domingo, 27 de setembro de 2020

Exposição de horrores

A exposição humana é um dos mais graves sintomas de falta de empatia, e de certa forma evidencia um completo desrespeito moral subjacente. Entre 2015-16, foi super-propagandeada a exposição "Real Bodies" na Cordoaria Nacional. Aliás, era já a segunda vez que aparecia, com o característico mau gosto da ("Bodies: The Exhibition"), e com o mesmo jeito de uma propaganda manipuladora da pior espécie. 

Pareceu-me que alguém tinha conseguido ganhar uma aposta... de conseguir fazer passar pelo mundo, no Séc. XXI, uma profanação da dignidade humana, como se vivêssemos antes do Séc XIX.
Ou, como é costume dizer "foi uma boa aposta"... para os carniceiros.

Real Bodies - uma exposição que nunca deveria ter existido!

A profanação de cadáveres é crime, punido severamente por lei. 
Bom, mas só há crime quando há julgamento, e foi tudo bem cuidado para que não houvesse o mínimo sussurro em sinal contrário. Encontrei uma notícia de um certo Dr. David Nicholl, que parece ter feito um protesto solitário, acusando a exposição de usar cadáveres de prisioneiros chineses torturados:

(Daily Mail, 2010)

O que é que isso interessa? Nada, porque o importante é o interesse científico, blá, blá, blá...
Pior, conseguiu-se levar escolas inteiras, àquele horror pseudo-científico, talvez com o intuito de dar cabo da empatia humana... porque foram poucos os que minimamente pensaram nas pessoas que estiveram naqueles corpos e estavam ali expostas como bonecos. 

Em vez de usarem plastinação, modelos de borracha ou plástico poderiam fazer o mesmo efeito. Mas as criancinhas foram ao mesmo tempo instruídas de que o plástico faz mal ao planeta. Não tem problema nenhum plastinizar presos, a bem sociedade, que alegres e felizes se ofereciam como voluntários. Afinal, também os nossos órgãos podem servir para qualquer interesse mórbido, chamado científico...

Neste regime de características soviéticas, ou nazis, o bem individual é desprezado, e o cidadão pode até ver-se privado de respirar livremente. Outra aposta ganha! 

A corte ficou atenta e o sultão disse: "Viram como consegui obrigar toda a gente, desde o simples pedreiro, ao mais ilustre pedreiro livre, todos, a serem obrigados a tirar cintos e sapatos?". A corte, vendo o que se passava em todos os aeroportos, aplaudiu em unanimidade, e disse em júbilo: "Aposta ganha!". O sultão extasiado consigo mesmo, disse: "Vá, avancem com mais apostas, qualquer uma! Eu ganho!". Então, alguém da corte disse: "As mulheres são proibidas de usar o véu, aposto um bilião de dólares em como não consegue pôr todas as cristãs com o rosto coberto." O sultão sentiu-se desafiado, e disse aos restantes: "Cubro essa aposta, e a dos que quiserem juntar-se a ela." Olhando para o ar incrédulo, acrescentou: "Farei isso, não apenas com mulheres. Homens cristãos também são punidos e passarão a usar um véu a cobrir a face." 

Após a França ter banido o véu islâmico, em 2010, a situação que alastrou a toda a Europa colocou em causa muitas leis que foram aprovadas, banindo o uso de máscaras, não apenas com intuito religioso, mas também com o objectivo de identificar manifestantes.

Além disso, com uma máscara posta, já se pode simular a voz sem grandes problemas. 
Anteriormente, era extensivamente usado o caso do pequeno auricular, em que qualquer burro pode parecer um doutor, bastando para isso ter auxílio de assessores, que segredam as respostas ao ouvido.
Com uma máscara posta, pode até pôr-se o homem só a mexer a boca, que o som será controlado em estúdio, e não se correm riscos.

Usava-se como exemplo de repressão e ridículo do Estado Novo, a proibição de beijos em público. Com a instalação do Estado Higiénico, o beijo passou a ser um atentado à saúde pública... mas, tal como no caso da exposição de horrores, o que interesse é manipular a informação, passando-a a crença.


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Erro de gramar com gramáticos

Existe um portal semi-académico chamado Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, que é uma iniciativa interessante, no sentido do esclarecimento de eventuais dúvidas de escrita, mas que estando ligado à novilíngua do pseudo-Acordo de 1990, tem os efeitos e defeitos expectáveis, e outros... 

Apesar de ir criticar o referido portal, a que nunca recorri, devo notar que há boas respostas, algumas excelentes, bem como outras, piores que medíocres. Mas, no computo geral, é um bom "portal".

