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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Snowmaggedon (8)

Repetindo o que disse o ano passado: "Todos os invernos é a mesma coisa... o tempo esquece-se que está sob alterações climáticas, tendo em bastidores um "aquecimento global"...

Este tópico Snowmaggedon está aqui todos os Janeiros desde 2014, para as notícias de temperaturas baixas, sendo assim contraponto à empolada informação sobre temperaturas altas, motivadora da campanha contra um certo "aquecimento global", depois chamado "alterações climáticas".

Desta vez, a notícia aparece no Público com este mesmo nome:

Fonte congelada na cidade Victoria, parlamento da Columbia Britânica

A cidade de St. John na Terra Nova foi especialmente fustigada, tendo este nevão batido recordes no Canadá, já de si um país habituado à neve. 

Convém aqui lembrar também o que foi notícia em Janeiro, o grande incêndio na Austrália, esse mais ajustado à narrativa da moda. Acontece também que os incêndios no verão australiano, são quase tão frequentes quanto os nossos, ou os californianos. 
Fica aqui um registo comparativo dos mais famosos incêndios australianos:

Não é preciso investigar muito para concluir que em 1974/75 a área ardida foi substancialmente maior, 6 vezes mais, e os incêndios deste ano ficam em 7º lugar nessa contagem australiana de metros quadrados ardidos. Quanto ao número de vítimas, os incêndios de 2009 continuam a deter o pior registo, ficando este ano no 6º pior registo. 
Nada disto diminui o peso que cada calamidade tem, especialmente para os envolvidos.
No entanto, é sempre conveniente relativizar as coisas na campanha de desinformação (em curso).
Isto, é claro, independentemente de serem louváveis todas as iniciativas de baixar as emissões de poluentes, e também ser louvável o empenho dos governos francês e alemão em salvar o planeta, ou melhor, renovar a sua produção automóvel, agora com o epíteto "verde" ou eléctrica.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Irão ou não irão

Numa altura em que o conflito entre os EUA e Irão se acentuou após a execução do general Soleimani, em 3 de Janeiro, as 56 mortes por esmagamento no seu funeral no dia 7, e o abate do avião ucraniano no voo PS-752, no dia 8, com 176 vítimas (82 das quais iraniana) mostraram como, em situação de conflito, é fácil disparar sobre o próprio pé. 

Os gritos de vingança iraniana, com a êxtase fúnebre e o lançamento de rockets sobre as bases americanas no Iraque, tiveram um custo de 138 vidas iranianas, e zero vidas americanas. Todos os erros são imputáveis directamente aos próprios iranianos, que agora assim o admitem. 
Além disso, este erro deixou Teerão numa posição internacional muito frágil, com um medo latente de voos civis sobre o território.

Acresce que está a ser alimentada uma onda de protestos interna contra o próprio governo, devido ao encobrimento governamental, que durou alguns dias, até reconhecessem o próprio erro.

Parecerá até um golpe de judo, em que a força do adversário é usada contra si mesmo.
Terá sido assim? 
Haverá alguém na CIA a fechar a operação "tiro no pé"? 
- Poderá ser que sim, poderá ser que não, mas Trump ainda assim não se livra de algumas críticas canadianas (Canadian CEO says the United States shares blame for Iran plane crash). 
Não que Trump tenha propriamente um registo de bombardeamento de cidades, ao contrário dos seus antecessores (Clinton, Bush ou Obama), mas simplesmente porque esse modus operandi é assumido na política americana, e a execução ou assassinato de Soleimani, não difere do modelo de justiça dos velhos westerns.

Finalmente este abate de avião civil no Irão, segue um velho caso, ocorrido em 1988, quando um porta-aviões americano abateu um avião civil iraniano, o voo IR-655, com a morte dos 290 ocupantes. 
Curiosamente, esse caso tornou evidente como a imprensa ocidental era enviesada a reportar os erros:
- A capa da Newsweek clamava "murder in the air" no caso do voo KAL-007, abatido em 1983 pelos russos, enquanto no caso do IR-655, apenas se perguntava "why it happened".

Mas, a questão é que mesmo que os EUA tivessem condicionado os iranianos a cometer o erro de abaterem um avião civil, seria algo tão vil, que admiti-lo, mesmo nos corredores de Langley, seria um outro tiro no pé.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Nobody expects... the ECJ

Uma novela que continuamos a seguir com interesse é a "Crise Catalã".
Depois do último postal a este propósito:
há uma novidade interessante.

Não se trata da abstenção dos catalães para viabilizarem o governo de Sanchez, pois isso foi mais noticiado. Parece claro que Sanchez e os catalães se terão entendido de alguma forma para conseguir esse apoio, ainda não se sabe como, mas aguardamos.

A notícia surpresa, para os espanhóis, foi a decisão do Tribunal de Justiça Europeu (ECJ - European Court of Justice) que deu finalmente provimento à tomada de posse de Puigdemont, Comín e Junqueras, enquanto deputados do Parlamento Europeu.
Estes tinham sido eleitos em 26 de Maio de 2019, mas impedidos de tomar o seu lugar em Bruxelas, alegadamente por não terem jurado a constituição espanhola. 

Puigdemont e Comín já foram acreditados pelo Parlamento Europeu, e até tiraram uma selfie da praxe:
Euronews - Puigdemont e Comín visivelmente satisfeitos na chegada ao Parlamento Europeu.

