por alguma genial matrona, ou bela donzela, de uma sociedade matriarcal. Afinal, não seria o cuidado materno a definir de início a linguagem da sua prole?
Essa sociedade matriarcal seria essencialmente tribal, e terá perdido, ou cedido voluntariamente, o seu poder aos homens, aquando da "revolução neolítica", pela sedentarização agrícola.
O nome que nos ficou: Amazonas... ora, aí estavam as mázonas
A mázona principal, talvez Semiramis, terá cedido o poder a Ninus, a meninos, provavelmente filhos, e não ao pretenso marido... de uma amazona. A última zona má, ou a má zona, amazona, teria sido a Cítia (parte da Rússia actual), que terá permanecido em "estado cítio", pois Tomiris ainda fez Ciro perder a cabeça.

Passando a sociedades agrícolas, patriarcais, o tempo passou a ser marcado não pela Ana (lunar), mas sim pelo Ano (solar). Os sumérios usavam Anu como deus celestial ou solar, enquanto os egípcios chamaram Rá. Os romanos teriam Jupiter (Ju-pater) ou Jove (chove), e os gregos Dia ou Zeus (céus), como divindade principal.
Na nossa língua parecem ter ficado registadas as variantes, já mencionadas. Este pequeno discurso para salientar uma observação constante. Se temos o "Sol" no céu, temos também o "solo" na terra. Se entendermos "hora" ou "ora" como "o Rá", o Sol egípcio, podemos entender "raso" (ou "rasto") como Rá só por terra. Ou ainda um Anu solar, com um anular: A nú.
Onde uma coisa liga a outra? - Na seca, num deserto, onde o sol queima o solo, arrasa colheitas, deixando a terra a nú.

É claro que, encontrando na língua portuguesa significado para sílabas básicas, o resto poderiam ser concatenações naturais e outras meras coincidências forçadas. 
No entanto, as concatenações naturais não me parecem ter origem latina, embora bebam algumas vezes da mesma fonte (na minha opinião, mais em sentido inverso), e as outras incidências são demasiadas para serem só coincidências. Mas haverá certamente coincidências, desfeitas no passado, para se reunirem no futuro.
Apenas para terminar, completando 60 palavras (120 na letra A), ficam oito bem mais dúbias:

53. analisar ... anal (periódica) iso (igualdade, una pela semelhança)
54. antre ... forma antiga de "entre" (em três) - realçando "an" como "em"
55. antro ... an (em) tro (outro), em outros (ver outro) [entre outros]
56. anel ... em elo (ver elo)
57. ar ... fonema base, vago como o ar (simples movimento ou existência)
58. arder ... ardeu: ar deu, soprou para fazer fogo [ardeu: ar que se lhe deu]
59. arte ... ar te : algo para ti, como em artigo: ar tigo (que te tem como foco).
60. árvore ... arvorar : ar vorar (alimentar de ar)


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Língua d'Ó (A1)

Letra A
(a: prefixo com o mesmo sentido da preposição a)

01. abaixar ... a baixar (ver baixam: vai chão)
02. abordar ... a bordar (ver borda, bordo)
03. acabar ... a cabo (ver cabo, cavo)
04. aceder ... a ceder (ver ceder: se der)
05. aceitar ... a ceita (ver seita)
06. acidente ... a cedente (ver ceder: se der)
06. acima ... a cima (ver cima)
07. aconselhar ... a conselho (ver conselho: com selho, com selo)
08. acontecer ... a com tecer (ver tecer: te ser)
09. acorda ... a corda  (ver corda)
10. acreditar ... a creditar (ver creditar: crê ditar, cré ditar)
11. acrescer ... a crescer (ver crescer: crês ser)
12. adequar ... ad equar, há-de ecoar (ver ecoar: eco - o mesmo)
13. adorar ... ad orar, há de orar (ver orar, horar)
14. adormecer ... a dorme ser (ver dormir)
15. afazer ... a fazer (ver fazer)
16. afectar ... a fé estar, a fé tocar
17. afiar ... a fiar (ver fiar)
18. afinar ... a fino (ver fino)
19. afirmar ... a firmar (ver firmar, firme)
20. agarrar ... a garra (ver garra)
21. agora ... a-ora, à hora
22. agradar ... a gradar, (bom grado, ver graça)
23. aguardar ... a guardar (ver guardar)
24. ali ... a li, a vi
25. aliar ... a ligar (ver ligar)
26. alinhar ... a linha (ver linha)
27. amanhã ... a manhã (ver manhã)
28. amanhar ... a manha (ver manha)
29. amigo ... a-migo, migo: foca em mim.
30. amostra ... a mostra (ver mostra)