Na escrita, há de facto erros visíveis, mas outros destinam-se somente a ganha-pão institucional.

Se escrever "à de facto" é um erro, escrever "sómente" é apenas estilo. Se é estilo fora-de-moda, ou não, é indiferente. Que aos petizes se ensine uma só forma, acho apropriado, mas que se diga que um estilo está "errado" só por estar fora-de-moda, só interessa mesmo a quem não tem mais nada para fazer.

O ponto principal e único, é que a língua deve servir à comunicação, e não à profissão. 
Normalizar é importante, mas isso não deve ser confundido com corrigir "erros".
Podemos pensar se devemos usar "à" ou "há", e isso pode levar a erros, porque o nosso raciocínio está adaptado à forma vocal e não à forma escrita. E a razão é simples, aprendemos primeiro a falar, e só depois a escrever. É muito mais raro ver erros no discurso falado do que no discurso escrito. A maior parte dos "erros" apontados aparece na escrita.

Vou comentar "erros" de exemplos de erros do "Glossário de Erros" que começa com a letra "A".

  • "A personagem". Pretendeu-se copiar o tratamento de "a pessoa", mas não pegou! Ninguém diz "o pessoa", mas é prática assente dizer-se "o personagem". Já será menos normalizado dizer "os personagens", excepto se forem todos masculinos, já que o normal, sendo o género indefinido, será "a personagem" e "as personagens". Os links que aí se remetem mostram uma total confusão dos "burocratas de serviço", que ora concordam, ora discordam.
  • "Acerca". Dizem que não é "àcerca"... e é claro que se normalizou "acerca", mas apenas por simplificação. A origem da palavra resulta de estar "a cercar", de estar à cerca, à volta, de um assunto. Não é erro escrever-se "àcerca" é apenas uma questão de estilo fora-de-moda.
  • "Açoriano". Dizem que não é "açoreano"... porque se convencionou usar a ligação com "i", mas isso é apenas isso, uma pretensa convenção imposta, que não se nota no discurso falado. Aqui é especialmente engraçado ver-se que a língua falada pode alterar a escrita... mas o uso habitual escrito, esse não pode mudar a escrita. Se isto faz algum sentido, vou ali e já venho. Seja como for existem empresas que ainda usam a forma antiga como a "Açoreana Seguros
  • "Aderência". Não é a mesma palavra que "adesão", certo, mas é sinónimo, a menos de miopia grave. Restringir noções abstractas a uma aplicação restrita é miopia, ou em situação mais grave, cegueira. Poderia ser útil fazer a distinção entre aderência à estrada e adesão a um ideal, mas não é! Apenas limita a visão de que o significado abstracto é o mesmo.
  • "ADN"... e não DNA? Habitualmente ADN pode significar ácido desoxirribonucleico, mas a forma DNA sem qualquer menção, refere-se à mesma noção em inglês. Não tem as palavras inglesas associadas, por isso nunca pode estar errado referi-la, nem se pode argumentar que três letras DNA "estão em inglês". Quando se usa a menção a ecrã LCD ou ecrã LED, ninguém vai falar num ecrã ECL ou num ecrã DEL, porque o vendedor nem saberia do que estavam a falar, nem imaginando que tinham traduzido as iniciais para a ordem portuguesa. Quando estamos sob pressão de uma tecnologia que é alheia, é bom não inventar em demasia. Num sentido e no outro. Poderia ter-se usado a tempo "mercadologia" para "marketing", mas actualmente deve-se tomar a palavra inglesa, na pronúncia inglesa, pondo eventualmente em itálico, se se der ao trabalhing. Isto porque a selva de jargão inglês entrou sem pedir licensing:
  • "Aero". Diz-se que é um prefixo que nunca se usa com hífen, e as regras para utilização de hífen são inúmeras... Mais uma vez é uma completa perda de tempo meter aqui regras ou dar-lhes atenção. Quem escreve deve ter em atenção se o receptor entende. Ao escrever "aero-porto", está obviamente a sugerir algo diferente de um "aeroporto", mas se escrever "aero-transportado" ou "aerotransportado" é naturalmente entendido da mesma forma. Não há erro nenhum, é apenas uma questão de estilo, se escrever "aero-transportado".
  • "Afim". Nota-se que é diferente de "a fim". Neste caso há efectivamente um erro, e ao escrever "Foi a fim disso."  ou "Foi afim disso.", deve ter em atenção pode substituir "a fim" por "com a finalidade"; e "afim" por "próximo" ou "similar" (no sentido em que duas coisas que visam o mesmo fim, podem ser consideradas semelhantes, afins).
  • "Alcoolemia". Diz-se que não é "alcoolémia", e isto é uma mera tentativa educacional, contrariando o princípio "acordês" da língua seguir a sua sonoridade. 
  • "Além-" e "Aquém-". Dizem que estes prefixos devem ser acentuados, o que é um delírio fascinante, atendendo a que se achou bem retirar o acento a "pára". Continua de seguida:
  • "Antepor"... e não "Antepôr", porque aqui já quiseram tirar o acento. É indiferente, porque não há risco de confusão, mas fica melhor com a ligação a "pôr". Poderia escrever-se até ante-pôr, porque significa efectivamente "pôr antes". 
  • "Anti-" remete para regras sobre os hífens que servem para pouco mais que nada. A única regra que tem algum sentido é a de que, tratando-se de uma só palavra, deve ser ligada por hífen. Por exemplo "Sexta-Feira" é diferente de "Sexta Feira", porque separando estamos a referir uma feira que foi a sexta. Não é incorrecto escrever "cor de laranja" ou "cor-de-laranja", ainda que possa ser diferente o sentido, já que escrevendo separadamente referimos a cor do fruto, enquanto ligado por hífens remete a uma cor... que é a mesma. Simplesmente, não é muito ortodoxo escrever "é cor de rosa", querendo dizer "é da cor da rosa", por isso deverá escrever-se "é cor-de-rosa".
  • "Aparte"... sendo diferente de "à parte", provoca mais confusão junto que à parte. Porque "aparte" tanto significa uma conjugação do verbo "apartar", como "dizer um aparte", aqui a melhor solução seria escrever "à-parte", que tornaria tudo mais claro, porque o que se pretende dizer é mesmo que foi algo "à parte", uma parte quebrada do discurso. Simplesmente como a palavra ganhou um substância por si,  deveria concatenar-se com hífen.
  • "Árctico"... foi substituído por "Ártico", e por ignorância até acho bem. Não conheço qualquer razão de jeito para manter, pois não traz confusão e tinha "c" a mais. Há uma só razão menor, que é os ingleses continuarem a escrever "Arctic". Na onda "acordês", até o acento está a mais...
  • "Assessor"... que não se escreve "Acessor", e aqui a pergunta que se deve fazer é porquê? Por que razão se deve escrever "assessorar" e não "acessorar", já que claramente todas as noções estão ligadas ao acesso. É daqueles "erros" que só parecem vir da arte de fazer errar os outros. 
Praticamente estes são todos os erros aí listados para a letra "A", os outros 3 ou 4 são irrelevantes. 
Uma simples inspecção mostra que há tantos ou mais erros nos consultores do que nos consultados, e portanto ainda que possam servir para pôr ordem no galinheiro, só segue estas indicações quem quiser fazer de cordeiro obediente, ou tiver que o fazer, para não se chatear.

