Estávamos avisados para a diferente educação russa, que colocaria russos na invenção de muitas coisas que fomos habituados a atribuir a outros, normalmente na Inglaterra, França ou Alemanha.
Porém, acabámos por não saber quem eram esses outros inventores... a educação russa terá ficado entre-muros e dificilmente cativará o mundo ocidental para acomodar os seus numa nova versão histórica de personalidades.
Fui surpreendido ao ler a pretensão de que a lâmpada eléctrica teria sido inventada por Alexander Ladygin, conforme se encontra neste artigo descritivo da North American Review:
É óbvio que o período das invenções singulares, na transição para o Séc. XX, trouxe várias disputas sobre a autoria dos inventos. Edison está no meio delas, na sua disputa com o genial Nikola Tesla, e aparece agora ligado à própria criação anterior da lâmpada eléctrica. O nome Ladygin era-me desconhecido, e nem tão pouco consta da wikipedia (ao contrário do nome do autor do artigo Emil Draitser).
No entanto, seria uma referência vulgar na escola soviética, tal como a Locomotiva dos Cherepanovs ser anterior à de R. Stephenson, conforme se pode ler no artigo.
A locomotiva dos Cherpanovs -
agora tida apenas como primeira locomotiva russa...
Agora, mais importante que esses esquecidos Cherepanovs, é uma promessa do hóquei, curiosamente denominado Cherepanov, Siberian Express.
Os motores de busca não têm dúvidas de quem apresentar em primeiro lugar.
Da mesma forma que quem procurar Cândido Costa será presenteado com um jogador do FC Porto, e não encontrará o escritor português. Estas coincidências repetem-se, e uma das que mais me surpreendeu foi a de Olavo Bilac.
Acontece que esta própria relevância nada tem de estranho, sendo facilmente justificada.
Independentemente disso, condiciona a informação a que temos acesso.
A história só pode ser contada por quem tem capacidade de fazer ouvir a sua voz... as outras histórias ficam guardadas pelos mudos, condenadas ao progressivo desaparecimento.
A indiscutível presença espacial americana e russa poderá não passar de uma pequena lembrança quando os dados forem jogados de novo - Alea jacta est... e o que era deixa de ser, tal como aconteceu com as navegações portuguesas, ou outras anteriores.
O registo que nos parece perene e intemporal, é tão somente acaso da conjuntura política de cada época, procurando influenciar as gerações futuras.
Aquiles não existiria sem Homero, e sem o relevo que os escritores posteriores lhe consagraram.
A maior obra pode passar completamente esquecida e ser apropriada posteriormente, na altura considerada certa, e atribuída como recompensa a alguém conveniente. Lendo os textos portugueses à altura dos descobrimentos, percebe-se perfeitamente que os nossos autores adivinhavam esse esquecimento programado. Por outro lado, sabiam perfeitamente, e escreviam-no, que muito desse conhecimento português era apenas fruto de uma reedição de conhecimento antigo, aparentemente perdido.
Jorge Couto, terá ido para além do relato de Duarte Pacheco Pereira, e cruzando dados foi aceite a prova de que em 1498 este teria atingido o Brasil. Não há dúvida que Couto foi reconhecido pelo trabalho, tendo recebido vários prémios, e sendo nomeado para director da Biblioteca Nacional. Porém, esse trabalho ficará como um registo erudito, de divulgação limitada.
A versão oficial propaga-se no ensino, com razões para além dos factos. Resta apenas continuar o excelente trabalho de disponibilizar digitalmente as obras nacionais... coisa que se afigurará difícil, sempre que as obras sejam complicadas. Encontrámos a obra de António Galvão na BNP publicada alguns meses depois de encontrarmos outra digitalização na internet... teríamos preferido encontrá-la primeiro em Portugal.
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