Porém, o jornalismo português foi mais ainda sarcástico no relato, comparando-o a um desafio de bola, em que a areia de Grândola derrotaria os visitantes, a NATO, por 3 a 1.
A NATO estava em festa e para comemorar chamou jornalistas. A ocasião merecia: quatro mil militares, exercícios conjuntos entre fuzileiros e marines, poderio militar nunca visto em Portugal e convidados de honra para ajudar.
O tenente-coronel Eric Hamstra, dos United States Marine Corps, tinha avisado: “Isto é algo que preparámos nos últimos dois anos. E isto é uma oportunidade para os fuzileiros e os marines aprenderem uns com os outros. Vão partilhar táticas, técnicas e procedimentos.”
Só não houve aviso prévio quanto à falta de colaboração do areal de Grândola. Vamos por partes. Tudo começava com a chegada dos dois hovercraft que tinham saído do USS Arlington e vinham a alta velocidade em direção à praia. Mas a travagem na rebentação foi tão forte que impediu a chegada e, vergonha das vergonhas, foi preciso voltar a ganhar balanço para chegar enfim à praia. Grândola 1, NATO 0. O balanço reforçado equilibrou as contas e os anfíbios lá chegaram ao areal.
Para acabar com as brincadeiras, deram-se ordens de desembarque aos Humvees, jipes robustos que devem estar habituados a areias mais espessas. Porque assim que puseram as rodas em Grândola pararam para não mais de lá sair. Primeiro um de dentro de um hovercraft, depois outro de dentro do outro, ambos revelaram-se incapazes de avançar nas areias da praia. Grândola 3, NATO 1.
Por outro lado, a agência noticiosa russa RT, deixa mais ou menos claro como a Rússia encara estes exercícios da NATO, os maiores depois da Guerra do Golfo e Afeganistão. Como sentimento natural de quem centra todo o desenrolar exterior na sua pessoa, a Rússia pretende ver aqui uma provocação destinada a si mesma:
Portanto, as praias portuguesas não serviam para simular nenhum desembarque na Síria para combater o ISIS, ou Assad. Não, a ideia seria provocar a Rússia com este exercício!
Tanto mais que o exercício teve o cuidado do planeamento de 2 anos, ao ponto de não prever que os Humvees poderiam ficar atascados no areal.
Com o mesmo exercício de auto-projecção de todos os acontecimentos exteriores sem si mesmo, o comité do PCP poderá ter pensado que a coisa foi marcada para depois das eleições, para evitar um governo de esquerda. Coisa ainda mais clara quando Cavaco excluía da governação partidos que não respeitassem a NATO, e a força foi logo escolher o desembarque num concelho emblemático do imaginário do PCP, ou seja, Grândola.
Sempre em linha com a Rússia, e com esse imaginário, o PCP apressou-se a condenar este exercício:
Com a encenação da vitória do areal, algo tão ridículo que correria o risco de passar por incompetência natural, os responsáveis do eixo Moscovo-Grândola podem estar satisfeitos, porque pelo menos a praia portuguesa serviu para uma vitória no espectáculo mediático, servindo-nos de bandeja uma imagem atascada da US Navy.
Agora, é claro, convém não misturar o cerco real com o circo surreal.
Não temos a capacidade hollywoodesca de efeitos especiais, mas não seja esse pequeno detalhe que nos impede de ter bons argumentos, dados os personagens disponíveis.
Em cena, lembrámo-nos do Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas.
É do mundo dantes que Edmond Dantès esteve preso no Castelo de If, sob o número 34, ou citando a Wikipedia:
Number 34: The name given to him by the new governor of Château d'If. Finding it too tedious to learn Dantès real name, he was called by the number of his cell.
Este 34 lembrou-me o preso nº 44, em Évora, liberto para o nº 33 da rua Abade Faria, porque o nome da rua é ainda interessante:
Abbé Faria: Italian priest and sage. Imprisoned in the Château d'If. «Abbé Faria existed and died in 1819 after a life with much resemblance to that of the Faria in the novel.»
Quem foi o Abade Faria que inspirou o personagem de Alexandre Dumas, e que foi um grande aliado do Conde de Monte Cristo?
- José Custódio de Faria, nasceu em Goa, em 1756, e depois de um envolvimento na revolução francesa, ficou especialmente conhecido pelos trabalhos pioneiros em Hipnotismo... tem mesmo o nome numa teoria que relaciona ao sonambulismo, denominada "Faríismo".
