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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Nebulosidades auditivas (95)

Apesar de já ter usado este vídeo, noutro postal Colete Amarelo, festa brava, Colete Vermelho estou em crer que era um vídeo premonitório de tempos que andam por aí.

Trata-se do vídeo "The Suburbs" dos Arcade Fire, resumo de um filme distópico dirigido por Spike Jonze, apresentado depois no Festival de Berlim de 2011:


Arcade Fire - The Suburbs (2010)

Ou seja, há mais de dois anos que este caldinho anda a ser preparado nos bastidores, e só não vemos o exército com chaimites nas ruas, porque "o povo é sereno", e como se ensina na "Arte da Guerra" de Sun Tzu, só é necessário o combate quando não for possível convencer o inimigo da derrota, por outra forma.

Este vídeo começa pelo fim, mas apressa-se a explicar o contexto de uma sociedade como era a nossa, antes das mascarilhas, e que subitamente se vê envolvida numa guerra civil interna, onde o exército faz rusgas nocturnas, para prisões fortuitas. Para simplificar, podemos antever que seria para saber quem teria tomado, ou não tomado, uma certa vacina, ou seja para distinguir perigosos cidadãos que salvaguardavam mais a sua saúde do que a saúde da comuna. 

Os rapazes, antes amigos, vêem-se perante uma situação de impotência, em que são manipulados por um poder despótico que os encosta à rede. Incapaz de lidar com esse sentimento de impotência, um deles decide alistar-se no exército, e assim passar para o lado controlador. 

Vê-se aqui como a realidade ultrapassa a ficção. Nunca, em nenhum filme distópico, foi alguma vez pensado que os cidadãos fossem obrigados a usar máscara. Neste caso só os soldados estão mascarados. Nem mesmo no filme Contágio que reproduzia uma situação de pandemia real, e não "fictícia"... ou seja, em que havia mesmo uma doença que provocava sintomas diferentes de uma gripe ou pneumonia.

Quando se abandona um lado e se passa para o outro, apenas por conveniência de sobrevivência, o conflito deixa de ser com o exterior, e passa a ser com o seu interior... porque sabe que entrou para o lado errado. Tornando-se difícil aceitar isso, projecta nos outros, que não o fizeram, a responsabilidade do seu conflito interno.

Quando vemos um sujeito descarregar a sua fúria num inocente, é perfeitamente claro que não está a bater em quem não o incomoda, está furioso pela sua escolha, e descarrega em cima de quem não quis tomar a mesma opção. No entanto, em nada isso irá diminuirá a sua luta interior, apenas a iludirá na ilusão de que uns "eleitos" puderam fazer a escolha, enquanto o restante "povo" é uma subespécie destinada à extinção ou à completa subjugação.

Regimes assim, estão condenados a ter sucesso e um enorme brilho... como estrelas cadentes! Assim que se esgota a matéria combustível, o brilho desaparece, e a queda na normalidade é inevitável.


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