O problema é que o tribunal espanhol não deu autorização para libertação de Junqueras, que deveria comparecer à próxima sessão de 13 de Janeiro. 

Ora, como isto viola a imunidade parlamentar, a que tem direito, o Parlamento Europeu solicitou a sua libertação ao supremo tribunal espanhol, e aguarda-se desfecho até segunda-feira.

Para os espanhóis descalçarem esta bota sem perder a face, o melhor seria Sanchez conceder um perdão aos catalães presos, algo que parece poder ter pernas para andar, dada a abstenção catalã. 
Doutra forma, será um descrédito institucional... ou das instituições europeias, ou das espanholas.
Mas, enfim, isso também não surpreenderia ninguém.

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Nota (21.01.2020):
O lado espanhol reiterou a posição, e foi o lado do Parlamento Europeu que perdeu a face, retirando a Junqueras a possibilidade de ser eurodeputado. Como o Parlamento Europeu nunca foi mais do que uma instituição de fachada, digamos que o seu presidente David Sassoli, seria o lado mais fácil de ceder.
Para mostrar alguma coerência, o Parlamento Europeu irá agora indagar se retira ou não a imunidade parlamentar a Puigdemont e Comin... Entretanto, em tentativa de desespero, surgiu hoje um pedido de integração de Junqueras, assinado essencialmente pelo grupo parlamentar "verde", como pode ser consultado num jornal catalão:
The decision of the President of the European Parliament to declare, against the ruling of the CJEU, the  withdrawal  of  the  mandate  of  Mr  Junqueras  without  a  decision  of  the  Parliament  to  waive  his immunity is also regrettable. This undermines the sovereignty of the Chamber and its ability to decide on the immunity of its Members. 
The denial of political rights is an alarming precedent that violates the principles and values that inspire the European project. Therefore, the signatories of this letter ask the European Parliament to defend the institution by protecting the immunity of Mr Junqueras as a Member, opposing the announcement of termination of his mandate and verifying his credentials in the upcoming vote. Only the  European Parliament, if it so deems appropriate, can lift the immunity of one of its Members.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Cair de Maduro (3) ou de podre?

Os dramaturgos da imprensa vaticinavam que a Venezuela morreria de fome em Maio, se não chegasse ajuda internacional (que aliás só seria possível com Guaido).

Entretanto os meses passam, e a fome também terá passado, porque praticamente Guaido desapareceu das nossas notícias. 
Quando escrevi o último postal sobre o assunto, as notícias eram diárias e abriam os noticiários:


Depois a imprensa tem o condão de esquecer por completo os assuntos que "não interessam", até porque o povão também tem memória curta. 
A vantagem de fazer compilações do ano passado, é que estes assuntos vêm à baila.
Poderia querer saber se os venezuelanos já tinham papel-higiénico, ou continuariam a usar a imprensa internacional para higiene pessoal.

Fui ver o que tinha acontecido com Guaidó:
Guaido apanhado num escândalo de corrupção (Dezembro 2019)
Ou seja, o "Obama venezuelano", o míssil Tele-Guiado, Guaido foi apanhado num escândalo de corrupção, sendo acusado pelos próprios apoiantes. 
Perante a necessidade de ser reeleito neste domingo (5 de Janeiro de 2020), no cargo da assembleia nacional, é natural que haja alguma expectativa de perceber se Guaido será ou não substituído na presidência desse órgão.

Para Nicolas Maduro, a eleição é absolutamente secundária porque ele tratou de criar uma outra assembleia, tornando aquela inoperante. Haverá novas eleições parlamentares, mas parece que Trump perdeu todo o interesse em Guaido, ou aguarda o momento para uma ulterior eleição presidencial.

A Venezuela estará provavelmente numa crise semelhante à que estava, com a diferença que por enquanto não temos as notícias em forma de novela dramática, como tivemos há uns meses atrás.

De certo que os virtuosos argumentistas que alimentam as notícias internacionais, que vão para o ar em forma de novela às 20h00, por via dos telejornais, arranjaram novos heróis e bandidos para alimentar o pagode. 
Apenas não sabemos quando virá aí nova enxurrada dramática. Temos apenas alguns episódios pontuais, como um falhado ataque a quartel:
Ora este postal, como os anteriores, pouco tem a ver com Maduro ou com Guaido, que são apenas dois elementos de um jogo político internacional. Este postal tem a ver com o total descrédito que nos merece a nossa imprensa, cheia de "fact-checking" ou "polígrafos" da treta. 

Poderia dizer-se que nunca a imprensa esteve tão mal, mas isso seria tão errado quanto achar que essa imprensa alguma vez desempenhou o seu papel de forma minimamente independente. A libertação de recursos - em que cada cidadão seria um possível emissor noticioso - esquece sempre o pequeno problema de que estamos num mundo com 6 mil milhões de pessoas. Ora, ninguém consegue dar atenção a 6 mil pessoas, e isso corresponderia apenas a um representante por milhão...


Nota posterior (07.01.2020):
Guaido pede novos protestos, após ser reeleito (tendo sido inicialmente impedido de entrar na assembleia nacional, com Parra no seu lugar)
https://www.france24.com/en/20200107-venezuela-s-reelected-parliament-speaker-calls-for-protests