domingo, 12 de novembro de 2017

O panteão e as pantominas

Na perspectiva do capitalismo em que "tudo tem um preço, basta saber qual é..." o Panteão Nacional está oferecido a 3000 euros de aluguer. Se forem 200 convidados, sairá apenas mais 15 euros a cada um, um pequeno extra que sairá mais barato do que pedir uma vinhaça razoável, num restaurante normal. Ao que parece, o preço praticado subiu para 5000 euros, mas mesmo assim, nada que tivesse incomodado muito.
A polémica surgiu este fim de semana, depois de se saber que a "feira da moda", o circo do Web Summit, tinha usado o espaço para organizar um "jantar de fundadores", nesta sexta-feira. No entanto, o espaço já tinha servido para um jantar de trabalhadores da NAV (empresa de navegação aérea), e talvez até pudesse ter servido para qualquer outra agremiação, de clubes de futebol a matraquilhos, lembrando que o túmulo do grande Eusébio apadrinharia a refeição. 


A divulgação desta notícia, e o pequeno escândalo subsequente, apanhou os actores governativos desprevenidos (talvez por inveja), no meio de uma legislação que visava arrecadar uns cobres, alugando espaços públicos "engraçados"... e pouco ligando à suposta "dignidade dos monumentos".
Quem conhece a prática nacional, sabe que quando a legislação prevê uma excepção "excepcional" ou alguma autorização "ultra-especial" (ministro ou similar), isso significa que a lei é inexistente, para a "malta certa", que obviamente arranja as autorizações.
No entanto, desta vez a indignação chegou tarde, já que o espaçado consagrado, tanto albergou o lançamento de um livro de Harry Potter, como um jantar de trabalhadores. 
Tal como o nome Sagres, tanto é sinónimo de uma cervejola, como remete ao Promontório Sacro, colocado como símbolo de partida dos descobrimentos. Tudo isso depende de considerar algo como intemporalmente sagrado, ou como consagrado ao interesse ocasional. Ora, como a república tendeu a dessacralizar tudo, e mais agora, consagrada ao interesse do capital monetário, o resultado de completo desrespeito da memória, seria expectável.

Nem interessa muito a ocorrência dar-se no meio de um circo de pantomineiros, que pouco mais fazem do que dar a cara por ideias banais, umas melhores que outras... simplesmente o seu circo está agora tanto na moda, que um jantar da mulher barbuda com trapezistas, palhaços e domadores de leões, não iria passar despercebido.

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