Se alguém ainda tiver dúvidas como um certo poder global actua rápido e se consolida como uma lapa, é ver como o "pseudo-acordo ortográfico" foi tão rapidamente adoptado, não apenas pelos serviços estatais, que a isso foram obrigados, mas por todas as empresas e meios de comunicação privados. As vozes contra o "acordo" apesar de serem muitas e importantes, nunca conseguiram fazer uma voz suficientemente forte contra a voz do sistema. O máximo que conseguiram foi que se tolerasse a escrita no formato anterior. Escusado será dizer que quando foram chamados, os que se prestaram a defender o acordo, eram afinal ilustres desconhecidos, com pouco ou nada para dizer... mas nem por isso a trampa institucional é posta no lugar devido, ou pelo menos, é reciclada... porque já tem 35 anos, muito mais que a revisão de 1973 e perto de atingir a idade de vigência do acordo de 1945.

O que esta malta parece perceber da mecânica e lógica intrínseca à língua portuguesa... pois isso escuso de dizer, parece ser mesmo pouco, e para não dizer nada, digo nada.

sábado, 12 de setembro de 2020

Nebulosidades auditivas (87)

Houve diversos domingos sangrentos, inclusive na Irlanda do Norte, mas os 14 mortos em Belfast (1972) soaram alto dez anos depois na voz de Bono e dos U2. Ainda que esta tivesse sido uma composição simples dos U2, foi também a menos politicamente correcta, pois o conflito com o IRA durou até 1994. 
O problema do enclave britânico em solo irlandês ainda hoje se interpõe nas negociações finais do Brexit.


