quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A cerca de Mesquinhos e Sacanas

Indo directamente ao assunto, diz-nos Pinho Leal, acerca da freguesia de Mesquinhata (Baião):
O nome d'esta freguesia provém de "mesquinhade" - significa - povoação dos servos adstritos a certa propriedade (meskinos) que eram com razão, considerados infelizes pela sua triste posição na sociedade, que pouco se distinguia dos escravos. 
É a palavra árabe masquinat, que significa, lugar da pobreza. Deriva-se do verbo sácana, que na oitava conjugação, significa - ser pobre, indigente, necessitado, etc. 
O senhor da mesquinhata, quando a vendia, ou trocava, passava-a ao novo possuidor com os seus meskinos, ou servos de gleba. Ainda havia outra barbaridade na legislação gothica - a condição de meskino era hereditária! O filho do meskino, também o era, e todos os seus descendentes. 
Na Europa setentrional ainda há d'estes servos de gleba; mas o actual imperador da Rússia, areou contra os senhores, e tem quasi aniquilado esta bárbara e anacrónica instituição. 
Notemos porém que os nossos primeiros reis, e particularmente D. Afonso I, D. Sancho I, D. Afonso III, e mais do que nenhum, o grande rei D. Diniz, trataram de quebrar os grilhões dos meskinos, e quarctar a prepotência e extorsões dos grandes. 
Depois de D. Diniz, D. Pedro I, acabou com quasi todas as mesquinhatas, e D. João II as aboliu, de facto e direito, por uma vez.

citando o 5º Volume do Portugal Antigo e Moderno (edição de 1874, pág. 199).
Aliás esclarece mesmo com a definição:
MESKINO: portuguez antigo - o servo que trabalhava nas herdades do senhor donatário. Era synonimo de infeliz. Hoje diz-se mesquinho. É a palavra árabe masquino - pobre, mísero, indigente, etc. Deriva-se do verbo sácana — ser pobre, indigente, etc. 
Portanto, mesquinhos e sacanas eram afinal vítimas de proprietários, esses sim, claramente sacanas e mesquinhos... pelo menos até D. João II ter acabado com essa legalidade mesquinha e sacana
Interessante, a evolução de significado aplicar-se apropriadamente agora aos infelizes de alma que fazem uso da exploração humana.

Mesquinhata
Interessou-me o brasão da freguesia de Mesquinhata...
Freguesia de Mesquinhata - que, devido à mesquinhez de diversos sacanas,
foi integrada na aberração que definiu o agrupamento de antigas freguesias. 
Pinho Leal nada diz sobre o brasão de Mesquinhata, mas refere:
A João Paes, deu D. Afonso V, brazão d'armas, em 20 de abril de 1476 —  são — em campo azul, 9 laranjas, veiradas e coutra-veiradas de púrpura e ouro, em 3 palas  — elmo de aço aberto, e timbre, um pavão da sua côr. 
Laranjas
Ora, o acima escrito deixei com rascunho em 13 de Março de 2016... ou seja, há alguns meses atrás.
Não completei, muito provavelmente por falta de tempo.
Agora, fui olhar para os diversos rascunhos, e ficou-me a pergunta, por que razão interessava aquele brasão?
Já nem me lembrava, mas afinal era simples.
Era o velho problema das laranjas.
Afinal, se é suposto "as laranjas terem chegado à Europa no Séc. XVI, depois dos portugueses as terem ido buscar à China", conforme se pretende fazer passar, e ensinar; como é que D. Afonso V dá um brasão com 9 "laranjas", em 1476, no Séc. XV, quarenta anos antes da suposta chegada à China?

Conforme acabei também por fazer um postal sobre o Milho, ainda indaguei topónimos antigos com referências a "laranjas", mas sem grande sucesso.
De qualquer forma, e sem outra maior relevância, fica aqui o apontamento.

4 comentários:

  1. Mas não foram os árabes que trouxeram os laranjais para Portugal? Em alguns dos programas de J.H.Saraiva, nomeadamente quando visita o Algarve ele menciona esses laranjais. Diz até que era hábito nas casas dos mouros existir um pátio interior com laranjeiras. Se assim for, os Portugueses tinham acesso a laranjas muito antes dos Descobrimentos.

    Ab e bom fds

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    1. Pois, mas não será essa a "versão oficial"... talvez argumentando que o Algarve não era Portugal.

      Pode por exemplo ler na Wikipedia:
      - "Da Ásia chegou à Europa através de Portugal."
      https://pt.wikipedia.org/wiki/Laranja

      E diz-se ainda que o nome "portokali" dado à laranja nalguns países teria a ver com essa importação por via da carreira da Índia.

      Mas é claro que já existiam laranjas entre os árabes, e toda essa história não tem pés nem cabeça.

      Abç

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  2. Estranho... Numa rápida pesquisa na net, a versão divulgada é essa da Ásia, o que me surpreendeu. Tenho de ver melhor mas sempre pensei que tivessem sido os árabes, pelo menos foi o que sempre me ensinaram mas lá está isso vale o que vale.

    Ab

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    1. Acabei de fazer um postal sobre este assunto, que penso ter uma boa resposta ao que se passou... e ao que se passa!
      Abç

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