... e se, de repente, se encontrasse no meio de inscrições pré-históricas, desenhos de barcos, aviões e outros artefactos modernos?
Foi o que aconteceu em nas cavernas de Djulirri em Arnhem Land (Australia). As pinturas aborígenes continham várias camadas, e apareciam bem desenhados, navios, cruzadores, aviões, e outras novidades típicas do início do Séc. XX.
Daryl Guse apresenta as inscrições aborígenes "mais recentes".
Coloco aqui os links para os textos na imprensa australiana (2008):
- Sidney Morning Herald (rock-art-redraws-our-history)
- http://www.archaeology.org/1101/web/aus_video.html
e vídeos associados:
- Rock Art at Arnhem Land (youtube)
- http://www.smh.com.au/interactive/2008/national/indigenous-rock-art/index.html
De acordo com Paul Taçon, um dos arqueólogos que exploraram o local, tratar-se-ia de uma caverna que servia de "santuário histórico", apresentando ilustrações significativas de contactos marítimos, ao longo dos últimos séculos, que se sobrepunham a muitas outras camadas mais antigas, estimadas até 15 000 anos.
Em particular, Taçon afirma que os contactos marítimos com o Sudoeste Asiático seriam anteriores à chegada dos Europeus. Um dos barcos europeus está numa camada antiga, e o desenho terá sido considerado anterior a 1650, por datação carbono-14 dos restos de uma serpente que estava em camada superior.
O sítio tinha sido já revelado nos anos 1970, mas ter-se-à perdido a localização até à nova expedição recente de Guse... por vezes perdem-se localizações, mesmo em tempos recentes.
As inscrições mais recentes, que mostram a maquinaria estrangeira do início do Séc. XX, foram feitas a giz, um mesmo giz que noutros pontos mantinha o traço abstracto, algo infantil, nas representações humanas. Taçon refere, algo surpreendido, que o local estava a 12 Km do mar, e seria uma proeza recordar em detalhe as imagens para os desenhos de tal precisão. Eu acho que bastaria que as figuras fossem copiadas de uma revista, de um livro, ou de fotografias... que já existiam à época. Os desenhos recentes mostram um conhecimento de perspectiva e realismo que está ausente das outras inscrições, que são muito mais pictóricas.
O sítio é de facto notável, e único, ao combinar todo um registo histórico milenar. Não conheço outros locais que inscrevam informação ao longo de milhares de anos. Curiosamente, a sua protecção acabará por estragar esse carácter único... ou seja, a história deixará de ser registada naquele local. A partir daqui, toda a nova inscrição é natural que seja reprimida.
O local mostra ainda que os aborígenes guardavam-se no interior, mas tinham contactos e informações costeiras. Aquilo que foi mostrado não revela contactos marítimos muito anteriores aos Europeus, não provocando embaraços históricos... ou seja, não vemos nenhum desenho de nenhum trirreme romano!
Também as datações parecem não ofender muito os registos oficiais, e os contactos anteriores com o Sudoeste Asiático não constituem propriamente nenhuma surpresa. Seria comprometedor se as datações revelassem pinturas de navios com milhares de anos, mas assim o local aparece apenas como interessante.
E, assim por acaso, num outro artigo, no "The Independent" (11/6/2011), em que Taçon fala genericamente do perigo de se perderem as gravações indígenas, vemos ilustrada esta singela caravela:
É pena que não tenhamos o comentário vídeo de Taçon ou de Guse sobre este desenho... que não aparece nos outros documentários. Será uma caravela moderna, inglesa? Ou será uma prova de que as nossas caravelas do Séc. XV andaram por ali?
Dito isto, já não me pronuncio sobre os trirremes...