Incluo aqui apenas 30 exemplos que vão do "AB" ao "AM", podendo dar algumas explicações adicionais:
  • Abaixam é claro, e "baixam" parece ser um "vai chão", onde o chão condiz com ir baixo. 
  • Abordar, é pelo bordo, pelas bordas. Abordar alguém não é impetuoso. Uma abordagem naval é também por uma das bordas, dos lados, do navio.
  • Acabar é o mesmo que "levar a cabo", terminar. Numa tarefa rural pode ser entendido "acabei" reduzindo "a cavei".
  • Aceder, para ver se cede. Ceder no sentido "se der", ou seja, se algo "se der" de si, então vai "ceder".
  • Aceitar, no sentido de ceder à "ceita". É um aceitar forçado por uma "ceita".
  • Acidente, pelo latim "ad cadere", um certo há-de cair, ou há-de ceder.
  • Acima, em cima, sendo "cima" mais complicado...
  • Aconselhar, onde o conselho pode ser visto "com selho". Este "selho" ou "senho" liga-se a "sé", ao centro, ou ainda à "senha" ou "selo", à chancela.
  • Acontecer, onde o "com tecer" resulta de "tecer" algo. Acontecido será algo tecido, urdido, e não teria o significado casual, mas sim de um complot.
  • Acordar, ou concordar, vêm de uma união como numa corda. (ver acordar)
  • Acreditar, onde crédito é dito pela cré (pelo giz, escrito), ou pelo crê (pela fé, pelo fiar).
  • Acrescer, onde foneticamente o crescer é um "crês ser", no sentido de que crês ou queres que será. A criança "crê ser" homem.
  • Adequar, no sentido de ficar igual, ecoar como num eco. O prefixo "equo" resultará deste "eco".
  • Adorar, onde o prefixo latim "ad" (em direcção) é um "há-de", neste caso "orar", relacionado com oração religiosa, às Hora, ao Dia (Zeus, Jove, Rá).
  • Adormecer, no sentido dormir, "a dor me ir", ou "a dor me ser", como maneira dormente de evitar a dor.
  • Afazer, onde "a fazer" se liga "a faz ser" (transforma em existir).
  • Afectar, o "c" pode mudar o sentido de a-fé-tar, para a-fé-tocar. O que "afecta" será o que "a fé toca". 
  • Afiar ou Afinar, no sentido de fazer uma ponta fina como um fio.
  • Afirmar, tornando firme, como fala de um falo que é firme antes de (v)irme.
  • Agarra, como a garra, uma garra que prende.
  • Agora, em castelhano ahora, como em a-hora, a-ora, à hora (tempo, o-Rá: o Sol).
  • Agradar, a "gradar", como em "bom grado".
  • Aguardar, a "guardar", ou "aguar-dar", guardando água ou gado.
  • Ali, no sentido de "a li", a um sítio que li, onde entendi o que vi.
  • Aliar, ter como "aliado", onde "liado" é redução de ligado.
  • Alinhar, na "linha", onde li a linha, que vi como vinha.
  • Amanhã, pois a manhã define o próximo início de dia.
  • Amanhar, usar uma manha, uma técnica.
  • Amostra, objecto que mostra.
Outros exemplos... mais dúbios, e não derivando apenas da preposição "a":

31. abrir ... aferir ... a ferir (ferir é abrir)
32. aberto ... a ver tu (tudo)
33. abrigar ... a briga (ver briga, citânia) abrigo na citânia
34. abundar ... a bom dar
35. aço ... asso - (aço é cozinhado no forno, tal como o assado) asso temperado / aço temperado
36. acção ... há que são: existem os que são, os que agem
37. acham ... a chão (ver chão) encontrar o que está no chão
38. adição ... há-de içam - juntar para içar algo
39. advertir ... há-de verter (ver verter: ver ter)
40. agir ... a gir(ar), giro, que roda sobre mesmo
41. agudo, agulha ... a "gu" (ver quo, gume, cume
42. ainda ... a ida (algo na ida)
43. ajudar ... a Ju dar (Ju - chu, chuva; Ju: Jupiter - Ju pater) dar a Jupiter.
44. ala ... a lá (alar significa também içar, ter asas, alado)
45. alcançar ... ale cansar (ver cansar) ale (ir) até cansar
46. alegria ... ale cria (ver crer) (?)
47. além ... al-em : a lá (após) em (aqui).
48. algo ... ale "gu" (ver gume) alego algo
49. alguém ... al-quem (ver quem) a lá de quem.
50. alimenta ... ali me entra (?)
51. alterar ... al-tirar (tirar algo, ver tirar)
52. alto ... além (al) de ti (tu).
53. amor ... a mor (a maior)
54. amo, ama ... ama (a má), amo (a mó, que moi) (?)
55. amarelo ... amar elo (ver elo)
56. amarrar ... a marrar, a me agarrar (ver garra)
57. ambiente ... ambi-ente, ambos (em bi) entes (ver ente: em ti)
58. ambíguo ... ambi-quo, ambos (em bi) "gu" (ver quo, cume, gume)
59. ambos ... em vós
60. ameaçar ... a me assar (ameaça de assar alguém)

Como é facilmente observável, esta tarefa é "enorme", prontamente criticável, e dificilmente justificável... mas pessoalmente muito interessante. Estão aqui alguns exemplos que encontrei, usando uma lista de palavras, obviamente muito incompleta... nem me interessa que seja completamente exaustiva, sob pena de perder qualquer ideia de a completar. 
Quem quiser experimentar, contribuir, ou criticar, esteja à vontade!