O grande aliado de Dantès no cativeiro ligava-se assim ao hipnotisador goês, Abade Faria, tal como podemos ir buscar essa origem goesa ao advogado, aliado do preso nº 44 de Évora, residente agora no nº33 da Abade Faria.
Há ainda um Abade Delille, pedreiro livre, se isso interessa à conta dos 33. Mas aqui vejo apenas coincidência banal com o nome do outro advogado. Delille era abade contemporâneo de Faria, e ambos aparecem mencionados na página 369 de La hermite de la Chaussee d'Antin. É talvez instrutiva uma frase de Delille:
"O destino escolhe os pais, nós escolhemos os amigos";
que já sabemos ser argumento de defesa.
Aliás a fortuna de Dantès resulta justamente da revelação do tesouro da ilha de Monte Cristo, feita pelo Abade Faria, seu amigo no cárcere de If durante os 6 anos de cativeiro, que alguns diriam ser a recompensa do tempo de prisão numa legislatura e meia.
Dantès dispôs assim de uma enorme fortuna, à sua disposição em Paris, graças à generosidade do amigo que lhe passou o segredo do tesouro. A questão de dever ser declarado ao fisco francês nunca se coloca na novela de Dumas.
Em vez do rival Mondego interessado em Mercedes, paixão de Dantès, este caso d'agora correu pelas águas do rio Lena (também um grupo concessionário da Peugeot e outras marcas).
Que faria? - É d'mundo d'antes.
Uma coisa é clara... o hipnotismo tem servido de charlatanice, e se o poder da sugestão é grande, como se pode ver nesta sequência de associações que fiz, a captura da atenção do outro só é possível se ele perder a sua maior capacidade humana - a capacidade de se seduzir pelo caos, pelo imprevisível, que é afinal a única cura contra uma captura pela ordem, por uma qualquer ordem.
e começava então com a escolha de pílulas do filme Matrix... aplicável à eleição grega do Syriza,
que deu no que deu, sem mais ou menos espanto, do que o espanto do não espantar.
Agora vou começar antes do começo, de forma algo diferente.
"Pelo meu relógio são horas de matar" foi um álbum lançado há praticamente ano e meio (Maio de 2014), por uma das bandas que mais estimo no panorama musical português - os Mão Morta:
"Pelo meu relógio são horas de matar"
é a história de um individuo de classe média que vive solitário...
Adolfo Luxúria Canibal é o carismático líder da banda minhota. Criou esse nome engraçado, e sempre ficou no ponto ambíguo em que pessoa e personagem se misturam.
O tema revolucionário está "fora de moda", como mostrou a necessidade de Garcia Pereira recuar na frase "Morte aos Traidores", tão emblemática de um "partido revolucionário" como o MRPP, como foi emblemática no dia 1 de Dezembro de 1640 - feriado de Restauração de Independência, tão simbolicamente extinto.
Curiosamente, é também conhecido da má-língua alfacinha, que este aspecto revolucionário de Garcia Pereira colide com a imagem de gestor de luxuoso gabinete de advogados e proprietário de grande iate. Mas isso são eventuais contradições que cada qual gere, sendo certo que, para ser solidário com a fome em África, parecerá tão contraproducente passar fome, quanto encomendar doses duplas.
De certa forma, foi no tema "Morte aos Traidores" que a banda nacional decidiu agitar consciências, indo ao ponto de colocar em vídeo simulações de assassinato de três classes de "traidores", tendo escolhido imagens de um financeiro, de uma política, e de um religioso.
Talvez para se precaver de eventuais processos judiciais, e outras ferocidades que a sociedade rapidamente dispara em resposta, a mensagem foi encapsulada como "obra de arte".
Mais que isso, prevendo uma reacção condenatória veemente, a banda decidiu introduzir o tema com declarações de Marcelo Caetano:
- Quando neste país se faz algo de mais audacioso, já se sabe que se levanta logo a poeirada dos interesses lesados, os despeitos amuados, os comodismos sacudidos, tudo a tender logo para a crítica derrotista, para a maledicência gratuita, e até às vezes para as suspeições torpes!
- Que se há-de fazer? Desistir? Parar? Cruzar os braços?
- Claro que não!
