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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Junta-te aos bons...

Uma das frases que me irritava ouvir, era este provérbio:

  • Junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior que eles.

Os provérbios portugueses trazem normalmente alguma sabedoria, mas este era daqueles básicos que parecia herdeiro de um servilismo bacoco. Era tipicamente usado em situação de "más companhias"... dito por mães e avós, que o repetiam de pais e avôs.

Porém, escapava-me a subtileza... se era um provérbio mal feito para crianças, era bem feito para adultos.

O provérbio não parece especificar "bons" e "maus"... mas torna-o claro.
É um provérbio que tem raízes na tradição equalitária de certa cultura popular portuguesa.
Quem são os bons? - são os que permitem a inclusão com igual tratamento - a chamada fraternidade.
Quem são os maus? - são os que permitem a inclusão, mas a um nível inferior - a hierarquia

O clique do provérbio, que assina a subtileza, é recusar dizer que com os "bons" será melhor que eles, em contraponto com o que diz para os "maus". O curioso é que quem profere o provérbio, usa-o normalmente no sentido de educar os petizes para respeitar e seguir a hierarquia estabelecida, e não para desafiá-la, inscrevendo-se numa fraternidade revolucionária.

Quando a mensagem é demasiado subtil, parece falhar o alvo, e servir de arma ao adversário, mas creio que a mensagem é também um Cavalo de Tróia, acolhido como presente, preservado pelo sistema, que guarda a pólvora tomando-a como sal apropriado para temperar assados.

Ennio Morricone (1928-2020) "The Good, the Bad, and the Ugly", pela Danish Nat. Symph. Orch.
Tema do western de Sergio Leone (1966) com Clint Eastwood

Eixo do Mal

"Eixo do mal" foi a forma meio atabalhoada e ridícula com que G. W. Bush classificou um grupo de países, que decidiu declarar como inimigos dos EUA. Apanhava a expressão "Eixo" que vinha da 2ª Guerra Mundial, e depois o "mal" era uma noção tão básica, que não necessitava de explicação... só precisava de dizer quem eram, porque senão o pessoal não percebia e ainda poderia achar que a Arábia Saudita fazia parte, mas lá por ser a pátria de Bin Laden, cortarem mãos, pés, ou cabeças, não deixavam de ser pessoas de fino trato, bons clientes e pagadores. Como toda a gente sabe, não podendo declarar o inimigo dentro de portas, encontra-se um bode expiatório, que expia pecados de espionagem. O que é que interessa que não tivessem sido encontradas armas de destruição massiva? 
Algum jornal ou TV foi sancionado por difundir informação falsa, como se de verdade absoluta se tratasse? - É claro que não. Os media são os bons da fita que eles próprios produzem e realizam.

Para adultos, essa dicotomia bons versus maus, parecia coisa de crianças, mas não para Bush, porque era tempo de implementar um passo na agenda e ele assim percebia o mínimo dos mínimos. Creio que alguém pensou que entreteria Trump com mulherio, e poderia seguir para o segundo passo da agenda. Ou seja, não tendo sucesso o terrorismo a incutir medo ao povo, passaria a ser incutido via doenças, até que chegou a primeira dose de vírus.

Xenofobia - votos do outro mundo
Se a Fox tirou o tapete a Trump, interessa-lhes manter a audiência do povo que votou Trump, e entre os comentadores/analistas que eram claramente tendenciosos a favor de Trump, está Tucker Clarkson, que mantém uma narrativa pró-Trump:

reportando dezenas de casos de pessoas mortas que votaram nestas eleições. 
Mas não é isso normal? 
Ainda por cima com voto por correspondência! Não encontraram ainda votos de homens grávidos, mas aposto que se procurarem bem vão encontrar. A receita global é a mesma.

Por seu lado, Trump vai procurando manter a população interessada na sua narrativa, e depois do caso já sabido no Michigan, apresenta um gráfico semelhante... mais ou menos à mesma hora, no Wiscosin, quase a mesma quantidade de votos (143 374) calhou a Biden, o que foi o suficiente para deixar os candidatos praticamente empatados, levando depois à vitória mediática de Biden.


Moinhos de vento
Neste momento em que bons e maus estão declarados, para a maioria interessa pouco saber se vai ser recebido como um irmão de um lado, e como um servo do outro. Metade quererá que Trump saia e outra metade quer que fique. Em Portugal, graças a uma mentalidade que está muito enraizada na má interpretação deste provérbio, a maioria quereria saber quem ganha, para ganhar com eles, porque certamente não quereria estar com quem perde, para perder mais do que eles. 

Tempos em que se arriscava a vida por certos ideais, estão completamente fora de moda, tal como já estava Don Quixote de La Mancha. Nesse aspecto, Trump arrisca reencanar a figura do personagem, quando os media declararam, todos os gigantes obstáculos que enfrentou nesta eleiçao, como moinhos de vento.

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