Etimologias vindas do latim ou do grego... todos podemos consultar etimologias online
Dou um exemplo com ameaçar, que supostamente virá do latim minacia (ameaça). E daí? 
Não será mais interessante ler "ameaçar" como "a me assar"?
Afinal no tempo de gregos e romanos, poderia não haver perigo canibalesco... mas e antes?
Ok. Depois pode ser criticado ler "ameaça" como "a me assa", mas "a ti assa" não ter ligação... só que não é bem assim, temos "atiçar" como redução de "a ti assar".
Isto já entra na filosofia... se for para me assar é "ameaçar", se for para te assar é só "atiçar"!
Que tal?
Em resumo, para malta "séria" que não "se ria", nunca seria nada. 
Por isso, este Língua d'Ó, conforme falado nesse "estado da arte" é um certo linguado, que não é nenhum "french kiss", e tendo aroma, ou a Roma, do passado, usará mais aromas do futuro, que não saem de nenhuma etimologia... são apenas "espíritos santos de orelha", que não habitam em livros.
Livra... não prendem um livre em livro!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A cerca de Mesquinhos e Sacanas

Indo directamente ao assunto, diz-nos Pinho Leal, acerca da freguesia de Mesquinhata (Baião):
O nome d'esta freguesia provém de "mesquinhade" - significa - povoação dos servos adstritos a certa propriedade (meskinos) que eram com razão, considerados infelizes pela sua triste posição na sociedade, que pouco se distinguia dos escravos. 
É a palavra árabe masquinat, que significa, lugar da pobreza. Deriva-se do verbo sácana, que na oitava conjugação, significa - ser pobre, indigente, necessitado, etc. 
O senhor da mesquinhata, quando a vendia, ou trocava, passava-a ao novo possuidor com os seus meskinos, ou servos de gleba. Ainda havia outra barbaridade na legislação gothica - a condição de meskino era hereditária! O filho do meskino, também o era, e todos os seus descendentes. 
Na Europa setentrional ainda há d'estes servos de gleba; mas o actual imperador da Rússia, areou contra os senhores, e tem quasi aniquilado esta bárbara e anacrónica instituição. 
Notemos porém que os nossos primeiros reis, e particularmente D. Afonso I, D. Sancho I, D. Afonso III, e mais do que nenhum, o grande rei D. Diniz, trataram de quebrar os grilhões dos meskinos, e quarctar a prepotência e extorsões dos grandes. 
Depois de D. Diniz, D. Pedro I, acabou com quasi todas as mesquinhatas, e D. João II as aboliu, de facto e direito, por uma vez.

citando o 5º Volume do Portugal Antigo e Moderno (edição de 1874, pág. 199).
Aliás esclarece mesmo com a definição:
MESKINO: portuguez antigo - o servo que trabalhava nas herdades do senhor donatário. Era synonimo de infeliz. Hoje diz-se mesquinho. É a palavra árabe masquino - pobre, mísero, indigente, etc. Deriva-se do verbo sácana — ser pobre, indigente, etc. 
Portanto, mesquinhos e sacanas eram afinal vítimas de proprietários, esses sim, claramente sacanas e mesquinhos... pelo menos até D. João II ter acabado com essa legalidade mesquinha e sacana
Interessante, a evolução de significado aplicar-se apropriadamente agora aos infelizes de alma que fazem uso da exploração humana.

Mesquinhata
Interessou-me o brasão da freguesia de Mesquinhata...
Freguesia de Mesquinhata - que, devido à mesquinhez de diversos sacanas,
foi integrada na aberração que definiu o agrupamento de antigas freguesias. 
Pinho Leal nada diz sobre o brasão de Mesquinhata, mas refere:
A João Paes, deu D. Afonso V, brazão d'armas, em 20 de abril de 1476 —  são — em campo azul, 9 laranjas, veiradas e coutra-veiradas de púrpura e ouro, em 3 palas  — elmo de aço aberto, e timbre, um pavão da sua côr. 
Laranjas
Ora, o acima escrito deixei com rascunho em 13 de Março de 2016... ou seja, há alguns meses atrás.
Não completei, muito provavelmente por falta de tempo.
Agora, fui olhar para os diversos rascunhos, e ficou-me a pergunta, por que razão interessava aquele brasão?
Já nem me lembrava, mas afinal era simples.
Era o velho problema das laranjas.
Afinal, se é suposto "as laranjas terem chegado à Europa no Séc. XVI, depois dos portugueses as terem ido buscar à China", conforme se pretende fazer passar, e ensinar; como é que D. Afonso V dá um brasão com 9 "laranjas", em 1476, no Séc. XV, quarenta anos antes da suposta chegada à China?

Conforme acabei também por fazer um postal sobre o Milho, ainda indaguei topónimos antigos com referências a "laranjas", mas sem grande sucesso.
De qualquer forma, e sem outra maior relevância, fica aqui o apontamento.