Seria natural e legítimo que os Mão Morta pensassem que o vídeo teria impacto pelas "redes sociais", e levantasse algum brado, sendo audacioso e dirigido contra interesses e comodismos de uma sociedade anestesiada por fedores putrefactos.
Seria natural que pensassem - "depois do vídeo, as coisas não podiam continuar como se nada fosse".
Mas as coisas podiam continuar como estavam, porque não estavam a lidar com meninos mimados, estavam a lidar com putas sabidas (puta remete aqui para a ligação mitológica Puta-Putti).
O menino mimado irrita-se com a crítica que lhe é dirigida, enquanto uma puta reconhece-se como tal, e eleva a questão a um patamar acima. Querem os clientes abdicar da puta e da progénie dos putti?
Artisticamente os Mão Morta foram desflorados como virgens vestais.
Foi-lhes dado espaço e destaque nos jornais, e até na televisão, naquele dia de lançamento.
Ou seja, as putas de sacerdócio convidaram as virgens a ofendê-las no seu próprio templo.
Se o vídeo do irmão que morde o dedo do outro teve 700 milhões de visualizações, qual seria o impacto do vídeo dos Mão Morta? Creio que não chega às 70 mil visualizações, que são números mais próprios de espaços obscuros como este, e não são números de quem teve todo o foco da comunicação social.
O que se passa então?
Sim, as virgens podem ofender as putas, mas se não planearem nada mais, o evento é como se não existisse no dia seguinte. Não é novidade que as putas são putas. O espanto de se verem virgens atacar putas é encenação... especialmente se a virgem assume a obra de arte, para evitar processo legal.
Há a ideia de que basta aparecer algo na praça pública, na TV, nas "redes sociais", para que as pessoas reajam... para que se gere uma onda de indignação, para que as coisas mudem, etc.
- Errado, completamente errado!
As pessoas reagem conforme o contexto do "dia seguinte".
Se virem que o dia seguinte é igual ao dia anterior, não reagem... é só "fumaça".
Se virem que no dia seguinte o poder pode mudar, e ser diferente do dia anterior, então aí pode esboçar-se uma reacção perigosa.
Há muito que o poder aprendeu a usar a indignação a seu favor.
Como?
Quando uma indignação é exposta toda nua e crua, como aconteceu no vídeo dos Mão Morta, e nada se passa no dia seguinte, o que acresce é uma tomada de consciência que o poder das putas é grande e que por muito que as virgens o queiram expor, o templo dos putti continua sólido.
A tentativa falhada reforça o poder instalado.
Fraude eleitoral na eleição de Cavaco Silva em 2011
Não foi notícia, porque não foi conveniente ser, mas a maioria de Cavaco Silva, obtida em 2011, foi contabilizada com um pequeno detalhe fraudulento:
desaparecimento de 120 mil eleitores e 60 mil votos, no distrito de Setúbal
40 mil eleitores e 20 mil votos a mais, no distrito de Viseu
Apesar de não ter sido notícia, ter sido abafado nos meios de comunicação, com toda a cumplicidade do regime de fantochada democrática conduzido pelos nossos jornalistas assalariados do poder, a informação até está pública na Acta Nº33/XIII (aliás, números muito cabalísticos):
A Comissão Nacional de Eleições tinha 6 membros a deliberar:
Dois votaram contra a aprovação do acto eleitoral (Dr. João Almeida, Eng. José Victor Cavaco)
Dois abstiveram-se (Dr. Jorge Miguéis e Drª Carla Freire)
Dois votaram a favor (Dr. Manuel Machado, e o presidente, o Juiz Fernando Costa Soares)
Apesar deste resultado, apenas com 2 votos favoráveis em 6, as eleições foram aprovadas, usado o voto de qualidade do juiz presidente... porque "podia prejudicar a data de tomada de posse do candidato eleito".
Este argumento é especialmente notável, porque o juiz assume que o Cavaco estava eleito, quando ele só estaria eleito depois da comissão validar as contas das eleições!
Um extracto da Acta nº33/XIII e início da declaração de voto do juiz presidente.
Outro extracto da Acta nº33/XIII - declaração de voto contra do Dr. João Almeida.
Outro extracto da Acta nº33/XIII - declaração de voto contra do Dr. José Victor Cavaco.
Isto é apenas um dos inúmeros casos de erros contabilísticos eleitorais.
