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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Outubro catalão - repressão aspañolada

No assunto catalão reconhecer qualquer autoridade a Espanha, é não reconhecer a existência da Catalunha, ou não conhecer a história antiga da Catalunha, que remonta à constituição da própria Espanha na união matrimonial de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os chamados "reis católicos". É assumir uma inviolabilidade desse casamento de 5 séculos, e recusar um direito democrático ao divórcio das populações.

O rei de Espanha é uma figura caricata, como não o é a rainha de Inglaterra. Pouco mais representa do que o pior de um passado decadente, em que foi renascida uma nobreza pedante, amarrada a protocolos, títulos e à revista Hola. Ao invés de apoiar a vontade democrática de um dos seus reinos, preferiu manter-se no poder pela força de uma constituição que o tem como apêndice facultativo. Não terá aprendido nada com uma rainha inglesa que é também rainha do Canadá e da Austrália, sem nunca impor a vontade de Otava ou Camberra ao parlamento de Londres.
Neste momento não é rei da maioria dos catalães, mesmo sendo rei da Catalunha.

Porque o que temos neste momento em Madrid, é um governo aspañolado, repressor da vontade expressa de uma província fundamental. Passado um ano sobre o referendo catalão, regressou à Catalunha o pesadelo inquisitorial aspañolado. Quarenta anos após Franco, as prisões políticas regressaram. 
Em 4 de Julho, seis dos presos políticos, presos em Outubro de 2017, foram transferidos da prisão de Madrid para prisões na Catalunha:
  • Oriol Junqueras, Jordi Sanchez, Jordi Cuixart, Carme Forcadell, Raul Romeva, Dolors Bassa. 
Estão presos preventivamente, acusados de rebelião, sedição e peculato(!), após o referendo de independência da Catalunha.

Manifestação em Julho para a libertação dos presos políticos

Como é óbvio, nem sequer houve qualquer julgamento, houve apenas uma detenção preventiva... que em breve irá fazer um ano. O crime gravíssimo de que são acusados resume-se a organizarem eleições com o mandato popular que os elegera... em particular para isso mesmo.
Como Madrid não pode decretar a prisão de 2 milhões de catalães, prende os representantes, que cometeram o crime de representarem quem os elegeu.
A repetição das eleições, engendrada por Rajoy, repetiu o resultado. A menos que o governo aspañolado esteja a pensar numa deportação em massa de populações, a vontade catalã parece complicada de tornear, a bem.

Entretanto, Puigdemont, o presidente fugitivo, escapou-se da justiça alemã, porque os tribunais alemães tiveram pelo menos o bom senso de não ser arrastados por completo para o pântano españolito. Puigdemont, não podendo ser reeleito, decidiu formar o Governo da Catalunha no exílio. 

Neste sábado já houve manifestações complicadas e neste dia 1 de Outubro são esperadas mais:

Justiça...
Portugal não tem propriamente uma justiça recomendável, basta avaliar pelo caso de Maria de Lurdes Rodrigues, em que a liberdade de expressão do cidadã foi espezinhada por uma justiça carente de bom nome e respeitabilidade.
Maria de Lurdes vive um martírio há 22 anos, ou pelo menos há 18 anos, desde que decisões judiciais controversas e desfavoráveis a levaram a uma guerra contra justiceiros nacionais, tão bem falantes quanto arrogantes, tão libertários quanto pequenos déspotas.
Armada de uma perigosa folha de papel e de palavras, que não agradaram ao judicialismo embuçado, de capa negra, teve agora o seu pedido de liberdade condicional recusado.
Presume-se que a perigosa prevericadora, pudesse continuar a usar palavras perigosíssimas, como falar em "gangue da justiça". Avaliando pelo tempo que já perdeu no assunto, estaria já livre se em vez de papel, tivesse atingido quem acusava de forma menos pacífica.
Os gangues entendem melhor quem fala a sua língua.

Noutro caso, igualmente pouco recomendável, Julian Assange viu em 2016 a Comissão de Direitos Humanos da ONU dar-lhe razão, e recomendar à Inglaterra e à Suécia, a sua libertação, bem como o pagamento de uma devida indemnização!
Claro que a ONU não interessa nada, e passados mais de 2 anos, continua tudo na mesma... ou pior. Afinal dois advogados de Assange já faleceram em circunstâncias pouco claras, e os EUA estão a preparar uma acusação contra ele.

A liberdade de expressão nunca foi reprimida entre coscuvilheiras, ou em discussões clubísticas (mas até nisso parece estar a mudar). A liberdade de expressão sempre foi um problema quando era verdadeiramente incómoda e atingia quem detinha cargos de poder. Nesse aspecto, as democracias vêem-se cada vez reféns dos votos do "politicamente correcto", e não hesitam em cavalgar ondas censórias, porque são elas próprias que agitam essas ondas, e definem o que é ou deixa de ser "politicamente correcto", pela sua política.
O direito, que poderia ser uma disciplina objectiva, acomodou-se a uma clubite de interesses definidos em escritórios, paróquias, ou salas de avental. É o último garante de um poder sem qualquer escrutínio, que tem imunes juízes que invocam a jurisprudência bíblica ou o hedonismo económico.
Como poder imune, autoprotegido, que conta com a colaboração policial, não há dúvida que o nome "gangue da justiça" parece demasiado acertado para poder estar errado.

Balanço do 1 de Outubro de 2018:
New York Times:

The Guardian:

2 comentários:

  1. trinta anos depois do massacre de 19 independentistas em 1988 a Nova Caledónia vai a votos pela sua independência, a dona da Europa a França, possessora do segundo maior território marítimo mundial não abdicará facilmente nem dum (a UE)nem doutro…

    5 mai 1988 l’assaut de la grotte d’Ouvéa en Nouvelle Calédonie ,ce jour-là, l’armée française attaque la grotte d’Ouvéa occasionnant 21 morts 19 kanak tués dans l’assaut ou massacrés ensuite

    le référendum de 2018 sur l'indépendance de la Nouvelle-Calédonie, officiellement « consultation sur l'accession de la Nouvelle-Calédonie à la pleine souveraineté1 », est prévu par l'accord de Nouméa, et sera organisé le 4 novembre 2018 https://www.humanite.fr/ouvea-une-tragedie-coloniale-654875

    Cumprimentos de Genebra
    José Manuel

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    1. Ainda bem que sinaliza isto, José Manuel.
      Não sabia deste referendo!

      É absolutamente vergonhosa toda a pressão que França e Inglaterra fizeram relativamente ao colonialismo português, quando justamente França e Inglaterra mantiveram um colonialismo bacoco até aos dias de hoje.
      Se no caso de Inglaterra a coisa ainda é mais ou menos mascarada na grande Commonwealth, na rainha, etc... no caso da França, é simples administração colonial republicana.

      Nem sequer me lembro desse episódio de 1988, mas não me surpreende, dada a tradição jacobina francesa.

      Obrigado. Abraço.

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