U2 - Sunday Bloody Sunday

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Ditadura Viral

Enquanto continuam novas medidas sanitárias para os próximos tempos, e como em qualquer ditadura, o povo aguarda impotente as medidas que lhe serão impostas. Por sorte, ou não, este corona-vírus é muitíssimo menos letal e perigoso do que se pensava no início.

Falamos de quê? Da covid-19, do corona-vírus, ou da OMS-DGS?
Tudo está misturado, fala-se em infectados por covid-19, que deveria ser a doença e não o vírus. 
A OMS mandou uma série de patacoadas que a DGS acolheu de braços abertos, e continua...

O número de pessoas internadas com a doença, onde foi detectada a presença de corona-vírus, bem como outras possíveis doenças, em Portugal, é muito reduzido. Chegou a ter 1300 hospitalizados, com 270 em cuidados intensivos (UCI), o que mesmo assim não era muito, e em Agosto desceu para menos de 400 hospitalizados com 40 deles em UCI, conforme foi publicado no Jornal de Negócios:


Os assintomáticos não são doentes covid-19, são uma doença estatística pulverizando o medo de contágio, que ainda assim parece menor do que inicialmente previsto. Os cálculos do factor Rsão contas de aprendizes de estatística, e os valores que têm sido mandados desde Maio são completamente enviesados pelo critério que é usado para fazer testes, passando a lixo estatístico.

Mas esta situação é melhor vista em termos dos gráficos de mortalidade absoluta, usando os dados disponíveis pelo Ministério da Saúde, onde praticamente essa linha de mortalidade não se destaca  face a anos anteriores (no gráfico 2012-amarelo, 2018-verde, como exemplos). Se agora o gráfico a preto foi maior em Julho (e não terá sido só devido à covid-19), foi menor em Fevereiro, e não teve nenhum grande pico, como o aconteceu em Agosto de 2018... algo que passou despercebido.


Morrem, em Portugal, uma média de 110 mil pessoas por ano, e relativamente à covid-19 não estamos tão pouco em 2 mil óbitos, pelo que a taxa de mortalidade associada à doença tende a ficar na casa dos 2%, que incide na quase totalidade em pessoas com mais de 75 anos... e parece que se esperava que subitamente as pessoas tivessem passado a ser imortais! 

O pânico inicial era sensato, acreditando no que vinha de Itália, de Espanha, e depois dos EUA.
Deveriam ter-se usado máscaras mais cedo, não fosse isso crime/burrice da OMS e da DGS, cujos "cientistas" ou "especialistas" já deveriam estar, especialmente dirigentes, no olho da rua.
O "obviamente anti-máscara" passa a "obviamente pró-máscara", nunca mostrando os responsáveis da OMS-DGS vir com ela nas suas conferências de imprensa, mas impondo-a a todos, inclusive a Trump!

Quem repete uma coisa e o seu contrário, sem nada mudar, não são cientistas, são simples fraudes.

E depois temos diversas pérolas que ficam para a posterioridade psico-analítica:
- O vírus não gosta de transportes públicos apinhados, nem de fábricas. Por isso aí funciona tudo como dantes, e mete-se a máscara para assustar o vírus, já que nem servia para mais nada.
- O vírus não gosta de creches, mas adora frequentar universidades, ou bares nocturnos.
- O vírus gosta de futebol, não gosta de praia, gosta mais ou menos da festa do Avante, do Livro, de cinema, etc.

Assim, ou temos um vírus com personalidade jovem, visando apenas estes, ou temos uma cambada de políticos usando técnicos para corromper informação à grande e à francesa, ou seja, para obrigar a um determinado comportamento da população, que é tratada como bestas de trabalho. 

Tudo isto à conta de reduzir a propagação de uma gripe complicada, que será apenas uma das mais pequenas múltiplas causas de morte em Portugal?

Convém notar que mais de 80% das mortes em Portugal ocorrem acima dos 70 anos.
Os números que a covid-19 apresenta colocam-na numa 15ª causa de morte.
Que meios sanitários excepcionais são colocados, para evitar as outras 14 causas de morte?
Devem os nossos idosos ficar preocupados só com uma e esquecer as outras 14?
E que tal falar no aumento do número de suícidios?
- Pode ter duplicado? A notícia fala em aumento de 200% no Reino Unido, e assim basta vir a ser 199%, para esta nova praga do pseudo-fact-checking dizer que afinal era tudo mentira.