Os valores apresentados são aqueles, como poderiam ser outros quaisquer... se atendermos a que se ignoraram 120 mil eleitores e 60 mil votos num distrito, enquanto noutro distrito (apelidado "Cavaquistão") apareceram 40 mil eleitores e 20 mil votos a mais.
Quando se ignoram com esta displicência milhares de votos, como deverá cada eleitor ver cuidado o seu voto singular?
Esta questão esteve no cuidado de dois elementos da comissão, mas imperou a pressa de dar poder ao poder, retirando o poder ao voto individual, desprezado e menorizado face à conta global, e como se essa conta global pudesse ser achada ou considerada, sem a correcção completa do voto individual.
O argumento no sentido de aprovar logo os resultados foi o argumento de que não influenciaria a maioria de Cavaco à primeira volta. Porém, isso é só parcialmente sugerido, já que dos 53% de votos então contados, retirando eleitores e votos em causa, essa maioria poderia passar a apenas 50,1% - ou seja, um número no limite da maioria. Curioso, muito curioso... especialmente porque nenhuma razão foi ali adiantada para o problema se ter verificado apenas em Setúbal e Viseu, e pior, se ter verificado em sentido convenientemente oposto - "votos que desaparecem em Setúbal" versus "votos que aparecem em Viseu". Nenhuma explicação é dada para tão singular fenómeno eleitoral, ocorrido apenas em dois distritos.
Curiosamente, desde a entrada na CEE, na União Europeia, que é bem conhecido que as listas de eleitores estão erradas, com nomes repetidos e nomes de mortos.
Nunca houve nenhum interesse em mudar esta situação, e os partidos que nos aparecem, de uma ponta à outra, desde o PCP ao CDS, são coniventes e pactuam com a falta de respeito pelo acto eleitoral.
O cidadão pode ir votar, para estar em paz com a sua consciência, votando no que julgar melhor.
O resultado que daí sai pode influenciá-lo, mas como não é o cidadão que controla o seu voto, dada a displicência ou fraude, fica em débito na consciência de quem achar por bem sustentar e manter um regime de falsidade instituída.
Num equilíbrio matemático, que é bom não negligenciar, as contas que desaparecem num lado, irão aparecer noutro. Mais tarde ou mais cedo. E cada vez é mais cedo do que mais tarde... ainda que a cegueira possa ditar o contrário a quem não quer ver.
Pessoalmente, o personagem Cavaco Silva, enquanto informador da PIDE registado em 1967
... é um cidadão como outro qualquer, até porque ninguém é julgado criminoso por ter pertencido à PIDE, ou por ter sido sócio dos Bombeiros. Aliás, assim compreende-se perfeitamente que tenha dado condecorações a membros colegas da PIDE, ao mesmo tempo que rejeitava uma subvenção ao Capitão Salgueiro Maia. Conviver com pulhices faz parte de certa natureza desumana.
Tudo isto é perfeitamente natural, e que o regime vá mudando de cara, mas mantenha os seus poderes de bastidores, manifestando uma ditadura branda na prática de democracia fantoche, acho que é uma evolução, e será mais agradável a ilusão, aos olhos da maioria.
Caso Camarate
Convém não esquecer que Portugal não está isolado, e desde 1980, quando caiu "misteriosamente" o avião com Sá Carneiro e Amaro da Costa, ficou bastante claro que poderia haver intervenções externas em Portugal ao mais alto nível, quando fosse caso disso.
Claro que contavam com "traidores" internos para o efeito.
A confissão assinada por Farinha Simões, envolve os serviços secretos americanos, e alguns personagens famosos, que vão desde Kissinger a Balsemão, poderia ter abalado o regime... mas não foi caso para tanto.
Neste país, o culto às putas mantém-se estável, e as virgens que cuidem do sua retaguarda.
Cumpriu-se calendário, abriu-se mais uma comissão de inquérito, e entretanto a coisa vai ficando arrumada.
Para cumprir calendário, e como nunca aqui tinha trazido estes assuntos, deixo este registo:
Para quem se lembra do personagem inventado por Herman José - o "Esteves", não estranhará a figura, que apesar de cúmplice assumido e ter apanhado com parte do bolo de 1 milhão de dólares, destinado à operação, foi sendo abafado por esta comunicação social que tanto nos instruiu.
Faço votos de bons votos.
Quem sabe, se sabe alguma coisa, sabe que as contas não se fazem sem um... e isso complica tudo, quando sem uma pequena coisa, tudo é nada.