Há alguns paradoxos que fizeram história, e outros que simplesmente não se encontram escritos.
É definido por quem? - é indiferente, é-nos externo, e será externo a quem julga que o define, se for pensante.
É externo ao próprio, mas está dentro do Universo que o influencia... da mesma forma que o próprio se pode ver como externo ao que influencia. Estabelece-se assim uma dualidade, entre o próprio e o seu exterior, de forma inseparável.
No fundo esta relação primeva pode ser encontrada numa separação cartesiana entre o "eu" e o "não-eu", entre o observador e o observado. Esta relação não pode ser trivial, sob pena de previsibilidade total... um excessivo controlo e omnisciência do "eu" levaria a essa trivialidade.
Os paradoxos mais famosos talvez sejam os de Zenão, que têm 2500 anos... e dizem respeito à noção de inifinito, e à sua relação com o espaço e o tempo. Após discussões milenares, a reintrodução da análise infinitesimal e a sua formalização, no final do Séc. XIX, vieram colocar algum descanso nos seguidores de Heraclito... a "flecha podia mover-se", e "Aquiles poderia apanhar a tartaruga"! Não deixa de ser interessante ver regressar o problema na teoria quântica, no Efeito de Zenão Quântico, que basicamente revela que a observação sucessiva de um sistema faz com que ele não se mova. O assunto aqui não é um paradoxo físico, será mais um paradoxo cognitivo.
Um paradoxo cognitivo simples de exemplificar é o "paradoxo do mentiroso"... já que ao ler-se "Esta frase é falsa!" pode cair-se na diferença entre o conteúdo e a interpretação. Quando lê o conteúdo o receptor assume que se trata de uma verdade, e depois de a interpretar é revelado ser falsa. Portanto, se voltar a lê-la, pode usar a prévia interpretação e cairá na aparente contradição repetidamente.
Algo semelhante pode ser encontrado na frase de Sócrates - "só sei que nada sei"... pois não sabendo nada, nem isso poderia saber. Isto apenas mostra a flexibilidade da retórica, que pode simular paradoxos, misturando leitura com releitura. Na primeira leitura vamos ser informados de que o único saber de Sócrates é "nada saber", mas depois se interpretarmos, vêmos que nem essa frase Sócrates sabe... e por isso coloca-se apenas na posição de dúvida total, admitindo implicitamente que poderá saber, mas "não sabe se sabe"... Alternativamente, poderia ter dito "não sei se é verdade o que sei", mas a frase escolhida transmite ainda uma ideia de humildade, que terá ficado bem na "fotografia dos tempos".
Mais interessante é considerar o conhecimento e os seus limites.
Através do trabalho de Gödel, em 1930, ficou claro que há afirmações (proposições) que não podem ser provadas se são ou não verdade. Partindo de um número finito de verdades (axiomas que não questionamos), haverá verdades que escapam a uma prova por dedução lógica, partindo das iniciais. Baseado nos resultados de Cantor, este teorema de incompletude terminou com escolas de pensamento matemático do início do Séc. XX, de Russell e Hilbert.
O resultado foi mais "dramático" no sentido em que reduziu a pretensão do conhecimento humano e as aspirações ao infinito do que é finito. A hipótese do contínuo é uma das afirmações que não pode ser provada ou negada, partindo dos axiomas habituais...
Paradoxo do Pensador
Podemos entender que pelo pensar há uma evolução do que se conhece, entre o instante antes de pensar, e o posterior a esse pensamento. A questão que se levanta - ou melhor, que aqui já levantei - é a de se saber se o pensador controla ou não esse pensamento. Já respondi que não... mas vamos concretizar, para além das evidências óbvias que enumerei - o não saber o que se sonha, como ou porquê "o próprio" gerou esses sonhos, ou tão simplesmente não conseguirmos evitar que certos pensamentos nos ocorram.
(GG, 2005)
Qual então o paradoxo do pensamento?
É semelhante à questão do calcanhar de Aquiles...
O observador coloca-se sempre numa posição de raciocínio externo ao que observa. Assim, não faz parte do que vê. Forma ideias sobre o que observa, mas não se observa a si mesmo. Para se observar a si mesmo, teria que se colocar como externo ao seu pensamento - é aí que surge a contradição. Poderia considerar-se que o infinito resolveria esse problema... mas é indiferente.
Tétis também precisou de pegar nalgum ponto de Aquiles para o submergir na invulnerabilidade do Rio Estige, no caso foi o calcanhar.
Aqui, a vulnerabidade do pensamento é criar a ilusão de que é interno. Definimo-nos pelo pensamento, mas este não é definido por nós.
É definido por quem? - é indiferente, é-nos externo, e será externo a quem julga que o define, se for pensante.
É externo ao próprio, mas está dentro do Universo que o influencia... da mesma forma que o próprio se pode ver como externo ao que influencia. Estabelece-se assim uma dualidade, entre o próprio e o seu exterior, de forma inseparável.
No fundo esta relação primeva pode ser encontrada numa separação cartesiana entre o "eu" e o "não-eu", entre o observador e o observado. Esta relação não pode ser trivial, sob pena de previsibilidade total... um excessivo controlo e omnisciência do "eu" levaria a essa trivialidade.