terça-feira, 7 de junho de 2011

O culto do oculto

O propalado espírito reformador do Marquês de Pombal, que tanto foi propagandeado na nossa História, especialmente na fase republicana, tem um outro lado, mais difícil de ser percepcionado, mas que tende a mostrar o contrário.
Um desses factos-mitos é a suposta reforma e modernização da Universidade de Coimbra, que incluiria a constituição do Observatório Astronómico.
Porém, vejamos o que se passou (artigo de C. M. Martins e F. Figueiredo, revista Rua Larga, nº21):
Em 1773 inicia-se a construção deste vasto equipamento, com a demolição do castelo medieval e a regularização do terreno, e em 1775 estava realizado o essencial do piso térreo. A partir desta data pouco mais se avança. O elevado custo destes trabalhos, estando ainda por realizar parte significativa da obra, deve ter conduzido a Universidade a interromper tão ambicioso projecto. Um possível sintoma de divergência entre a vontade régia, de que a equipa de Guilherme Elsden era a executora, e as reais capacidades da Universidade.
Ou seja, aquilo que aconteceu foi uma efectiva obra de terraplanagem do Castelo Medieval de Coimbra.
Chegámos aqui através de uma referência à Torre pentagonal do Castelo do Sabugal, de António Carvalho da Costa, na Corografia Portuguesa de 1708:
Sendo da Coroa Portuguesa, El Rey D. Dinis a aumentou pelos anos de 1296 com forte Castelo & uma torre muito alta de cinco quinas, como a do Castelo de Coimbra, & no fecho da mais alta abóbada dela se vê o escudo das Armas Reais de Portugal com este letreiro:
Esta fez El Rey D. Dinis, Que acabou tudo o que quiz; 
Que quem dinheiro tiver, Fará quanto quizer. 
Torre das Cinco Quinas - Castelo do Sabugal

A notícia de semelhante Torre Pentagonal não apenas no Sabugal, mas também no Castelo de Coimbra, acabou por estar quase perdida. Encontrei um excelente apontamento no blog respigo onde há um link para lâminas/imagens únicas, da viagem de Cosme de Médicis pela Espanha e Portugal em 1668. Em particular, pode ainda ver-se o Castelo de Coimbra:

Vista de Coimbra 1668-69 (Viagem de Cosme de Médicis)

Uma torre pentagonal, apesar de invulgar, não é uma obra insólita, é até adequada ao aspecto das cinco quinas, símbolo fundador da nacionalidade. Talvez por isso não nos estranhe ser D. Sancho I que tem essa ideia original de construir uma torre pentagonal, ao lado da torre quadrada, apontada a nascente (Portas do Sol), que seu pai D. Afonso Henriques tinha mandado construir.

O que é insólito é que o que sobrou ao terramoto de Lisboa em 1755 teve muitas vezes um destino semelhante de destruição. Isso já não estranha, se encararmos o aspecto oculto que esteve presente no terramoto e na actuação bulldozer do Marquês. O renascer da intelectualidade portuguesa, se estava por um lado abafado pela pressão inquisitória do Santo Ofício, não foi minimamente levantado pelo Marquês. Ao contrário, houve uma importação coordenada de conhecimento externo que poderá parecer hoje pertinente e louvável, mas que era quase risível à época. Até ao início do Séc. XVIII, Portugal ainda teria pouco a aprender com a importação de saber europeu externo, com D. João V ainda havia manchas de saber nacional profundo (lembremos Bartolomeu de Gusmão)... foi a partir do terramoto e do "incêndio" que levou à destruição do espólio nacional, e da perseguição ao saber jesuíta, que tudo decaiu rapidamente. O Marquês enquanto maçon, não terá domesticado o leão inglês, terá antes caminhado ao lado dele, num desígnio que iria lançar as bases de poder noutras paragens anglo-saxónicas. Estas facções degladiam-se ainda em guerras de alecrim e manjerona que passam ao lado da população, onde o oculto reina como culto submerso.

Segundo a lenda, teria sido no Sabugal, perto deste Castelo das Cinco Quinas de D. Dinis, que teria ocorrido o milagre das rosas da Rainha Santa Isabel, numa aparente reedição do milagre da sua tia-avó Santa Isabel da Hungria. Não é difícil perceber que já aí estavam representados dois lados, um que se ligou aos templários de que resultou o misticismo maçon/judaico, e um outro que terá tido uma sequência pelo lado jesuíta. No meio, enquanto peões distraídos e usados, ficaria o povo...

2 comentários:

  1. Pois é! O nosso karma...a distracção!

    Onde estariam o Rei e o Marquês à data do Terramoto?

    Maria da Fonte

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  2. Boa questão, Fonte... boa questão!

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