Todo o assunto serviu uma fonte de medo, que destruiu o contexto familiar mais alargado, deixando as famílias reduzidas ao seu núcleo principal, em muitos casos deixando a pessoa sozinha.
Se isto visa um plano de domínio global, ou paroquial (no caso português), com imposição de novos estados de calamidade, ou emergência, com desvios de divisas (dívidas) de estados, ganhos financeiros por certos chico-espertos, mais ou menos farmacêuticos, pois isso terá os seus custos.

No essencial, o próprio teste da covid-19 é uma invasão, tocando na fronteira com o cérebro... e mesmo que se esclareça que isso não danifica, o que de facto não parece fazer, pergunta-se a razão de manter isto, e não desenvolver outro tipo de testes. Esperemos que o próximo vírus em produção não exija um outro tipo de invasão do nosso corpo, porque pelo nariz já somos violados sem apelo.

Interessa que neste novo estado sanitário-policial, imposto de forma viral, o cidadão tem poucos ou nenhuns argumentos para resistir à própria invasão do seu corpo. O corpo não é do indivíduo, passa a ser da comunidade!
As vacinas correm o risco de se tornarem obrigatórias, especialmente para quem trabalha, e quem recusar isto arrisca à outra doença da sociedade, a tortura no estado judicial.

Poderia dizer-se que o sistema político representativo terá certamente gente a defender os interesses da população, mas basta olhar para o discurso monocórdico e politicamente correcto, de todas as bancadas, para vermos que esse politicamente correcto se impõe acima do resto.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Velez de la Gomera

Espanha mantém territórios em Marrocos, sendo o caso mais conhecido o de Ceuta, mas estende-se a Melilla, e outras minúsculas possessões, entre as quais o ilhéu de Velez de la Gomera:

A situação torna-se mais estranha, porque até 1930 não havia ligação a terra, conforme se pode ver numa foto de 1920:

Em 1930 ocorreu um sismo que deslocou terras, de forma que a fronteira actual é definida na areia que une o penedo a terra. Digamos que a natureza decidiu adicionar um pedaço de terra ao problema, que levou ao incidente de 2012 em que um grupo de sete marroquinos irrompeu pelo território, tendo sido quatro deles presos. 
Coisa insignificante, comparado com o incidente de 2002, do ilhéu Perejil:
onde Marrocos enviou 6 militares para definir uma base, e a Espanha respondeu, após falhanço de negociações, com uma invasão de 28 unidades de comandos, apoiadas pela marinha e força aérea.  Os militares foram presos e substituídas pela presença da Legião Espanhola. 
Depois de mediação americana, o ilhéu voltou a ser abandonado, sendo reclamado por ambos.

O estado actual das possessões espanholas em Marrocos, ditas "plazas de soberania" é este:
... e talvez mereça também algum relevo de construção, os ilhéus de Alhucemas.

Ajuda de D. Sebastião (Velez de la Gomera)
A conquista do penedo de Velez de la Gomera, apesar de parecer insignificante, envolveu a ajuda de D. Sebastião a Filipe II, enviando o almirante Francisco Barreto, que fora antes governador da Índia, numa força expedicionária do vice-rei da Catalunha, que teria no total 93 galés e 60 barcos de apoio.
Esta informação está num interessante livro de David Gonçalves de Azevedo:
Epithome Historico de Portugal publicado no Maranhão (Brasil, 1855).

Esse socorro foi tão bem recebido por Filipe II, que este não tardou a vir instalar-se em Portugal... 
Bom, e continua... 
Apesar desta concepção espanhola de que ilhas encostadas a Marrocos são historicamente suas, ainda hoje os presidentes da república portugueses têm que ir visitar as Ilhas Selvagens, descobertas por Diogo Gomes em 1438, para evitar pretensões como as que foram entregues na ONU em 2014, para aumento da área marítima espanhola, argumentando que se tratavam apenas de rochas desabitadas, mais perto das Canárias do que da Madeira... o que ainda levou a um posto permanente com elementos da polícia marítima.

Bom, e se Ceuta acabou por ficar em mãos espanholas, por vontade do governador em 1640, e D. Afonso VI acabou por ter de reconhecer essa posse em 1668. Poderá até admitir-se que os espanhóis usem Ceuta como termómetro do ambiente marroquino, tal como os ingleses usam Gibraltar como termómetro do ambiente hispânico. Mas, as restantes micro-possessões espanholas em território de Marrocos, são apenas um amostra do carácter espanhol, que obviamente não terá nunca intenção de devolver Olivença... nem mesmo se Gibraltar viesse a ser restituída.