domingo, 1 de maio de 2016

Nebulosidades auditivas (35)


A spider wanders aimlessly within the warmth of a shadow
Not the regal creature of border caves
But the poor, misguided, directionless familiar
of some obscure Scottish poet

The mist crawls from the canal
like some primordial phantom of romance
To curl, under a cascade of neon pollen
while I sit tied to the phone like an expectant father
Your carnation will rot in a vase.

Marillion - Bitter Suite (in Misplaced Childhood)

Entre 19-21 de Abril de 1974, na estância de esqui francesa de Megève (criada pelos Rothschild uns 50 anos antes como alternativa a St. Moritz) decorreu a habitual reunião anual do grupo Bilderberg (sem qualquer participante ibérico).
Ou seja, exactamente no fim de semana que antecede a quinta-feira de 25 de Abril de 1974, ou ainda, na véspera da chegada dos navios da NATO a Lisboa.

O grupo Bilderberg foi liderado desde a fundação e até 1975 pelo príncipe consorte da Holanda, Bernhard von Biesterfeld (e herdeiro da casa do Conde de Lippe) cuja "imagem de marca" era aparecer sempre com um cravo branco na lapela.
O príncipe Lippe-Biesterfeld, presidente do grupo Bilderberg,
usava sempre um cravo branco na lapela.
A razão deste seu apego ao cravo (que nunca deixava de usar), era entendida no quadro do seu papel de resistência à ocupação nazi da Holanda na 2ª Guerra Mundial, ou seja, no quadro do Giroflé-Girofla. Aliás, aquando da "libertação de Viena", pelo exército soviético, os moradores foram "convidados" a usar cravos vermelhos no dia 1 de Maio de 1944 (ou seja, 30 anos antes):
It was May Day, and a big parade was laid on for the Russians. Austrian flags had been made out of old swastikas, and the women had fashioned headscarves out of the same material. The people wore red carnations and greeted one another with the word 'Freiheit' or 'freedom', rather than the usual 'Griiss Gott!' The Russians made the city a present of tons of provisions. The Viennese said it was all food they had plundered from them in the first place.
O cravo vermelho era já um símbolo socialista, usado em comemorações do 1º de Maio, afinal o dia Mayday - passara do pânico do perigo de tomada de poder pelo "Demo" popular, para a domesticação desse animal selvagem com um regime fantoche de ilusões infantis, chamado "Demo-cracia". 

Portanto, podemos pensar que naquele fim-de-semana de 21 de Abril de 1974, uma certa elite que se reunia na estância de Megève, desconhecia por completo o que se iria passar no dia 25, e que por uma certa junção de coincidências, a esquadra da NATO estava em Lisboa de visita, e a D. Celeste da loja do Franjinhas, essa é que tinha um bom stock de cravos, antes da época, conseguindo simbolizar a revolução com centenas de cravos, para agrado do príncipe Bilderberg, surpreendido com a coincidência (para mais informação - notando que Medeiros Ferreira esteve na reunião Bilderberg antes de Balsemão)
As espingardas do MFA decoradas com cravos (de diversas cores). [img]
Numa certa coincidência adicional, de que já falámos noutra "nebulosidade auditiva", a operação da NATO agendada para o dia 25 de Abril de 1974, chamava-se Patrulha da Madrugada (Dawn Patrol)... e seria assim um espectáculo de coordenação de vontades, assistir à representação portuguesa no Festival da Canção de 1975, com a canção Madrugada (afinal, a patrulha tinha sido um sucesso):
Madrugada - Festival de 1975 (Duarte Mendes quis ir trajado de militar de Abrilmas apenas 
conseguiu levar o cravo ao peito, tal como depois levaram os vencedores de 1976
mostrando que havia diversos pais para aquele símbolo).

Ora, o problema da nossa audição local é que raramente, e só por alguma sorte, conseguimos ouvir vozes mais distantes, por muito que gritem, e tentem se fazer ouvir.
O dia 25 de Abril não ficou apenas uma data importante para Portugal... tratou-se ainda do dia de desembarque em Gallipoli, na Turquia, no quadro da 1ª Guerra Mundial.

Assim, no ano passado comemoraram-se 100 anos do Anzac Day, já que a 25 de Abril de 1915 um enorme contingente de forças do Império Britânico, especialmente da Austrália e Nova Zelândia, mas também de outras colónias britânicas, perdeu a vida a tentar o desembarque em Gallipoli
25 de Abril de 2015 - Anzac Day - o príncipe Carlos coloca cravos vermelhos
nas campas dos soldados (turcos) que perderam a vida
naquela Madrugada... em Gallipoli.
A flor que é usada nas celebrações do Anzac Day não é o cravo, é a papoila vermelha, e é esse símbolo estilizado que é usado na lapela, não apenas no Reino Unido, mas em toda a Commonwealth, conforme se pode ver que o príncipe Carlos o usou, segurando apenas na mão cravos vermelhos.
Cravos vermelhos que julgo serem o contraponto que os turcos fizeram questão de usar pelo seu lado, pelo lado do inimigo Otomano, que combateu o Império Britânico, mas que igualmente sofreu imensas perdas nessa Madrugada... foi por isso de forma diferente que os turcos viram os cravos portugueses no Festival de 1975, e à canção Madrugada decidiram atribuir uns surpreendentes 12 pontos (ou seja, do total de 16 pontos, aqueles 12 vieram da pontuação máxima dada pela Turquia).

E tal como o príncipe Carlos, herdeiro do trono britânico, segurou na mão os cravos dados pelos turcos, também este ano, no 25 de Abril, o nosso presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, herdeiro do nome de Marcelo, por Marcelo Caetano, deposto na revolução dos cravos, e talvez bem ciente da ambiguidade do símbolo, segurou o seu cravo a meia-haste.

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